28/10/2014

Macaíba (Coité)




MACAÍBA: 137 ANOS

Valério Mesquita*

O ponto alto das comemorações dos 137 anos da emancipação política e administrativa de Macaíba continua sendo o bicentenário de nascimento do seu fundador Fabrício Gomes Pedroza, cujas cinzas foram trasladadas do Rio de Janeiro para a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição. O vinte e sete de outubro de 1877, pela lei nº 801, Macaíba – que antes se chamava Coité – desmembrou-se de São Gonçalo. Aí amplia-se o período de esplendor comercial do porto de Guarapes que irradiou energia econômica a todos os quadrantes. Monopolizou o sal para o sertão, incentivou a indústria açucareira do vale do Ceará-Mirim, financiou a produção adquirindo as safras das fazendas de algodão, cereais, couros e peles. Fundou a “Casa dos Guarapes” e do alto da colina comandou o seu mundo de transbordamentos, onde tudo era rumor, vida, agitação, atividade.
É nesse vácuo de duzentos anos que reside a minha perplexidade. Um silêncio dominado pelo abandono e a indiferença. Ninguém coloca em cena a coragem de contemplar restituído o universo oculto de Fabrício que fez brilhar o nome de Macaíba dentro e fora do Rio Grande do Norte, na segunda metade do século dezenove. Não bastam, apenas, reprisá-lo com lendas e narrativas, como tivesse sido um mundo de ficção. Melhor que a dispersão da palavra solta é ouvir o eco de suas paredes reerguidas, das vozes trazidas pelo vento das vidas que não se pulverizaram mas renasceram pelas mãos das novas gerações. Esse universo semidesaparecido, clamo por ele, aqui e agora, afirmando que a melhor imagem de um homem, após a morte, não são as cinzas, mas a obra que legou à posteridade, revivida e restaurada como reconfortante e fiel fotografia de sua história e vida.
Como guerreiro solitário, luto há quinze anos pela restauração dos escombros do empório dos Guarapes. Como membro, àquela época, do Conselho Estadual de Cultura do Estado, consegui o tombamento. De imediato, no desempenho do mandato parlamentar obtive do governo a desapropriação da área adjacente. Batalhei, em alto e bom som, junto aos gestores públicos a elaboração do projeto arquitetônico, que, até hoje, dormita em armário sonolento da burocracia. Foi uma agitação, apenas, que não se moveu nem comoveu. Saí dos movimentos da superfície oficial, para as janelas da imprensa e outras vozes, em coro uníssono, oraram comigo pelas ruínas da mais reluzente história da economia do Rio Grande do Norte: os Guarapes. Todo esse conjunto de verdades fixas foi ilusão imaginar que a lucidez jamais se disfarçaria em surdez. Como enfrentei e venci no passado, partindo de perspectivas débeis e precárias, óbices quase intransponíveis para a restauração das ruínas do Solar do Ferreiro Torto e da Capela de Cunhaú, sinto que não perdi os laços entre a fragmentação do sonho e a fé incondicional no meu pragmatismo, de que tudo, até aqui, nada foi em vão.
Reproduzir a realidade, tal que se imagina que fosse, o burburinho comercial e empresarial daquele tempo de Fabrício, faz-nos refletir e aprender para ensinar aos jovens de hoje através de exemplos, imagens e ritmos, a saga de que vultos como o dele iniciaram uma figuração, nova, nítida e luminosa, pouco tempo depois, numa Macaíba que começava a nascer com Auta de Souza, Henrique Castriciano, Tavares de Lyra, Augusto Severo, Alberto Maranhão, João Chaves, Octacílio Alecrim e outros que construíram em modelos de vidas o prestigio da terra natal – que não se evapora, nem se desmancha. Essa realidade para mim é tensa e inquieta, porque cabe hoje revivê-la em todos nós. É imperioso que os nossos governantes tracem esboços para uma saída, uma superação, criando-se fendas e passagens, para juntos, todos, respirarmos o oxigênio da convivência com os nossos antepassados. Se todos nós pensarmos assim, com cada palavra significando labareda, lampejo, no centésimo trigésimo sétimo aniversário, derrubem, pois, os obstáculos que impedem as luzes da memória dos Guarapes refletirem sobre a posteridade. Se assim não agirmos tudo será cinzas.
(*) Escritor.

João Gregório Antunes e Maria Alves Lessa

Por João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Nos inventários, busco as relações de parentesco, as localidades, as datas, as convivências. Dou pouca importância aos bens. Meu interesse inicial, pelo de João Gregório, se deu pelo nome da sua última esposa, que tinha o sobrenome de minha tetravó, Josefa Clara Lessa e, também, de José Álvares Lessa, que em 1810 vivia na Ilha de Manoel Gonçalves. Tento descobrir seus parentes.

João Gregório Antunes, o inventariado que apresento hoje, casou três vezes, deixando vivos desses casamentos, quando faleceu, 13 filhos. Não encontrei, até o presente momento, nenhum registro desses casamentos. 

Em 31 de agosto de 1871, no lugar Olho d’Água, do termo do Assú, em casa de residência da inventariante, Maria Alves Lessa, a mesma informou que seu marido, João Gregório Antunes, faleceu no mesmo lugar acima, no dia três de maio do dito ano de 1871, deixando por seus herdeiros: Martiniano Antunes Bezerra, casado com Antonia Brasileira Maria de Macedo, Josefa Maria Bezerra, casada com Zacharias Fernandes Junior e Antonio Gregório Bezerra, solteiro de vinte e três anos de idade, filhos do seus primeiro leito com Maria Bezerra; José Gregório Antunes, solteiro de vinte e dois anos, Maria Umbelina da Encarnação, solteira de 20 anos, Emígdia Maria da Conceição, solteira, de dezoito anos, Sabino Antunes Cabral, de dezesseis, Anna Maria da Conceição, solteira, de quatorze anos, Francisco Gregório Antunes, solteiro, de treze anos, Maria Francisca da Conceição, solteira, de dez anos, Maria Francisca do Rosário, de cinco anos, filhos do seu segundo leito com Francisca das Chagas; Luisa, de dois anos, e Manoel de um ano de idade, do seu terceiro leito com a inventariante, todos moradores nesse mesmo lugar.

Nos livros de batismos, encontro, até agora, três filhos de João Gregório Antunes e de Francisca das Chagas de Jesus. Vejamos os detalhes.

Emigdia nasceu aos 23 de março de 1857, e foi batizada aos 31 de maio do mesmo ano, na Capela de Nossa Senhora do Rosário da Várzea, tendo como padrinhos Vicente Rodrigues Ferreira e sua mulher Maria Joaquina da Conceição, com procuração de Balthazar de Moura e Silva e sua esposa Maria Fernandes de Moura.

Francisco nasceu em 1 de abril de 1859, e foi batizado aos 25 de abril do mesmo ano, na mesma capela acima, tendo como padrinhos Manoel Rodrigues Ferreira Jr. e sua esposa D. Belmira  Amorosa da Silveira.

Maria nasceu aos 10 de dezembro de 1862, e foi batizada aos 5 de abril de 1863, na Capela acima, tendo como padrinhos Gabriel Soares Raposo da Câmara Sobrinho e Leocádia Maria de Oliveira Cabral.

Como João Gregório Antunes não deixou testamento, nem foi possível encontrar os registros dos seus casamentos, não descobrimos quem eram seus pais. Entretanto, ele pode ter algum parentesco com Gregório José Antunes, que faleceu em 17 de janeiro de 1845, com a idade de 50 anos. Este último foi casado com Maria Thereza da Conceição. 

Anna Maria Vitória e Lourença Maria de Araújo, filhas de Gregório e Maria Thereza, casaram, respectivamente, com Domingos Fernandes Cruz e Manoel Ignácio da Rocha, a primeira em 1833, e a segunda em 1834.

Quanto a minha tetravó, Josefa Clara Lessa, suspeito que era filha de José Álvares Lessa. Por ser ele representante de Bento José da Costa, português do Recife, imagino mais ainda, que ele, José Álvares, seja o português, de Lessa da Palmeira, Arcebispado do Porto, casado com a brasileira Francisca Xavier, que batizou em 1790, na Matriz do Santíssimo Sacramento, do Bairro de Santo Antonio do Recife, sua filha Rita, tendo como padrinho o capitão-mor José de Souza Rangel. O vigário encomendado dessa Matriz, nessa época, era Feliciano José Dornelles, que foi, posteriormente, vigário da nossa Matriz de Nossa Senhora da Apresentação.

27/10/2014

AGENDE-SE

VI ENCONTRO POTIGUAR DE ESCRITORES –

VI EPE , 29, 30 e 31-10/ 2014


VI ENCONTRO POTIGUAR DE ESCRITORES –
VI EPE 
 29, 30 e 31 de Outubro de 2014
 Coordenadores Gerais: Roberto Lima de Souza -
UBE Diógenes da Cunha Lima - ANL 
 Valério Alfredo Mesquita – IHGRN 
 José Willington Germano – Cooperativa
Cultural
da UFRN Secretário Executivo Eduardo
Antonio Gosson 
 Coordenadores Adjuntos: Anna Maria
Cascudo Barreto – ICC  
Angélica Vitalino - SEMEC-Parnamirim 
 Antonio Clauder Arcanjo UBE-RN
 Aluizio Matias dos Santos – UBE-RN 
 Carlos Roberto de Miranda Gomes UBE-RN 
 Geralda Efigênia – SEEC 
 Manoel Marques da Silva Filho - UBE-RN
 José Lucas de Barros - ATRN
 Maria Rizolete Fernandes - UBE-RN 
José Martins SPVA-RN 
 Jurandyr Navarro – Academia de Letras
Jurídicas - ALEJURN 
 Ormuz Barbalho Simonetti INRG
 Odúlio Botelho - IHGRN
 Rosa Ramos Régis da Silva - ANLIC 
Zelma Furtado - AFL-RN
 Comissão de Divulgação Alex Gurgel -
blog Grande Ponto 
 Cid Augusto - O Mossoroense 
 Cefas Carvalho- Potiguar Notícias 
Cinthia Lopes - TN-Caderno Viver 
 Jania Maria de Souza - Blog da SPVA
 J. Pinto Júnior - TV Bandeirantes
 Lucia Helena Pereira - Diretora de
Divulgação
 Maria Vilmaci Viana - blog Vivi Cultura
 Moura Neto - Novo Jornal Paulo 
Jorge Dumaresq - Assessor Especial de
Imprensa
 Sergio Vilar - Portalnoar.com 
Yuno Silva - Tribuna do Norte -  
Blog do MIRANDA GOMES
Blog Genealogia e História 
 Blog do IHGRN

 PROGRAMAÇÃO OFICIAL NOITE
 Quarta-feira, 29.10.2014 19h –
Credenciamento dos participantes
 20h – Abertura Solene (Roberto Lima de
Souza Presidente da UBE/RN, 
Diógenes da Cunha Lima Presidente
da ANL ; 
Valério Mesquita Presidente
do IHGRN 
 José Willington Germano Presidente
da Cooperativa Cultural- UFRN 20h30 –
Concerto de violão clássico com
Alexandre Atmarama 

Quinta-feira,  30.10.2014 - MANHÃ 09h –
A singularidade Poética de Ferreira Itajubá;  
Nelson Patriota e Lívio Oliveira
Moderadora: Rizolete Fernandes
10h30 – O papel das Academias na
difusão da Literatura Potiguar
Diógenes da Cunha Lima,
Cícero Macedo, Emmanuel Cavalcanti
e Zelma Furtado
 Moderadora: Conceição Maciel 12h - 
INTERVALO
TARDE 
 15h – 2º Fórum Potiguar do livro,
da leitura e das bibliotecas: Planos estadual
e municipais Betânia Ramalho Leite – SEEC,
Justina Iva - SME, Cláudia Santa Rosa -
IDE e Vandilma Oliveira - SEMEC
Moderadora : Geralda Efigênia 16h30 –
Bartolomeu Correia de Melo no Contexto
Literário regional e nacional
Arnaldo Afonso, Manoel Onofre Jr.
 e Tarcísio Gurgel Moderador: Nelson Patriota 
 18h– Sessão de autógrafos do livro
ROSA VERDE AMARELOU de
 Bartolomeu Correia de Melo (in memoriam),
pela esposa Verônica Melo, contendo a
obra completa do autor. Edições Bagaço,
 Recife.
Sexta-feira, 31.10.2014 MANHÃ 9h –
Porque sou Poeta Carlos Morais dos Santos,
 Roberto Lima de Souza e Diulinda
Garcia Moderador: Alexandre Abrantes
10h - Recital Poético Roberto Lima,
voz e violão; Alexandre Abrantes
e Eduardo Gosson ,declamações 10h30 -
O Máximo com o Mínimo: Poetrix, Haicai e
Aldravia Gilvânia Machado, Aluizio Matias
dos Santos e José de Castro Moderadora:
Valdenides Dias 12h -
 INTERVALO TARDE 15h -– Ariano Suassuna
 no Contexto Cultural brasileiro Carlos
Newton Júnior – Recife/PE 16h30 - Sarau
Lítero-Musical de encerramento Grupo
Poesia Potiguar e Cia (Currais Novos-RN)
 Sociedade dos Poetas Vivos e Afins -
SPVARN 18h - Sessão de autógrafos
do livro JORNAL DA SAUDADE: NATAL
NO MEU TEMPO DE MENINA,
comemorativo do Centenário da Escritora
Nati Cortez (in memoriam).
..............................................................
 INFORMAÇÕES 
 Vagas: 100 vagas para a SEEC/RN
100 vagas para a SME/Natal
100 vagas para a SEMEC/Parnamirim
100 vagas para escritores e público.
Inscrições: . Professores da rede
municipal, estadual e de Parnamirim
devem procurar a Ficha de Inscrição
em sua respectiva Secretaria de Educação
no período de 01 a 20 Outubro de 2014 .
Escritores e o público devem se inscrever
no Instituto Histórico e Geográfico
do RN, à Rua da Conceição, 622 –
Cidade Alta, no período de 01 a 20
de Outubro de 2014, entre 8h e 12h .
Local do VI Encontro Potiguar de
Escritores - VI EPE: Academia
Norte-Rio-Grandense de Letras – ANL -
Rua Mibipu, 443 –Petrópolis - Natal/RN
Data: 29, 39 e31 de Outubro de 2014
Outras informações:
eduardogosson115@gmail.com
robertolsouza@globo.com Organização:
União Brasileira de Escritores –
UBE/RN Academia Norte-Rio-Grandense
de Letras – ANL Instituto Histórico e
Geográfico do RN – IHGRN Cooperativa
 Cultural da UFRN . Certificado:
Os participantes receberão
Certificado no encerramento
do Encontro. Livraria:
A Cooperativa Cultural da UFRN
montará um stand de vendas
de livros de autores potiguares

26/10/2014

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O voto, dever ou direito?


  • Gaudêncio Torquato
O voto é um dever cívico ou um direito subjetivo? A instigante questão diz muito a respeito da qualidade de um sistema democrático. No nosso caso, a resposta é dada pela Constituição, que torna o voto compulsório, exceção feita aos jovens entre 16 e 18 anos, eleitores com mais de 70 anos e analfabetos. Quem deixar de votar e não apresentar justificativa plausível estará sujeito a sanções. Que implicações haveria para a democracia brasileira caso o voto fosse facultativo? O primeiro efeito seria a quebra de 35% na participação da população nas eleições, conforme projeções feitas por estudiosos do sistema eleitoral. Tomando como referência o conjunto deste ano - 135.804.433 eleitores -, iriam para as urnas entre 85 e 90 milhões de eleitores. Esse volume menor não significaria, porém, enfraquecimento da nossa democracia representativa, como alguns querem comprovar sob o argumento de que o País ainda não alcançou grau elevado de institucionalização política. Tal abordagem não resiste a uma análise mais acurada.

Para início de conversa, há um dado irrefutável que precisa ser levado em consideração: com o somatório de abstenções, votos nulos e em branco, ocorre uma quebra de 25% no resultado geral, conforme se viu no segundo turno da última eleição presidencial, em 2006. Pelo visto, o voto, apesar de obrigatório, queima considerável parcela da votação, sendo razoável projetar para este ano algo como 33 milhões de votos que não entrariam na planilha da apuração. Já o voto facultativo, significando a liberdade de escolha, o direito de ir e vir, de participar ou não do processo eleitoral, abriga a decisão da consciência, calibrada pelo amadurecimento. Se milhões de eleitores poderiam abster-se de votar, por livre e espontânea vontade, outros milhões compareceriam às urnas com discernimento para sufragar nomes e partidos previamente selecionados. O processo registraria, assim, índices bem menores de votos nulos e em branco, eis que a comunidade política, ativa e participativa, afluiria em peso aos locais de votação.

É falaciosa a tese de que a obrigatoriedade do voto fortalece a instituição política. Fosse assim, os EUA ou os países europeus, considerados territórios que cultivam com vigor as sementes da democracia, adotariam o voto compulsório. O fato de se ter, em algumas eleições americanas, participação de menos de 50% do eleitorado não significa que a democracia ali seja mais frágil que a de nações onde a votação alcança dados expressivos. Como observa Paulo Henrique Soares, em seu estudo sobre a diferença entre os sistemas de voto, na Grã-Bretanha, que adota o sufrágio facultativo, a participação eleitoral pode chegar a 70% nos pleitos para a Câmara dos Comuns, enquanto na França a votação para renovação da Assembleia Nacional alcança cerca de 80% dos eleitores. Portanto, não é o voto por obrigação que melhorará os padrões políticos. A elevação moral e espiritual de um povo decorre dos níveis de desenvolvimento econômico do país e seus reflexos na estrutura educacional. Na lista do voto obrigatório estão os territórios da América do Sul, com exceção do Paraguai, enquanto a lista do voto facultativo é integrada por países do Primeiro Mundo, os de língua inglesa e quase todos os da América Central.

A facultatividade do voto, ao contrário do que se pode imaginar, animaria a comunidade política, engajando os grupos mais participativos e vivificando a democracia nos termos apregoados por John Stuart Mill, numa passagem de Considerações sobre o Governo Representativo, quando divide os cidadãos em ativos e passivos. Diz ele: "Os governantes preferem os segundos - pois é mais fácil dominar súditos dóceis ou indiferentes -, mas a democracia necessita dos primeiros. Se devessem prevalecer os cidadãos passivos, os governantes acabariam por transformar seus súditos num bando de ovelhas dedicadas tão somente a pastar capim uma ao lado da outra." Valorizar o voto dos mais interessados e envolvidos na política, pela via do voto consciente, pode evitar que conjuntos amorfos participem do processo sem convicção. Alguns poderão apontar nisso posição elitista. Ao que se contrapõe com a indagação: o que é melhor para a democracia, uma minoria ativa ou a maioria passiva? A liberdade para votar ou não causaria um choque de mobilização, levando lideranças e partidos a conduzir um processo de motivação das bases.

O voto obrigatório, vale lembrar, remonta à Grécia dos grandes filósofos, tempos em que o legislador ateniense Sólon fez a lei obrigando os cidadãos a escolher um dos partidos. Era a forma de conter a radicalização de facções que quebravam a unidade em torno da polis. Ao lado da proibição de abstenção, nascia também ali o conceito de distribuição de renda. Já entre nós, a obrigatoriedade do voto foi imposta nos tempos do Brasil rural. O voto compulsório se alojou no Código Eleitoral de 1932, tornando-se norma constitucional em 1934. O eleitorado abarcava apenas 10% da população adulta. Temia-se que a pequena participação popular tornasse o processo ilegítimo. Hoje a paisagem brasileira é essencialmente urbana e os desafios são bem maiores. As contrafações se multiplicam. Os desvios se amontoam. O caráter amorfo de mais de 50% do eleitorado é responsável por muitos deles. O eleitor desatento não sabe, por exemplo, que o voto num "abestado" ou na celebridade que lhe é mais simpática acabará puxando outros nomes de que nunca ouviu falar ou sonhou eleger. Também ignora o fato de que seu candidato, mesmo sendo bem aquinhoado pelo voto, poderá ter de ceder o lugar a outro, de inexpressiva votação. E, assim, o desconhecimento da mecânica eleitoral expande, a cada pleito, a leva de oportunistas.

As eleições de outubro vão demonstrar, mais uma vez, que o pasto alto, verde e farto é a cerca mais segura para acalmar rebanhos e perpetuar o status quo. Mais eficaz que o alimento do espírito, o único que pode fazer de um território bárbaro uma grande nação.

Jornalista. É Professor Titular da USP e Consultor Político e de Comunicação (Fonte: ESTADÃO - Opinião)




BRASIL



BRASIL



BRASIL





S E M P R E





V O T E     C E R T O




A DEMOCRACIA DEPENDE DE VOCÊ



26  de  outubro  de 2014


25/10/2014

N Ó S   E  A   D E M O C R A C I A
Por: Gileno Guanabara, escritor

O fascismo começou a ser vencido na Itália durante o verão de 1943, com o desembarque aliado na Sicília. Vittorio Emanuele III, que convivera numa boa com os camisas negras desde a marcha sobre Roma (1922), liderou um golpe de estado, prendeu Mussolini, pondo em seu lugar Pietro Badoglio. Durante 45 dias de seu governo, Badoclio foi forçado a assinar o armistício com os aliados, provocando a invasão das tropas germânicas que libertaram Mussolini e deram apoio a Constituição da República Social Italiana. O rei e Badoclio fugiram para Blandisi, enquanto em Roma, sitiada pelos nazistas, foi fundado o Comitê de Libertação Nacional-CLN, para a resistência e unir acionistas, liberais, católicos, comunistas, socialistas, numa coalizão contra o nazi-fascismo.

            Apesar de lideranças regionais dos comunistas, em Roma, mais radical, e as de Milão, havia entre elas a visão política de unidade antifascista, ou, mais das vezes, a dúvida de oposição ao rei e ao governo Badoclio. Nesta última proposta se admitia compromissos com Badoclio, aproximando as posições de Luigi Longo e as de Togliati. Nesse ponto, as posições de Longo agregavam socialistas e acionistas e, em parte, até as do filósofo conservador Benedito Croce.

            O desenrolar da resistência deu caráter específico ao grau de participação e de unidade às forças da resistência. Ocorreram a greve dos trabalhadores da Fiat de Mirafiori (1943) e a greve geral do triângulo industrial (Turim, Milão e Gênova), que atingiu mais de 500 mil operários.

            Os últimos meses do ano de 1943 e início de 1944 foram decisivos para a libertação da Itália. Havia um desencontro de posições entre as forças insurgentes, em participar ou não, do governo Badóclio, e a proposta de ser criado um governo de frente nacional antifascista. Por influência do Congresso do CLN, em Bari, Togliati escreveu o texto Sobre os deveres dos comunistas italianos. Nele admite a participação dos comunistas sem obrigatoriamente exigir a abdicação do rei, elegendo a expulsão dos alemães do território italiano e a posterior convocação de uma Assembleia Constituinte, com o final da guerra e a decisão sobre a monarquia e o futuro regime do país. A fiança desse posicionamento deve-se a URSS que reconheceu a legitimidade do governo Badoclio, tese aprovada no Conselho Nacional do PCd’I, em Nápoles. Eis a senha para que o Sr. Ercoli Ercole assumisse o seu nome verdadeiro: Palmiro Togliatti.

            Com a nova realidade política resultante da postura de unidade das forças da resistência teve-se a formulação dos postulados do futuro Estado democrático italiano, onde estão inseridas as forças que compunham aquele arco de alianças. Em que pesem as pequenas divergências dos acionistas (Partido d’Acione), mesmo assim nasceu um novo governo de Badoclio, com a inserção do campo democrático. A consequência desse avanço, foi exatamente a formulação do Pacto de Roma, subscrito pelos sindicalistas católicos, socialistas e comunistas, e a fundação da Confederazione Generale Italiana del Lavoro.

            A resistência que se intensificou pela região de Toscana, quando do verão, possibilitou a libertação da cidade de Florença, seguindo-se as demais cidades do norte libertadas pelas forças partigianas, até o ano de 1945. Nessa compreensão ativa da luta política, consagrou-se o valor da exata compreensão do momento e dos valorosa formulação da Resistência. Consolidou-se o modelo de Estado de forças múltiplas, não excludentes, de concepções adversas, atuantes nos limites respeitosos do campo político democrático.

            Uma Democracia progressiva que prestigie as forças reagentes a qualquer tentativa de assaltos ao regime, que não vulnere as liberdades públicas, mesmo que não se surpreenda com a inovação das demandas populares renovadas. Na realidade italiana, durante a resistência ao nazi-fascismo, a intensidade na formulação dos debates, a postura límpida das teses postas em julgamento, consagrou a temperança de seus propósitos finais e a intenção de seus atores.

            Um jovem comunista, redator de L’Unitá, ainda clandestina, que foi metralhado pelos fascistas em 1945, escreveu seu entendimento sobre Democracia progressiva, dizendo: seria uma democracia nova e forte diferente, de uma parte, tanto em termos formais como de conteúdo, da “ditadura do proletariado” (que na situação italiana de então não passaria de uma imposição despótica dos comunistas), e, de outra parte, da “democracia débil e conservadora” dominante na Itália pré-fascista, sendo também naturalmente contrária a “todo resíduo das instituições e do pessoal fascista”.  Finalizou o redator lembrando a exigência de participação maior das massas populares, em especial da classe operária, a quem refere a condição de “classe nacional”.

            O debate eleitoral que ora é travado no Brasil é facilitado pelos meios tecnológicos de comunicação disponíveis. Não há intempérie econômico/política que se anteponha ao debate posto, nem perigos ocorrentes, como quando de uma Itália sob a Segunda Grande Guerra. No entanto, no nosso caso, mesmo em os líderes partidários não revelarem graves deformações ideológicas, nem programáticas divergentes, a ponto de os destacar, os poderes da República se comportam na condição de alcaides regionais a decantarem seus feitos, com liminares, datas e ocorrências de nascimento próprios de uma luta provinciana.

            O que se reserva ao Brasil mulato e distinto, de cores e tambores que tingem e rufam desde o olodum ao samba carioca, o Brasil de cafuzos e malandros, de traquinagens e Macunaíma tupiniquins, sobra muito pouco. Que república desejamos? Que caminhos prosseguir? Que debate desejamos ouvir?  Sobre isso, nada. A democracia tem um lastro oponível, desde muito antes até a solução de suas crises. É possível ter a melhor compreensão, comungar e externar os fatos, para a superação.

            Não há como atribuir culpa puerperal depois dos equívocos. Compete aos líderes, por mais respeito aos desvalidos, contribuir para que as forças sejam tendenciadas à coerência política, à superação da crise. Nada é melhor do que nós.

24/10/2014

CINEMA POTIGUAR



Curta-metragem “Incontinências”
Enviamos o release e fotos do curta-metragem “Incontinências”, que será exibido no próximo dia 24 de outubro, em sessão às 20 horas, no Mercado de Petrópolis (Espaço Cultural Abraham Palatnik).  Antecipadamente, agradecemos o espaço aberto no seu veículo e contamos com sua honrosa presença. Obrigado e felicidades.
 
Contatos:
Paulo Dumaresq (Diretor/Produtor) – 9953.5846 / 9480.8614
Camilla Natasha (Atriz) – 9477.1313.
 
Curta-metragem “Incontinências” será exibido nesta sexta-feira no Mercado de Petrópolis
 
Quem viu, poderá rever, e quem não viu, terá mais uma chance de conferir o curta-metragem “Incontinências”, amanhã (24), às 20 horas, no Mercado de Petrópolis (Espaço Cultural Abraham Palatnik). O filme tem direção geral de Paulo Dumaresq, direção de fotografia de Alex Régis e interpretação pela atriz Camilla Natasha. Após a exibição, haverá um show do músico Carlos Bem.
 
A segunda exibição pública do curta conta com o apoio da Prefeitura do Natal, por meio das Secretarias de Comunicação Social (Secom), Serviços Urbanos (Semsur), Cultura (Secult) e da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), além do Cineclube Natal, ZooN Fotografia e da Associação dos Permissionários do Mercado de Petrópolis (Asperm). A entrada é gratuita.
O enredo de “Incontinências” trata de uma mulher sem identidade que perambula por espaços públicos de Natal em busca de si mesma. Em cada cenário, assume um personagem (puta, louca, suicida, alternativa, viúva). Nesse vaguear, recita poemas e emite pensamentos. A transgressão às normas vigentes é seu estandarte. Nos 11 tratamentos do roteiro, cenas foram acrescentadas e o curta foi finalizado em 15 minutos.
Dumaresq encontrou no diretor de fotografia Alex Régis, na atriz Camilla Natasha e no diretor de produção, Davis Josino, os parceiros que precisava para dar vazão ao seu espírito realizador. Ele desenvolve roteiros desde o início da década de 1990, época em que iniciou também a escrita de textos dramatúrgicos. Na impossibilidade de realizar filmes na subdesenvolvida Natal de 20 anos atrás, o jeito foi salvá-los na memória do computador. Com a ascensão do audiovisual na cidade, o realizador deu tratos à bola e produziu seu primeiro curta.

Ao núcleo base, juntaram-se depois Vladimir Alexandre (assistente de fotografia), Nilson Eloy (captação de som, edição de áudio e mixagem), Anderson Santos (still), Alysson Régis (assistente de platô e iluminação), Ricardo Cavalcanti (assistente de platô), Adriano Azambuja (trilha original) e Bernardo Luiz (edição e finalização). A Música Popular Potiguar também se faz presente na voz de Romildo Soares (“Algumas verdades sobre a mentira”) e Carlos Bem (“Desalmado”).
 
O roteirista e realizador foi buscar nos seus ídolos do cinema (Fellini, Pasolini, Godard, Bressane, Sganzerla, Jos Stelling) as referências que precisava para realizar um curta no limite entre o cinema alegórico e o marginal. Não à toa dedica seu primeiro rebento audiovisual ao cineasta Rogério Sganzerla. Tanto é assim que o curta apresenta sintomas do cinema underground, como a narrativa fracionada e a rarefação dramática, afora a ruptura estético-formal-conteudística, marcas daquela tendência do cinema brasileiro, que ficou em evidência no período de 1968 a 1973.
O filme (re)visita cenários/locações da capital norte-rio-grandense, como a passarela de Potilândia, o Memorial Câmara Cascudo, o Parque das Dunas, o Beco da Quarentena, a praça André de Albuquerque, o cemitério do Alecrim, além das praias de Miami, do Meio e de Tabatinga. Mais papa-jerimum impossível.
 
SERVIÇO:
 
O quê? Exibição do curta-metragem “Incontinências”.
Onde? Mercado de Petrópolis (Espaço Cultural Abraham Palatnik).
Quando? 24 de outubro, às 20 horas.
 
Quanto? Grátis.

In memoriam

Uma Sessão no Cinema Rio Grande

Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ


Quando a vi pela primeira vez, não sabia que ela estava destinada a ser a minha companheira definitiva; a minha outra metade; a asa que me apoiaria durante minha existência.

O primeiro olhar foi à distância, quando meu jeep 1954 quebrou em frente à sua residência, na Avenida Deodoro.

Descobri o número do telefone do “brotinho”. Os telefones de Natal eram de quatro algarismos – fáceis de decorar. O de sua residência era 32-33. Os dois primeiros algarismos eram sucedidos em ordem natural numérica.

Passei a telefonar-lhe com frequência. Certo dia liguei para convidá-la a assistir uma matinê do Cine Rio Grande, que exibia um filme badaladíssimo à época.

Claro que para isso ela teve que obter o consentimento dos pais. Depois de tudo acertado, nos encontramos em frente ao cinema da Av. Deodoro – ela estava linda e deslumbrante. Vale salientar que, até então, somente a vira no uniforme do Colégio Imaculada Conceição – saia azul pregueada e blusa branca, abraçada aos seus livros.

Entramos no Rio Grande – a censura do filme, 14 anos, deu-me certo alívio, pois acho que ela seria barrada se a exigência fosse maior (tinha cara de menina).

Ela não aceitou que eu pagasse a entrada dela e da acompanhante – quase paga a minha! Soberba, não?!

Naquele tempo, moças de família não iam ao cinema desacompanhadas – levavam sempre alguém mais velho de sua família.

Compramos torrones, balas Déa, batons Leite e Mel, drops Dulcora, Sonho de Valsa, na bombonière e entramos na sala de projeções do andar térreo do Rio Grande.

Como eram desconfortáveis aquelas cadeiras! Felizmente, o salão de projeção estava quase vago, e pudemos escolher onde sentar. Acomodamo-nos na fila do meio, longe daqueles incômodos e barulhentos ventiladores de coluna.

Ela se mostrava tímida e sem jeito. Após os sonoros sinais (tum, tum, tum), a luz apagou, as cortinas se abriram e a projeção iniciou com o tradicional jornal.

Bastante nervoso, demorei bastante para ter coragem de tentar pegar na sua mão, que cheirava a Blue Lotus, perfume da época. Depois de várias investidas, às quais ela resistia e puxava a mão, finalmente ela consentiu. Não sei qual mão estava mais gelada... a minha ou a dela.

O avanço dos carinhos permitiu que, além de pegar na sua mão, também colocasse a mão no seu ombro. Beijar?! O que vocês estão pensando?! No início dos namoros isso era proibitivo. O primeiro beijo entre um casal de namorados só acontecia depois de vários meses de namoro – às vésperas do noivado.

E, assim, no escurinho do cinema, assistimos ao filme, de mãos dadas, sob os olhares vigilantes da moça que nos acompanhava.

Saindo do cinema, fomos lanchar no Estoril, uma pequena lanchonete que ficava na Rua Coronel Cascudo, na Cidade Alta. Depois do lanche, vimos algumas vitrines de lojas: A Formosa Syria, Nova Paris, Sapataria Elite...

Em seguida, fui levá-las de volta para casa, que, por sinal, ficava na mesma Avenida do Cinema Rio Grande. Deixei as duas em sua residência e fui embora exultante, indo comemorar no “Bar do Vovô”.

Voltei no dia seguinte e o nosso “namoro de portão” iniciou – com conversas bobas, risadas fáceis e palavras meigas. Já são mais de 40 anos de convivência, de lutas, de vitórias e também de desapontos.

Não sei se namoros assim ainda acontecem!