01/10/2014


Do inventário amigável de Francisco José Soares


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Dizem os abaixo assinados Luiz Cândido Maciel de Brito, herdeiro inventariante, Manoel Xavier da Cunha Montenegro e Onofre José Soares, também como herdeiros, que, tendo falecido ab-instestato, no dia vinte e cinco de maio do corrente ano de mil oitocentos e setenta e dois, nosso sogro e pai Francisco José Soares, deixando três filhos legítimos, Onofre José Soares, Dona Antonia Francisca Soares de Brito, casada com o primeiro nomeado Luiz Cândido Maciel de Brito, e Dona Maria Francisca Soares Montenegro, casada com o segundo nomeado Manoel Xavier da Cunha Montenegro, todos maiores de 21 anos, e conseguintemente isentos de forma de juízo, por isto temos justo e contratado entre nós de fazermos amigavelmente o inventário e partilha dos bens deixados pelo dito nosso falecido sogro e pai; a fim de que seja afinal julgado por sentença, e para este fim nos louvamos nos senhores: Enéas Barbalho Ferreira do Carmo, Francisco da Silva Bastos para avaliadores dos bens que forem descritos em dito inventário amigável e no senhor Idalino Abílio Pinheiro Monteiro para o escrever; os quais achando-se presentes aceitaram  esta nossa louvação prometendo-nos proceder com inteireza e conforme em suas consciências entendessem, e passamos assim a proceder a descrição e avaliação como nos cumpre sobre os mencionados bens, e declaramos, em tempo, que nos louvamos no herdeiro Luiz Cândido Maciel de Brito para inventariante, o qual aceitando a louvação presente descrever os bens pertencentes ao monte de nosso sogro e pai, havendo-se no desempenho de suas respectivas funções com todo zelo, inteireza e retidão; o que tudo para constar se lavrou o presente termo em que assinam o inventariante, herdeiros e avaliadores. Povoação de Guamaré, 14 de agosto de 1872. Eu Idalino Abílio Pinheiro escrivão louvado o escrevi. Luiz Cândido Maciel de Brito, Manuel Xavier da Cunha Montenegro, Onofre José Soares, Francisco da Silva Bastos, Enéas Barbalho Ferreira do Carmo.

No inventário, entre as terras descritas, salientamos: Fazenda Carauzinho; lote de terras no Riacho Camurupim, comprada a João Leandro; meia légua de terras, no Sítio Fazenda Nova para o Guajiru; um lote de terras no Sítio Lagoa da Ilha, no Rio Salgado, da Freguesia da Vila de Angicos, comprada a Manoel Vieira da Costa (este, irmão de dois tetravós meus, Agostinha Monteiro de Sousa e Vicente Ferreira da Costa e Mello do O’); um lote de terras no Sítio Canafístula, comprada a Clara Gomes da Silveira; lote de terras na Freguesia de Angicos, no Sítio Assenon, comprada a Alexandre Francisco Pereira Pinto; lote de terras na Fazenda e Sítio Assenon, comprada a Gonçalo Pereira Pinto.

Francisco José Soares, o inventariado, desposou Izabel Joaquina da Hungria, na capela de Nossa Senhora da Conceição de Guamaré, em 21 de julho de 1830, ele, filho de Manoel José Soares, falecido, e Felipa Maria de Jesus, ela, filha de João Francisco dos Santos e Gertrudes Gomes da Silveira, sendo testemunhas o padre José Berardo de Carvalho e Venâncio José da Silva.

Manoel Xavier da Cunha Montenegro, que nasceu e foi batizado, em 1836, tendo como padrinhos Diogo Velho Cardoso e Catharina de Sena Flora Cavalcante, ambos casados, casou com Maria Francisca Soares, em 25 de novembro de 1857, na capela de Nossa Senhora da Conceição de Guamaré, sendo ele filho de Francisco Xavier da Cunha e Izabel Rodrigues de São Tiago, e ela de Francisco José Soares e Izabel Francisca Soares (os nomes sempre variando de registro para registro), sendo testemunhas Onofre José Soares e Francisco Xavier da Cunha Montenegro (irmão do noivo).

Em 4 de julho de 1881, em oratório privado na Fazenda Conceição da Matta, residência do tenente-coronel Onofre José Soares, foi realizado o casamento de Onofre José Soares Filho e Maria Francisca Soares Montenegro, com dispensa de parentesco de 2º grau. Embora não constassem os nomes dos pais dos nubentes, sabemos, pelo grau de parentesco (primos legítimos), que ele era filho de Onofre José Soares e Maria do Carmo do Amor Divino, e ela de Manoel Xavier da Cunha Montenegro e Maria Francisca Soares. O registro informa que ele era de Touros, e ela de Macau.

Luiz Cândido Maciel de Brito nasceu em 1831, filho do português, de Ponta de Lima, Arcebispado de Braga, Antonio Maciel Pereira de Brito, e Izabel Clara de Macedo, tendo como padrinhos José Antonio Pereira Maciel de Brito e Antonia Maria de Bastos, da Freguesia de Una. Do casamento dele, com Antonia Francisca Soares, encontramos, apenas, a filha Izabel, nascida e batizada, em Guamaré, no ano de 1855, tendo como padrinhos Antonio Cândido Maciel de Brito, solteiro, e Severa Francisca Soares, solteira.
Capa do inventário de Francisco José Soares

30/09/2014


Duas bibliotecas


A+A-
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República

Grandes bibliotecas - que, invariavelmente, são também ótimos museus - já foram tema de nossas conversas neste espaço.

Recordo-me, por exemplo, já ter escrito aqui, não faz muito tempo, sobre a British Library (www.bl.uk), que habita um gigantesco prédio (o número 96 da Euston Road), inaugurado em 1988, em Londres, capital do Reino Unido. Enfatizei o seu acervo assustador: mais de 150 milhões de itens, em quase toda língua imaginável, incluindo livros, manuscritos, mapas, jornais, revistas, desenhos, arquivos de música, selos etc. Tratando ainda da Terra da Rainha, também escrevi sobre Bodleian Library (www.bodleian.ox.ac.uk/bodley), a biblioteca da Universidade de Oxford, que é um dos depósitos legais de livros para o Reino Unido e a República da Irlanda. Referi-me à beleza dessa biblioteca, (re)fundada em 1602 por Sir Thomas Bodley (1545-1613), tida como “a árvore do conhecimento em meio ao paraíso das musas”. E já tratando do Novo Mundo, mais precisamente dos Estados Unidos da América, escrevi sobre Biblioteca Pública da Cidade de Boston (www.bpl.org), que se afirma a primeira biblioteca pública municipal daquele imenso país. Verdade ou não, de minha parte atestei ser o prédio central da Biblioteca de Boston belíssimo. De acesso completamente livre, recomendo enormemente a visita, seja você estudante ou mero turista de ocasião.

Aliás, sempre defendi que as grandes bibliotecas merecem ser visitadas pelo turista amante de livros (além de frequentadas, evidentemente, pelo pesquisador, professor, estudante etc.). Mesmo que não seja o caso de xeretar o acervo da biblioteca de um modo sistemático e com um propósito específico, vale a pena dar uma olhadela nas suas obras mais raras ou nas exposições, permanentes ou temporárias, dedicadas aos mais variados temas, que elas sempre disponibilizam para o público em geral.

E já que, recentemente, escrevi três artigos sobre as livrarias de Paris, vou aproveitar a toada para dar duas dicas de bibliotecas para se visitar na capital francesa.

A primeira delas é a Bibliothèque nationale de France - BnF (www.bnf.fr). Na verdade, a BnF possui mais de uma sede, sendo que conheço, recomendando assim a visita, duas delas: a Biblioteca (edifício) Richelieu e a Biblioteca (edifício) François-Mitterrand, esta última, hoje, a mais importante.

A sede Richelieu, bastante central, fica no número 5 da Rue Vivienne (se for de metrô, recomenda-se descer em uma dessas três estações: Bourse, Palais-Royal ou Pyramides). Outrora palácio do Cardeal Mazarin (1602-1661), o prédio, que passa atualmente por meticulosa restauração, é belíssimo, sobretudo a “Salle Ovale” de leitura. Funcionando como excelente museu, abriga boa parte dos tesouros da BnF, sendo considerada ainda como o seu “berço histórico”. Está aberta ao publico, havendo até, para quem interessar, a possibilidade de se fazer uma visita guiada.

Hoje, entretanto, a principal sede da Bibliothèque nationale de France é a (Biblioteca) François-Mitterrand, inaugurada em 1996, que fica no Quai François-Mauriac, já bem mais afastada do centro histórico de Paris (estação de metrô Quai de la gare; se preferir o RER, outro tipo de trem metropolitano, descer na estação Bibliothèque François-Mitterrand). Essa localização, aliás, é o seu (talvez) único defeito. A Biblioteca François-Mitterrand é gigantesca, em termos de estrutura e acervo, no estilo da já mencionada British Library. Além da “biblioteca de pesquisa”, reservada àqueles previamente credenciados, o bom é que ela possui uma “biblioteca de estudo”, de acesso geral, bastando o visitante ser maior de 16 anos. Nos múltiplos ambientes, você terá acesso a coleções dos mais variados ramos do conhecimento, em forma de livros, periódicos, jornais, meios audiovisuais ou eletrônicos. Pelo que me recordo, paga-se um valor simbólico, de entrada, mas isso é o de menos. Vale a pena ler por lá, eu garanto.

A segunda biblioteca que recomendo em Paris, por sinal a minha preferida, é a Bibliothèque publique d’information -  Bpi (www.bpi.fr). Ela fica no Centre Georges-Pompidou, o controverso edifício “às avessas”, com elevadores, escadas e tubulações tudo à mostra, que também abriga o Musée National d’Art Moderne francês. A proposta da Bpi é sensacional: (i) acesso livre, gratuito, com espaços de leitura e de trabalho abertos a todos; (ii) coleções variadas em todos os tipos de mídias (livros, periódicos, jornais, filmes, mídias eletrônicas etc.); (iii) incentivo à autonomia do trabalho do leitor/pesquisador, que tem acesso direto às coleções; (iv) monitoramento e novação constante das coleções; e (v) realização, em conjunto com o Centre Pompidou, de diversas atividades culturais paralelas, como exposições, conferências, debates, exibições de filmes etc.

Se não bastasse isso, a Bibliothèque publique d’information é bastante central (fica entre as estações de metrô Rambuteau e Hôtel de Ville), nas beiradas do maravilhoso bairro do Marais (quer região melhor?), ficando aberta, o que é raro na Europa, até às 22 horas, todos os dias, com exceção da terça-feira. De um bom livro a um excelente vinho é menos de uma “página”.

Pessoalmente, no meu período de estudante em Paris, no já distante ano de 2006,  frequentei quase todos os dias à Bpi. E, às vezes, recordo-me desse período - e de Paris - com imensa saudade. Ainda bem que, já dizia o nosso Peninha, ter saudade “é melhor do que caminhar vazio”.

IHGRN




INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – IHGRN

P O R T A R I A  Nº 02/2014-P

O Presidente do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE - IHGRN, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 15, ‘f’ do Estatuto Social e considerando a necessidade de constituir um Conselho Editorial para a Revista do IHGRN,
R E S O L V E
DESIGNAR para compor o Conselho Editorial da Revista do IHGRN, até o término do mandato da atual Diretoria, os seguintes sócios: Edgard Ramalho Dantas, na condição de Presidente; Jurandyr Navarro da Costa, Nelson Patriota, Racine Santos e João Felipe da Trindade, como membros titulares e Carlos Roberto de Miranda Gomes, como membro suplente.
PUBLIQUE-SE. CUMPRA-SE.


Natal, 30 de setembro de 2014
VALÉRIO ALFREDO MESQUITA
Presidente do I.H.G.R.N.

29/09/2014

GG


DE PALMIRO TOGLIATTI À DEMOCRACIA NO BRASIL
Por: Gileno Guanabara, sócio efetivo do IHGRN

            No artigo que publicamos na semana passada, destacamos as contradições que emparedaram o internacionalismo que vigorou na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS e a ruptura que as transformações e concessões ideológicas adotadas pelo Partido Comunista Chinês-PCC representaram. Fizemos referência an passant ao viés ideológico do Partido Comunista Italiano-PCI, cujos líderes proeminentes se pautaram em discordâncias para com as concepções do modelo internacionalista do partido na URSS.

            Cláudio Oliveira nos enviou comentários acerca do livro do professor Marco Mondaini – Do stalinismo à democracia. Palmiro Togliatti e a construção da via italiana ao socialismo (Contraponto Editora). Trata da biografia recém publicada do líder comunista italiano, no período de 1944/1964, com influência na política europeia. Prevalecia, na era stalinista, a teoria do social fascismo, que acusava a social democracia como sendo uma irmã gêmea parida do fascismo, tornada, por isso, o inimigo a ser combatido.

            Reconhece o biógrafo que coube ao trabalho formulado por Gramsci a influência maior para a formulação da estratégia democrática implementada pelo partido italiano, apesar das simpatias que tinha para com a Revolução Russa de 1917.   São dele os alfarrábios escritos no cárcere, onde morreu, discordantes do modus soviético - a via internacionalista da revolução, modelo único a ser implementado em todos os países, através do partido. O Partido Comunista Francês-PCF também reagiu. Foram propostas alianças táticas com as tendências mais amplas, incluída a social democracia, e personalidades progressistas, a fim de fortalecer o combate ao fascismo ascendente na Europa. Para o PCI, as instituições italianas estavam mais propensas a chegar ao poder pela via democrática e não pelo poder das armas. Coube a Togliatti e a Dmitrov, líder búlgaro, convencer Stalin a reverter aquela tática vigente, para efeito de união do partido com os demais de tradição antifascista, o que preponderou na Carta de 1944. 

            Talvez tenha sido por essas razões, pelo seu alcance mais realista e agregador de forças no campo progressista, que fez com que o PCI sofresse dura repressão da ditadura fascista de Mussolini, a partir de 1923, com prisões e assassinatos dos comunistas. Deva-se a isso, a valorização cada vez maior das liberdades públicas. Com o fim da Segunda Guerra, dada a influência do PCI, juntaram-se o Partido Socialista-PSI e o Democrata Cristão-PDC, cuja unidade correspondeu as conquistas na Constituição Italiana de 1944, que vige ainda hoje. Mesmo quando os ventos da Guerra Fria se fizeram contrários à composição no governo, Togliatti insistiu na unidade dos partidos em torno do governo. Ainda que diante da defecção do PDC, que passou a aceitar a exclusão do PCI e do PSI da coalizão governamental, Togliatti aceitou colaborar com o governo, tendo em mira afastar a influência dos fascistas. De um lado, ganhou a Constituição que foi respeitada. De outro lado, a morte trágica de Aldo Moro representou um ataque ingênuo, ou de má fé, das Brigadas Vermelhas, contra a participação do PDC na retomada daquele projeto.

            Tiveram os comunistas desde Togliatti, passando por Luigi Longo e Berlinguer, o esmero de não se imiscuírem, como se fossem únicos, nos interesses dos trabalhadores italianos. Diferentemente, na Alemanha, o Partido Social-Democrata-PSD não teve o apoio do PC Alemão, tornando o presidente Hindenburg refém e a quem não restou outra alternativa senão designar o líder do Partido Nazista como primeiro-ministro. Foi a derrocada. Na Alemanha de 1933, por menor que fossem as concessões a serem feitas, para a formação da maioria no governo, cristalizou-se o impasse e a chegada de Adolf Hitler ao poder.

            Em plena guerra fria, face a intransigência do Papa Pio XII, que em julho de 1949 excomungou os comunistas e ameaçou suspender os sacramentos da Igreja aos católicos que se vinculavam ao PCI, Togliatti elaborou a tradução, prefaciou e lançou o livro de Voltaire, filósofo iluminista francês, Tratado sobre a tolerância.

Giuseppe Tosi, da UFPB, na apresentação que faz da atualíssima obra de Carlo Mondaini, revela-se consciencioso sobre a integração entre os secularizados, o mundo da religião e a política. Diz Giuseppe: Nós, jovens católicos da Igreja do dissenso, inspirados no aggiornamento do concílio Vaticano II, começamos a romper com o collateralismo entre Igreja Católica e Democracia Cristã e passamos a apoiar o Partido Comunista: foi um Deus nos acuda, uma decisão que lacerou as famílias, as comunidades eclesiais, o mundo político. ... Quanta saudade daquele tempo! As duas igrejas, apesar da contraposição frontal, possuíam um conjunto de valores ético-políticos comuns que afundavam suas raízes num humanismo e solidarismo típico da tradição italiana (basta pensar nos filmes de Peppone e Don Camillo). 

E prossegue Giuseppe: ... Esta ‘stagione’ passou, e hoje nos damos conta de que o Partido Comunista, apesar de todas as duplicidades, teve uma importância extraordinária na construção da democracia italiana, porque, como reconheceu Bobbio, “ensinou a toda uma geração a ver o mundo do ponto de vista dos oprimidos”.

A esperança, que resta aos jovens de fazer política por altruísmo e devoção, é a de que a disputa eleitoral no Brasil afaste a mera repetição estéril e infecunda da vitória pela vitória, com debates já superados em outros destinos. Foram momentos dolorosos que serão revisitados, revelando a ausência de um promissor enclave político, apesar da presença de políticos respeitáveis. Com os meios atuais de comunicação, que dispomos, é possível travar a melhor peleja e rejeitar a mentira, a hipocrisia demagoga e superficial de líderes sem vocação, iracundos e ignorantes. A democracia como valor universal; as alianças no campo democrático; e o fim da intolerância, são os sinais dos tempos.

28/09/2014

Marcelo Alves
Marcelo Alves


Minhas livrarias em Paris (III)

Na semana passada, enquanto passeávamos pelo Quartier Latin, prometi escrever sobre as livrarias jurídicas de Paris. Promessa é dívida, e cumpro agora.

Em busca dessas livrarias jurídicas, não precisamos ir muito longe. Em Paris, a maioria das que conheço fica ali mesmo, no Quartier Latin, nas imediações do Panthéon e da Sorbonne (falo da renomada “Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne”), mais precisamente na Rue Soufflot, por alguns chamada de “Rue du Droit”. De fácil acesso e muitíssimo frequentada, essa rua liga o Boulevard Saint-Michel, na altura dos Jardins de Luxemburgo, com o Panthéon (se for tomar o metrô, sugiro descer na estação Cluny - La Sorbonne; se for de RER, outra modalidade interligada de trem urbano de Paris, sugiro descer na estação Luxemburg).

Na Rue Soufflot estão, todas juntinhas, três excelentes livrarias jurídicas (e por ali ainda existem outras, é bom frisar).

No número 20, em uma esquina, está a “Librairie LGDJ”. Livraria de referência em língua francesa, trabalhando com inúmeras editoras, ela vende de tudo: direito constitucional, administrativo, penal e processual penal, civil e por aí vai. Tem até um tal de “droit du tourisme”, ramo no qual estou pensando, muito animadamente, em me especializar.

Na esquina seguinte, em direção aos Jardins de Luxemburgo, no número 22, está “Librairie Juridique Dalloz”. Fundada em 1961, portanto há mais de meio século, é também uma livraria de referência. Assim como a LGDJ, também tem de tudo e de várias editoras, não só da famosa Editora Dalloz, ao que, pela confusão dos nomes (que não é mera coincidência), poderíamos ser levados a achar.

A terceira livraria que recomendo por ali é a filial da antiquíssima “Ma Librairie de Droit”. Ela fica bem pertinho, no número 26 da Rue Soufflot (a primeira loja, mais antiga, que visitaremos mais tarde, fica na Place Dauphine, na Ilé de la Cité). Pelo que sei, está ali há mais de 60 anos. Também vende de tudo em livros jurídicos. Seus títulos e estoque contam-se aos milhares.

Após adquiridos (ou não) os livros jurídicos, sugiro, para um “turisminho” básico, caminhar pela Rua Soufflot. Afinal, é subindo por ela que se avista, ao fundo, as colunatas e o imenso domo do Panthéon de Paris, mausoléu dedicado, pela pátria agradecida, “aux grands hommes” da França. Começando por Mirabeau, o primeiro ali sepultado, no Panteão estão os restos mortais de homens (e mulheres) que contribuíram não só com a França mas com toda a humanidade: Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Victor Hugo, Émile Zola, Jean Jaurès, Pierre Curie, Marie Curie, André Malraux, Alexandre Dumas (père) e muitos outros. Projetado por Jacques-Germain Soufflot (1713-1780), arquiteto que empresta seu nome à “rua das livrarias jurídicas”, para ser a “Église Sainte-Geneviève à Paris”, o Panthéon de Paris é belíssimo. Por fora e por dentro. Mesmo carregando os chatíssimos livros jurídicos, recomendo visitar.

Saindo do Panteão, sugiro dar uma passada na “Ecole de Droit de la Sorbonne”. Fica em frente, no número 12 Place du Panthéon. Vale a pena pedir para alguém bater uma foto sua, pegando a fachada, embaixo do belo pórtico, que contém a inscrição “Université de Paris - Faculté de Droit”. Eu pedi. E ela, tenho certeza, lembra-se muito bem.

A Sorbonne, aliás, não é a única instituição de ensino de grande prestígio por aquelas bandas. A dois passos dali, no número 11 da Place Marcelin Berthelot, está o Collège de France. Fundado em 1530 pelo Rei Francisco I (1494-1547), o Collège de France tornou-se uma instituição de ensino única no mundo. Sem a rigidez da organização universitária, está sempre na vanguarda pesquisa e do ensino nos mais variados ramos do conhecimento. Seus professores sempre foram a fina flor da “inteligentia” francesa. As palestras ali, pelo que sei, são gratuitas e de acesso livre. Basta haver disponibilidade de lugar. Que tal, caro leitor, assistir a uma delas?

No mais, antes de terminarmos, tenho um tour a sugerir um busca de mais uma livraria jurídica: vá da Rue Soufflot à Place Dauphine, na Ilé de la Cité. É muito fácil. Caminhando, sem paradas, leva uns 15 a 20 minutos, com direito a atravessar o Sena e dar uma boa olhada na Catedral de Notre-Dame, que dispensa apresentações. Com paradas, pode levar até dois dias (se tomar o metrô, sugiro descer na estação Pont Neuf ou, alternativamente, na estação Cité).

É no número 27 da Place Dauphine (na Ilé de la Cité) que se encontra primeira loja da já referida “Ma Librairie de Droit”, loja que, segundo me foi dito, tem mais de 100 anos. Também chamada de “Libraire de la Cour de Cassation”, ela é, como as outras três livrarias já citadas, excelente. Já a Place Dauphine, triangular, pequenina, muito tranquila, toda cercada de prédios seculares (imóveis residenciais, galerias de arte, pequenos hotéis, restaurantes e prédios públicos), é um dos mais belos e aconchegantes sítios de Paris.

Por fim, para os amantes do Direito, registro que a Place Dauphine fica precisamente nos fundos do belíssimo Palais de Justice, que pode ser considerado o “centro nervoso” do sistema judicial francês, já que ali estão sediados a Cour de Cassation da França, a Cour d'Appel de Paris e o Tribunal de Grande Instance de Paris (TGI de Paris). Mas essa famosa “casa” da Justiça é assunto para outro artigo.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

27/09/2014

UM ESTRANHO CORTEJO
 
 
                                                             Públio José – jornalista
 
 
 
                       Há uma passagem na Bíblia, no livro de Marcos, (2. 3.) que nos mostra uma cena bastante estranha. Jesus chegara a Cafarnaum, vindo da Galiléia, e logo a notícia correu de que Ele chegara à cidade. Sua fama já era bastante conhecida. Por onde andava grandes multidões se apertavam para vê-lo e ouvi-lo. O versículo 3 narra, então, que “alguns foram ter com Ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens”. Pelo que se vê, uma pequena multidão se aglomerara em torno de um paralítico, sendo que destes todos quatro foram escolhidos para levar o paralítico a Jesus. O paralítico foi carregado em sua própria cama, certamente em razão de dificuldades de movê-lo até Jesus de outra maneira, ou pelas dificuldades financeiras de contratar outro tipo de transporte. O que se depreende do episódio é que o paralítico não era um qualquer – uma vez que muitos se juntaram para socorrê-lo.
                        Assim, fica configurado o inusitado da cena. Um bando de homens, (às mulheres não era permitida tal empreitada, em função da cultura e hábitos judaicos) carregando uma cama, desfila com um paralítico pelas ruas da cidade em busca de solução para suas dores. Da cena se extrai, no mínimo, uma alta demonstração de solidariedade, pois é muito difícil conciliar tempo e interesses de um bom número de pessoas dispostas a desfilar, pelas ruas de uma cidade, carregando um paralítico numa cama. A cena, olhando-se de fora, teria também algo de ridículo, de insólito, de cômico. Mesmo assim, temos que admitir o forte fascínio que o doente exercia sobre as pessoas a ponto de convencê-las a se irmanarem com ele na incomum tarefa. Embora pobre, houve argumentos da parte dele que sensibilizaram outros homens a ajudá-lo na busca da solução para os seus problemas.
                          Do episódio podemos tirar várias lições. A principal delas é que aquele homem jamais se entregou à sua desdita. Podemos concluir isso pelo simples fato de que, ao primeiro sinal da presença de Jesus na cidade, ele se movimentou para procurar ajuda. Pelo pronto atendimento dos amigos ao seu chamado, podemos concluir também que em redor de si havia sempre trânsito de pessoas. Isso demonstra que, apesar de suas dores, de sua vergonha, da sua incapacidade física, ele tinha um comportamento que gerava nas pessoas afeição, carinho, afinidade – irmandade até. Afinal, como narra o texto bíblico, aquele grupo de companheiros topou uma empreitada nada fácil. Ao chegarem na casa onde Jesus atendia o povo se depararam com uma difícil realidade: não havia como entrar na casa; não havia como chegar a Jesus, pois o ambiente, de tão freqüentado, estava completamente tomado. 
                           Mesmo assim eles não desistiram. Acredito que tenham feito uma pequena conferência em torno da dificuldade. “E agora, como vamos fazer?” Um deles, certamente o mais afoito, sugeriu a cena que se perpetua até os dias de hoje: “vamos pelo eirado”. E subiram o paralítico, com cama e tudo, até o telhado, cavaram um buraco no teto e desceram o conjunto até Jesus. Muita coragem, ousadia e disposição para ajudar uma pessoa necessitada! Você chegaria a tanto? Do episódio o que me fascina é o carisma do paralítico. De como ele – em meio a uma realidade dolorosa – permaneceu firme, deixando de lado uma realidade de derrota, para seguir em frente. E como conseguiu unir ao seu projeto um grupo compacto de homens dispostos a tudo para ajudá-lo. Ah, o melhor é o resultado. Curado por Jesus, voltou para casa ereto, feliz, levando de volta o leito às costas. Vitória. Pura vitória...    

26/09/2014

NOITE HISTÓRICA NO IHGRN

 CONFERENCISTA PROF. BENJAMIN TEENSMA
DESENVOLVENDO O TEMA: 
"OS MOCÓS DA ITABIRABA DO CÓRREGO RETORTO"
 PRESIDENTE VALÉRIO MESQUITA
 INÍCIO DA PALESTRA
 EXPOSIÇÃO COMPLEMENTAR DO PROFESSOR LEVY PEREIRA
 ORMUZ COLOCA BOTON DO IHGRN NA LAPELA DO PROFESSOR TEENSMA
 MESA DOS TRABALHOS - PROFESSORES LEVY, ONÉSIMO JERÔNIMO (IPHAN), PRESIDENTE VALÉRIO MESQUITA E PROFESSORES BENJAMIN, EDGARD E JURANDYR NAVARRO DA COSTA
 APRESENTAÇÃO E SAUDAÇÃO DO PROFESSOR E DIRETOR DO IHGRN EDGARD RAMALHO DANTAS
 PLATÉIA
 PLATÉIA
PLATÉIA