12/07/2014

JN




MONSENHOR
EXPEDITO MEDEIROS


Jurandyr Navarro
Procurador do Estado, aposentado, e Presidente
Honorário Vitalício do Instituto Histórico e Geográfico do RN

"Existe, no Rio Grande do Norte, um trabalho perfeito e notável de Desenvoívimento de Comunidade, na cidade de São Paulo do Potengi. Trabalho elogiado por órgão técnico da ONU e que conheço de perto, pois lá estive e fiquei maravilhado. Trata-se de um empreendimento do Mons, Expedito Medeiros, trabalho admirável, realizado sem alarde, em silêncio, anonimamente".

A observação acima, em outras palavras, é do laureado professor Luiz Carlos Mancini, uma das maiores autoridades no assunto, em cujo setor de atividades era representante do Brasil nas Nações Unidas. Menção feita por ocasião da aula inaugural, por ele ministrada aos alunos dos cur­sos populares do M.D.C., de nossa Capital.

Semelhante apresentação, expressada em público por uma inconteste autoridade na matéria, bastaria para consagrar em definitivo um nome.

Mesmo sendo jejuno no assunto, não desconhecia a ímpar realiza­ção do conhecido sacerdote, que consumiu a vida numa cidade afasta­da, e que só via uma coisa neste mundo: O pobre.

Visitei por várias vezes o "Movimento de Potengí", como denomi­nam os jornais europeus ao trabalho desse padre magricela e duro na queda!

Em todas as viagens empreedidas, notava a sua casa cheia de gente. Sempre cheia . Não para pedir esmolas: Todo indigente exibe na face a máscara da tristeza e do sofrimento. E o pessoal que lá se aglomerava trazia sempre um sorriso nos lábios a iluminar o rosto feliz.

Às vezes, pelo caminho de volta, ficava a meditar sobre o que ha­via observado. E fazia a mim a indagação: Como pode viver feliz aquela gente que vai à casa do Mons. Expedito, quando é notório que leva uma vida de padecimentos!? E concluía por um paradoxo! Por uma contradi­ção!

Mas não era. O padre dera vida espiritual intensa àquela gente hu­milde. A sua orientação aprumada criara uma nova mentalidade naque­le povo simples e bom, para enfrentar os rigores da vida árdua do campo: Bendizer ao seu Deus o que lhe dava, suportando a adversidade com hu­mildade e resignação.

É que Mons. Expedito realizou obra magnífica que não encontra similar na espécie. Tudo idealizado por ele e levado a efeito com paciência, sacrifício e muita luta.

Fez parte, também na linha de frente do Movimento de Natal, liderado por Dom Eugênio Sales, movimento social abridor de um leque imenso para as obras sociais da Igreja Católica.

Era ele um homem  de vasta visão em relaçao, também, à cultura. Na pesquisa que empreendi sobre a figura do Padre Luiz Monte, ele, seu contemporâneo, e o Cônego Jorge O’Grady, muito me incentivaram e me cederam material relativo à psicologia da Dor, no ângulo da arte e do sentimento, assim como em relação ao espiritismo, temas estudados por aquele sacerdote de saber múltiplo.

Tive a felicidade de assistir a algumas missas por ele celebradas, em São Paulo do Potengi. Logo na primeira delas, notei uma coisa estranha no recinto daquela Igreja surra­da pela erosão do tempo. É que vi muitos homens em volta do altar como se estivessem a proteger aquela magra figura de homem envolto em para­mentos litúrgicos, a oficiar o santo sacrifício.

Logo depois, outra surpresa agradável: Todos aqueles homens, rudes na aparência, a cantar com a simplicidade de meninos, e depois a comungar, como se estivéssemos no dia da Quinta-Feira Grande!

Foi lá que evidenciei ter sido o primeiro lugar onde a Sagrada Me­sa da Eucaristia havia mais homens do que mulheres!

Daí vi a minha pequenez. Como me tornei um pigmeu naquele ambiente! Eu só possuía uma migalha de Fé em cotejo com a daquela gente!

E não pude evitar chorar. Às vezes, o pranto dispensa o comple­mento das lágrimas. É o choro amargo que experimentou São Pedro, quando negou a Jesus.                                         

Não sei se foi de vergonha ou de emoção, diante daquele espetáculo comovente de contrição e de singeleza, de verdade e de fé.

11/07/2014

MENDICÂNCIA SOCIAL E CULTURAL
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor

            Não podia ser mais lamentável, depois do desânimo pela acachapante derrota do Brasil para 
Alemanha = A Casa do Bem vai fechar as suas portas.
       Li no JH o desabafo de Flávio Rezende: "Nós não temos carência de fazer o bem. Temos carência financeira. Estou desistindo porque já me sinto fragilizado".
          Esse jovem jornalista, há muitos anos, deu-se ao trabalho meritório de ajudar a sua comunidade carente de Mãe Luíza e vinha mantendo esse seu ministério social às custas da ajuda da população, fazendo promoções, convocando intelectuais, desportistas e outras pessoas abnegadas para conseguir manter as diversas atividades desenvolvidas pela Casa do Bem. Fui um dos mais modestos colaboradores, mas não me omiti aos apelos do Amigo Flávio, dentro das minhas possibilidades.
        Contudo, esse gesto está a merecer uma meditação de todos - até quando vamos aceitar que a atividade social, como igualmente a de natureza cultural, continuem à mercê da mendicância!
         Tenho sofrido algo semelhante na minha atividade junto ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, onde vivemos, também, de verdadeira mendicância, formalizando apelos, pedindo ajudas constantes aos associados e às pessoas de boa vontade, pois esta nossa centenária Instituição pertence ao povo e à história do Rio Grande do Norte, como maior fonte documental dos últimos três séculos.
        No Instituto, além da falta de recursos, contamos com a inveja de algumas pessoas frustradas na vida, que veiculam notícias mentirosas e tendenciosas somente para diminuir os abnegados dirigentes, que ali trabalham sem remuneração e, muitas vezes, tirando de suas economias pessoais para não deixar perecer tão rico e importante acervo, sob o comando dedicado do Presidente Valério Alfredo Mesquita.
       Recentemente, uma colunista informou que "conhecido pesquisador" alertara o Ministério Público para fiscalizar os mais de 1 milhão de reais recebidos pelo Instituto em 2013. E penso eu, que qualidade de pesquisador é essa, a merecer credibilidade de uma jornalista, quando em verdade a única ajuda financeira pública recebida no ano passado pelo IHGRN, foi de R$ 5.000,00, da Prefeitura de Natal, a qual já foi feita a prestação de contas.
          Este ano, após desesperados apelos aos Parlamentares do Estado, conseguimos a liberação de R$ 200.000,00 do Governo do Estado, através da Fundação José Augusto, com o que estamos restaurando o prédio, comprando mobiliário e preparando o levantamento do acervo, unicamente para melhor servir aos pesquisadores e estudantes, observando o devido processo legal. 
         Todavia, não possuímos receita ordinária suficiente para o custeio da manutenção básica, temos que batalhar muito, registrando, por inteira justiça, a ajuda mais permanente das entidades Fecomércio e outras que compõem o complexo da Federação da Indústria.
          É preciso uma conscientização para a importância de se dar maior atenção a esses organismos que primam pela melhoria da qualidade de vida do povo, evitando a delinquência e pela cultura histórica do nosso Estado, sem o que perderemos a identidade. 
            Há momentos de desânimo, somente superada pela união dos nossos poucos colaboradores e pela admiração das pessoas que se valem do nosso acervo para realizar suas pesquisas e estudos e que nos presenteiam com exemplares de suas obras, dando continuidade à difusão das coisas importantes do nosso Rio Grande do Norte.
              Com muito sacrifício e com um amor ainda maior, estaremos em agosto, possivelmente, reabrindo a Casa da Memória para desenvolvermos uma programação marcante neste final de ano e dando posse a novos sócios, verdadeiras sementes para a continuidade do nosso desiderato.

10/07/2014


 A viagem de Leão Veloso, última parte


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG

Eis-me pisando sobre o solo de Mossoró (10 de agosto de 1861), lugar de minhas simpatias, e que incontestavelmente virá a ser um dos pontos mais importante da província pela vantajosa posição topográfica em que se acha.

Colocada em uma extensa e linda esplanada que se alonga até a barra, 7 léguas ao sul, a Vila de Mossoró contém um sofrível povoado, cujo número de edifícios talvez exceda de 120, e um comércio já bastante agitado até ali se observa.

O Reverendo Vigário Antonio Joaquim Rodrigues, que, como os habitantes de Apodi, jazia também em dúvida a respeito do dia certo em que o Exmo. Sr. Presidente deveria ali passar, foi quem, indo ao seu encontro já quase dentro da rua, ofereceu a sua casa para o nosso alojamento, tratando-nos com aquela afabilidade e franqueza que lhe são tão notáveis.

Conta Francisco Othílio, relator da viagem, que foi convidado para ir à casa de umas moças, que haviam também assistido à festa no Caicó, para ouvi-las tocar violão e flauta e cantar algumas modinhas, tendo se dirigido para lá em companhia do inspetor João Carlos, amigo da família. Aí faz o seguinte comentário: quem tem visitado a nossa capital onde a maior parte das moças é tão acanhada, e sem gosto para música, que juízo não fará dos mais lugares! Eu, porém nesta viagem fui testemunha do contrário, encontrando moças verdadeiras apreciadoras de música, e até de alguma instrução. 

Ás três horas da tarde (do dia 11) principiaram a chegar os cavalos para o nosso transporte, e às 5 horas já perdíamos de vista alguns edifícios da Vila de Mossoró, da qual me apartava com saudades. Neste trajeto teve S. Exc. de visitar um armazém que existe na distância de uma légua, pequeno receptáculo de diversos gêneros que são exportados daquela Vila em barcaças, as quais nas enchentes das marés chegam até ali; depois do que tomamos o caminho que devia levar-nos a Macáo, pernoitando-se na Fazenda Umari, duas léguas distante de Mossoró, onde chegamos favorecidos pelo astro da noite que já derramava um pequeno clarão. E assim às 3 horas da madrugada deixamos Umari, chegando-se ao lugar denominado Entrada, pequeno povoado da costa entre Macáo e Mossoró, às 10 horas.

Descansamos em casa de um homem, de nome João Filippe, o qual nos hospedou segundo a sua posição e circunstancias, suprindo algumas falhas, que todavia não eram para estranhar em um lugar como aquele falto de certos recursos, os seus modos afáveis.

Seriam pouco mais ou menos 3 horas da tarde, quando deixamos a Entrada, tocando às seis horas na Ponta do Mel, onde nos demoramos somente enquanto tomávamos uma fartada de peixe fresco, em casa do senhor Paulo Gomes da Costa, que já prevenido se achava de que por ali passaríamos; continuando depois a nossa marcha para Cacimbas de Vianna, fazenda do Major José Martins Ferreira, aonde chegamos às dez horas da noite.

Duas noites e um dia foi quanto nos demoramos em Cacimbas de Vianna, onde passamos muito bem, não só em razão do cavalheirismo com que fomos tratados pelo major José Martins Ferreira, mas também pelas comodidades que oferece aquele agradável sítio.

Ainda estávamos desfrutando o agradável sono da madrugada do dia 14 quando um homem nos bateu à porta anunciando que em um porto distante dali meia légua pequena se achava uma barcaça convenientemente tripulada para transportar-nos a Macáo, acrescentando mais que algumas pessoas que deviam acompanhar-nos se achavam a bordo da mesma barcaça.
Posta a bordo a nossa bagagem, embarcamos. Eram 7 horas quando fizemos de vela. Uma breve viagem de 2 a 3 horas, o mais tardar nos prometiam os homens da tripulação e o Sr. André de Miranda experimentados naquele trajeto, que compreende três légua marítimas.

Mal, porém, pensavam eles que daquela vez tinham de ver falhar todos os seus cálculos, pretendendo marcar uma viagem que fazíamos a mercê dos ventos. Com efeito, apenas a embarcação que nos conduzia principiou a demandar os mares da costa, vento contrário logo soprou e toca a bordejar; acontecendo por duas vezes que fomos tão fora, que quase perdíamos a terra de vista. 

Eram 2 horas da tarde, e nós tendo em frente a barra não a podíamos ganhar. Ainda àquela hora navegávamos com proa de mar quando caiu o vento nordeste, pelo qual tanto suspirávamos; virou-se então de bordo, e a barcaça cortando suavemente as águas levou-nos à Macáo, onde aportamos às 4 horas da tarde.

Algumas pessoas em cujo número estava o Sr. Deocleciano foram esperar-nos à praia, tomando S.Exc. a casa deste Sr. por quem fomos bem hospedados.

Conta Francisco Othílio, que por atraso do vapor Jaguaribe, só começaram a viagem de regresso para Natal às 9 horas dia 22 de agosto e, às 9 horas da noite já estavam em Pititinga.

Para encerrar, algumas observações: Foi em Cacimbas de Vianna, localizada, hoje, em Porto do Mangue, que nasceu minha avó, Maria Josefina Martins Ferreira. Batizada em Angicos, teve como padrinho o seu avô paterno, major José Martins Ferreira, um dos primeiros povoadores da Ilha de Macau, vindo da Ilha de Manoel Gonçalves. O major era trisavô paterno e materno do ex-governador Aluízio Alves e materno do deputado federal Aristófanes Fernandes.
Deocleciano, que hospedou o presidente, deveria ser o tenente-coronel, Deocleciano Ernesto de Albuquerque Mello, que foi administrador de rendas em Macau e agente da Companhia Pernambucana. Era pai do doutor Euclides Deocleciano de Albuquerque, que foi vice-presidente da nossa província.
José Martins Ferreira, meu trisavô, paterno
N O T A S   E X I S T E N C I A I S

POR: GILENO GUANABARA, do IHGRN


     Tenho recebido manifestações de leitores acerca das matérias que público nas quartas-feiras no JH. Certo dia, uma delas revelou-se grata com a informação de que D. Pedro II fora favorável à abolição da escravatura, no Brasil. Os fatos da nossa historiografia são intencionalmente mal difundidos, com prejuízo da memória nacional.

      Com frequência encontramos em nossa História fatos e personagens que em nada são diferentes na História da Humanidade. Guardadas as proporções de tempo e de latitude, o mundo é uma aldeia, cujos habitantes interagem em torno de si e à distância, desenvoltos, às vezes com traumas, com aventuras e negócios. Se para uns a História não se repete, para outros a repetição é uma tragédia, só passível de ser remediada pela lógica da cultura acumulada. Acredito que as pessoas têm a clarividência instintiva para se rebelarem contra fórmulas arcaicas, repetidas e já superadas algures e alhures. Enquanto isso, a vida continua.

     A ciência econômica do século XVIII, pela intensificação dos estudos inovadores da economia, revelou um modus novo, segundo o qual a realidade se antepõe a práxis do meramente penso, logo existo. Assim, a ideia em si se submeteria à determinação prévia e natural das necessidades sentidas e satisfeitas através do trabalho, decorrência da carência que é motivadora e a razão de ser da sobrevivência da espécie humana. Tal dicotomia especulativa é também pragmática e não se esgota automaticamente, nem é excludente entre si.
            
       À determinada verdade um dos postulados se sobrepõe ao outro, cabendo à intervenção investigativa definir qual deles é temporal ou permanente. Brotam as teorias, ora contra, ora a favor de um dos conteúdos divergentes, independente das certezas ou incertezas que se revelem, ou que se esgotam no estágio vestibular.
            
     Ás vezes, semelhantemente a duas linhas paralelas vistas a partir de um mesmo ponto, casos ocorrem em que os conteúdos diferenciados, embora tenham a aparência divergente, quando postos ao rigor do exame, convergem e se revelam, ao final, como se uma unidade. Assim, não havendo propriamente uma exclusão, observa-se com facilidade a confusão de conceitos que eram só divergentes na aparência, pois se tratam de versões assemelhadas, servindo apenas de pretexto para confundir a realidade. 
          
Ocorrem mudanças significativas de definições ou de comportamentos, em face de novas especulações, de novas influências, ou de novos utensílios tecnológicos. O progresso que daí se verifica contribui para a revolução dos conceitos. É fatível que surjam experimentos novos, fórmulas experimentais diferenciadas, capazes de se insurgirem contra as verdades até então estabelecidas. Nada se descarta. Dá-se um acúmulo permanente de conhecimento, cujo acervo se torna um fato cultural a mais que se armazena e é disponibilizado em DNA futuro.
           
      Sem muito esforço, é possível admitir-se uma estreita ligação, mesmo que cartesiana, das conclusões a que chegou Adams Smith, acerca do valor e da acumulação capitalista, até chegar-se às formulações de Carl Marx; ou dos postulados filosóficos individualistas de Emmanuel Kant até as formulações sociológicas de Engels. A partir do século XVIII as concepções do pensamento aristotélico foram alvo de profundas reviravoltas, com repercussão na vida, na arte, na política e sua representatividade. A era dos governos despóticos, teatralizados no centralismo aristocrático, deu lugar aos embates parlamentares próprios da múltipla representação republicano/burguesa, no que se consolidou o ente nacional, consequência da Revolução Francesa. Portanto ciência, política, religião e economia andam juntas, a par de contradições inerentes.
            
        Eis a Era das Revoluções - 1789/1848, no dizer de Eric Hobsbawn, um período da História, de conflitos contundentes entre o modus econômico novo a se insurgir contra o velho modelo, com reflexo na ciência, na religião, na literatura, nas artes e na gerência da representação política. Mudanças que se deram não pelo triunfo da liberdade e igualdade em si, uma utopia, mas pela emergência do que se chamou “middle class”, a classe intermediária, e, por isso, a contradição, espremida entre, de um lado, a monarquia, a nobreza e a igreja; e, de outro, os camponeses, os artífices, os burgueses e os pequenos/burgueses. O idealismo, como fórmula que promoveu a ação produtiva, submeteu-se à produção para satisfazer o mercado, a “indústria capitalista”, a sociedade burguesa e liberal, mais precisamente com sede na Grã-Bretanha e França, Estados de onde o modus se consolidou e se disseminou pelo mundo.
      
      Portanto, a sociedade burguesa individualista destacou o aparecimento de forças sociais novas, sua estratificação, complexidade e necessidades. O nascimento do parque fabril de Lancashire, os princípios da revolução burguesa, as primeiras ferrovias e a publicação do Manifesto Comunista, foram o sintoma das verdadeiras contradições que o mundo pariu e assistiu a partir daquele momento. O mundo continuou a crescer.

     Afinal, agora torço para que os recursos infinitos da internet, a mídia e os eventos a que se propõem, não se destinem a alienar, como ocorreu a partir das fábricas ou das igrejas. Temo que, no vazio da ópera, a intolerância desnature a dialética da realidade: o trabalho, a solidariedade, a propriedade, a ética e as instituições políticas não sejam descaracterizados. O altar musicalizado dos hinos e letras grandiloquentes, em louvor de conquistas de menor significado, difundidos a cabo e a cores, podem contaminar o bom senso. A gravidade estará na difusão de contradições menores, que subutiliza o pensamento e subestima a inteligência. Adams Smith e Carl Marx sonharam diferentemente. Pode até o comitê dos negócios e o poder político reprimirem para não se falar em o ópio do povo. Mas a verdade nos espera na esquina mais próxima.

09/07/2014

001 a 110 - Coisas que não poderemos esquecer...

110. Da Pista de Patinação do Aero Club.
109. Do movimento da galeria do "Barão do Rio Branco".
108. Das compras na "Love Boutique".
107. Do 7 de Setembro, hoje UNP, na Rua Seridó.
106. Dos shows no Palácio dos Esportes.
105. Dos cursos de datilografia na lateral do Instituto Brasil ou no Senac.
104. Do Instituto Brasil na rua José Pinto.
103. Dos lanches nas Lojas 4400 onde ia andar de escada rolante logo que inaugurou.
102. Das madrugadas no "Passaport".
101. Do Caldo de Cana Orós na Rio Branco, perto de Nazí.
100. Das festas de São João do Neves, Marista, ED e Salesiano, e ainda das ruas Ângelo Varela e Jaguarari.
099. Dos Jogos Estudantis para onde ia torcer fervorosamente por seu colégio?
098. Dos Paqueras circulando no Palácio dos Esportes.
097. Dos picolés Big Milk. Especialmente o creme holandês.
096. Da "Festa do Caju" da Redinha.
095. Do caldo de mocotó e da 'paquera' no Pé do Gavião.
094. De que fazia parte de alguma turma de rua.
093. De que se freqüentava todos os "arrastas" e festinhas "americanas".
092. De que ia para o centro da cidade nas noites de dezembro.
091. De que dançava de rostinho colado.
090. De que as muitas meninas "botavam macaco" quando dançava.
089. De que frequentou o ABC, Hippie Drive-in e Piri-Piri.
088. De que frequentou o Bar Postinho.
087. De que frequentou a Sorveteria Belém.
086. De que frequentou a Casa da Música.
085. De que lanchou no Barramares.
084. Das matinês de domingo no Aero Club, com o Impacto 5.
083. De que frequentou o Caravelas Bar (Bar do Flauberto).
082. Das discotecas do América e da AABB, nos "Embalos de Sábado à noite".
081. Dos carnavais no América, AABB, Aero Club ou Palácio dos Esportes.
080. De que fazia parte de algum bloco carnavalesco.
079. Do corso na Av. Deodoro em dias de carnaval, nos Jipes sem capota.
078. De que ter um lança perfume no Carnaval era uma glória.
077. De que chorou assistindo "Marcelino Pão e Vinho" e "La Violetera".
076. Dos pileques na Palhoça, depois Casa da Maçã.
075. Dos seriados no Rex, São Luiz ou São Pedro.
074. Do trabalho que dava para assistir filmes "pornôs.
073. Do Vesperal dos Brotinhos na Radio Poti.
072. De C... de Ouro, Rosa Negra e Velocidade, patrimônios de Natal.
071. De que era "piolho" do "Quem-me-quer" na Praia dos Artistas.
070. Das "umas e outras" no "Sinus bar" observando os surfistas.
069. Da "La Prision " nas matinês do domingo (comeu pipoca com coca-cola?)
068. Do Centro Cearense.
067. Das festas na Rampa.
066. Do "Bier House".
065. Da Confeitaria Mirim na João Pessoa, cujo proprietário era João.
064. Dos pegas no Stop e depois no Tobs.
063. Do delicioso caldinho de feijão na "Tenda do Cigano".
062. Da "Royal Salut" no Reis Magos.
061. Da "Transamazônica", na Praia do Forte? (sexo ecológico e com Maruin picando a bunda)
060. Da "Apple", depois "Augustus" e do "Club Set".
059. Do Striptease , na boate do Ducal.
058. Dos ensaios para o carnaval dos ''Deliciosos na Folia'' onde hoje é a Telemar.
057. Das lutas de Takeo Uono, Waldemar e Bernadão no ringue onde hoje é o IPE.
056. Da ajuda do enfermeiro Cicero Calú na Rua Princesa Isabel para "curar" as doenças venéreas.
055. Das 'pinicas' na Lagoa Manoel Felipe ou Praça Pedro Velho.
054. Do "Boliche", na Praia dos Artistas.
053. Das horas que passava no Ktikero bebendo a cerveja mais gelada da cidade e ouvindo as mentiras de "Bigode".
052. Do "Iara Bar".
051. Dos banhos nos tanques na Praça Pedro Velho.
050. Da galera da "Bodega da Praça".
049. Do Restaurante do Hotel Samburá.
048. Do Xique-xique... lá no posto São Luis da Av. Salgado Filho.
047. Do SCBEU com seus cursos de Inglês...
046. Da saída das meninas na Escola Doméstica, Auxiliadora ou Colégio da Conceição.
045. Das corridas de kart nas tardes de domingo, no pátio da Ceasa ou na Rampa...
044. Da freqüencia que tinha a boate da Rampa...
043. Do sorvete de Seu Louro na porta do colégio...
042. Do Cachorro Quente de Salada que ficava na calçada da padaria em frente ao Colégio Marista.
041. Da Praia do Forte nas férias e fins de semana...
040. Da "Banana split" com a turma no Gimi Lanche na Rua João Pessoa.
039. De dançar o Vira, cheio de mé!
038. Das missas no Auxiliadora, Santa Terezinha e Catedral para na verdade 'paquerar'.
037. Da inesquecível cartola da lanchonete da Casa Costa em frente ao Rex.
036. Das vitaminas de frutas do Bom Lanche.
035. De Maria Mula Manca e da Embaixatriz Severina.
034.Das sessões de Cine de Arte no Cinema Rio Grande nas manhãs de domingo...
033. Dos blocos de alegoria pelas ruas da cidade - Plebe, Saca-Rolha, Ressaka, Baculejo, Arrocho, Jardineiros, Puxa-Saco, Jardim de Infância, ....
032. Das fotos que tirou com "Deodato", nos jogos do Palácio dos Esporte, Ginásio do Atheneu, Escola Técnica ou Salesiano...
031. Das fotografias 3/4 e posters com Rodrigues.
030. Das ''fotos para a posteridade'' com Jaeci Emerenciano Galvão.
029. Das torcidas pelo Atheneu, Marista, 7 de Setembro, Escola Industrial, ou por outro colégio nos Jogos Estudantis.
028. Das 'horas' que ficava na saída do colégio, de preferência na calçada, esperando a paquera?
027. Do aprendizado e descoberta do prazer do sexo com as meninas da Boite Arpege, Ideal, etc.
026. Do pavor que tinha de passar perto do Beco da Quarentena com medo de pegar gonorréia.
025. De tomar banho no Rio Potengi perto do Sport ou do Náutico.
024. De que tinha um sonho: um dia ter cacife para ir à Boite de Maria Boa?
023. De que frequentou a "casa de recursos" dos coqueiros na Ribeira com as Rocas.
022. De que visitava o cabaré de Otavio ou o de Inês.
021. De que nega até hoje que um dia foi ao apartamento de Epifânio no 1º andar da Casa Rio.
020. De que nega que foi pelo menos uma vez tomar 'Caldo de Anjo' no Arapuca de Jesiel, pertinho da Praça Gentil Ferreira.
019. De que começava a beber com uma de Conhaque Castelo com Coca-ColaCola para ficar logo no 'grau' e economizar.
018. Do medo que tinha das turmas da Camboim e da Tabica.
017. Das calças que mandava fazer calças e camisas de Martins na rua Felipe Camarão.
016. Da palhoça - vizinho ao Rio Grande.
015. Do Vipinho na Rua. Princesa Isabel
014. Da Toca do Chicão
013. Do caranguejo do É Nosso, além de Bar de Cãindão e do Círculo Militar em Areia Preta.
012. Do Tirraguso e Trapiche na Praia do Meio
011. Do Bar da Apurn - na Ponta do Morcego
010. Do Bar Oasis
009. Da Galinha da Mãe
008. Da Carne de Sol do Lira e do Marinho.
007. Do Bar Minhoto - em frente ao Nordeste
006. Do Bar Dia e Noite - com o velho e simpático garçon Gasolina
005. Dos sorvetes da Confeitaria Ateneu com Severino.
004. Do professor Saturnino e do Curso Pitágoras do prof. Evaldo.
003. De Pedrinho Mendes e Sueldo no "Boteco", cantando no "Boca da Noite", e no "Antigamente".
002. Do Libertè e Boate 775.
001. Da "Ki Show" na João Pessoa.
 

2 comentários:

 
Getulio Jucá disse...
-Dos "FESTIVAIS DE MÚSICAS" no Palácio dos Esportes, com a presença de The Jetsons, Impacto 5, Os Vândalos, etc.
-Dos Pic-nics em Ponta Negra e Pirangi.
-Dos jogos escolares no Silvio Pedroza e Palácio dos Esportes.
Das competições de natação no CAMANA e AEROCLUBE.
-De ir ver os lançamentos de foguetes da Barreira do Inferno, lá na estrada de Piúm.
-Das costumeiras trocas de gibis que acontecia nas calçadas dos cinemas REX, RIO GRANDE, POTY, SÃO PEDRO e São LUIZ.
-Do filme "OS DEZ MANDAMENTOS", que de tão longo tinha o inesquecível intervalo para se fazer "uma boquinha".
-Das aulas do Prof. William (o Bacurau) no Ginásio 7 de Setembro e particular.
-Das quadrilhas de São João da Cirolândia.
-Da "Casa Rubi", "CASA RÉGIO", "CANTINA LETIERE", "LIVRARIA E PAPELARIA WALTER PEREIRA".
-Do Guaraná Dore e do Grapette, comprados na grade direto na fabriga do Sr. Walter Dore.
-Do medo da "Viúva Machado" e da "Tintureira". Quem não tinha????
Arilza disse...
Esse blog é tudo de bom! Me encanto com tantas lembranças maravilhosa! Me vejo andando por Natal, principalmente na minha juventude. Muito obrigada por nos possibilitar esses passeios no tempo. E se recordar é viver, Natal de Ontem é responsável por muitas vidas. Um grande abraço
Ailza, seguidora apaixonada por esse blog.

PADRE LUIZ MONTE


Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

Há 68 anos despedia-se do nosso mundo um dos espíritos mais cin­tilantes que a espécie humana produziu. Dele pode-se dizer outro tanto do que foi fixado para o grande pensador inglês:
"A terra cansada de dar homens comuns, gerou um Shakespeare.”
Faleceu em Natal, cidade em que permaneceu toda sua vida. Uma doença insidiosa trouxe-lhe numa taça de cicuta o veneno da morte.
Deixou o bulício dos mortais com apenas trinta e nove anos de ida­de. O golpe de sua morte foi tão lancinante para a comunidade que serviu e guiava com o archote da sua sabedoria, que abalou a Cidade inteira.
Naquele dia a notícia se espalhou à maneira de um raio: "O Pa­dre Monte morreu".!
Era muito jovem ainda para instilar os miasmas letárgicos. Estava a subir a ladeira da vida anabólica intelectual. Mas seu espírito tinha mil vezes a idade do corpo, por ser um espírito genial de um sábio e de um santo.
Na lage de seu túmulo, encerra a inscrição que diz com eloquência o que foi a sua vida: "Ele tudo fez bem".
Foi ele um dos grandes homens da sua geração. O seu comporta­mento retilíneo, cujo tropismo inclinado para o sol esplendente da Verdade, situou-se no vértice da pirâmide luminosa onde repousam os gigantes da ciência.
A sua inteligência privilegiada abraçava todo âmbito científico, cin­gia todo firmamento do saber humano, mergulhando verticalmente nas profundezas pelágicas do imenso amazonas da sabedoria.
Viveu fazendo o Bem e sempre em busca da Verdade, porque a "Verdade é o fundamento mais sublime" (Píndaro), é "a formosura da alma" (Virgílio), é "o argumento mais forte" (Sófocles).
Abeberou-se tanto do licor sagrado das fontes cristalinas da Ciêcia, que abusou da auto-regulação do seu cérebro genial. O corpo franzi­no não pôde suportar mais o peso enorme de sua cabeça majestosa.
Brilhou intensamente em todos os domínios do saber. A sua mira­culosa cultura desmentiu a afirmação do filósofo germânico Schopenhaeur, para quem:
"Mocidade e sabedoria, a um só tempo, é impossível para um mortal".
O Padre Monte aos vinte e cinco anos já dominara a ciência do seu tempo.
Ele não se parecia com os demais porque era um sábio. E "os sá­bios se diferenciam dos ignorantes como os vivos dos mortos". Era como Leonardo Da Vinci -  "um semi-deus nascido na raça dos homens".
Não passou pela vida sem deixar vestígio, à maneira de um "vôo de pássaro".
A gigantesca planta da sabedoria ele explorou da coifa, percorrendo ao longo do caule até as nervuras dos pecíolos do ramal mais alto. Talvez  não se encontre, nas páginas do Livro do Tempo, quem tivesse assimilado tão imenso cabedal de conhecimentos, com apenas trinta e nove anos de vida! Estudava em nove línguas, dentre as quais o hebraico, o grego e o latim.
Não viveu a idade provecta do nosso "Águia de Haia", nem a do au­tor do "Fausto". No entanto, com o lastro cultural que possuía, acresci­do a mais quarenta anos de    pesquisas,  teria multiplicado a sua sabedoria. Camara Cascudo afirmou ter sio ele “a nossa mais ampla cultura.”
Se dizem que o grande Rui com seus setenta anos era um dicioná­rio ambulante, o padre Monte com seus trinta, apenas, era uma enciclopédia. Já dzia Calderon, ser o genio uma revelaçao de Deus.
Como teria sido distinguida a Ciência, se ele tivesse chegado a viver os oitenta e três anos de Goethe!
Nas porfias dialéticas e disputas teológicas não encontrou adversá­rio. O seu vigoroso talento policultural pulverizava, logo de saída, as li­ções decoradas dos antagonistas.
Se tivesse vivido na Roma de Cícero, teria sido adornado com a coroa de mirto que cingia a fronte dos grandes oradores.
A tocha da Verdade, acesa pelo Cristo, ele tutelou na noite de um mundo repleto de misérias humanas. Pelo seu singular devotamento aos semelhantes, parecia ter se embebido da fulguração radiosa que refulgiu aos olhos deslumbrados das multidões nos acampamentos da Galileia.
Em seu meigo coração residia o Espírito Santo, estava Jesus, a chama da Vida. A sístole e a diástole replicavam a melodia da vida no santuá­rio do seu coração, aberto, todo aberto para o Cristo.
No seu apostolado era o sentinela indormido da Igreja Católica. Defendia a cidadela religiosa dos ataques dos incrédulos, como os fagócitos defendem, muitas vezes, o organismo da ofensiva e da invasão patogênica das chusmas microbianas.
Vestido de luz, a todos ensinava, aconselhava e amava.
A alma do Padre Luiz Monte é aquela "feliz alma que uma centelha divina incendiou e que o fogo sagrado devorou".
A sua morte, embora prematura, e levando-se em conta a sua irre­parável perda para a Igreja, pelo menos durante largo período, não constitui motivo para seus contemporâneos ficarem inconformados, em virtude de ter sido um chamamento de Deus, contra o quai a ninguém é lícito se insurgir.
Não nos deve causar tristeza a sua morte. Devemos afivelar a másca­ra lutuosa por termos em derredor gente de baixa extração, e não por perde­mos os espíritos cintilantes.
A propósito disso, Epemetes, o tirano, certa vez, vendo Demóste­nes chorando pela morte de um filósofo, indagou ao autor da "Oração da Coroa", por que tanto lacrimejava, pois não se concebia um ho­mem do seu quilate em prantos. Respondeu-lhe Demóstenes:

"Não choro eu, ó Epemetes, porque o filósofo morreu, senão por tu que vives; e, se não o sabes, quero te fazer sabê-lo, é que na Academia de Atenas mais choramos nós porque vivem os maus, que porque morrem os bons".