03/12/2014

MATHEUS MOREIRA

Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

O livro do Martirológio do Cristianismo teve a sua primeira página escrita com o sangue de Estevão - "o primeiro testemunho assinado com sangue", disse Daniel-Rops da Academia Francesa, no seu livro "A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires", vol. 1.
Com Estevão era dado início ao tempo heróico dos possuidores de "alma de fogo".
Significado do termo Martírio, expressado pelo autor acima mencionado:

"Quando a Providência dispõe, que o testemunho seja pres­tado, é necessário ir até o fim. Esta é, na sua sabedoria e na sua grandeza, a moral do heroísmo dos mártires".

Eles "perderão a vida para salvá-la", pregou o doce Rabi da Galileia.
Costuma-se figurar o começo do Martiriológio depois de Cristo, iniciando com Estevão. Todavia, a perseguição cruenta de Herodes, aos pequeninos, de até dois anos de idade, foram eles, realmente, os primeiros mártires!, segundo conceitos judiciosos do Padre Fernando José C. Cardoso, que expõe, diariamente, belos comentários exegéticos bíblicos, pela "Rede Vida", programa televisado da Arquidiocese de São Paulo.
E, em seguida, alguns anos depois, veio a decapitação de João Batista que, na opinião do Venerável Beda, também, pode-se considerar martírio, por ter sido sacrifica­do "em nome da Verdade", embora o móvel do delito ter sido outro.
Após à Ressurreição, recomeçou, em avalanche, os cruentos sacrifícios impostos pelo paganismo.
O Cristianismo nascente, no tempo das Catacumbas, foi implacavelmente perse­guido pelos poderosos do Império Romano. Várias as perseguições em massa ordena­das pelos Césares. A primeira teve no histrião Nero, o seu mandante, quando ele, com segundas intenções, incendiou Roma, pondo a culpa nos cristãos. Esta a artimanha da perseguição inaugural.
Depois, os seus sucessores imitaram-no, sendo as perseguições mais cruentas as determinadas por Domiciano e, principalmente, as de Diocleciano.
Verdade é que somente em 312, depois de mais de dois séculos de horror e matanças, sob a coroa de Constantino, o Grande, foi que os cristãos respiraram mais livremente. E, em seguida, sob a clâmide de Teodósio, a religião cristã foi oficializada em Roma.
Passados treze séculos, em 1645, no Brasil-Colônia, em terras potiguares, houve quem imitasse as crueldades perpetradas nos primórdios do Cristianismo.
Sob as ordens do cruel holandez calvinista Jacob Rabbi, alguns de seus compatri­otas e numerosos índios massacraram pessoas pacatas de duas comunidades interioranas do Rio Grande do Norte.
Os 30 mártires sacrificados em tamanha crueldade deram a vida pela sua Fé. Resistiram, ao modo cristão, heroicamente, à felonia, à bestialidade, à torpeza e toda gama de ações agressivas e animalescas, de que é capaz a pessoa humana quando perde o sentimento humanitário.
Dom Alair Vilar, o Arcebispo patrocinador do processo de Beatificação dos Márti­res de Cunhaú e Uruassu, declarou ao saudar os peregrinos do II Congresso Eucarístico Nacional, em Natal, 1991, na presença do Papa Paulo II:
"A Eucaristia, sacrifício de Jesus é também a força e o sustento dos que vivem a Fé e por ela oferecem a sua própria vida". Ao Pontífice mencionado, disse:
"Seja benvindo a Natal, Pontífice Soberano, à cidade Pre­sépio, banhada pelo sangue dos servos de Deus martirizados nos primórdios de nossa história..." E, concluindo, na oração do Congresso:
"Os mártires de ontem e de hoje", recordando de modo especial, um filho do Rio Grande do Norte "Mateus Moreira, que dando testemunho de seu amor eucarístico, ao lhe ser arranca­do o coração pelas costas, exaltou no seu derradeiro instante, o Santíssimo Sacramento". (Auricéia A. Lima, 2001).
Esses bravos heróis da Fé, em número de 30, dentre sacerdotes e leigos, podem ser aqui representados pelo rapaz - Matheus Moreira, o mártir da Fé, cujos lábios excla­maram, com a coragem pacífica e digna somente dos Mártires, no momento em que lhe arrancaram o coração pelas costas:
"Louvado seja o Santíssimo Sacramento!" Foi beatificado pelo Papa Paulo II. Deu-lhe a impavidez, pelo sangue derramado, sem oferecer resistência, a excelsa coroa do martírio.



02/12/2014

H O J E




Marcelo Alves


Sobre José Arno Galvão

Como alguns de vocês já devem saber, no último dia 17, tomei posse na cadeira 28 da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte, cujo patrono é o jurista Hélio Galvão (1916-1981). Sobre Hélio, inclusive, em reconhecimento da sua grandeza para o direito e para a literatura do nosso estado, escrevi aqui no domingo passado.

Hoje, homenageio o seu filho, o falecido advogado e escritor José Arno Galvão, o anterior ocupante da cadeira que tive a honra de assumir.

José Arno nasceu em Pedro Velho, à época chamada de Vila Nova, em 25 de julho de 1943. Foi seminarista e formou-se em Direito pela UFRN. Pai de três filhos (e já avô), faleceu, de um câncer no pulmão, aos 70 anos, em 2013. Deixou uma enormidade de amigos.

José Arno foi procurador do município de Natal, chegando a ocupar o cargo de procurador-geral na administração do então prefeito José Agripino Maia (fins do anos 70, começo dos 80), segundo nos informa o seu necrológico na Tribuna do Norte, jornal do qual ele era, assim como eu sou, colaborador semanal. Foi, também, biografo do pai com o livro “Hélio Galvão: um advogado” (de 2010). E foi, por muitos anos, assim como o pai, um respeitadíssimo advogado em nosso estado.

Para mim, entretanto, José Arno foi, sobretudo, o talentoso cronista dominical, na coluna “Quadrantes”, da Tribuna do Norte. Herdando o ofício do pai, ele escrevia sobre quase tudo. Um pouco de direito, como em “No escritório” e “O Supremo Tribunal”. Muito sobre livros, como em “O livro do futuro”, “Livros” e “Bibliotecas”. Nestas crônicas, narra suas leituras do nosso Otacílio Alecrim e sua “Província submersa”. Leituras de Raul Pompéia (em “O Ateneu”) e de Bernardo Guimarães (em “O seminarista”). De Camilo Castelo Branco, de Eça de Queiroz, de Machado de Assis, de José de Alencar e por aí vai.

Mas José Arno foi, a meu ver, como cronista, sobretudo, um memorialista, como, por exemplo, nas crônicas “Lembrando a infância”, “Depoimento”, “Cultivar as lembranças”, “Rememorando”, “Homenagens e memória” e “Sobrememória”. Às vezes rememorando cheiros, doces, comidas litorâneas, à moda de um Marcel Proust - em busca de um tempo, para muitos de nós, já perdido -, falava de sua infância em Vila Nova (hoje Pedro Velho), da estada da família em Penha (hoje Canguaretama), de Goianinha, da amada Tibau do Sul e de uma Natal que não enxergamos mais.

E sua contribuição, em forma de depoimento (na maioria das vezes de “ciência própria”, como dizemos no foro), para a história do nosso estado é notável. Em “A biblioteca”, por exemplo, ele narra o encontro amistoso entre o pai, Djalma Marinho e Aluízio Alves, em plena campanha para governador em 1960. Nessa eleição, Djalma, grande amigo de Hélio Galvão e candidato da situação, enfrentava Aluízio, de quem Hélio era, além de amigo, advogado. Narra José Arno: “Aluízio, sabendo do relacionamento de seu advogado com o antigo adversário e brincando com o fato, dizia duvidar de seu voto”. Já em “Uma relação de amizade”, sobre o laço que unia Hélio Galvão e Aluízio Alves, José Arno narra como se deu, em 1947, o covarde assassinato de Aristides Hortênsio, em Pedro Velho, uma das mais vergonhosas páginas (os mais velhos, digo experientes, devem saber) da história política do nosso Rio Grande do Norte. No episódio estavam envolvidos Hélio, Aluízio, Moacir Duarte, Ubaldo Bezerra, Dioclécio Duarte e muitos outros que já nos deixaram. E esses são apenas alguns exemplos dos “depoimentos” de José Arno.

Soube - e oxalá isso se concretize - que as crônicas de José Arno Galvão serão reunidas em livro brevemente. Uma iniciativa da Editora Sebo Vermelho. Mais um belo presente que essa corajosa editora dá, entre tantos outros por ela já dados, às letras e à história do nosso estado, estou seguro disso.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

01/12/2014

Rufino Álvares de Clavasino Costa


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e INRG
 
Rufino foi dono do Sítio Sacco da Freguesia de Macau, e vendeu uma parte de terras nas sobras desse mesmo Sítio, que se tornou depois o Alto do Rodrigues, para o capitão Joaquim Rodrigues Ferreira.

Para conhecê-lo melhor, vejamos o seu casamento: Aos oito dias do mês de fevereiro de 1853, às onze horas da manhã, na capela de Nossa Senhora da Conceição da Vila de Macau, na presença do Reverendo Ignácio Damazo Correa Lôbo, de minha licença, e das testemunhas Nicolau Vieira de Mello e José Correa de Mello, casados, e moradores nesta Freguesia, se uniram em matrimônio por palavras de presente, e receberam as bênçãos nupciais, os meus paroquianos Rufino Álvares de Clavasino Costa e Josefa Maria da Fonseca, naturais: ela, da Freguesia de São João Baptista do Assú;e ele desta de São José de Angicos, onde moram, filhos legítimos: ele, de Vicente Ferreira Barbosa, e de Francisca Xavier, falecida; ela de José Antonio da Fonseca e Maria Magalona de Jesus, falecidos: do que fez o dito padre este assento, que remeteu-me, e pelo qual faço este termo, em que me assino. O vigário Felis Alves de Sousa.

A testemunha Nicolau Vieira de Mello tinha casado, na Ilha de Manoel Gonçalves, com uma irmã da nubente, de nome Maria Francisca da Fonseca.

O pai do noivo, Vicente Ferreira Barbosa, foi figura de destaque em Angicos e vizinhanças. Casou três vezes: a primeira com Francisca Xavier da Costa, filha de Alexandre Barbosa e Joana Barbosa, como se vê da árvore genealógica desenhada por Jacob Avelino; a segunda com Francisca Xavier da Cruz, filha de José Antonio de Mello e Mathildes Quitéria da Cruz, e nessa época viúva de João Pereira Pinto Junior; e a terceira com Claudiana Evarista Ferreira de Moraes, filha de Antonio Ferreira de Moraes e Antonia Thereza de Jesus. Todas as suas esposas eram suas parentas.

Pela simplificação do registro de casamento, não se pode inferir qual das duas Franciscas era a mãe de Rufino, pois ambas eram falecidas quando ele casou. Talvez, Rufino seja filha da segunda, Francisca Xavier da Costa, com quem Vicente Ferreira casou em 1827.

Entre seus irmãos destacamos: Joanna Cordulina Xavier Ferreira, que foi casada com Francisco Machado de Azevedo Costa; Anna Francisca Xavier, que casou com João Ignácio Pereira Pinto, em 1833, cunhado da segunda esposa de Vicente Ferreira Barbosa; Antonio Valério da Costa Bezerra, que foi casado com uma filha de Francisco Xavier de Souza e Josefa Francisca da Costa.
Vejamos um registro de um filho de Rufino, com nome incomum: Neophito, filho legítimo de Rufino Álvares de Clavasino Costa e Josefa Maria da Conceição, nasceu a vinte e um de novembro de mil oitocentos e cinqüenta e seis, e foi batizado, solenemente, nesta Matriz do Assú, pelo Reverendo Coadjutor Elias Barbalho Bezerra, a 12 de março de mil oitocentos e cinqüenta e sete, e foram padrinhos, o major Vicente Ferreira Barbosa e Maria Joaquina da Fonseca, casados, e para constar mandei fazer este assento em que assino. Manoel Januário Bezerra Cavalcanti, Vigário Colado do Assú.

Pelos registros da Igreja, onde aparece como padrinho, como também através de jornais antigos, vemos que Rufino casou uma segunda vez. Não encontramos esse registro de casamento, mas sua esposa, Maria Joaquina da Fonseca, que tinha o mesmo nome da madrinha de Neophito, possivelmente, era irmã da primeira esposa, como era comum naquela época. Um filho do casal Rufino Álvares Clavasino da Costa e Maria Joaquina da Fonseca, nasceu no ano de 1861.
Neophito

30/11/2014

Cada vez mais a gente se apequena. Veja notícia de 1941 do jornal "A Manhã".

Cada vez mais a gente se apequena. Veja notícia de 1941 do jornal "A Manhã".
A Tipografia Lira

Elísio Augusto de Medeiros e Silva (in memoriam)

Quando comecei a me entender de gente, fui apresentado àquela velha oficina gráfica: a Tipografia Lira, a mais antiga de Natal, segundo diziam, que tinha sido do Dr. Alfredo Lira, de quem herdara o nome. Em 1955, fora a mesma arrendada e, posteriormente, vendida a Mozart Silva, seu último proprietário, fato que me deu a oportunidade de conhecê-la.
No escritório, aquela escrivaninha, ao lado da mesinha de máquina, feita de imbuia. Sobre a mesinha, uma autêntica Remington 51, que tinha aposentado a Royal preta, de teclas grandes e redondas, usada em época anterior à guerra. O velho telefone preto Ericson, com o disco ligeiramente oxidado, tocava alto e estridente quando, de fora, discavam 11-40.
Os lançamentos da Willys Overland desenrolavam-se à nossa porta, pois a firma Santos & Cia., nossa vizinha, era a distribuidora daquela associação mercantil e, todas as semanas, ali chegavam Rurais, Jeeps, Aero-Willis e Gordines para vender, ficando os veículos expostos estacionados em frente à Tipografia, ao lado do cartório de Alínio Azevedo.
Eu, ainda menino, sentia-me fascinado por aquele mundo diferente... O mundo gráfico, com cheiros fortes e variados de papel e tinta.
A sala dos tipógrafos, profissão hoje extinta, ficava no final de um comprido salão, com aquelas inúmeras estantes de madeira, possuindo gavetas e mais gavetas, cheias de tipos de todas as fontes. Eram tipos que não acabavam mais! Vocês imaginem! Cada fonte de tipo continha todas as letras do alfabeto, números e sinais ortográficos. Isso mesmo: maiúsculo, minúsculo, negrito, caixa alta, caixa baixa e por aí vai.
O cheiro de gasolina era uma constante, pois a mesma era utilizada como o material de limpeza das chapas, fruto do trabalho minucioso dos tipógrafos ou chapistas. Essas chapas, depois de prontas, iam tirar uma prova para serem submetidas à revisão, antes de serem engradadas nas máquinas, após a correção.
Depois de utilizadas para o serviço, os tipógrafos faziam o trabalho inverso: tinham que desmanchar tudo, com muito cuidado, pois havia o risco de empastelar; e, assim, as letrinhas, com a ajuda de uma pinça, iam sendo colocadas, uma a uma, nos seus lugares originais.
Tipos 12, 14, 16, 20 eram alguns dos tamanhos utilizados, mas, de vez em quando, tornavam-se necessários outros tamanhos, dos quais a tipografia, às vezes, não dispunha. Aí, entrava o espírito do companheirismo, entre as gráficas da época: uma emprestava à outra a fonte necessária para a execução daquele serviço.
As máquinas tipográficas, velhas Heildelberg alemãs, manuais, tinham a capacidade de 1.000 impressos por hora, limite a que nunca atingiam por que os rolos de gelatina, que levavam a tinta dos tinteiros para as chapas, tinham um desgaste muito grande, e necessitavam ser refeitos.
Naquela época, idos dos anos 60, na Ribeira existiam muitas tipografias: Tipografia Santo Antônio, Tipografia Lira, Tipografia Vilar, Tipografia Vitória, Tipografia Galhardo, Tipografia Augusto Leite e Tipografia Internacional, porque, então, todos se utilizavam dos serviços gráficos: para um santinho de primeira comunhão, para um papel timbrado, cartões de visita, e até para os grandes livros de escrituração pública ou comercial.
Existiam vários tipos de papel: 14, 16, couché, fluor post, linho, apergaminhado, pele de cabra. A utilização do tipo de papel dependia do serviço. O mais barato era o papel jornal, que, normalmente, era utilizado nas últimas vias de talões, ou na confecção de tablóides, que são aqueles jornais de formato quadrado, bem menores do que o jornal tradicional.
Trabalhando ao lado das velhas máquinas tipográficas, existia uma infinidade de máquinas auxiliares, indispensáveis aos serviços. A grande guilhotina alemã, responsável pelo corte dos papéis, era a cabeça do intrincado processo de impressão daquela época. Era ela quem alimentava a praça de impressão. Suas lâminas de aço, grandes e pesadas, eram afiadíssimas e precisavam de uma afiação periódica, pois perdiam o corte. Havia pessoas que prestavam esse tipo de serviço aos proprietários das tipografias.
Ao lado da guilhotina, uma máquina de dourar era a responsável pela gravação de nomes em lombos de livros.
Serena e precisa, havia também a pequena máquina de serrilhar: manual ou a pedal, que depois foi substituída por outra, mais moderna.
Tínhamos ainda o grande grampeador, que grampeava, sem dificuldades, grandes volumes de papel destinados à encadernação.
Na hora da confecção dos blocos ou talões, utilizavam-se o grampeador ou tachas, dessas de sapateiro, que eram batidas em cima de velhos trilhos de trem. Os trilhos também serviam para prensar os papéis na hora da colagem.
Difíceis eram os convites de casamento, ou santinhos de primeira comunhão e os cartões de Natal, quando o cliente queria dourados ou prateados. Na hora da impressão, antes da tinta secar, os papéis rapidamente eram levados para a mesa de dourar, a fim de polvilhar o pó, na cor dourada ou prateada, ao gosto do freguês, que já deixava tudo escolhido, ao fazer a encomenda.
Outra dificuldade daquela época eram os clichês, que tinham de ser encomendados no Recife. As aparas de papel eram convertidas em talões de jogo do bicho, ou em notas de posto de gasolina. Lembro-me do papel em resmas chegando do Recife, em cargas lonadas, que eram descarregadas no depósito, na Rua Câmara Cascudo.
Hoje, praticamente, as tipografias foram substituídas por gráficas rápidas, bem mais modernas. Vale salientar que os santinhos, calendários e convites finos para casamento vinham com a policromia pronta de São Paulo: da Probus, Pombo, Rotschild, etc. Aqui, eles eram apenas personalizados.
E assim, a Tipografia Lira ia andando, até a chegada da década seguinte, quando foi adquirida, em outro Estado, uma impressora plana, de alta velocidade para a época, e que precisou de um operário especializado a fim de operá-la. Era utilizada nos grandes serviços, como por exemplo, na confecção dos talonários do programa “Seu Talão Vale um Milhão”, da Secretaria da Fazenda do Estado. Nesta época, gerenciava a Tipografia o Sr. Moisés Villar, bastante experiente nesse ramo, um eterno aliado de Mozart.
Houve épocas em que a Tipografia Lira funcionava direto das 7 às 23 horas, dado o grande volume de serviços. Os funcionários faziam refeições normalmente na Peixada Potengi, de Heronides, ao lado. Sob o lema: “serviço realizado, cliente conquistado”, Mozart liderou o ramo gráfico, durante anos a fio, no Estado.
Todas as tardes, lá para as 15 horas, passavam em frente à Tipografia Lira o menino das tapiocas de coco, a moça que vendia bolo e a velha das cocadas, para a alegria dos gráficos.
Os dias se seguiam como as folhas impressas nas velhas máquinas. Muitos livros e livretos passaram por lá e, de tipo a tipo, a Tipografia Lira cooperou com a construção da História da Ribeira. Resistiu até o limite, quando cedeu à chegada do progresso, com as modernas gráficas off-set e computadores, pois, aí, a luta tinha ficado desigual.