15/12/2014

Cândida da Natividade e Maria Christina

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Recebi, por e-mail, um pedido do Dr. Geraldo Pereira, nos seguintes termos: meu caro João Felipe da Trindade, encontrei a sua bem organizada página na Internet, tratando de história e genealogia.  

Eu estou procurando um detalhe de meu bisavô, Vicente Ignácio Pereira, que foi médico no Ceará-Mirim; detalhe que francamente não tenho obtido sucesso em minhas buscas, navegando por blogs e ligando para amigos no RN. Sou filho de Nilo Pereira, historiador e escritor, nascido no verde vale do Ceará-Mirim. Vejo que você é meu colega duplo, porque professor como eu - aposentado da UFPE - e membro do Instituto Histórico. Eu encontrei por aqui no Recife, um trabalho de meu bisavô sobre cólera e sendo eu médico, como ele, achei por bem escrever sobre a publicação, aliás, com algumas antecipações dele. 

O claro em meu ensaio, que deve ser apresentado na Academia Pernambucana de Medicina e publicado na Revista do IAHGP, é o da doença de uma das filhas de Vicente, falecida aos 15 anos de idade e que fez o pai jurar, diante do esquife, que deixaria a medicina, como aconteceu. Não sei de que doença essa moça morreu e quando foi isso. Na sua página não existe nada sobre isso, mas pode ser que me ajude. Eu tinha por aqui o livro de Cascudo sobre o RN, mas não há jeito de encontrar. Pode ser que exista alguma referência sobre isso, pois o meu bisavô foi Vice-Presidente da Província e assumiu a Presidência por pouco tempo.

Com as informações passadas pelo Dr. Geraldo, fui vasculhar livros de óbitos de Ceará-Mirim, mas não encontrei nada. Mas, pela importância que teve na nossa Província, Dr. Vicente Ignácio, fui procurar nos velhos jornais, digitalizados pela Hemeroteca Nacional, alguma indicação sobre a filha falecida. No Correio do Natal, de 16 de novembro de 1878, cujo redator era João Carlos Wanderley, encontrei uma informação que transcrevo, em parte, para este artigo, a seguir.
Ela foi receber no céu a recompensa que o Altíssimo lhe tinha destinado, como galardão de suas reconhecidas virtudes.

Ao gélido sopro da morte, crestou-se para sempre uma das mais belas e esperançosas flores de Ceará-Mirim!

Como uma rosa que emurchece, ou como uma estrela que de súbito se oculta no ocaso, assim finou sua precoce existência, no infausto dia 8 corrente, pelas 5 horas da manhã, no Engenho Guaporé, do município de Ceará-Mirim, a Exma. Sra. D. Maria Christina Varella Pereira, muito digna e virtuosa filha do nosso prestimoso amigo o Sr. Dr. Vicente Ignácio Pereira.

Tais eram os predicados da ilustre finada, e tais os dotes que a recomendavam, que vacilamos em descrevê-los!

Na idade de 13 para 14 anos, quando se sentia estremecida e cercada dos afetos e carícias de seus pais, irmãos e parentes, uma hemorragia nasal veio roubar-lhe prematuramente a preciosa existência, e separá-la do mundo terreno para ir  na pátria celestial receber das mãos do Altíssimo a recompensa destinada à suas preclaras e reconhecidas virtudes.

Sim, a negra mão da morte não quis que aquela que tinha tantos e tão invejáveis predicados naturais, herança de seus dignos progenitores, permanecesse por mais tempo na terra!

Conhecendo de perto a mágoa que eflige neste momento o coração de seus pais, irmãos e parentes, causada por aquele infausto passamento, o qual veio sem dúvida abrir no seio da família da ilustre donzela uma lacuna impreenchível, e como prova de amizade e estima que lhe consagramos, viemos também por este meio na gélida porta do seu túmulo, no cemitério do Engenho  São Francisco, onde foi dado seu corpo à sepultura pelas 5 horas da tarde do mesmo dia, um ramo de roxas saudades, suplicando ao Altíssimo coloque sua alma na mansão dos anjos.

Foi o link dessa página do Correio do Natal, que passei para Dr. Geraldo, acreditando ser essa informação o detalhe que ele tanto procurava para completar o claro no seu trabalho.

Feita a apresentação, descobri, posteriormente, um registro de óbito na Freguesia de São José de Angicos, que me surpreendeu, pois a mesma doença levou a óbito, outra filha do Dr. Vicente Ignácio Pereira e de sua esposa, filha do barão de Ceará-Mirim.

Aos 13 de maio de 1885, faleceu Cândida da Natividade Varella Pereira, filha legítima do Dr. Vicente Ignácio Pereira e Izabel Augusta Varella Pereira, da Freguesia de Ceará-Mirim, livre, solteira, e brasileira, com 15 anos de idade, sem profissão, sendo a causa morte hemorragia nasal, e o lugar do óbito, no domicilio; o seu cadáver, por mim encomendado, foi sepultado no Cemitério Público desta Vila, em catacumba, no dia 14 do dito mês, e ano; do que mandei fazer este termo em que assino. O Vigário Felis Alves de Souza.

O Barão de Ceará-Mirim tinha uma fazenda em Angicos, denominada Santa Luzia. É possível que Cândida tenha ido para lá a fim de se tratar da sua doença, pois, para Angicos foram várias pessoas cuidar da saúde. Talvez, essa segunda morte na família é que tenha levado Dr. Vicente a decidir por abandonar a medicina.

Continuo conversando, via e-mail, com Dr. Geraldo Pereira, que ultimamente me passou mais a seguinte informação: Um fato, porém, importante é a frequente alusão em casa, por parte dele (Nilo Pereira), ao fato de ser descendente de uma família na qual havia uma doença hematológica, que ele, meu pai, dizia que era hemofilia, mas não era. Talvez isso justificasse os dois óbitos! É que falei com uma hematologista lá do Recife, por duas vezes, obtendo dela a informação de que pode ter sido uma discrasia sanguínea, seja de cunho celular propriamente, isto é, em termos de doença das plaquetas ou da coagulação mesmo.
Cândida da Natividade

14/12/2014

AGRADECIMENTO

          APÓS A GRATIFICANTE NOITE DE AUTÓGRAFOS REALIZADA NO LARGO VICENTE LEMOS, DO IHGRN, POR DEFERÊNCIA DO PRESIDENTE VALÉRIO MESQUITA, VENHO AGRADECER O GRANDE NÚMERO DE AMIGOS MEUS E DO ARQUITETO MOACYR GOMES - O HOMENAGEADO.
CONTAMOS COM A PRESENÇA DE AUTORIDADES E VELHOS COMPANHEIROS DO VELHO "MOÁ".  FOI MOTIVO DE EMOÇÃO.
  
 
 
          A SOLIDARIEDADE DA IMPRENSA FOI CATIVANTE E FORAM TANTOS QUE ME ATREVO A ENUMERÁ-LOS, MAS COM A OBRIGAÇÃO DE UMA COMPLEMENTAÇÃO POSTERIOR. PROMOVERAM O EVENTO OU ESTIVERAM PRESENTES AO LANÇAMENTO DO LIVRO "O MENINO DO POEMA DE CONCRETO": A TRIBUNA DO NORTE, O NOVO JORNAL, O JORNAL DE HOJE, A TV ASSEMBLEIA, TV TROPICAL E OUTROS VEÍCULOS DA IMPRENSA, CUJOS NOMES RESGATAREI PARA REGISTRAR, ALÉM, PARTICULARMENTE, DOS JORNALISTAS VICENTE SEREJO, WODEN MADRUGA, ROBERTO GUEDES, JOÃO BATISTA MACHADO (MACHADINHO), ÉRIKA NESI, FRANKLIN JORGE, ALEX MEDEIROS, CASSIANO ARRUDA, RUBENS LEMOS FILHO, YUNO SILVA, VALÉRIO ANDRADE, LÚCIA HELENA E SÍLVIO ANDRADE.
VÁRIOS IMORTAIS DE DIVERSAS ACADEMIAS DE LETRAS (ANRL, AML, ALEJURN E ACLA ) E INSTITUTOS DE CULTURA, (IHGRN, INRG, UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES), ROTARY CLUBE NATAL-SUL E UM GRUPO DE AMERICANOS (MECÃO), QUE VIERAM PRESTIGIAR OS CONFRADES.
 
NOITE DE ALEGRIA E HOMENAGEM AO GRANDE 
ARQUITETO MOCYR GOMES DA COSTA
10 DE DEZEMBRO DE 2014 - SERÁ INESQUECÍVEL
   
GRATIDÃO À IMPRENSA TELEVISADA E ESCRITA

 

RUBENS LEMOS FILHO FEZ UM BELÍSSIMO POSFÁCIO. TICIANO, O DECANO.

  

Enzina Falce comentou uma publicação em que você foi marcado.
Enzina escreveu: "E un piacere vedervi"  ( )


Tio Carlos,

  Que evento bonito o de ontem! Fiquei com vcs até o final exatamente  
poque foi contagiante para mim a alegria das pessoas, em especial, a  
de Tio Moá! Como ele estava feliz! Que belo presente de Natal você deu  
a seu mano Moacyr!
  Não li o livro, ainda! Mas a homenagem que vc me fez, sim! Não  
lembrava mais do texto e, ao lê-lo, mais uma vez, me veio à memória  
todo o movimento em favor da não derrubada do estádio. E aí fiquei a  
pensar: É um texto de protesto, simplesmente! Porque Tio Carlos o  
escolheu meio a tantas matérias jornalisticas, quem sabe mais bem  
escritas, etc. E, me veio a intuição que tenha sido o seu coração  
sensível que captou a minha verdadeira indgnação e, sinceridade, além  
de uma profunda tristeza pela dor de tio Moá (De fato, fui junto com  
ele naquela expectativa pensando que a sociedade Natalense reverteria  
o quadro de demolição do Machadão o que não aconteceu.)
    Tio Carlos, até hoje não tive vontade algum de conhecer o novo  
estádio! Exatamente porque à minha postura da época não mudou: É de  
indignação!!!
    Ter um texto meu contemplado no seu livro e, especificamente,  
nessa história é algo que me deixa imensamente feliz. Obrigada! Estou  
me sentindo Imortalizada!!!(rsrsrsr), lisonjeada por merecer o seu  
carinho. Este livro, certamente, terá um "olhar" diverso de opiniões e  
sentimentos. Comigo, será a memória de uma obra histórica que foi  
terrivelmente sacrificada, muito embora, tenho certeza, que em seu  
conteúdo muito de alegria haverá de aliviar esse peso.

  Por fim, mais uma vez, feliz e orgulhosa por ter como tio um ser  
humano tão maravilhoso como você, pois tenho certeza Carlos Gomes, que  
este livro foi um "PROCESSO TERAPÊUTICO" que foi e está sendo  
realizado junto a seu irmão, meu tio, Moacyr. O quanto você está  
fazendo bem ao seu ego, não precisa dizer, está escrito! Está sentido!  
Está transformado em sentimentos na tristeza que o abateu. Por ele,  
muito OBRIGADA! Consegui enxergar além do livro. Consegui avaliar a  
sua generosidade que, na minha conta, é bem maior do que a que eu  
imaginava!
    JESUS lhe cubra de bençãos!

Obs: Tio Carlos, na compra dos livros eu ia dar de presente o de  
Júnior meu irmão, ele terminou pagando o dele e um livro dos que  
peguei ficou em aberto. Lhe devemos R$40,00.

Beijo!

Cristina.
 
VELHOS AMIGOS
   
 
 
 
 
 
 
 
 
A MÚSICA A CARGO DE HUMBERTO DANTAS, ORMUZ E ZEZINHO, LADEADOS POR TEHEREZINHA (ESPOSA DO AUTOR)
 
 
MAIS DE 200 MENSAGENS PELO FACEBOOK.
 
OBRIGADO A TODOS.
Carinhosamente,
Moacyr Gomes da Costa e Carlos Roberto de Miranda Gomes .

13/12/2014

H O J E




PRAÇA ANDRÉ DE ALBUQUERQUE

De: JOSUÉ OLIVEIRA LIMA <gibiaquatico@hotmail.com>
 Louvável a atitude do antropólogo Ormuz Simonetti, agora elevando a voz acima da Catedral em busca de socorro para preservação da praça André de Albuquerque em Natal/RN. Por este logradouro transitaram, na juventude, figuras notáveis dentre os quais, Amaro Cavalcanti, que foi ministro  plenipotenciário, em Haia/Holanda. Dentre os feitos desse ministro, há um que o notabilizou quando prefeito do Rio de Janeiro, em l917, promulgou a lei que disciplina o banho de mar durante o dia pela manhã até às 10:00 e à tarde após à 16:00, protegendo assim a população contra bócio,vitiligo, osteoporose e o câncer de pele. Ele era irmão do famoso padre João Maria. Outra figura emérita que assentou tardes inteiras nos bancos de cimento dessa praça foi Arão filho do rabino Horowitz, cujo pai  imigrou da Alemanha no mesmo navio em quem viajou o senhor Hans Luck, e  instalou na cidade uma fábrica de calçados de onde custeou seus estudos em Recife.  Arão Horowitz (in memorian) , cidadão potiguar, engenheiro químico,  foi aluno de matemática do padre Monte, mas em Recife destacou-se em ciências explicativas e experimentais, tornando-se professor da matéria  depois de concluir mestrado na Universidade de Stanford na Califórnia. De volta ao Brasil ele teve seu nome abrindo uma lista de dez entregues a Getúlio Vargas por Rômulo Almeida, seu assessor econômico. Escolhido, Vargas ofereceu-lhe a presidência da Companhia Hidroelétrica de São Francisco. Ele declinou do convite preferindo seguir a carreira de professor na Universidade Federal de Pernambuco.

12/12/2014



Urinol etílico 

José Eduardo Vilar Cunha.

Prof. Doutor em Engenharia, Jornalista escritor. Membro do IHGRN / UBE


            Normalmente as quartas feiras se reúnem no Iate clube do Natal para o almoço de confraternização, os afiliados da Ágape, uma entidade recreativa sem fins lucrativos. Numa quarta feira do encontro costumeiro, se assentavam lado a lado na mesa posta para o almoço, muitos dos seus adeptos, quando de repente surgem pela a porta principal, Affonsinho e Marcelo Morais que pareciam mais com a dupla dinâmica Robin e Batman.

            A conversa é o ponto alto do encontro e, diante de mim, estava num animado papo, Affonsinho, que dizia que, na sua família havia nomes muito estrambólicos e, começou citando: Minha avó se chamava Occidentina e suas irmãs; Orientina, Ocasina, Poentina, Astrolina, Luina Marina e Orizontina. Da mesma maneira com nomes estranhos eram denominados os seus irmãos: Eraldim, Podalírio, Waldencolk e Trasíbolo. Entretanto, todos eram designados por apelidos, o de minha avó Occidentina era Picucha.

            Durante o rango, Affonsinho relata acontecimentos que sucederam na sua vida na década de 1950 e, com desembaraço foi narrando; primeiramente que a sua avó Picucha tinha um belo sitio no Município de Caxias, RJ. Durante o relato ele conta que, num certo dia, Picucha e seu irmão Eraldim, apelidado de Peri, que era um exímio tocador de bandolim, os dois, resolveram organizar uma feijoada para homenagear os músicos da Velha Guarda, e dentre eles estavam: Pixinguinha, Donga, Nelson Cavaquinho, João da Bahiana e Jacó do Bandolim. Todavia, para animar mais a festa a avó de Affonsinho o convida e estende a invitacão aos seus amigos e amigas, já que a feijoada era abundante.

            A questão estava como ir para Caxias, contava Affonsinho, dado a distância, mas, seu amigo Luciano Toscano “O Luchy” se prontificou de conseguir um caminhão da firma João Fortes Engenharia, onde trabalhava.

                Estava tudo combinado para o dia da festa, o caminhão deveria passar bem cedo, em frente a sua residência no posto 6, bairro de Copacabana.  A ansiedade tomava conta da turma de Copacabana, que nesse dia compunham a algazarra os amigos: Hélio Nelson, Afraninho Guerreiro, Ezequiel Ferreira, Abdiel Karin, Carlos Alberto, que tinha o apelido de Cabelo Bom, Breno Capistrano, Edmundo Miranda e algumas namoradas. O alvoroço aumenta quando surge o caminhão na esquina da rua, a euforia foi total e no momento que o veículo para, a procura por um bom lugar foi acirrada, na boléia, continuava luchy e na carroceria todo grupo se aboletava.

            Durante o trajeto para Caxias o grupo cantava e brincava, todos estavam animadíssimos com aquele acontecimento e, com a perspectiva de uma boa farra, pois haveria um confronto entre a Velha Guarda que era composta pelos músicos  e Nova Guarda, o intuito era para ver quem bebia mais e aguentava o tranco.

             Ao chegar ao sitio, a rapaziada desembarca do caminhão ávida para iniciar os trabalhos e partem logo para a coleta dos limões que foram retirados do pé. Com os limões já colhidos e com toda pressa, correm para a cozinha, com as cachaças, o açúcar e gelo para confeccionar a batida que, na época, não era conhecida como caipirinha. Todavia, faltava um elemento, a jarra, foi então que Affonsinho pediu a sua avó um recipiente para fazer a mistura. Ela então lhe disse que não tinha mais nenhum recipiente, além dos que tinha utilizado na colocação do feijão, das carnes, da farofa, linguiça, couve, arroz e que também não possuía mais nenhuma panela disponível. Aí eu aloprei, contou Affonsinho, pois como é que iríamos enfrentar a batalha sem munição. Foi então que a avó Picucha, disse: ”Peraí, tem em um penico”. Muito bem, pensei, como ela era uma senhora de formas avantajadas achei que a peça oferecida serviria para a finalidade a que se propunha. Tá legal vovó, traz o penico. Realmente o urinol era grande o suficiente, e desta maneira foi dado o início da confecção do precioso líquido. Após realização de diversas misturas e provas com os participantes, surge uma dúvida que foi indagada: ”Vovó este penico é novo”? E ela respondeu: Novinho, só usei uma vez, e está bem limpo. Naquela altura da bebedeira não tinha mais jeito de parar, continuamos a usá-lo, com o maior gosto e alegria.

            No final da disputa etílica, entre a Nova e a Velha Guarda, conta Affonsinho, o confronto terminou empatado, arriou um dos nossos, o Edmundo e um deles o Nelson Cavaquinho.

10/12/2014

HOJE, 10 DE DEZEMBRO=DOIS LANÇAMENTOS, NA MESMA RUA DA CONCEIÇÃO



O PRIMEIRO, do jornalista MAURÍCIO PANDOLPHI tem início às 10h, na ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO


O SEGUNDO, do advogado CARLOS GOMES tem início na boquinha da noite: 19h, NO LARGO VICENTE LEMOS, DO IHGRN

09/12/2014

CIVILIZAÇÃO ENJAULADA
 
Públio José – jornalista
 
 
                   Certas imagens – embora aparentemente sem importância – deveriam marcar a paisagem profundamente. Mas não conseguem. A rotina diária, impregnada de violência acontecente a todo momento, faz com que certos fatos ocorram e sumam na poeira do tempo sem deixar rastro, sem nenhum registro. Esse contexto, por sinal, se insere na luta da grande mídia em selecionar o que acontece nos mais variados recantos para trazê-lo à presença do expectador. E, apesar das modernas tecnologias à sua disposição, e do batalhão de profissionais que emprega, inúmeros episódios fogem ao foco da grande mídia. Frise-se, porém, que tais fatos, embora não sofrendo registro, permanecem importantes, impactantes, e cumprem o papel de expressar, de expor, para quem os presencia, o modus vivendi das gerações de hoje. Em suma, coisas acontecem, muitos não tomam conhecimento – mas elas estão aí. Acontecem.  
                        Essa introdução serve para trazer à tona o registro de um fato e de como ele expressa o paradoxo de fazermos parte de uma nação dita civilizada e que, ao mesmo tempo, produz episódios de pura selvageria, coisa de deixar de queixo caído bárbaros de épocas pré-históricas. Para demonstrar essa realidade, não precisamos nem nos apegar à espantosa roubalheira que toma conta dos altos escalões da administração pública em todas as instâncias. Basta, apenas, nos fixarmos no futebol. Por sinal, em termos de imagem impactante, o futebol é cenário farto e rico. E é uma imagem de um jogo de futebol – ou melhor, de seu final, que nos deixa a refletir sobre o impacto que certas cenas deveriam causar e como somem na fumaça da rotina e do anonimato. E, afinal, o que se viu? Teve tiros, mortes, cenas em delegacias de polícia ou em emergências de hospital? Não. Foi pacífico, então, o que se viu? Foi.
                        Então, onde está a estupefação, o queixo caído, os olhos arregalados? Era fim de um jogo entre os times do ABC e do América, noite de uma quarta-feira qualquer. De fora do estádio, dava para se ver o cortejo de torcedores americanos em direção ao estacionamento e às paradas de ônibus. E aí, o que chamou a atenção? Só havia ali, naquele momento, torcedores de um time só. E os da outra agremiação, do ABC, onde estavam? Enjaulados. Enjaulados? Isso mesmo. De fora do estádio, via-se o frenesi dos que tratavam de ir pra casa, enquanto a outra torcida permanecia trancafiada no interior do estádio. Alguns agarravam-se às grades dos portões, como querendo apressar a saída, dando a nítida impressão, a quem olhava de fora, de que algo de grave acontecera e que fora necessária a retenção de alguns para o restabelecimento e a manutenção da ordem. Engano. Nada de grave acontecera.
                        Explicação: aqueles torcedores não estavam presos, retidos. Porém, a polícia e os administradores do estádio não se arriscavam a permitir que as duas torcidas saíssem ao mesmo tempo. Elas não poderiam se encontrar. Uau! Seria, digamos, uma medida de prevenção. Certamente, baseada em fato anterior que levou as autoridades a adotar a cautela. Que cena! Ali, presos – à espera de que os outros torcedores tomassem seus destinos – estariam homens simples do povo, mas também, e com certeza, magistrados, políticos, altos funcionários públicos, jornalistas, médicos, advogados, professores, empresários... Gente de poder, responsável, em grade parte, pelos destinos da cidade. Estranha civilização essa em que tais pessoas, em função de uma paixão, se veem na condição de bárbaros, de incivilizados, de irracionais – por não poderem conviver com outros que nutrem paixão diferente. Enjaulados. Uau...