02/12/2014
Sobre José Arno Galvão
Como alguns de vocês já devem saber, no último dia 17, tomei posse na cadeira 28 da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte, cujo patrono é o jurista Hélio Galvão (1916-1981). Sobre Hélio, inclusive, em reconhecimento da sua grandeza para o direito e para a literatura do nosso estado, escrevi aqui no domingo passado.
Hoje, homenageio o seu filho, o falecido advogado e escritor José Arno Galvão, o anterior ocupante da cadeira que tive a honra de assumir.
José Arno nasceu em Pedro Velho, à época chamada de Vila Nova, em 25 de julho de 1943. Foi seminarista e formou-se em Direito pela UFRN. Pai de três filhos (e já avô), faleceu, de um câncer no pulmão, aos 70 anos, em 2013. Deixou uma enormidade de amigos.
José Arno foi procurador do município de Natal, chegando a ocupar o cargo de procurador-geral na administração do então prefeito José Agripino Maia (fins do anos 70, começo dos 80), segundo nos informa o seu necrológico na Tribuna do Norte, jornal do qual ele era, assim como eu sou, colaborador semanal. Foi, também, biografo do pai com o livro “Hélio Galvão: um advogado” (de 2010). E foi, por muitos anos, assim como o pai, um respeitadíssimo advogado em nosso estado.
Para mim, entretanto, José Arno foi, sobretudo, o talentoso cronista dominical, na coluna “Quadrantes”, da Tribuna do Norte. Herdando o ofício do pai, ele escrevia sobre quase tudo. Um pouco de direito, como em “No escritório” e “O Supremo Tribunal”. Muito sobre livros, como em “O livro do futuro”, “Livros” e “Bibliotecas”. Nestas crônicas, narra suas leituras do nosso Otacílio Alecrim e sua “Província submersa”. Leituras de Raul Pompéia (em “O Ateneu”) e de Bernardo Guimarães (em “O seminarista”). De Camilo Castelo Branco, de Eça de Queiroz, de Machado de Assis, de José de Alencar e por aí vai.
Mas José Arno foi, a meu ver, como cronista, sobretudo, um memorialista, como, por exemplo, nas crônicas “Lembrando a infância”, “Depoimento”, “Cultivar as lembranças”, “Rememorando”, “Homenagens e memória” e “Sobrememória”. Às vezes rememorando cheiros, doces, comidas litorâneas, à moda de um Marcel Proust - em busca de um tempo, para muitos de nós, já perdido -, falava de sua infância em Vila Nova (hoje Pedro Velho), da estada da família em Penha (hoje Canguaretama), de Goianinha, da amada Tibau do Sul e de uma Natal que não enxergamos mais.
E sua contribuição, em forma de depoimento (na maioria das vezes de “ciência própria”, como dizemos no foro), para a história do nosso estado é notável. Em “A biblioteca”, por exemplo, ele narra o encontro amistoso entre o pai, Djalma Marinho e Aluízio Alves, em plena campanha para governador em 1960. Nessa eleição, Djalma, grande amigo de Hélio Galvão e candidato da situação, enfrentava Aluízio, de quem Hélio era, além de amigo, advogado. Narra José Arno: “Aluízio, sabendo do relacionamento de seu advogado com o antigo adversário e brincando com o fato, dizia duvidar de seu voto”. Já em “Uma relação de amizade”, sobre o laço que unia Hélio Galvão e Aluízio Alves, José Arno narra como se deu, em 1947, o covarde assassinato de Aristides Hortênsio, em Pedro Velho, uma das mais vergonhosas páginas (os mais velhos, digo experientes, devem saber) da história política do nosso Rio Grande do Norte. No episódio estavam envolvidos Hélio, Aluízio, Moacir Duarte, Ubaldo Bezerra, Dioclécio Duarte e muitos outros que já nos deixaram. E esses são apenas alguns exemplos dos “depoimentos” de José Arno.
Soube - e oxalá isso se concretize - que as crônicas de José Arno Galvão serão reunidas em livro brevemente. Uma iniciativa da Editora Sebo Vermelho. Mais um belo presente que essa corajosa editora dá, entre tantos outros por ela já dados, às letras e à história do nosso estado, estou seguro disso.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP
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01/12/2014
Rufino Álvares de Clavasino Costa
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e INRG
Rufino foi dono do Sítio Sacco da Freguesia de Macau, e vendeu uma parte de terras nas sobras desse mesmo Sítio, que se tornou depois o Alto do Rodrigues, para o capitão Joaquim Rodrigues Ferreira.
Para conhecê-lo melhor, vejamos o seu casamento: Aos oito dias do mês de fevereiro de 1853, às onze horas da manhã, na capela de Nossa Senhora da Conceição da Vila de Macau, na presença do Reverendo Ignácio Damazo Correa Lôbo, de minha licença, e das testemunhas Nicolau Vieira de Mello e José Correa de Mello, casados, e moradores nesta Freguesia, se uniram em matrimônio por palavras de presente, e receberam as bênçãos nupciais, os meus paroquianos Rufino Álvares de Clavasino Costa e Josefa Maria da Fonseca, naturais: ela, da Freguesia de São João Baptista do Assú;e ele desta de São José de Angicos, onde moram, filhos legítimos: ele, de Vicente Ferreira Barbosa, e de Francisca Xavier, falecida; ela de José Antonio da Fonseca e Maria Magalona de Jesus, falecidos: do que fez o dito padre este assento, que remeteu-me, e pelo qual faço este termo, em que me assino. O vigário Felis Alves de Sousa.
A testemunha Nicolau Vieira de Mello tinha casado, na Ilha de Manoel Gonçalves, com uma irmã da nubente, de nome Maria Francisca da Fonseca.
O pai do noivo, Vicente Ferreira Barbosa, foi figura de destaque em Angicos e vizinhanças. Casou três vezes: a primeira com Francisca Xavier da Costa, filha de Alexandre Barbosa e Joana Barbosa, como se vê da árvore genealógica desenhada por Jacob Avelino; a segunda com Francisca Xavier da Cruz, filha de José Antonio de Mello e Mathildes Quitéria da Cruz, e nessa época viúva de João Pereira Pinto Junior; e a terceira com Claudiana Evarista Ferreira de Moraes, filha de Antonio Ferreira de Moraes e Antonia Thereza de Jesus. Todas as suas esposas eram suas parentas.
Pela simplificação do registro de casamento, não se pode inferir qual das duas Franciscas era a mãe de Rufino, pois ambas eram falecidas quando ele casou. Talvez, Rufino seja filha da segunda, Francisca Xavier da Costa, com quem Vicente Ferreira casou em 1827.
Entre seus irmãos destacamos: Joanna Cordulina Xavier Ferreira, que foi casada com Francisco Machado de Azevedo Costa; Anna Francisca Xavier, que casou com João Ignácio Pereira Pinto, em 1833, cunhado da segunda esposa de Vicente Ferreira Barbosa; Antonio Valério da Costa Bezerra, que foi casado com uma filha de Francisco Xavier de Souza e Josefa Francisca da Costa.
Vejamos um registro de um filho de Rufino, com nome incomum: Neophito, filho legítimo de Rufino Álvares de Clavasino Costa e Josefa Maria da Conceição, nasceu a vinte e um de novembro de mil oitocentos e cinqüenta e seis, e foi batizado, solenemente, nesta Matriz do Assú, pelo Reverendo Coadjutor Elias Barbalho Bezerra, a 12 de março de mil oitocentos e cinqüenta e sete, e foram padrinhos, o major Vicente Ferreira Barbosa e Maria Joaquina da Fonseca, casados, e para constar mandei fazer este assento em que assino. Manoel Januário Bezerra Cavalcanti, Vigário Colado do Assú.
Pelos registros da Igreja, onde aparece como padrinho, como também através de jornais antigos, vemos que Rufino casou uma segunda vez. Não encontramos esse registro de casamento, mas sua esposa, Maria Joaquina da Fonseca, que tinha o mesmo nome da madrinha de Neophito, possivelmente, era irmã da primeira esposa, como era comum naquela época. Um filho do casal Rufino Álvares Clavasino da Costa e Maria Joaquina da Fonseca, nasceu no ano de 1861.
Neophito |
30/11/2014
A
Tipografia Lira
Elísio Augusto de Medeiros e Silva (in memoriam)
Quando comecei a
me entender de gente, fui apresentado àquela velha oficina gráfica: a
Tipografia Lira, a mais antiga de Natal, segundo diziam, que tinha sido do Dr.
Alfredo Lira, de quem herdara o nome. Em 1955, fora a mesma arrendada e,
posteriormente, vendida a Mozart Silva, seu último proprietário, fato que me
deu a oportunidade de conhecê-la.
No escritório,
aquela escrivaninha, ao lado da mesinha de máquina, feita de imbuia. Sobre a
mesinha, uma autêntica Remington 51, que tinha aposentado a Royal preta, de
teclas grandes e redondas, usada em época anterior à guerra. O velho telefone
preto Ericson, com o disco ligeiramente oxidado, tocava alto e estridente
quando, de fora, discavam 11-40.
Os lançamentos
da Willys Overland desenrolavam-se à nossa porta, pois a firma Santos & Cia.,
nossa vizinha, era a distribuidora daquela associação mercantil e, todas as
semanas, ali chegavam Rurais, Jeeps, Aero-Willis e Gordines para vender,
ficando os veículos expostos estacionados em frente à Tipografia, ao lado do
cartório de Alínio Azevedo.
Eu, ainda
menino, sentia-me fascinado por aquele mundo diferente... O mundo gráfico, com
cheiros fortes e variados de papel e tinta.
A sala dos
tipógrafos, profissão hoje extinta, ficava no final de um comprido salão, com
aquelas inúmeras estantes de madeira, possuindo gavetas e mais gavetas, cheias
de tipos de todas as fontes. Eram tipos que não acabavam mais! Vocês imaginem!
Cada fonte de tipo continha todas as letras do alfabeto, números e sinais
ortográficos. Isso mesmo: maiúsculo, minúsculo, negrito, caixa alta, caixa
baixa e por aí vai.
O cheiro de
gasolina era uma constante, pois a mesma era utilizada como o material de
limpeza das chapas, fruto do trabalho minucioso dos tipógrafos ou chapistas.
Essas chapas, depois de prontas, iam tirar uma prova para serem submetidas à
revisão, antes de serem engradadas nas máquinas, após a correção.
Depois de
utilizadas para o serviço, os tipógrafos faziam o trabalho inverso: tinham que
desmanchar tudo, com muito cuidado, pois havia o risco de empastelar; e, assim,
as letrinhas, com a ajuda de uma pinça, iam sendo colocadas, uma a uma, nos
seus lugares originais.
Tipos 12, 14,
16, 20 eram alguns dos tamanhos utilizados, mas, de vez em quando, tornavam-se
necessários outros tamanhos, dos quais a tipografia, às vezes, não dispunha.
Aí, entrava o espírito do companheirismo, entre as gráficas da época: uma
emprestava à outra a fonte necessária para a execução daquele serviço.
As máquinas
tipográficas, velhas Heildelberg alemãs, manuais, tinham a capacidade de 1.000
impressos por hora, limite a que nunca atingiam por que os rolos de gelatina,
que levavam a tinta dos tinteiros para as chapas, tinham um desgaste muito
grande, e necessitavam ser refeitos.
Naquela época,
idos dos anos 60, na Ribeira existiam muitas tipografias: Tipografia Santo
Antônio, Tipografia Lira, Tipografia Vilar, Tipografia Vitória, Tipografia
Galhardo, Tipografia Augusto Leite e Tipografia Internacional, porque, então,
todos se utilizavam dos serviços gráficos: para um santinho de primeira
comunhão, para um papel timbrado, cartões de visita, e até para os grandes
livros de escrituração pública ou comercial.
Existiam vários
tipos de papel: 14, 16, couché, fluor post, linho, apergaminhado, pele de
cabra. A utilização do tipo de papel dependia do serviço. O mais barato era o
papel jornal, que, normalmente, era utilizado nas últimas vias de talões, ou na
confecção de tablóides, que são aqueles jornais de formato quadrado, bem
menores do que o jornal tradicional.
Trabalhando ao
lado das velhas máquinas tipográficas, existia uma infinidade de máquinas
auxiliares, indispensáveis aos serviços. A grande guilhotina alemã, responsável
pelo corte dos papéis, era a cabeça do intrincado processo de impressão daquela
época. Era ela quem alimentava a praça de impressão. Suas lâminas de aço,
grandes e pesadas, eram afiadíssimas e precisavam de uma afiação periódica,
pois perdiam o corte. Havia pessoas que prestavam esse tipo de serviço aos
proprietários das tipografias.
Ao lado da
guilhotina, uma máquina de dourar era a responsável pela gravação de nomes em
lombos de livros.
Serena e
precisa, havia também a pequena máquina de serrilhar: manual ou a pedal, que
depois foi substituída por outra, mais moderna.
Tínhamos ainda o
grande grampeador, que grampeava, sem dificuldades, grandes volumes de papel
destinados à encadernação.
Na hora da
confecção dos blocos ou talões, utilizavam-se o grampeador ou tachas, dessas de
sapateiro, que eram batidas em cima de velhos trilhos de trem. Os trilhos
também serviam para prensar os papéis na hora da colagem.
Difíceis eram os
convites de casamento, ou santinhos de primeira comunhão e os cartões de Natal,
quando o cliente queria dourados ou prateados. Na hora da impressão, antes da
tinta secar, os papéis rapidamente eram levados para a mesa de dourar, a fim de
polvilhar o pó, na cor dourada ou prateada, ao gosto do freguês, que já deixava
tudo escolhido, ao fazer a encomenda.
Outra
dificuldade daquela época eram os clichês, que tinham de ser encomendados no
Recife. As aparas de papel eram convertidas em talões de jogo do bicho, ou em
notas de posto de gasolina. Lembro-me do papel em resmas chegando do Recife, em
cargas lonadas, que eram descarregadas no depósito, na Rua Câmara Cascudo.
Hoje,
praticamente, as tipografias foram substituídas por gráficas rápidas, bem mais
modernas. Vale salientar que os santinhos, calendários e convites finos para
casamento vinham com a policromia pronta de São Paulo: da Probus, Pombo,
Rotschild, etc. Aqui, eles eram apenas personalizados.
E assim, a
Tipografia Lira ia andando, até a chegada da década seguinte, quando foi
adquirida, em outro
Estado , uma impressora plana, de alta velocidade para a
época, e que precisou de um operário especializado a fim de operá-la. Era
utilizada nos grandes serviços, como por exemplo, na confecção dos talonários
do programa “Seu Talão Vale um Milhão”, da Secretaria da Fazenda do Estado.
Nesta época, gerenciava a Tipografia o Sr. Moisés Villar, bastante experiente
nesse ramo, um eterno aliado de Mozart.
Houve épocas em
que a Tipografia Lira funcionava direto das 7 às 23 horas, dado o grande volume
de serviços. Os funcionários faziam refeições normalmente na Peixada Potengi,
de Heronides, ao lado. Sob o lema: “serviço realizado, cliente conquistado”,
Mozart liderou o ramo gráfico, durante anos a fio, no Estado.
Todas as tardes,
lá para as 15 horas, passavam em frente à Tipografia Lira o menino das tapiocas
de coco, a moça que vendia bolo e a velha das cocadas, para a alegria dos
gráficos.
Os dias se
seguiam como as folhas impressas nas velhas máquinas. Muitos livros e livretos
passaram por lá e, de tipo a tipo, a Tipografia Lira cooperou com a construção
da História da Ribeira. Resistiu até o limite, quando cedeu à chegada do
progresso, com as modernas gráficas off-set e computadores, pois, aí, a luta
tinha ficado desigual.
29/11/2014
H O J E
O PRESIDENTE DA UBE/RN - ROBERTO LIMA DE SOUZA - CONVIDA PARA A NOITE DE AUTÓGRAFOS DA CONFREIRA JANIA MARIA SOUZA. A REALIZAR-SE EM 29-11-2014, NA LIVRARIA NOBEL DA AV. SALGADO FILHO, ÀS 19 HORAS.
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