MIGUELINHO – (1)
Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura
O patrimônio histórico-cultural do Rio Grande do Norte é
possuidor de perfis humanos os mais
ilustres e ilustrados: o Padre Miguelinho é um deles. Santificou-se como Mártir da Pátria. Santo e herói. Herói pela
coragem e santo pela dignidade. Ninguém mais digno na sua atitude de idealista. No martírio
ninguém mais
corajoso.
Este, o valor da sua alma e a força do seu coração.
Contudo, sobressai-lhe outros méritos incontestáveis.
Um deles gerou frutos da sua inteligência: o de Orador.
No seu tempo, o discurso era, regra geral, gongórico, adornado de enfeites retóricos, períodos intercalados de transparências exclamativas, com suas expressões sentimentais; acentuações do que se diz, na interjeição; as apóstrofes; a exageração das proporções naturais, na hipérbole, etc. A tudo isto
acrescentava-se o exórdio
e a peroração.
Hoje, tornar-se-ía cansativo e enfadonho. O nosso século é o século da velocidade, do pragmático, do objetivo. Porém, para a época era
um primor literário, o gênero da oratória
rebuscada.
O tempo atual mudou o seu aparato bombástico. O discurso dos dias presentes é mais enxuto, substantivado, objetivo. Tem visos de
alocução. Mais direto, sem insinuações, nem arrodeios. Não se
parece mais com a conferência, que precisa conferir... e sim com a palestra,
simples e breve.
Diversa a época
de 1817 quando a tribuna se ataviava de encantos literários. O valor conotativo da
oratória
era mais rico.
E o padre Miguelinho foi um grande orador, via
por onde desaguava a vasta erudição de suas letras clássicas. A sua Orasam Acadêmica
foi um dos marcos iniciais da Universidade Brasileira, uma verdadeira Aula
Magna de cultura humanista.
Diz Daniel-Rops, da Academia Francesa, que o púlpito foi implantado nas Igrejas pelos Dominicanos, em Toulouse, quando se iniciou a
Pregação. São
Bernardo, o monge branco; Francisco de Assis; são
Domingos, atraem multidões.
O mais famoso desses pregadores - Santo Antônio de Pádua. Seguem-se são
Boaventura, Thomaz de Aquino, Pedro, o Eremita... Gilbert de Nogent, Urbano II e Inocêncio
III.
"Os dois
Testamentos são os peitos. Pregadores, bebei!"
exclamava Hildeberto... “Todos os Sermões
medievais transbordam de vida, de matiz, e terminam com uma
mensagem edificante, facilmente compreensível".
Tal a fonte que iria beber Miguelinho para
tornar-se Pregador, que o foi culminando com
a láurea de respeitado docente de Retórica, no Seminário de Olinda.
Como político, nas
reuniões secretas que tomou parte, o verbo de Miguelinho
deve ter sido inflamável como inflamável
era o seu nacionalismo, o seu patriotismo, o seu idealismo. A oratória
vibrante devia possuir a flama ardente de um Raul Ardent, sacerdote,
cuja "palavra era um gládio".
Além de grande tribuno foi também professor
de Teologia. Foi ele um dos primeiros a levantar a chama ardente
da inteligência
pátria
nos currículos
universitários.
A História
registra o seu nome glorioso de intelectual e orador com o mesmo carinho e veneração que o faz em relação ao seu
martírio heróico.
A sua coragem diante dos juizes do seu
julgamento traçou-lhe o tristonho fadário, mas
transformado em glória. Idealismo
glorioso o dos mártires heróicos!
Dando
continuidade ao artigo anterio, recordando o vulto memorável do Padre
Miguelinho, na passagem de mais um ano do seu martírio, pela causa da
independêcia pátria, apresentamos mais alguns tópicos da sua biografia.
Miguel
Joaquim de Almeida era natalense, nascido no bairro da Ribeira a 17 de novembro
de 1768.
Filho
legítimo de Manoel Pinto de Castro, de origem portuguesa e de d. Francisca
Antônia Teixeira, natural de Natal. Seus irmãos Inácio e Manoel, sacerdotes e
José Joaquim, paroquiano, e a irmã Clara. Batizado na Matriz da Apresentação,
um mês depois de nascido.
Miguelinho,
em plena adolescência viajou para a Capital pernambucana. Pertenceu à Ordem Carmelita. Depois empreendeu viagem a
Portugal para prosseguir nos estudos religiosos e literários, lidando com inúmeros
intelectuais lusitanos e brasilieiros, dentre sacerdotes eleigos.
Em
1800, aos trinta e dois anos, requereu a chamada secularização, deixando de ser
frade para torna-se padre, condição que permaneceu pelo resto da vida.
Como
foi dito no artigo anterior, tornou-se aplaudido orador sacro, lecionando
Retórica no Seminário de Olinda, quando do seu retorno ao Brasil.
Patriota
convicto, assumiu destacada posição no grupo político conspiratório imbuído de
idéias libertárias, fazendo parte de reuniões em Recife e Olinda.
Tomou
parte do então governo Provisório, por ter sido um dos líderes da Revolução de
1817.
Após,
como a História registra, o movimento foi contido pela chamada contra-revolução,
tendo sido preso e fuzilado no Campo da Pólvora, na Bahia.
Teve
um martírio heróico, ao assumir a responsabilidade dos atos revolucionários,
livrando, assim, muitos outros adeptos do movimento político abortado.
Entretanto,
esse movimento conspiratório serviu de semente que germinaria cinco anos
depois, em 1822, quando brotou do solo, ainda ensanguentado, a árvore da
liberdade.
A sua
Estola é uma das relíquias raras guardada no nosso Instituto Histórico e
Geográfico e o seu retrato, em pintura, de fina arte, do pintor Parreiras,
segundo o pesquisador Cláudio Galvão, cuja criaçao deu-se na atmosfera de Paris
de 1916,e que adorna uma das paredes da Presidência da nossa Casa da Memória.
Opadre
Miguelinho tinha inclinaçao pelas alturas. Perseguiu sempre as realizações
enobrecedoras do espírito humano, as grandes coisas, como se diz: a grandeza da
Religião envolta no seu mistério imponderável, a sabedoria na arte retórica e o
idealismo político, traduzido no sublime ideal pátrio. Preciosidades estas
advindas da instrução intelectual sob a proteção dos valores da ética e da
moral.
A sua
formação educacional foi perfeita e plena, pois partiu da sua primeira idade, a
primavera da vida, o que é importante, no pensar de ilustrados educadores, já
que a planta tudo produz através da sua raíz.
Em
respaldo a essa argumentação aduz Sêneca ser ridícula um velho estudando na
escola primária. E conclui: “ao jovem compete preparar-se e ao velho
realizar-se”.
Elogiável
a vida de Miguelinho por ter sido plena por atividades corajosas, de disciplina
espiritual e de grandeza de carater.
Em
carta ao amigo Lucílio, diz o autor de “Aprendendo a Viver”, acima citado: “a
vida deve ser medida pelas ações e não pelo tempo”.
Dessa
passagem histórica, quase dois seculos decorridos, o Brasil se encontra com sua
independência consolidada e seu potencial energético e econômico causam inveja
a muitos paises civilizados, graças a têmpera de pessoas como padre Miguelinho,
cuja decisão partriótica iluminou o caminho.
MIGUELINHO - (2)
Dando
continuidade ao artigo anterio, recordando o vulto memorável do Padre
Miguelinho, na passagem de mais um ano do seu martírio, pela causa da
independêcia pátria, apresentamos mais alguns tópicos da sua biografia.
Miguel
Joaquim de Almeida era natalense, nascido no bairro da Ribeira a 17 de novembro
de 1768.
Filho
legítimo de Manoel Pinto de Castro, de origem portuguesa e de d. Francisca
Antônia Teixeira, natural de Natal. Seus irmãos Inácio e Manoel, sacerdotes e
José Joaquim, paroquiano, e a irmã Clara. Batizado na Matriz da Apresentação,
um mês depois de nascido.
Miguelinho,
em plena adolescência viajou para a Capital pernambucana. Pertenceu à Ordem Carmelita. Depois empreendeu viagem a
Portugal para prosseguir nos estudos religiosos e literários, lidando com inúmeros
intelectuais lusitanos e brasilieiros, dentre sacerdotes eleigos.
Em
1800, aos trinta e dois anos, requereu a chamada secularização, deixando de ser
frade para torna-se padre, condição que permaneceu pelo resto da vida.
Como
foi dito no artigo anterior, tornou-se aplaudido orador sacro, lecionando
Retórica no Seminário de Olinda, quando do seu retorno ao Brasil.
Patriota
convicto, assumiu destacada posição no grupo político conspiratório imbuído de
idéias libertárias, fazendo parte de reuniões em Recife e Olinda.
Tomou
parte do então governo Provisório, por ter sido um dos líderes da Revolução de
1817.
Após,
como a História registra, o movimento foi contido pela chamada contra-revolução,
tendo sido preso e fuzilado no Campo da Pólvora, na Bahia.
Teve
um martírio heróico, ao assumir a responsabilidade dos atos revolucionários,
livrando, assim, muitos outros adeptos do movimento político abortado.
Entretanto,
esse movimento conspiratório serviu de semente que germinaria cinco anos
depois, em 1822, quando brotou do solo, ainda ensanguentado, a árvore da
liberdade.
A sua
Estola é uma das relíquias raras guardada no nosso Instituto Histórico e
Geográfico e o seu retrato, em pintura, de fina arte, do pintor Parreiras,
segundo o pesquisador Cláudio Galvão, cuja criaçao deu-se na atmosfera de Paris
de 1916,e que adorna uma das paredes da Presidência da nossa Casa da Memória.
Opadre
Miguelinho tinha inclinaçao pelas alturas. Perseguiu sempre as realizações
enobrecedoras do espírito humano, as grandes coisas, como se diz: a grandeza da
Religião envolta no seu mistério imponderável, a sabedoria na arte retórica e o
idealismo político, traduzido no sublime ideal pátrio. Preciosidades estas
advindas da instrução intelectual sob a proteção dos valores da ética e da
moral.
A sua
formação educacional foi perfeita e plena, pois partiu da sua primeira idade, a
primavera da vida, o que é importante, no pensar de ilustrados educadores, já
que a planta tudo produz através da sua raíz.
Em
respaldo a essa argumentação aduz Sêneca ser ridícula um velho estudando na
escola primária. E conclui: “ao jovem compete preparar-se e ao velho
realizar-se”.
Elogiável
a vida de Miguelinho por ter sido plena por atividades corajosas, de disciplina
espiritual e de grandeza de carater.
Em
carta ao amigo Lucílio, diz o autor de “Aprendendo a Viver”, acima citado: “a
vida deve ser medida pelas ações e não pelo tempo”.
Dessa
passagem histórica, quase dois seculos decorridos, o Brasil se encontra com sua
independência consolidada e seu potencial energético e econômico causam inveja
a muitos paises civilizados, graças a têmpera de pessoas como padre Miguelinho,
cuja decisão partriótica iluminou o caminho.