Coluna de Woden Madruga - Jornal Tribuna do Norte
De poesia Todas as tribos vão se encontrar a partir das 18 horas, na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, para o lançamento da antologia Mossoró e Tibau em Versos. Reúne poemas de 50 poetas que entoam os encantos das duas aldeias. Poetas de lá de outras paragens. Vejo nomes como Othoniel Menezes, Edinor Avelino, Homero Homem, Deífilo Gurgel, Zé Saldanha, Maia Pinto, Aécio Cândido, Paulo de Tarso Correia de Melo, Rizolete Fernandes, Crispiniano Neto, Raimundo Soares de Souza, Cosme Lemos, João Wilson Mendes de Mello, Tobias Monteiro, José de Paiva Rebouças, muita gente boa. O poema de Maia Pinto tem o título de O mar de Tibau, o mar de Maria. Destaco alguns de seus versos: Os pés de Maria/ Na areia/ Todo corpo de Maria/ E a espuma das ondas/ Beijando os seios de Maria/ Maria e Tibau/ Sol e praia// Onde começa o sol?/ Onde termina a praia?// Fica Maria// No alvorecer o sol/ Beija o corpo de Maria/ Seus seios/ Seu ventre/ As coxas lisas/ ... bronzeia/ Porque é Tibau. |
03/07/2014
H O J E
A viagem de Leão Veloso (III)
João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
Nem todas as edições do jornal “O Recreio” foram
digitalizadas pela Biblioteca Nacional e, por isso, faltam algumas edições que
falam da viagem do Presidente Leão Veloso. Conta Câmara Cascudo, que escreveu
“A Jornada Presidencial de 1861” (Velhas Figuras, Vol. 2), que um dos membros
da comitiva presidencial era o Ajudante de Ordens do Presidente, Manuel
Ferreira Nobre, autor de “Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do
Norte”. Segundo Cascudo, Leão Veloso embarcou no “Jaguaribe” a 9 de julho
chegando à Macau a 10.
Mas continuando nosso relato anterior, vejamos mais alguns
lugares por onde passou a comitiva do Presidente.
Ás 3 horas da tarde selaram-se os cavalos e partimos,
acompanhando-nos o mesmo capitão Severino e mais algumas pessoas; e às 7 da
noite chegamos ao Boqueirão, fazenda do capitão Miguel Esteves de Queiroz, 4
léguas distantes da serra.
É com razão que muitas vezes se diz que o diabo não é tão
feio como o pintam; este chistoso ditado é bem aplicado ao que me disseram da
ladeira do Martins, a qual nada tem que faça arrepiar, e ao contrário é
maravilhosamente acessível.
Eram 7 da manhã. Eis-me pois, amados leitores, na Serra de
Martins, ou Cidade da Imperatriz, um dos pontos de tanta nomeada da Província.
Falando-vos porém com franqueza e verdade dir-vos-ei que bastante me
surpreendeu a sua perspectiva, não quanto ao local sobre que se acha plantada,
por ser uma vasta e bela planície, mas em vista da sua péssima edificação, que
revela o regresso espantoso em que vai aquela cidade. O seu solo, porém, é
fertilíssimo e o clima puro e salutar.
Além de uma pequena capela que se acha desde muito
abandonada pelo seu estado de ruína, tem a Matriz onde se celebram os atos
religiosos. Em consequência do desabamento há bem pouco tempo de duas torres
que tem dos lados, precisa a mesma Matriz de um grande conserto, o qual suponho
que tão cedo se não fará porque as pessoas mais abastadas do lugar, que podiam
concorrer com suas esmolas para esse fim, conservam o grande prejuízo de não
quererem cooperar para o asseio de uma Matriz cujo vigário diverge de suas
opiniões! É bem censurável esse extravagante pensar de almas tão mesquinhas.
A casa em que nos aboletamos foi ministrada pelo Reverendo
Vigário Antonio de Souza Martins, com quem muito simpatizei, e que nos tratou
com a melhor franqueza e boa vontade.
Seriam 4 da tarde quando encetamos a marca pra a Vila de
Paus dos Ferros 8 léguas ao norte da Cidade de Imperatriz.
Ás 7 da manhã do dia 4 deixamos Currais Velhos, onde
chegamos às 7 horas e meia da noite, de que não tive saudades,
acompanhado-nos os padres Bernardino
José de Queiroz e Joaquim Manoel de Oliveira, que haviam chegados àquela fazenda em a noite antecedentes, e encontrado
em caminho outras muitas pessoas que iam ao nosso encontro.
Eram 8 e meia hora.
Como me acho na Vila de Pau dos Ferros, darei dela uma pequena amostra
aos leitores. Aquela Vila acha-se situada ao norte do rio denominado Apodi; seu
local é alguma coisa pedregoso, e pouco plano; e demasiadamente árido o seu
solo. Além da Matriz, que não é lá das mais asseadas, e que se acha ainda por
acabar, não há um só edifício que chame a atenção de quem quer que por ali
tenha de passar: a edificação, em geral, de má construção, não excede a
quarenta casas, algumas das quais são de tamanho, ou talvez menores que os
“belixes de Iguarassú”.
A casa onde nos hospedaram foi a em que funciona a Câmara
Municipal (uma das melhores) mandada preparar antecedentemente pelo Reverendo
Bernardino José Queiroz que tratou-nos belissimamente, bem como os Srs. majores
Gurjão e Epifanio, pessoas mais notáveis daquela Vila.
Somente dois dias nos demoramos naquele lugar, inclusive o
da chegada, e por isso na tarde de 5 estávamos de volta para Portalegre,
pernoitando-se na fazenda Tesoura, propriedade da mãe do padre Joaquim Manoel,
a quem já conhecem os leitores. Ali chegamos com o ar do dia, cavalgando em um
excelente animal; o melhor que montei durante toda a minha viagem.
Por falta de uma das edições do Jornal “O Recreio”,
complemento o relato de Othílio com informações de Câmara Cascudo que escreveu:
Em Portalegre ficam com Manuel Antonio Pinto, deixando a Vila, indo dormir em
Cajuais, de Antonio Gomes Pinto. No dia 7, descansam em Monte Alegre, de
Antonio da Silva Lisbôa, almoçando-se curimatãs e linguiças, alcançando Apodi,
onde a recepção era dirigida Pelo Juiz de Direito da Maioridade (Martins), Dr.
Delfino Augusto Cavalcanti de Albuquerque, que presidira o Rio Grande do Norte
em 1871. A 9 recomeçam a peregrinação, indo a povoação de S. Sebastião, onde
Othílio cita o Cruzeiro de Pedra que não chegou a ver. Dia10, às 10 da manhã, estão em Mossoró.
Para concluir esta parte, algumas observações: Miguel
Esteves de Queiroz foi membro do Conselho de Intendência Municipal de Patú. O
Padre Antonio de Souza Martins foi outro que deixou descendência no nosso Rio
Grande do Norte, como fizeram Padre Thomaz Pereira de Araújo e Padre Francisco
de Brito Guerra.
Falecimento de Pedro Leão Veloso |
02/07/2014
Amigos; amanhã, quinta-feira, dia 03, 18hs, na sede da Academia
Norte-rio-grandense de Letras, rua Mipibu, 443, haverá o lançamento da
Antologia Poética MOSSORÓ E TIBAU EM VERSOS (Conforme convite em
anexo).
A organização da Antologia é fruto de uma parceria que fizemos com o pesquisador Edilson Segundo.
A organização da Antologia é fruto de uma parceria que fizemos com o pesquisador Edilson Segundo.
O trabalho reúne 50 poemas que tratam de Mossoró e
Tibau em diversos aspectos. A relação dos poetas participantes, consta no verso
do convite.
Saudações literárias,
Saudações literárias,
David Leite
DA ABOLIÇÃO À REPÚBLICA
(DE D.PEDRO II A FLORIANO)
Por: GILENO GUANABARA, do IHGRN
No dia 13 de
maio de 1888, no Brasil, a princesa Izabel assinou a Lei Áurea, abolindo a
escravidão. Em Milão, na tarde do dia 22 de maio do mesmo ano, Thereza
Christina, imperatriz do Brasil, tensa, assistia ao sofrimento do imperador, D.
Pedro II, que, quase moribundo, atacado de febre e de pleurisia, parecia chegar
ao fim. O médico francês, Dr. Charcot e o Dr. Sanamola e o Dr. Giovani, médicos
italianos, lhe ministraram os últimos recursos da botica. A moléstia insistia e
ia vencendo o paciente, já sem forças até para falar. A junta médica reconheceu
o estágio terminal do doente. O arcebispo de Milão foi chamado e ministrou-lhe
os últimos sacramentos. Estavam desolados os médicos e a imperatriz que já não escondia
o choro antes contido.
Havia um
tema que, desde o ano de 1850, aos 25 anos de idade, o imperador se manifestara
de público e dizia respeito à repressão ao tráfico negreiro: Prefiro perder a coroa a tolerar a
continuação do tráfico de negros. Dez anos depois, o imperador respondeu um
apelo da Junta Francesa de Emancipação, declarando-se contrário ao cativeiro. Incumbiu
Pimenta Bueno de elaborar minutas de lei, a serem incluídas nas falas do trono
e submetidas ao Conselho de Estado, a fim de favorecer as vítimas da
escravidão. Uma delas, a lei dos sexagenários.
Em resposta
ao Barão de Cotegipe que no ano de 1870, antecedendo-se à fala do trono, referiu-se
a abolição como uma pedra de montanha abaixo, professava: Nós não a devemos precipitar porque seremos esmagados, ao que D.
Pedro II retrucou: Não duvidarei de me expôr a quéda da pedra
ainda que seja esmagado por ela. O monarca
emancipou os escravos da casa imperial e ordenou ao seu genro, o Conde d’Eu,
que abolisse a escravidão no Paraguai, ao celebrar a paz no fim da guerra. De
outra, na cidade paulista de Campinas, ao emancipar escravos, o imperador se
dirigiu a um dos emancipados e apertou-lhe a mão.
B. Mossé (D. Pedro II, empereur du Brésil) relata
que foram atos, momentos e cenas inesquecíveis para os presentes durante a
agonia em Milão, em particular para a imperatriz que os revisava de memória, enquanto
aguardava sozinha, em recôndita emoção, o desenlace do seu parceiro. De
repente, os olhos de D. Pedro II abriram-se, como se aguardasse a cura,
transmitindo força de querer ouvir algo. Dona Thereza tomada de raro vigor
comunicou ao imperador as últimas notícias chegadas do Brasil. Pelos despachos
transmitidos, exatamente no dia 13 de maio, por ato da rainha regente, deixara
de existir escravos no Brasil. Sua filha decretara o fim da escravidão.
Foi o
bastante para que D. Pedro se transfigurasse. Com a voz ainda trôpega, porém
revigorada, pediu e recebeu a confirmação da notícia. Tomado de um surto inesperado,
D. Pedro conclamou: Rendamos graças a
Deus. Apertando as mãos da imperatriz, decidiu: Telegrafe já a Isabel, mandando minha benção, com todos os meus
agradecimentos à nação e às Câmaras...
Em poucos
dias, o paciente renovara o semblante e readquirira as forças capazes de vencer
a doença que o acometera. Todos os que o cercavam durante a convalescença
notaram a reviravolta que o quadro abolicionista lhe havia causado. Registra B.
Mossé em sua obra: Seu patriotismo lhe
inspira a força de pronunciar essas palavras tocantes: - Oh grande povo! ...Oh
grande povo. D. Pedro II se referia ao povo brasileiro.
Em 5 de
agosto de 1888, D. Pedro II, restabelecido da saúde, viajou com a sua família a
Bordeaux, de onde embarcou de regresso. No Brasil, encontraria o refluxo da
abolição que contaminava a política. Proliferavam as ideias republicanas e as
personalidades de Deodoro da Fonseca, Benjamin Constante, Eduardo Wandencolk,
Francisco Glycerio, Arisitides Lobo, Quintino Bocayuva, Gonçalves Ledo, dentre
outros.
Uma personalidade
era emblemática, havida no seio das forças armadas. Líder prestigiado entre os
colegas, o ajudante de general Floriano Peixoto gozava do reconhecimento de
seus pares, enquanto era dedicado à pessoa do imperador, amigo fidelíssimo do
visconde de Ouro Preto, que não escondia sua disposição de fazê-lo Ministro da
Guerra.
Em face do agravo
que D. Pedro II sofreu ao comparecer em ato político no Pavilhão de São
Cristovão, no Rio de Janeiro, em julho de 1889, Floriano Peixoto recomendou ao
imperador: O nosso imperador, bem que
estimado e venerado, deve ser vigiado de perto por certo número de amigos e de
toda a confiança que façam frustrar todo e qualquer desacato. Sei que v. ex.
tomará as medidas precisas; mas eu quizera secundal-o com um pequeno mas forte
contingente, que se entenderá com as autoridades de serviço.... Com v. ex. irá
entender-se o meu delegado. D. v. ex. sempre amigo velho e obrigado, Floriano
Peixoto.
Diante da manifesta fidelidade de Floriano ao imperador,
coube ao velho marechal Deodoro da Fonseca, por sua autoridade e gravidade da
hora, fazer a melindrosa interlocução, a fim de pedir a adesão de Floriano à
causa e informa-lo do que ocorria a respeito da conspiração republicana. O encontro
ocorreu no dia 13 de novembro. O marechal expôs a situação, os apoios de que
contava e a disposição de assumir a insurreição. Floriano ouviu e propôs
entendimento. Ao final tranquilizou o conspirador, dando-lhe mostras de
solidariedade: Se a coisa é contra os casacas, lá tenho a
minha espingarda velha...
No mesmo dia, porém, Floriano comunicou ao Ministro da
Justiça a ocorrência: A esta hora deve v.
ex. ter conhecimento de que tramam algo por ahi além... confie na lealdade dos
chefes que já estão alerta. Agradeço ainda uma vez os favores que se tem
dignado de dispensar-me. De v. ex. menor creado, amigo certo e obrigadíssimo.
Floriano Peixoto.
28/06/2014
Velhos tempos
Ah! Os guarda-chuvas!
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Quando eu era criança, tive muitas
capas de chuva, fabricadas de tecidos impermeáveis, e um sem-número de
guarda-chuvas, que normalmente eram comprados na “Formosa Syria”, na Av. Rio
Branco.
Perdi tantos... que acabei desistindo
de usá-los. Desde essa época, que vivi sem nenhum desses abrigos contra a
chuva. Também em Natal não chovia muito! De uns tempos para cá é que resolveram
cair essas chuvas torrenciais na Cidade do Sol! Chove de dia, de tarde, de
noite!...
Então, de início, em vez de andar com um
guarda-chuva pendurado, pingando água, preferia usar as proteções das marquises
das lojas, ou dos estacionamentos cobertos, dos shoppings, embora,
ocasionalmente, isso não impedisse um ou outro banho de chuva.
Esse ano, como vocês devem ter
percebido, está chovendo muito em Natal, e como preciso deslocar-me diariamente
a vários lugares, resolvi não tomar mais chuvas. Então, decidi comprar novamente
um guarda-chuva, mesmo sabendo de antemão que seria um problema conduzi-lo... e
não perdê-lo.
A Formosa Syria não existe mais, porém,
vocês precisam ver como existem camelôs que vendem guarda-chuvas na Av. Rio
Branco.
Desde que os ingleses passaram a
adotá-lo, em 1786, com a função correta, tornou-se um dos objetos mais fáceis
de perder, principalmente, pelos proprietários que não têm o hábito de saírem
com eles todos os dias. O uso ocasional faz com que ele suma na primeira
distração – dizem os mais antigos que isso não acontecia com as bengalas, que,
acredito, serem parentes dos guarda-chuvas. Pelo jeito, só se é fiel àqueles a
quem faz dele uso constante!
Como vocês sabem, o guarda-chuva dobrável,
surgido em 1805, permaneceu imutável: quase os mesmos, pois nunca conseguiram
mudá-lo totalmente: austeros, de tecidos pretos, cabo curvo (vários materiais)
e as infinitas aspas... como quebram essas aspas! Embora convenhamos,
atualmente, vários modelos dispõem de recursos sofisticados.
Desde que foi inventado, a sua função
continua a mesma: proteger os usuários. Faça chuva ou faça sol!
A história nos informa que, na
Mesopotâmia, região atual do Iraque, há 3400 anos, já se usavam artefatos
destinados a proteger a cabeça dos reis – mas, contra o sol, pois a chuva era
rara ali.
Então, lembro-me que, durante a minha
infância, mesmo não sabendo do detalhe acima, os guarda-chuvas tinham o aspecto
de coisa muito antiga. Em alguns países, uma de suas características era ser
usado em enterros.
Fúnebre, não?!
Quando, após ser usado, está molhado e
escorrendo água, descansa normalmente encostado a uma parede, sem ter a
liberdade de ser aberto para secar – isso somente no sol!
As senhoras adoram as sombrinhas, que
têm a mesma função, enquanto o pessoal mais jovem não lhes dá muita atenção,
mas, mesmo assim, nunca saiu de uso.
Existem uns parentes seus, próximos,
bem maiores: os guarda-sóis de praia, que, com seus coloridos, enfeitam as
nossas orlas, desde os anos 50.
Durante o carnaval, os passistas do
frevo usam umas sombrinhas pequenas, para embelezarem os seus passos. Embora
com uma função totalmente diferente, devem ser da mesma família.
Depois que voltei novamente a usar o
guarda-chuva, constatei que se encontram totalmente em desuso os porta-guarda-chuvas,
tão comuns nos finais do século XIX. Estou procurando um, se souberem, me
avisem.
Pelo jeito, vou incorporar novamente o
guarda-chuva no meu dia a dia, e aprender a conviver com ele. A propósito...
vocês o viram por aí?
25/06/2014
A viagem de Leão Veloso (II)
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Continuemos o relato de Francisco Othílio, iniciado no artigo anterior. Preparados que foram as cousas, partimos para a Vila do Príncipe (Caicó), chegando nós às 9 horas à fazenda São Paulo, do Sr. Rodrigo de Medeiros Rocha, onde passamos a força do sol.
Aquele lugar merece que eu faça dele especial menção, não só pela notável afabilidade com que fomos obsequiados, mas pelo indizível prazer que mostraram todas as pessoas da família do Sr. Rodrigo com a nossa chegada.
Com efeito, o Sr. Rodrigo, de quem tanto se não esperava, não pela falta de bons desejos, mas em razão de suas circunstâncias pouco lisonjeiras, obsequiou-nos a nada deixar a desejar.
A Vila do Príncipe não há dúvida que é hoje uma das melhores do sertão; e apesar de ser o seu solo nimiamente árido, todavia ali não faltam recursos; porque os seus habitantes empregam todos os seus esforços a fim de lhes serem menos difíceis e penosos os meios de subsistência.
O terreno sobre que se acha ela plantada nada tem de agradável, e ao contrário é feio e bastante pedregoso, porém muito nova e boa a sua edificação. A sua matriz é antiga, porém de boa construção; tem menos cômodos do que a de nossa capital, e é mesmo alguma coisa diferente em sua divisão interior, mas excede-a em asseio. Há um gosto extraordinário na festa da padroeira e tem ela tanta nomeada que muitas pessoas do centro do Ceará, Paraíba e até mesmo de Pernambuco vão ali passá-la com suas famílias.
Um povo imenso assiste sempre às novenas e às missas cantadas, que ali celebram-se durante dez dias de festas.
Calculou-se em quatro mil pessoas que acompanham a procissão, inclusive muitas senhoras, que por esse ato não são censuradas em razão de ser costume antigo.
O madamismo apresenta-se sempre com muito luxo, mas esse luxo pouco brilhava, porque muitos dos seus vestidos ainda são feitos por usos que por aqui vão sendo esquecidos.
O bom acolhimento, que prestaram os senhores Vigário Rafael Fernandes, e o Dr. Paulino Ferreira da Silva, é digno do maior elogio.
Depois de quatro dias de folganças passados entre o bulício de uma numerosa população, que igualmente gozava dos prazeres da festa, voltamos ao nosso primitivo estado de insipidez e de incômodos, sócios inseparáveis daqueles que viajam pelos sertões em épocas já um pouco inconvenientes.
E qual não foi a tristeza que infundiu em meu coração o dia 29, em que pela manhã muito cedo vi deixar aqueles lugares tantas famílias que haviam abrilhantado a festa com a sua assistência. A nossa viagem estava destinada para a tarde do dia acima referido. E de feito às 4 horas encetamos a jornada com destino à Serra do Martins, servindo-nos de guia até aquele ponto o Sr, José Bernardo de Medeiros, um excelente companheiro. Ao sairmos acompanharam-nos muitas pessoas, algumas das quais nos fizeram companhia até a – Saudade – Fazenda do comandante superior Mariz, onde pernoitamos e fomos recebidos cavalheiramente. Ali chegamos às 7 da noite.
No dia 30 pela manhã continuamos nossa marcha tocando na povoação de Jardim de Piranhas às 9 horas pouco mais ou menos. Demoramo-nos um pouco enquanto sua excelência examinava a Capela daquela povoação, e depois seguimos. Às 11 horas do dia estávamos na Fazenda Pilões (Distrito da Paraíba), fazenda de uma viúva cujo nome não tivemos a curiosidade de perguntar. Ali descansamos, recebendo-nos ela belissimamente. Às 5 horas da tarde tivemos de partir.
Ainda se viam perfeitamente no horizonte os coloridos raios de sol quando avistamos na eminência de um longo campo dois edifícios; eram a casa do major José Batista Saraiva e uma capelinha que acha-se ainda em obra. Estávamos na fazenda Cachoeira também na Paraíba, uma das mais bonitas que encontramos pelo Centro.
Naquele lugar passamos uma noite bem divertida. Depois de uma lauta ceia, que foi presidida por três filhas e sobrinhas do mesmo major, levamos até uma hora da noite ouvindo-as cantarem várias modinhas; dando eu também nessa ocasião uma prova de que não era muito hóspede no violão.
No dia 31 pela manhã muito cedo estávamos de marcha, passando às 7 horas na povoação de Belém (ainda na Paraíba) e chegando-se ao Patu de fora às nove e meia.
Tomamos a casa do capitão José Severino de Moura, que preventivamente havia mandado um próprio à Cachoeira com uma carta convidando ao Sr. Presidente para descansar lá, no caso de passar por aquele lugar. O Sr. José Severino tratou-nos como permitiam as suas circunstâncias, e convenço-me de que ninguém de nossa comitiva ficou descontente.
Antes de encerrar este artigo, alguns comentários: o dono da fazenda Saudade, citado por Othílio, não era o comandante superior das Legiões da Guarda Nacional da Vila do Príncipe e Acari, Antonio Álvares Mariz, como pensou Câmara Cascudo, pois faleceu em 1854, mas o filho dele, Manoel Monteiro Mariz, comandante superior da comarca do Seridó, que faleceu em 1864; José Bernardo de Medeiros era avô dos ex-governadores Dinarte Mariz e José Augusto; O vigário citado por Othílio devia ser Padre Francisco Rafael Fernandes, sobrinho do senador, Padre Francisco de Brito Guerra; Dr. Paulino Ferreira da Silva, bacharel, foi promotor e deputado da Assembleia Provincial; Havia um Rodrigo de Medeiros Rocha (Rodrigo Gordo), dono da Fazenda São Paulo, mas que em 1834 já era falecido. Talvez o Rodrigo, citado por Othílio, seja descendente daquele; O presidente Pedro Leão Velloso tinha 33 anos de idade, nessa época.
ALEJURN
ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DO RIO GRANDE DO NORTE
A L E J U R N
COMUNICADO
A Diretoria da ALEJURN,
ao tempo em que cumprimenta todos os seus Acadêmicos, comunica que o Presidente
Adalberto Targino ficará ausente do Estado até os meados do mês de julho
vindouro e, por necessidade administrativa, assumimos a direção da entidade e,
desde logo, por convite formulado pelo eminente confrade Diógenes da Cunha
Lima, conclamamos a todos a prestigiarem hoje, pelas 17 horas, na Academia
Norte-Rio-Grandense de Letras, o lançamento da nova edição da Revista da ANRL,
sob a responsabilidade dos escritores Manoel Onofre Júnior e Thiago Gonzaga.
Oportunamente faremos a
divulgação das ações programadas para o período de substituição.
Natal, 25 de junho de 2014
ZÉLIA MADRUGA
Presidente, em exercício
Carlos Roberto de Miranda Gomes
Secretário-Geral
Assinar:
Postagens (Atom)