16/05/2014

GC



                          A Arte de Viajar e o Vestibular de ‘seu’ Né...


(*) Gutenberg Costa.


            Certa feita quando fui à bela cidade histórica paraibana de Nova Floresta, a convite do amigo e folclorista Kydelmir Dantas, fiquei hospedado alguns dias na então residência de seu pai, conhecido em toda a região, como ‘seu’ Né. Homem sertanejo e agricultor de fibra, a quem a classificação euclidiana cairia muito bem: ‘sertanejo, antes de tudo, um forte!’. Gente de barriga cheia e coração grande com todos os amigos de seus filhos. Positivo e honesto ao máximo, sem agradar nem ao Papa. E é diante de sua sinceridade que o visitante pode saber se um dia pode voltar a sua casa ou não. E se passou ou não em seu ‘vestibular’, como ele gosta de se referir a sua aprovação final ao visitante. Em companhia de ‘seu’ Né, fui à feira, entrei em bodega, tomei cachaça com caldo de fava e comprei rapé e chá de boldo para levar para casa. Ouvi de suas vivências histórias belíssimas, que dariam para encher um livro volumoso. E diga-se, contadas com a arte que só eram destinadas aos contadores antiguíssimos, nos alpendres das velhas fazendas em noites enluaradas. Ao ouvi-lo dei risadas e também fiquei muito sério quando foi preciso. Se existe a arte de contar, do mesmo modo existe a arte de saber ouvir!

Confesso que tenho minhas manias de viajante e regras de hóspede, que deram certo com o agrado do velho anfitrião e genitor do grande amigo escritor e poeta Kydelmir Dantas: 1 - Acordo e me levanto antes do dono da casa. 2 – Vou logo dando bom dia a todos a todos da casa e aperto sempre a mão das pessoas que lá chegam. 3 – Retiro o meu prato servido da mesa e o levo para a pia da cozinha. 4 – Deixo a cama que durmo arrumada do jeito que encontrei a noite. 5 – Sempre compro algo para a casa ou para os donos, quando vou ás compras. 6 – Agradeço na saída a minha acolhida e hospedagem a todos. 7 - Retiro da cabeça minha boina ou chapéu quando estou a mesa ou entro em um templo religioso. 8 – Não visto calção e camisa sem mangas durante as refeições. 9 – Não discuto religião, futebol e política com os anfitriões. 10 – Envio sempre que posso uma carta ou cartão de agradecimento aos anfitriões, quando retorno a minha cidade.

E esses são meus ‘10 mandamentos’, de viajante em peregrinação cultural. Teria mais regras, mas já se dá para perceber que gentileza nos faz sempre voltar à cidade que visitamos e ser acolhido da mesma maneira fomos, e, épocas passadas. Aprendi com os mais velhos um dito popular e certeiro sobre viajantes: “quem deixa sujeira na estrada não volta com vergonha!”.

            Voltando a despedida da casa de seu Né, o mesmo ao apertar bem firme a minha mão, esbravejou com toda a sinceridade sertaneja paraibana: - “Gutenberg, dos amigos do meu filho, o senhor foi um dos poucos que passou no meu vestibular... pode voltar a qualquer hora viu, essa casa ficará sempre aberta a sua presença!”... E sem mais delongas, deu-me as devidas notas e explicações para a minha aprovação em seu vestibular: - “o senhor sempre tomava café na mesa comigo, logo cedinho. Teve gente que acordou aqui só para almoçar. O senhor me acompanhava nos passeios na feira e na rua. O senhor me dava um ‘bom dia’ assim que me via pela manhã e uma ‘boa noite’ ao ir se deitar. Muita gente que já esteve aqui, até parecia que dormia comigo e não me cumprimentava hora nenhuma. O senhor nunca me olhou de lado, atravessado e nem usou óculos escuros dentro de minha casa, como muita gente já fez aqui”. E eu só gosto de gente que escute a minha conversa e me olhe prestando atenção no que eu estou falando!”.

E os outros que não passaram no vestibular de ‘seu’ Né, talvez ainda não saibam, é que Viajar é antes de tudo, uma grande arte. Fácil, mas os ditos visitantes pensaram que ainda não haviam saído de suas moradias. Lembram-se daquele aviso tão importante?: “Você não está em casa!’. Ou aquele outro?: “Costume de casa vai a praça”. 

Como é importante e necessário saber cativar e respeitar a cultura dos donos da casa em que estamos hospedados. Observar tudo atentamente quando se chega a uma cidade estranha e pensar muito antes de voltar da viagem, naquele velho ditado do povo: “Em terra de sapo, de cócoras com eles!”. Se você não sabe se comportar como príncipe no palácio do Rei ou agir como mendigo em casa de pobre, não invente de dar uma de viajante e hospedar-se em casas alheias de estranhos, de amigos ou até familiares. Ou seja, saber e dominar a arte da ‘adaptação’, não é para qualquer um não!

Também já ouvi muito na feira do Alecrim, em Natal/RN, a máxima do povo: “Cachorro onde anda leva as pulgas com ele!”. E geralmente nossas manias ficam tão enraizadas, que são difíceis de se desapegarem...

Uma vez viajei com um certo ‘gaúcho’ e o vi sentar-se para jantar a mesa, trajando calção e camisa regata, enquanto o dono da casa estava vestido com calça e camisa social. Como se dizia antigamente: “Quebrando no linho!”. Rapidamente e a contra gosto do sulista, o fiz sair da mesa e voltar ao quarto para adaptar-se a tradição nordestina do dono da casa em que estávamos hospedados.

O velho e saudoso amigo Monsenhor Expedito Medeiros, quando me recebia por dias e semanas em sua casa, em São Paulo do Potengi/RN, me via acordar bem cedinho e acompanha-lo todas as manhãs as suas missas. Na volta para o café, ouvia seus carões no caminho: “Gutenberg meu amigo, você veio pesquisar e descansar em minha casa, não precisa acordar tão cedo e ir às missas, não senhor...”. E o amigo santo do Potengi dava uma gargalhada e me perdoava quando ouvia minhas desculpas para meus gestos de visitante a moda sertaneja: - Monsenhor Expedito, saiba que em terra de cego, se anda de bengala... e em casa de Padre, missa junto com ele!.

Um dia esqueci uma toalha de banho e minha escova dental no banheiro e Monsenhor Expedito achando-as, ligou imediatamente para minha residência, acusando o meu esquecimento e foi logo dando suas santas gargalhadas ao ouvir minhas profecias: - Pode guardá-las Monsenhor, pois é sinal que ainda quero voltar!

                         (*) É Presidente da Comissão Norte Rio Grandense de Folclore.

Familiares de José da Penha

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Hoje completa 139 anos do nascimento, em Angicos, do capitão José da Penha. Neste ano, por conta dos cem anos da sua morte, no Ceará, ele tem recebido várias homenagens de seus admiradores. Jarbas Martins publicou versos na revista da nossa Academia de Letras, Wandyr Vilar está reeditando o livro “O Espiritismos e os Sábios”, e Vicente Serejo, publicou por toda semana que passou, neste jornal, seis artigos sobre o valoroso capitão.
Na Hemeroteca Nacional, encontro que o alferes José da Penha Alves de Souza fez, em 1901, o registro de um filho, na 7ª Pretoria na Capital Federal. Com essa informação entrei no site dos mórmons para encontrar esse documento. Lá não encontrei Pretoria, mas sim Circunscrição. Por isso pedi ajuda ao grupo de Genealogia na Internet. E quem me atendeu foi Pedro Auler do grupo Geneal, que me mandou o link do site dos mórmons, que abriu exatamente no registro procurado. Lá estava escrito:
Aos oito de maio de mil e novecentos e um, nesta Capital Federal e em  Cartório, compareceu José da Penha Alves de Souza, natural do Estado do Rio Grande do Norte, de vinte e seis anos de idade, casado, alferes do Exército, morador a Rua São Clemente, Avenida Dona Maria Clara, casa dezesseis, e na presença das testemunhas abaixo assinadas, declarou que sua esposa Dona Altina Alves de Souza, natural do Estado da Bahia, de vinte e quatro anos de idade, deu a luz na casa acima referida, onde residem, ontem a uma hora da madrugada, a uma criança branca de sexo feminino, que se deverá chamar, Guiomar, neta paterna de José Francisco Alves de Souza, falecido, e Dona Maria Ignácia Alves de Souza, e materno de Francisco Pedro dos Santos, e Dona Josepha Pessoa dos Santos, que ele declarante casou-se aos vinte de fevereiro de mil oitocentos e noventa e seis, no Estado do Ceará, civilmente, e mais não disse  e assinou com as testemunhas, o alferes do Exército Raphael Benjamim da Fonseca e Maria de Souza Maia. Eu Francisco José Pinto de Macedo, escrivão subscrevo.
Foi nesse documento acima, que tomei conhecimento, pela primeira vez, do nome da mãe de Altina, bem como da existência dessa filha de José da Penha. Mas, ao lado desse registro, havia a informação do óbito de Guiomar. Fui atrás dele, e encontrei o seguinte registro:
Aos dezoito de fevereiro de mil novecentos e dois, nesta Capital e Cartório, compareceu o alferes do Exército João Augusto César da Silva e exibindo atestado do Doutor Antonio Rogério Gouvêa Freire, declarou que faleceu ontem, as onze horas da noite, de infecção gastrointestinal aguda, na casa numero vinte e quatro, da Rua Fernandes Guimarães, onde residia a menor Guiomar, de cor branca, natural desta Capital Federal, com nove meses de idade, filha legítima do alferes do Exército, José da Penha Alves de Souza e Dona Altina Alves de Souza. Vai ser sepultada no Cemitério de São João Baptista, e mais não disse e assinou. Eu Francisco José Pinto de Macedo, escrivão que subscrevo.
Sabendo que José da Penha casou em 1896, fui atrás do seu registro no Ceará, buscando, novamente, pelo site dos mórmons. Registro pobre de informações, que não continha a naturalidade dos nubentes, mas que vale a pena transcrever.
Aos dezenove de fevereiro de mil oitocentos e noventa e seis, o Reverendo José Barbosa de Jesus, de licença minha, assistiu o casamento de meus paroquianos – José da Penha Alves de Souza, alferes aluno, e D. Altina Pessoa dos Santos, filha legítima do capitão Francisco Pedro dos Santos e D. Josepha Pessoa dos Santos Cabral; sendo testemunhas José da Silva Bonfim e Dr. Raymundo de Farias Brito. Para constar fiz este que assino in fide parochi. O Cura, Pe. Pedro Leopoldo d’Araújo Feitosa.
Francisco Pedro dos Santos, sogro do capitão José da Penha, veterano da guerra do Paraguai, era natural de Sobral, tendo lá nascido, em 15 de agosto de 1838, filho de Pedro Alves dos Santos e Helena Maria do Espírito Santo.
Nas cartas do capitão José da Penha para as filhas, lá no Ceará, ele sempre se referia à comadre Zefinha. Acredito que era a sogra dele, Josepha Pessoa dos Santos. Acredito, ainda, que foi ela e o marido que criaram Zaíra, Maria Annita e Murilo Penha, pois em 1916, o Ministro da Fazenda negou o pedido de revisão das pensões, feito pelo avô deles, Francisco Pedro dos Santos, para seus tutelados Maria Annita e outros filhos do finado capitão José da Penha.
Raymundo Farias de Brito, testemunha do casamento de José da Penha e Altina, foi o prefaciador do livro “O Espiritismo e os Sábios”. Mais recentemente fui procurar o nascimentos dos outros filhos do capitão, na antiga Capital Federal e encontrei dois registros civis.
Zaira nasceu no Rio de Janeiro, aos 17 de março de 1899, tendo sido registrado pelo pai José da Penha Alves de Souza, na 7ª Pretoria ou 5ª Circunscrição, com testemunhos de Raphael Arcanjo da Fonseca e Raphael Benjamim da Fonseca. Casou com Luis Pinheiro Filho, que foi dono da Fazenda Santa Cruz, aos pés do Cabugi.
Murilo Penha Alves de Souza nasceu, também, no Rio de Janeiro, aos 14 de fevereiro de 1900, sendo registrado na mesma circunscrição acima, e com as mesmas testemunhas, ambos alferes. Não descobri com quem casou. Era militar do Exército e foi nomeado, em 1944, chefe da 25ª Circunscrição, em Fortaleza.
Não encontrei o registro de Maria Annita Penha Alves de Souza, mas encontrei notícias de seu casamento, em Fortaleza, com Manoel Sadoc Cysne, em 1923.
 
Casamento de José da Penha e Altina

15/05/2014

JN




CELESTINO PIMENTEL


Jurandyr Navarro

Relembro o Atheneu Norte Rio-grandense dos anos 40, no seu antigo prédio da avenida Junqueira Aires, da subida da Ribeira. Evoco emocionado esse tempo da minha mocidade.
Educandário criado em 1834, o primeiro ou segundo do Brasil, por lá passou um sucessão de gerações. Mestres-escolas, docentes outros, funcionários e estudantes deram vida àquela escola de humanidades.
De época em época, pontificavam em suas salas de aulas artífices da sabedoria magisterial, dentre esse corpo docente houve, também, nomes que se destacaram na direção do seu destino.
Um deles foi Celestino Pimentel, professor dos mais ilustres e ilustrados.
Autores aludem que os primórdios da escola pública são consignados desde a batalha de Maratona, Grécia, quando a cidade de Trezena hospedou velhos e crianças, sob a ameaça dos Persas, ocasião em que os Trezenenses alimentaram e pagaram os salários dos mestres educadores, fato narrado por Plutarco, no livro “Vida de Temístocles”. Séculos depois, Políbio, historiador, censura Roma por ainda negar a instrução às crianças, uma medida já antiga utilizada pelos gregos. Tal iniciativa helena é gravada em inscrições referentes à estatização da escola. Havia legislação atinente à educação das crianças, por parte do poder público. Em Roma o educador inicial era o chamado pater familae.
Relatos históricos da época assinalam ter sido Espúrio Carvílio o pioneiro em abrir uma escola em Roma.
Dessas raízes, alteou-se a frondosa árvore da Escola Pública até os nossos dias.   O Atheneu, no Rio Grande do Norte, do Brasil, recebeu essa herança bendita, abençoada através dos séculos, em abnegação e trabalho.
O velho educandário hospedou durante anos um verdadeiro símbolo principalmente nos anos 30/40 que se chamou Celestino Pimentel, cujo nome incorporou-se à sua existência.
 Vocacionado para a instrução pública, o conhecido educador lecionava o idioma inglês. Na sala de aula pontificada a sua pedagogia conservadora, tipo lorde britânico, ensinando uma língua enviesada para a época, suscitando a curiosidade geral dos alunos. Nesse tempo, um dos nossos colegas, chegando em casa foi indagado pelo pai, se o inglês era difícil, respondeu: “muito difícil, papai. Basta dizer ao senhor que as palavras dessa língua tem três significados. Por exemplo: o professor disse uma palavra que se escreve five, pronuncia-se  faive e quer dizer cinco!”
Todavia, tais dificuldades de começo eram resolvidas pela didática compreensiva do mestre experimentado neste mister.
Celestino Pimentel, pela sua capacidade, credenciou-se a ocupar um cargo importante,  conferido pelo poder público: - o de tradutor oficial da língua inglesa do Estado. E nessa investidura, de grave responsabilidade, permaneceu por longos anos.
Era ele conceituado docente, porém, denotava um perfil bem característico diverso do usual da sala de aula. Vocacionado se apresentava mais pra dirigir do que para lecionar, embora se apresentasse um professor dos melhores.
O lugar de Diretor de estabelecimento escolar preenchia os requisitos de sua personalidade, cuja empatia era portadora de liderança. Tinha ele mais qualidades para o pragmatismo das ações. O desempenho irrepreensível no posto de comando, a política educativa junto ao alunado e a sintonia bem correspondida ao lado dos colegas professores, constituía-se no trinômio plausível a uma salutar administração.
Reunindo esses requisitos positivos, o seu nome foi, progressivamente, aclamado, durante anos, para a direção do velho Atheneu. E sob o seu criterioso comando o vetusto educandário, famoso se tornou na historia da instrução pública do Rio Grande do Norte.
Lembro-me de alguns componentes da sua diretoria, os executores dos chamado serviços burocráticos, que era composto por figuras importantes da nossa sociedade de então. Todos eles, competentes e cumpridores dos seus deveres funcionais.
Chamavam-se Emídio Fagundes, maçom ilustre da época; Sérgio Santiago, secretário e escritor de livros sobre o Espiritismo e outros assuntos; Elesbão de Macedo, inspetor de alunos, vocacionado para a Política, tendo, depois, sido eleito Vereador.
O professor Celestino marcou época na direção do Atheneu. O biótipo lembrava o estrangeiro anglo-saxônico, de tez corada, alvo, aquilino, dolicocéfalo e de gestos nobres.
 Recordo que ele se apresentava um docente e dirigente incansável. Dava expediente diário, o dia todo, no velho educandário. Nas horas vagas gostava de fumar charuto, de cheiro suave. De costume, portava terno azul, de paletó e gravada e era temível nas provas orais do final do ano, provas complementares dos exames escritos parciais.
Recordo-me que em períodos de férias regulamentares convidava professores para dar Cursos de Férias. Num desses cursos a cargo do professor Antônio Fagundes, houve uma palestra do padre Luiz Monte, Professor de Latim e Matemática, que discorreu sobre o tema, “Formação Moral e Cívica da Mocidade”, realizado se me não engano, na Associação dos Professores, prédio localizado na avenida Rio Banco, desta Capital. De outra feita, a palestra ficou sob responsabilidade do professor Clementino Câmara, intitulada “Caldeamento de Raças; o mestiço, o mulato e o cafuzo, depois do descobrimento do Brasil”.
Noutra data, o palestrante foi o professor Israel Nazareno, que teceu comentários sobre “o Idioma Nacional e a nova ortografia”.
Era assim Celestino Pimentel, trabalhando sem alarde, mas, sempre atuante e delegando tarefas educacionais a outros colegas de magistério, contanto que o aluno não ficasse esquecido.
Raramente era visto sentado no seu birô da sala da Diretoria. A sua constante era o atendimento com o professor, o funcionário e o aluno.
Homem de simplicidade a toda prova, no seio da família, na Diretoria, na sala de aula, e na sociedade. O recato também era outro atributo da sua personalidade marcante.
Nesse tempo, recordo alguns professores, quando Celestino Pimentel era diretor: Albertina Guilherme (Filosofia); Clementino Câmara (Historia do Brasil); Padre Luiz Monte (Latim, e Matemática); Hostílio Dantas (Desenho); Alvamar Furtado (Geografia); Israel Nazareno (Português); Cônego Luiz Wanderley (Latim); José Gurgel (Física); Álvaro Navarro (Ciências Físicas e Naturais); Sebastião Monte (Zoologia); Celestino Pimentel e Protásio Melo (Inglês); Esmeraldo Siqueira (Francês); Paulo Gomes (Espanhol); Pedro Segundo (Química); Múcio Ribeiro Dantas (Matemática); Antônio Fagundes (Português); Monsenhor Alves Landim (Latim); Luiz Maranhão Filho (Geografia), Albimar Borges e Josino Macedo (Matemática); Maria das Neves (Geografia ) e outros. Mavignieur  Noronha (Inspetor Federal).
O diretor do Atheneu  Feminino era o Monsenhor João da Matha Paiva, ex-Deputado Estadual, e ex-Vice-Govenador do Estado, Presidente da Assembléia Legislativa Estadual.
A figura eloqüente do professor Celestino Pimentel deverá ser mais cultuada pela geração presente. O seu nome não deve ser esquecido na memória da educação pública do Rio Grande do Norte.



14/05/2014

amanhã - dia 15 de maio

A FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO LANÇA LIVRO DO ESCRITOR IVONCISIO MEIRA MEDEIROS.




A Fundação José Augusto realizará o lançamento do livro de Ivoncísio Meira Medeiros "CONTANDO HISTÓRIAS... (Ensaios históricos e biográficos)", no próximo dia 15 de maio, pelas 19 horas, na Pinacoteca do Estado. O exemplar será vendido ao preço de 20,00 (vinte) reais, e todo o rendimento será revertido para a LIGA NORTE RIOGRANDENDENSE CONTRA O CÂNCER.

GG




               MAMALUCO OU MAMELUCO
Por: Gileno Guanabara, sócio do IHGRN
            Parte integrante da etnia brasileira o mameluco, presente desde a colonização, significa o resultante da mistura de europeu e índio, consoante a crônica histórica e seus relatos. Houve o tempo em que se usava o termo “mamaluco”, ainda hoje pronunciado no interior de São Paulo, com a grafia original e de que “mameluco” ter-se-ia como corruptela, conservando o mesmo sentido etimológico. Pacífico é para os dicionaristas que mamaluco ou mameluco é o resultado da mistura euro-ameríndio.

            O debate se instala, porém, quando se refere à origem da expressão. Um grupo proclama a origem árabe da palavra mameluco, enquanto para outros sua origem se deve à língua tupi. Em socorro ao primeiro vem a palavra árabe “mamlouk”, particípio passado de “malaka” (governar, possuir, ter sob ordem), correspondendo, pois, ao governado, ao possuído, com equivalência ao “servus” romano, sendo expressiva a correspondência entre uma e outra expressão.

            A referência histórica que se tem é, no ano de 1250, a existência de uma guarda pretoriana formada por mamelucos, sob ordens do sultão egípcio, Melic-Selek, em cujas dinastias o Egito foi governado até o tempo da presença de Napoleão Bonaparte no Mar Mediterrâneo (1831). Teriam sido elas vencidas pelo vice-rei Mehemet-Ali. Entre seus milicianos estavam os truculentos “bahris”, escravos comprados na Georgia e Turquestão, e os rivais “bordjis”. Revezaram-se no poder, governando militarmente e sem escrúpulos. Dos que escaparam de Mehemet-Ali, parte integrou a guarda imperial de Napoleão e, com a derrocada deste, foram dizimados em Marselha pelo Terror Branco.

            Diz Charlevoix, jesuíta e historiador do Paraguai, recolhido por Affonso de E. Taunay nos alfarrábios que juntou ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, que dessa mistureba “... saiu uma geração perversa cujas desordens em todos os sentidos atingiram tais proporções, que a esses mestiços se deu o nome de mamelucos, não fosse a causa de sua semelhança com esses antigos escravos dos soldões do Egito”.

            Portanto, a par do fenômeno próprio da miscigenação de que é resultante o filho do branco europeu e mãe ameríndia, a expressão mameluco atendia também àqueles indivíduos miseráveis que, se não eram meros escravos, eram os possuídos (ou os despossuídos), falavam a língua tupi, não ganhavam sesmarias nem títulos honoríficos, filhos espúrios resultantes da bigamia que se praticava à larga e sem pundonor nas terras da América portuguesa. À falta de uma tradição histórica, os nossos curumins, a fim de amealhar fortuna, tornaram-se chefes das bandeiras, verdadeiros “cabos de tropa” violentos e impiedosos que atiçavam o “terror verde da floresta”, quando da captura de índios que eram embarcados no Porto dos Escravos (São Vicente), via Buenos Aires, vendidos para as minas de prata de Potosi, no Peru.

            São vários os registros de um primeiro branco europeu que morou no Brasil. Náufrago ou degredado, João Ramalho amancebou-se com filhas do cacique Tibiriçá e teria gerado dezenas de filhos mamelucos “tão violentos e criminosos como ele”, no dizer do Padre Simão de Vasconcelos. Habitaram as planícies do Paranapiacaba e juntos com o pai fundaram a cidade Santo André da Borba do Campo, a dez léguas de São Vicente. Pelo pecado da bigamia, João Ramalho foi excomungado pelos “homens de preto”, mas foi indultado pelo parentesco que descobriu ter com o padre Paiva e pelos serviços relevantes que prestou aos colonizadores, quando da fundação das três primeiras cidades da capitania. Fora interlocutor entre índios beligerantes e teria ocupado cargos de alcaide municipal, apesar de analfabeto. Manoel da Nóbrega solicitou às autoridades junto ao Papado, para ser elucidado o casamento oficial de João Ramalho em Portugal, possibilitando o reconhecimento da sua união marital com uma das filha do cacique Tibiriçá. Isso explica a importância do sua convivência com os indígenas - portava-se como tal - interagindo com os padres da Companhia com quem superou divergências e, pela extrema-unção, comprovou a sua condição de não judeu.

Já para os defensores da segunda teoria, Teodósio Sampaio e outros estudiosos, a expressão mameluco não existia. Possível ser tupi a palavra “mamãruca” que traz o radical “mamã” (mistura) e “ruca” ou “yruca” (o que sobra da mistura), resultando o designativo mamaluco ou mameluco.

No entanto, para as anotações de dicionaristas vários (Montoya; Batista Caetano; Stradelli) não é pacífico o entendimento dado a expressão “mamã”, que é outro: ligar, atar, cercar, amarrar. Assim, a palavra não corresponderia exatamente ao sentido de misturar, salvo se recorrendo a um comparativo aproximado, o que representaria um esforço de linguística exagerado. Por outro lado, existe na língua tupi/guarani o termo “monã” ou “monãne” que distingue exatamente misturar, mesclar, confundir.  Portanto, o termo “mamãruca” na língua geral teria um significado diferenciado ao que lhe querem os tupinófilos.

Certamente, com o vingar da história, se contemplou a expressão e qualificação do mameluco, o filho de mãe índia e do branco europeu, varrendo o perjúrio da servidão, de elemento servil, a ideia do truculento homem da mata, que lhe fora atribuída originariamente. Tornou-se fácil a incorporação da expressão, tal como havida da língua árabe, na tipificação de um segmento racial diferenciado que se encorpou ao tempo da expansão das nossas fronteiras, parte hoje significativa da população do Brasil. Esgotada a caça aos indígenas e a fortuna dela obtida pelas bandeiras, a exploração do ouro das minas de Goiazes tornou-se o foco maior de riqueza. Delimitaram-se os limites sociais do confronto entre intrépidos mamelucos paulistas e os emboabas estrangeiros, na guerra iminente que se estabeleceu.

13/05/2014

Abolição da Escravatura - Lei Áurea
Abolição da Escravatura - Lei ÁureaA História da Abolição da Escravatura, a Lei Áurea, Movimento Abolicionista, 13 de maio, libertação dos escravos, História do Brasil, abolição dos escravos, escravidão no Brasil, os abolicionistas, escravos no Brasil,  Lei do Ventre Livre, Lei dos Sexagenários, abolição da escravidão no Brasil
princesa Isabel Princesa Isabel: assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888
Introdução 
Na época em que os portugueses começaram a colonização do Brasil, não existia mão-de-obra para a realização de trabalhos manuais. Diante disso, eles procuraram usar o trabalho dos índiosnas lavouras; entretanto, esta escravidão não pôde ser levada adiante, pois os religiosos se colocaram em defesa dos índios condenando sua escravidão. Assim, os portugueses passaram a fazer o mesmo que os demais europeus daquela época. Eles foram à busca de negros na África para submetê-los ao trabalho escravo em sua colônia. Deu-se, assim, a entrada dos escravos no Brasil.
Processo de abolição da escravatura no Brasil 
Os negros, trazidos do continente Africano, eram transportados dentro dos porões dos navios negreiros. Devido as péssimas condições deste meio de transporte, muitos deles morriam durante a viagem. Após o desembarque eles eram comprados por fazendeiros e senhores de engenho, que os tratavam de forma cruel e desumana.  
Apesar desta prática ser considerada “normal” do ponto de vista da maioria, havia aqueles que eram contra este tipo de abuso. Estes eram os abolicionistas (grupo formado por literatos, religiosos, políticos e pessoas do povo); contudo, esta prática permaneceu por quase 300 anos. O principal fator que manteve a escravidão por um longo período foi o econômico. A economia do país contava somente com o trabalho escravo para realizar as tarefas da roça e outras tão pesados quanto estas. As providências para a libertação dos escravos deveriam ser tomadas lentamente.
A partir de 1870, a região Sul do Brasil passou a empregar assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros; no Norte, as usinas substituíram os primitivos engenhos, fato que permitiu a utilização de um número menor de escravos. Já nas principais cidades, era grande o desejo do surgimento de indústrias.Visando não causar prejuízo aos proprietários, o governo, pressionado pela Inglaterra, foi alcançando seus objetivos aos poucos. O primeiro passo foi dado em 1850, com a extinção do tráfico negreiro. Vinte anos mais tarde, foi declarada a Lei do Ventre-Livre (de 28 de setembro de 1871). Esta lei tornava livre os filhos de escravos que nascessem a partir de sua promulgação.
Em 1885, foi aprovada a lei Saraiva-Cotegipe ou dos Sexagenários que beneficiava os negros de mais de 65 anos. Foi em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que liberdade total finalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil.
A vida dos negros brasileiros após a abolição
Após a abolição, a vida dos negros brasileiros continuou muito difícil. O estado brasileiro não se preocupou em oferecer condições para que os ex-escravos pudessem ser integrados no mercado de trabalho formal e assalariado. Muitos setores da elite brasileira continuaram com o preconceito. Prova disso, foi a preferência pela mão-de-obra europeia, que aumentou muito no Brasil após a abolição. Portanto, a maioria dos  negros encontrou grandes dificuldades para conseguir empregos e manter uma vida com o mínimo de condições necessárias (moradia e educação principalmente).

JANSEN LEIROS

LANÇAMENTO: DIA 14 DE MAIO (QUARTA-FEIRA)