28/05/2014



F R A G M E N T O S   D O   T E A T R O   E M   S Ã O   P A U L O
Por: Gileno Guanaraba, sócio do IHGRN

            A primeira notícia fora a encenação da catequese pelos jesuítas. Nos alfarrábios do Instituto Histórico de São Paulo, nos tempos coloniais do Conde de Sarzedas, o primeiro teatro localizado no largo do Palácio, chamado Casa da Ópera. No seu  camarote nº 11, em noite de gala, o padre Ildefonso Xavier Ferreira proclamou D. Pedro, rei do Brasil. Ali, o sábio francês Saint Hilaire assistiu a encenação da comédia O Avarento. Os atores eram mulatos; acadêmicos travestidos; e as atrizes, mulheres públicas. A plateia era dividida, homens de um lado e mulheres do outro.

 Depois o Teatro S. José, cuja construção data do ano de 1852, só em 1864 foi inaugurado provisoriamente, com a encenação de três peças: Tunica de Nessus, de autoria do acadêmico Sizenando Nabuco (irmão do diplomata e escritor Joaquim Nabuco); O Bobuletismo; e Por Direito de Conquista, encenadas por artistas locais.

No ano de 1876, aquele espaço cultural foi restaurado, retomando a sua importância para as artes cênicas. Com a sua reinauguração, organizou-se uma companhia dramática, para trabalhar no Teatro inteiramente reformado. Faziam parte empresários e os atores Joaquim Augusto; Henrique Costa; João Eloy Quesado; Paulo Petit; e as atrizes Maria Velluti; Júlia Carlota; Minervina Gonçalves; Maria Lima; Balbina Montani, dentre outros. Nesse tempo, apresentou-se a Companhia Lírica Italiana, com a ópera Lúcia de Lamermoor (soprano Adelina Cortesi; tenor Selmi; cantores Spallazi, Silvestroni e Frivero).  

Em 1898, o São José foi alvo de um incêndio e finalmente demolido em 1912. Três dias antes do sinistro e a dúvida da última encenação: ou a peça Há caça...e caça, direção de Moreira Sampaio, da Companhia do Teatro Apolo do Rio de Janeiro; ou a Morgadinha de Valflor, de Pinheiro Chagas, pelo grupo de amadores Gil Vicente.

            O Teatro S. José acolheu artistas renomados, dentre eles o italiano Ernesto Rossi, na época, um dos maiores interpretes de Shakespeare. Chegado pelo trem do Norte, foi recebido na estação. De lá a multidão o acompanhou até o Grande Hotel, de cuja sacada discursou em agradecimento aos que o aplaudiam. Apresentou a tragédia Othelo. Seguiram-se Romeu e Julieta, e Hamlet. Tomado de entusiasmo, um dos espectadores não se conteve: O orador vale o ator. Ambos são grandes. A influência de Rossi  contaminou os acadêmicos que se sentiam os próprios príncipes dinamarqueses, a repetirem, de capa espanhola e bengala: Essere o non essere. Eco il problema.

            A boa lembrança de Ernesto Rossi perdurou, enquanto os espetáculos se sucediam e remanesciam os seus efeitos. Quando da apresentação por artistas amadores da peça Quem é o pai da Criança ?, a dúvida suscitada diretamente à plateia, um excelentíssimo senhor doutor acadêmico respondeu de bate pronto: Pois não sabe, seu calouro ? O pai é você. Mas se não for você, é o Rossi”.

            O ator Giovanni Emanuel, também interprete de Shakespeare, representou no São José Othelo e Rei Lear. Nesta última, causou espécie a cena em que o rei reclama a demora dos cavalos e lança a maldição sobre os filhos que se esqueceram dele e lhes dirige a maldição dos netos.

            Gloriosa foi a passagem da musa francesa Sarah Bernhardt por São Paulo, em junho de 1886. A sua estreia constou do drama Fedora de Vitoria Sardou. Ao encerrar a sua apresentação, o público em delírio a conduziu ao Grande Hotel, enquanto os acadêmicos estendiam as suas capas pretas, a fim de a atriz não pisar no chão. De um espectador entusiasmado: Pensava que raios de inteligência fossem figuras de retórica. Mas, não são. Eu vi tudo isso em Sarah Bernardt”.

            O Teatro S. José abrigou personalidades da ópera lírica (Maria Durand; Taragno; Batistini; Storti; Bulterini, Faletti, dentre outros). Ecoaram as apresentações de Huguenotes; Dinorah; Fausto; Gioconda; Carmem; Guarany; Salvador Rosa; Tosca e outras.          Marcou época a apresentação do maestro Antônio Carlos Gomes. Recebido com ovação, a multidão o conduziu até a Rua da Imperatriz (atual Rua 15 de Novembro), onde se hospedou. Ao final da apresentação de O Guarani, foi saudado pelo bacharel Affonso Celso Júnior: Maestro, o povo e a classe acadêmica de São Paulo fizeram do seu entusiasmo uma escada para chegar até vós, que sois a mais bela gloria nacional.

            O Teatro S. José acolheu sessões cívicas, cujos oradores notabilizaram-se nas letras e na política: Castro Alves, José Bonifácio, Assis Brasil, Affonso Celso, Silva Jardim, Rui Barbosa, dentre outros tribunos. Das celebridades que deixaram no livro de registro suas passagens pelo teatro, o autógrafo de Sarah Bernardt: Messieurs. C’est avec une profunde émotion que je responde à votre simpathie.....et votre pensée rencontrera la mienne torjours émue et reconnaissante. Vive le Brésil.   

No ano de 1873, inaugurou-se em São Paulo o Teatro Provisório Paulistano, por iniciativa de Horácio de Souza Muniz e Cia. A cerimônia de batismo constou de discursos e foi apresentado o drama Helena, pelo grupo dramático Seis de Janeiro. Ganhando novas instalações, recebeu o nome de Teatro Sant-Anna e funcionou até o ano de 1911, quando foi demolido e deu lugar ao Viaduto Boa Vista. Na inauguração do Paulistano foi apresentado o drama A Calúnia, escrito pelo poeta Carlos Ferreira, antecedida pela recitação do poema A Arte !, do mesmo autor, pela atriz Rosina Muniz. Durante a inauguração foi encenado A República dos Pobres, com   participação do Coral Germano, cânticos alemãs sob a direção do maestro Gabriel Girandon.     

Ao mecenas e prefeito da cidade, Antônio da Silva Prado, os paulistas devem muito pela existência do Teatro S. José, bem como pela concepção do suntuoso Teatro Municipal de São Paulo, que o substituiu, construído e mantido até os dias atuais com a mesma pompa arquitetônica clássica, desde 1912. Naquele ano, foi reinaugurado em Natal o Teatro Carlos Gomes, obra do arquiteto Herculano Ramos.

           

27/05/2014



        O poeta e a Praça
Augusto Coelho Leal, engenheiro civil


            Não conheço outra Praça em Natal cantada em versos, pode até ter, mas sinceramente não conheço. “Pio X praça que desapareceu/Praça de muitas recordações/Foi lá que o nosso amor nasceu/ Onde guardei meu coração.” Este é um pequeno trecho da música – Praça Pio X de autoria do poeta, cantor, compositor e violonista Airton Ramalho.

            O poeta. Airton nasceu em Campina Grande, Paraíba. De uma família de músicos, primo de Hianto de Almeida, ainda criança veio morar em Natal. Traz no sangue a verve dos poetas e escritores paraibanos. Quando moço, seresteiro, boêmio, bom violonista, fez muitas serestas para moças natalenses, cantado e acompanhando outros jovens da sua época. As suas composições mais famosas são: Praça Pio X, Baião do negrinho, A vedete do Seridó, O passarinho, Esta última em parceria com outro grande artista potiguar, nosso, Chico Elion.

            A Praça.  A Praça Pio X, ficava onde hoje é a nossa Catedral Metropolitana. O terreno onde foi construída pertencia a Diocese de Natal, falam que sua construção iniciou lá para os anos de 1900. Era o pároco de Natal o padre João Maria. Foi ele que teve a idéia de construir a nova Catedral. Para se ter uma noção de tempo, o local era um grande sítio, onde existiam arvores, e um grande matagal.

            O padre João Maria com muita luta para conseguir recursos e com ajuda do povo que ia buscar pedras nas praias de Natal, começou a construção da Nova Catedral, para época, um prédio de uma arquitetura grandiosa. O padre morava um pouco distante e andava a pé para coletar recursos, por isso a população deu de presente um burro, que lhe servia de montaria. O padre João faleceu no ano de 1905, e com ele foi para o tumulo, o sonho da construção da Nova Catedral.

            Os arredores daquele terreno passaram a ser habitados por pessoas ilustres e com boa situação financeira. O que ficou em pé da construção, teve que ser demolida, a Prefeitura resolveu construir uma praça, que servia como parque. Depois construída a Praça, que tomou todo quarteirão formado pela Avenida Deodoro, Rua Açu, Rua Jundiaí e a Rua Fontes Galvão.

            Diferente da Praça Pedro Velho, a Praça Pio X quase não tinha árvores grandes. No local durante o dia, fazia muito calor, por isto era frequentada mais no final da tarde e a noite, onde servia de encontros para namorar sentado nos bancos (eram poucos) ou bater papo. Também lá não existia quadra para práticas esportivas, nem parques para crianças, era uma praça mais de passeio a pé.

            A Praça se não me falha a memória, tinha o piso em ladrilhos hidráulicos de cores branca ou cinza, e vermelho contrastando com a cor clara, formando vários desenhos em grandes faixas. No centro havia um coreto em forma de avião, que tinha uma escada que dava acesso ao pavimento superior um cimentado liso, com muretas e postes de iluminação, que servia para retretas das bandas de músicas e show de alguns artistas. Na parte inferior, funcionava um bar, ponto obrigatório das madrugadas de jovens e adultos.  Do alto do avião, tinha-se uma vista panorâmica de toda Avenida João Pessoa, incluindo aí o famoso Grande Ponto. A praça servia também para festas religiosas e populares, além de comícios políticos. Lembro-me bem da Festa da Mocidade, que era um grande parque de diversão, frequentada pela sociedade de Natal, com divertimentos para adultos e crianças. Lembro-me que eu e meus irmãos juntamente com papai e mamãe íamos com as melhores roupas para este evento. Roda gigante, carrossel de carrinhos e cavalinhos, carros elétricos conhecidos como bate e volta, trem fantasma, vários jogos para adultos, tiro ao alvo e outros.

            Ao lado da praça, ficava um grande prédio onde funcionou o Cinema Rio Grande, o melhor cinema de Natal e um dos maiores prédio da cidade. Em frente funcionava o Centro Cearense que na minha juventude, um ponto de encontro para jovens e adultos.

            “Praça o teu nome vão guardar/ E quem lá foi namorar/ Não esquecerá/Breve tu serás a Casa de Deus/ Eis aqui nossa homenagem/E também o nosso adeus.”

            Assim escreveu e cantou o poeta, prestando suas últimas homenagens a praça dos seus sonhos. A praça de suas belas recordações, de uma juventude feliz e sadia. As imagens saíram dos seus olhos, mas ficaram e ficarão eternamente em suas lembranças.

           

26/05/2014

A voz do povo



O Puxa-saquismo na Boca do Povo

(*) Gutenberg Costa

            Na cultura do povo ele é conhecido como chaleira, cheleléu, bajulador, estende tapete, prepara a cama, serviçal pra tudo. Não existe raça pior de gente nesse mundo para o povo. O puxa saco é irmão legitimo do delator. Pobre não tem puxa saco e rico nenhum dele escapa... Na boca do povo ele não é bem elogiado...

            Todo puxa-saco de político é como gato, se acomoda fácil a um novo dono, desde que tratado bem com um cargo comissionado. Caindo peixe ou carne debaixo da mesa do poder, o tal puxa-saco logo engorda e roça agradecido o rabo na perna do governante, que antes nem bem conhecia ou havia votado. Alguns se expõem ao ridículo de providenciar duas bandeiras ou dois adesivos, para serem usados em caso de vitória de um dos mais fortes a chegada ao poder. Todo puxa-saco fica em cima do muro esperando pular para os braços do vencedor e é feito tapioca – vira de lado instantaneamente conforme um possível convite a ocupar um disputado e sonhado birô. Adora ser chamado de chefe e andar em carro oficial. Organiza divinamente aniversário ou casamento, seja de seus superiores ou agregados. Riem de piadas velhas contada nos gabinetes e até choram ao tomarem conhecimento da morte do papagaio ou cachorro de quem lhes indicou para o tal cargo que ocupam. Nenhum matemático ou físico calcula a fortaleza de um puxa-saco de plantão sedento de um cargo no poder. Tem gente que assume cargo comissionado há mais de 30 anos aqui no RN. Para o puxa saco não existe partido político... Agrada a Deus e o diabo ao mesmo tempo! Alguns sobreviveram à ditadura e ultrapassaram os tempos das bandeiras verde e vermelha do aluizismo/dinartismo. Pode ter servido os Maias, como pode agradar hoje ao PT. Vergonha não existe em seu dicionário! Topa tudo por todos os meios. Será que o apóstolo Pedro não teria puxado o saco de Cristo, ao cortar a orelha daquele soldado? 

            Das duas uma, ou são muitíssimos competentes ou muitíssimos subservientes. Esse tipo de puxa-saco é tal qual peixe fora dágua. Sem o cargo morrem, por falta de ar (ar-condicionado e motorista particular). Tem poderes que até o sobrenatural duvida. Ou seja, são muitos mais fortes do que até mesmo o poder transitório do RN. Estes grudam no poder que nem cola super bonde. Estrategicamente se organizam, sem ter sindicatos. Bajulam a Deus e ao diabo ao mesmo tempo. A sua religião, o seu time de futebol e o seu partido politico são o do chefe!

O assunto ‘bajulação’ já rendeu até livro de autoria do escritor Nestor de Holanda, com titulo – O Puxa-saquismo ao alcance de todos – Cartilha da Puxação sem Mestre, 205 paginas, editora Letras e artes, RJ. Segundo o citado autor, Puxa-saquismo vem do latim - ‘adulatio’. Esta maldita arte também é chamada de chaleirismo ou puxação de saco. O tipo puxa-saco é também agraciado com as denominações populares de ‘adulador’, ‘bajulador’ ou ‘louvaminheiro’. Seu santo protetor é Santo Onofre, devido o mesmo ser retratado puxando um saco. Dizem que todo político adora ter por perto um puxa-saco. Aquele que carrega a sua bolsa, atende ao seu celular e outras coisinhas mais... Tem puxa-saco que até perdeu ou deixou amigavelmente a sua mulher para o patrão ou chefe. O que mais importa para um puxa-saco é aumento de salário e graduação - mulher é o de menos... Entre os nossos Índios não havia essa praga, mas sabe-se que o puxa-saquismo foi historicamente trazido nas Caravelas de Pedro Álvares Cabral. O Rei foi logo adulado nas cartas de Pero Vaz de Caminha. E haja bajuladores ao senhor seu Rei. A nossa história é recheada de históricos aduladores, segundo o literato Nestor de Holanda. O ‘Chalaça’ bajulava Dom Pedro I, O Conde ‘d’Eu’ chalerava o sogro Dom Pedro II. ‘Amaral Peixoto’ puxava o saco de seu sogro Getúlio Vargas, embora o bajulador oficial fosse ‘Gregório Fortunato’. ‘Felinto Müller’ e ‘Golbery do Couto e Silva’ eram chaleiras de militares e presidentes da ditadura. Collor tinha ‘seu’ ‘PC Farias’. Carlos Lacerda teve em vida vários bajuladores, o mais conhecido foi o ‘Raul Brunini’.

A voz do povo diz que o puxa-saco é quem grita quando o chefe leva uma topada. Fulano é tão baba-ovo que se atirar nos testículos de seu chefe é capaz de acertar em sua boca. O puxa-saco é o último a acreditar na derrota eleitoral de seu chefe político. Ele sempre procura trazer novas fofocas que agradem ao seu chefe. É oferecido para tudo, desde preparar churrasco em dia de domingo a levar os filhinhos de seu chefe à escola. Esse tipo lambe – botas está sempre por perto a elogiar tudo que é feito pelo chefe. O lema do puxa-saquismo é esse: ‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo’. Tem genro que chama sogro de ‘paizão’ e logo consegue um bom emprego com o sogro. Alguns depois de efetivados, tratam logo de deixar a filha querida do besta do sogro. É o chamado ‘conto’ do genro puxa-saco. Diz o povo que só os loucos e as crianças não puxam – sacos. Quase todo mundo puxou o saco de alguém pelo menos alguma vez na vida. E a boca do povo afirma que o diabo aceita todo tipo de gente no inferno, menos dois: o delator e o puxa-saco! Sendo assim os folcloristas, aconselham a quem não é puxa saco a procurar outro lugar alternativo, pois o céu está cheio deles...


(*) É presidente da Comissão Norte Rio Grandense de Folclore.

25/05/2014

O GÊNIO DE MACAÍBA



AUGUSTO SEVERO

 

Jurandyr Navarro

Do Conselho Estadual de Cultura

 

"Onde estiver o PAX estará o Brasil", proclamara o aeronauta rio-grandense-do-norte na sua empolgação sonhadora.

Augusto Severo foi um gênio inventivo. Notável pela invenção da aeronave no Brasil. Imitou, de certa forma, Leonardo Da Vinci que desenhou aeroplanos e estudou o voo das aves.

O sonho humano tornou-se realidade. Tudo começou com a fábula de ícaro com suas asas de cera...

Severo sucedeu a Jacques Montgolfier, que inventou o balão aerostático, auxilia­do pelo irmão Etienne. Ambos descobriram que o ar quente expande-se, ficando, assim, mais leve que um volume igual de ar frio. A experiência fora aplicada em balões, com êxito positivo, em Paris, quando no ano de 1783, um balão de ar quente conduziu, elevando à atmosfera, o físico François Pilatre de Pozier e um companheiro. Foram eles os primeiros astronautas da História (Asimov, 1989).

Inteirado estava também Severo da contribuição do gás hidrogênio - ar de fogo -, estudado por Cavendish, gás mais leve que o ar quente e possuía uma flutuabilidade muito maior e permanente. E que, em agosto de 1783, Charles construiu o primeiro balão desse gás, conseguindo, pioneiramente, subir com ele à altura de aproximada­mente três quilômetros. Um século depois, um inventor germânico, Ferdinand Adolf August Heirich von Zeppelin, concebeu a ideia genial de aerodinamizar um balão, para que sofresse menos a resistência do ar. Conseguiu sucesso, concebendo-o na forma de um charuto, com a novidade de ser auto-manobrado, não ficando como antes, à mercê dos caprichos dos ventos. Para atingir esse resultado foi aclopada uma gôndola que carregava um motor de combustão interna e um propulsor. Recebeu o nome de balão dirigível, abreviado, depois, para dirigível, simplesmente ou chamado,também de Zeppelin, nome do seu inventor.

Esses e outros inventos foram acompanhados na sua evolução científica pela mente arguta e penetrante do nosso conterrâneo ilustre.

Roger Bacon, monge franciscano (1214-1294), precursor do método experimen­tal, prognosticara:

"É possível fazer máquinas para a navegação sem remos, de modo que os grandes navios serão movidos por um único homem, e com mais velocidade do que se estivessem cheios de tripulantes (... ) Máquinas voadoras também poderão ser construídas e nas quais o homem gire um mecanismo com asas artificiais no ar como um pássaro em vôo. Também se poderá fazer uma pequena máquina para caminhar pelos rios e mares, e até mesmo no fundo, sem perigo".

Augusto Severo foi o primeiro aeronauta brasileiro, com o dirigível "Bartholomeu de Gusmão", em 1894, em Realengo, Rio de Janeiro, assinalou o historiador natalense Luís da Câmara Cascudo.

No seu tempo, Alberto Santos Dumont também tratou da ciência aeronáutica, que daria, com o passar dos anos, um gigantesco impulso ao progresso civilizatório.

 

24/05/2014

Remédios


Os antigos remédios caseiros

Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ

elisio@mercomix.com.br

Antigamente, as pessoas que moravam em pequenas cidades ou sítios não dispunham de médicos ou farmácias por perto. A solução era utilizarem-se dos recursos caseiros que conheciam.

Se alguém se cortasse colocava um pouco de pó de café em cima do ferimento. Caso estivesse no mato usava um pouco de leite de pinhão. Alguns até colocavam esterco de cavalo ou burro. Qualquer dessas medidas fazia o sangramento parar.

No caso de furúnculos (tumores), botavam uma cebola roxa com rapadura raspada, num paninho amarrado em cima do tumor.

Para doenças da pele, raspa de casca de cajueiro cozida.

Em caso de dor de ouvido usavam um chumaço de arruda ou um pouco de óleo quente no canal auditivo.

Na hora de escovar os dentes usavam pó de casca de juazeiro. Em caso de fraturas na perna ou no braço tomavam suco de mastruz e chá de vassourinha.

Como expectorante em gripes usava-se a banha de galinha e o óleo de coco. A banha do tejo e do cágado serviam para curar a dor de garganta.

Para catarro preso no peito a solução era usar mauá com sena.

No caso de argueiro nos olhos (cisco), colocava-se a semente de alfavaca.

Os lambedores de romã, mangará de bananeira, ipepaconha, casca de angico, hortelã da folha larga e miúda eram usados contra as gripes e resfriados.

Dores musculares e reumatismo eram curados com banha de carneiro capado.

Tosses e bronquites eram combatidas com mastruz com leite, que era bebido de manhã cedo, em jejum.

Em caso de panarício, colocava-se sobre ele um tomate vermelho amarrado.

As dores de cabeça eram combatidas com óleo de mocotó no café amargo. Se a dor não passasse, faziam compressas com as folhas de mamona. Segundo afirmavam a dor sumia na hora.

Para intestino preso (prisão de ventre) usava-se um purgante de óleo de rícino ou azeite preto. Para disenteria, chá de folhas de goiabeira ou pitanga.

Para catapora usavam um banho quente com esterco de vaca.

As micoses (frieiras nos pés) eram curadas com a urina das vacas.

Para o sarampo sair logo, banho quente com caroços de milho.

Na dor de dente, retirava-se o borralho do fogão para colocá-lo em um copo com água e depois se bochechava essa mistura várias vezes. Como prevenção à dor de dente, tomava-se leite de burra.

Para os rins indicava-se o chá de quebra-pedra. Nos males do fígado tomavam chá de boldo.

O leite de mamão verde com água servia para expulsar lombrigas do intestino.

Para gases intestinais dos recém-nascidos utilizavam o chá de erva-doce. Os adultos mascavam casca de laranja da terra.

Para as doenças das mulheres eram usadas as garrafadas com várias ervas medicinais na cachaça ou cerveja preta, que, depois de prontas, eram enterradas ou ficavam ao pé do pote. Essas infusões só eram consumidas curtidas, depois de alguns dias. As mulheres bebiam um cálice por dia, período em que não podiam tomar sol nem sereno.

Nas cólicas menstruais colocava-se um pano quente com sal na barriga das moças. No caso de hemorragia intensa algumas tinham até uma “reza especial”, mantida em segredo pelas famílias.

Aos que eram acometidos de hemorroidas passavam o sumo de melão São Caetano no local ou sentavam-se sobre uma “pedra da lua” dormida no sereno.

Em cabelos ressecados usavam banha de porco e óleo de coco. Também serviam para estirar os fios rebeldes.

No caso de desmaios, colocavam um pedaço de fumo de rolo nas narinas das pessoas.

Esses recursos, mesmo sem sua eficácia comprovada, eram do que se valiam os antigos. E, segundo eles, curavam realmente!






23/05/2014


O INSTITUTO RECOMEÇA REFORMA FÍSICA DE SUA SEDE
 

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE-IHGRN
 
EXTRATO DE CONTRATO
ORIGEM: Coleta de Menor Preço nº 01/2014-IHGRN
CONTRATANTE: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte-IHGRN – CNPJ Nº 08.274.078/0001-06.
CONTRATADA: ENGECIL – CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA -
CNPJ Nº 10.695.634/0001-60.
OBJETO: Obras e serviços de restauração e conservação no prédio do IHJRN, sito na Rua da Conceição, nº 623 – Cidade Alta – CEP 59025-270.
FUNDAMENTAÇÃO:  Decreto nº 6.170/2007 (art. 11) c.c. art. 116 da Lei 8.666/93.
VALOR TOTAL: R$ 81.977,43.
DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA: Convênio com a FJA nº 004/2013.
PRAZO DE EXECUÇÃO: 120 dias.
DATA DA ASSINATURA: 21 de maio de 2014.

 Publicado no D.O.E. de 23.5.2014







22/05/2014

 Visitando João Batista de Melo Pinto


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)


Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Peguei carona com Dona Graça, que foi participar de um evento da Mary Kay, em Recife, e fui visitar meu primo, João Batista de Melo Pinto, dia 13 de maio próximo passado. Levei para eles os jornais com artigos de Vicente Serejo sobre os irmãos José Anselmo e José da Penha. Serejo, Wandyr Villar, Tarcisio Gurgel e Guaraci, entre outros, sempre me perguntam como vai João Batista e quando ele vem a Natal. O mesmo está se tratando de um coágulo, e completou, ontem, 19 de maio, 87 anos de idade.
João Batista foi bastante importante para a construção da nossa genealogia, principalmente da família Trindade e seus entrelaçamentos, com documentos, fotos e informações, anotadas ao longo da sua vida. Sem intimidade com o computador, suas informações vinham por carta ou através de sua esposa Lúcia Margarida, que, mesmo sem enxergar, usava com habilidade o teclado para escrever e um sistema falado, adaptado ao computador, para ler as mensagens que trocávamos.
Da família Mello Pinto encontramos pouca coisa, mesmo pesquisando em velhos livros de Ceará-mirim. Mas, agora, resolvi fazer nova investida a partir das informações que conhecia dessa família.
João Batista nasceu aos 19 de maio de 1927, filho de Francisco de Mello Pinto (tio Chiquito) e Áurea Martins Trindade, e foi batizado na Igreja de Bom Jesus das Dores, aos 21 de agosto do mesmo ano, pelo monsenhor Joaquim Honório da Silveira, sendo seus padrinhos Miguel Trindade Filho e Elvira de Melo Pinto, o primeiro irmão de Áurea e a segunda, irmã de Francisco Pinto; neto paterno de João Baptista de Mello Pinto e Maria Rosa da Trindade, que casaram em 18 de outubro de 1887, em Angicos; e materno de Miguel Francisco da Trindade e Maria Josefina Martins Ferreira, que casaram em Angicos, em 26 de abril de 1890. Miguel Francisco era irmão de Maria Rosa.
Outros filhos de João Baptista e Maria Rosa, irmãos de Francisco de Mello Pinto (1892), eram Nestor de Mello Pinto (1889), Ulysses de Mello Pinto (1890), Maria Pureza de Mello Pinto (1893), e Elvira de Mello Pinto (1895).
Encontrei, também, nos livros da Igreja, o batismo de Murillo de Melo Pinto, irmão de João Batista. Em nove de maio de 1920, na Igreja Bom Jesus das Dores, Padre José Scholl, batizou solenemente a Murillo, nascido a 28 de março de 1920, filho legítimo de Francisco de Mello Pinto e Áurea de Mello Pinto. Padrinhos João Baptista de Mello e Maria Rosa de Mello Pinto, avós do batizado.
Segundo Batista, eram irmãos de seu avô paterno, João Baptista de Mello Pinto (1860), de quem herdou o nome, os seguintes: José Gomes de Melo Pinto (1863); Manoel de Melo Pinto (1864), que casou em 2ª núpcias com Ana, irmã de Maria Rosa;  e Francisco de Melo Pinto (1866), todos filhos de Joaquim de Mello Pinto e Anna Joaquina de Mello Pinto. Escreveu mais Batista, que sua bisavó era índia, e seu bisavô, Joaquim de Mello Pinto, tinha falecido aqui em Natal, em 1868, no Hospital da Caridade. Usando essas mesmas informações, já dadas anteriormente, fiz novas pesquisas em busca dos ancestrais do meu primo.

Em 15 de novembro de 1894, os filhos de João Baptista de Mello Pinto assinaram a ata da eleição estadual, em Ceará-Mirim. Encontro, também, que em 1893, eles aparecem como oficiais da Guarda Nacional, da Comarca de Ceará-Mirim: tenente-secretário João Baptista de Mello Pinto, tenente Francisco de Mello Pinto, capitão Manoel de Mello Pinto, e tenente José Gomes de Mello Pinto.
Entro no livro de óbitos, da cidade do Natal, e encontro o seguinte registro: Aos sete de novembro de mil oitocentos e sessenta e sete faleceu da vida presente, na Casa de Caridade, com todos os sacramentos, o adulto Joaquim José de Mello Pinto, branco, casado, morador na freguesia de Extremoz, foi sepultado no Cemitério Público, e encomendado por mim. Bartholomeu da Rocha Fagundes, Vigário Colado. Com esse óbito, acredito que a informação recebida por Batista era equivocada, sendo esse registro o mais próximo da sua descrição, isto é, seu bisavô era na verdade Joaquim José de Mello Pinto, que faleceu em 1867, e não em 1868.

Procuro, então, por um Joaquim José de Mello Pinto, e vou encontrar o seguinte registro de casamento: Aos vinte e nove de novembro de mil oitocentos e trinta e três, no Oratório do Retiro, da Freguesia de São José, pelas duas horas da tarde, feitas as denunciações e dispensados os nubentes no terceiro grau duplicado, e no terceiro atingente ao segundo de sanguinidade, pelo Reverendo Visitador Francisco de Brito Guerra (aquele que foi senador), em presença do Padre José Pereira da Ponte, de minha licença, se receberam por palavras de presente Joaquim José de Mello Pinto, e Isabel Maria de Alexandria, naturais e moradores desta Freguesia, o nubente filho legítimo de Alexandre de Mello Pinto e de Josefa Maria da Conceição, já falecidos; e a nubente filha legítima de Alexandre Manoel da Circuncisão e de Maria José de Jesus; receberam as bênçãos, sendo testemunhas Alexandre Francisco de Carvalho e Francisco de Freitas Costa, casado, desta Freguesia. Antonio Xavier Garcia de Almeida, vigário interino.
Pelo ano de casamento, desconfio que esse Joaquim José não era o bisavô do meu primo, João Batista, mas  seu trisavô, que deve ter gerado um filho com o mesmo nome. No próximo artigo vamos continuar com a família Mello Pinto, do nosso Rio Grande do Norte, até chegar ao Ajudante Alexandre de Mello Pinto, ascendente de todos eles, que casou em 1743 com Brazia Tavares da Fonseca.
Francisco, Ulysses e Nestor