A economia no segundo governo Dilma
Tomislav R. Femenick – Contador, Mestre em Economia e da diretoria do IHGRN
Quando eu cursava o ginasial no Colégio Diocesano Santa
Luzia de Mossoró, um dos nossos
professores era o padre Cornelio Dankers – um holandês de rosto avermelhado, que
não sei como nem porque foi parar nas frondes da caatinga nordestina. Com ele aprendi a diferença entre o conhecimento comum (o
“senso comum”, ideias que prevalecem mesmo sem serem comprovadas) e o “senso
científico” (o conhecimento baseado na comprovação de experiências repetidas). Citava
como sendo sensos científicos perfeitos as teorias de Isaac Newton e as de René
Descartes. Newton por suas leis da
natureza (inércia, dinâmica e ação e reação), com as quais explicou o movimento
harmônico de todo o universo; perfeito, sincronizado. Descartes, por rejeitar a
certeza absoluta e só aceitar o que podia ser provado.
Depois me deparei com as teorias de Einstein (tudo é relativo, até o tempo e o espaço), as
teorias da física quântica e as novas descobertas dos movimentos dos corpos
celestes, estes sempre não sincrônicos. Isso literalmente bagunçou o que eu
tinha aprendido antes. Anos depois é
que compreendi que até os movimentos não perfeitos podem ser previsíveis, como explica
a teoria da probabilidade da mecânica quântica. O que me trouxe de volta à
estabilidade da compreensão das coisas foi o meu campo de ação profissional; a
economia, a contabilidade, a administração, a história e a sociologia, ciências
que se baseiam em verdades comprovadas por testes epistemológicos.
Essa longa introdução tem por finalidade analisar o
que pode ser o futuro da economia do país no “novo” governo Dilma. A economia
tem suas próprias leis que derivam da natureza humana. São leis que explicam a
relação entre causa e efeito, e evidenciam a tendências de certos fenômenos se
reproduzirem, mantidas as mesmas condições. Entre elas estão a lei da oferta e
da procura, a que justifica porque as pessoas preferem os produtos mais
baratos, a que explica porque as pessoas priorizam suas necessidades mais
urgentes, a que afirma que os bens só se tornam econômicos quando são excessos,
a que diz que a livre concorrência resulta em preços menores etc.
O primeiro governo Dilma raramente seguiu essa
cartilha e se caracterizou mais por um comportamento heterodoxo. Por exemplo:
incentivou o consumo e não a produção. E quando isso acontece quebra a harmonia
entre a oferta e a procura – procura maior que a produção exacerba a escassez dos
bens e o resultado é o crescimento da inflação.
O convite a Joaquim Levy para o cargo de Ministro da
Fazendo parece ser uma guinada de 180 graus. Seu passado como economista do
Fundo Monetário Internacional e do Banco Interamericano de Desenvolvimento e
como secretário adjunto do Ministério da Fazenda no governo de Fernando
Henrique Cardoso, indicam que a presidente vai dar novos rumos à economia
brasileira. As ações de Levy, antes mesmo de assumir a nova incumbência, já
denotam isso: contenção dos gastos públicos e superávit fiscal, estudos para
revisão de procedimentos das políticas de incentivos, defesa da contenção da
inflação, superávit na balança comercial etc.
Para conseguir realizar suas intenções, Joaquim Levy
tem que vencer duas aguerridas guerras. Primeiro vencer a ala mais radicar do
petismo. Lula conseguiu isso e a atuação do Antonio Palocci foi exitosa
enquanto seguiu a mesma política econômica de FHC. Depois Dilma não tem a mesma
liderança no PT que tem Lula e de quem é dependente para conter as ânsias populistas
do partido. Soma-se a isso a ganância da base aliada. Segundo, vencer a própria
Dilma que, com seus rasgos autoritários, se faz presente no Ministério da
Fazenda como se acumulasse os cargos de Presidente da República e de Ministra
da Economia, ao mesmo tempo.