26/03/2014

UM PEDAÇO DA MINHA VIDA, 3



Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

Abrigo dentro de mim uma grande riqueza em documentos, obras de todos os matizes, dizem que mais de 50.000 títulos, relíquias, enfim, a história da nossa terra.

A população do Estado não me conhece em sua integralidade, apenas alguns mais curiosos e ávidos de conhecimentos das nossas raízes me procuram e tiram de mim a seiva de que carecem para alimentar os seus conhecimentos.

Entretanto, numa atitude absolutamente incoerente e incompreensível, nada ou quase nada fazem por mim, não ajudam a curar as minhas feridas, não ofertam recursos suficientes para a minha sobrevivência e me deixam em estado de inanição.

Se estou vivo devo à abnegação de poucos cidadãos, que cuidam de mim nas horas vagas, pois nada ganham para isso e ainda têm que repartir o seu próprio pão para que eu não morra de fome.

25/03/2014

UM PEDAÇO DA MINHA VIDA, 2




Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes



Cuidaram de mim, desde o meu nascimento, os cidadãos: Doutor Olympio Manoel dos Santos Vital (de 1902 a 1910); Desembargador Vicente Simões Pereira de Lemos (de 1910 a 1916); Coronel Pedro Soares de Araújo (de 1916 a 1926); Desembargador João Dionisio Filgueira (1926 – período para complementar o mandato em face da renúncia do Coronel Pedro Soares); Desembargador Hemetério Fernandes Raposo de Melo (de 1926 a 1927); Doutor Nestor dos Santos Lima (de 1927 a 1959); Doutor Aldo Fernandes Raposo de Melo (de 1959 a 1963); Doutor Enélio Lima Petrovich (de 1963 a 2012); Jurandyr Navarro da Costa (de 2012 até 2013 em complementação do mandato do seu antecessor que faleceu no dia 06 de janeiro de 2012); Valério Alfredo Mesquita (desde 15 de março de 2013), com mandato de três anos.

24/03/2014

UM PEDAÇO DA MINHA VIDA, 1





Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

Estou nas vésperas do meu aniversário de 112 anos, pois nasci no dia 29 de março do longínquo ano de 1902, quando governava o Estado do Rio Grande do Norte o Mecenas Potiguar Augusto Frederico de Albuquerque Maranhão, numa reunião realizada no salão da biblioteca do velho Atheneu. Os meus tutores iniciais foram os cidadãos: Presidente: dr. Olympio Vital; Vice-Presidente: dr. Alberto Maranhão; 1º Secretário: dr. Pinto de Abreu; 2º Secretário: dr. Luiz Fernandes; Orador: des. Meira e Sá; Tesoureiro: Veríssimo de Toledo.
Ao longo do tempo ganhei alguns abrigos – em 03 de maio de 1903 no prédio da Intendência Municipal, hoje Prefeitura Municipal do Natal; depois passei para o imóvel da rua 13 de Maio (hoje Rua Princesa Izabel), nº 640. Em 1906 o Governador Augusto Tavares de Lyra, um dos meus cuidadores, construiu um edifício para servir como minha casa, localizada na rua da Conceição nº 622, que dividiu com o Superior Tribunal de Justiça até 3 de maio de 1926, mudando-se para prédio na mesma rua da Conceição nº 577, ali permanecendo até 1938 quando o então Presidente da minha casa, escritor Nestor dos Santos Lima, obteve do Interventor Federal Rafael Fernandes Gurjão o retorno para o edifício de nº 622, meu abrigo definitivo, conforme os decretos nºs 503 e 543, de 07 de junho e 22 de agosto de 1938, respectivamente.
 

23/03/2014



AFINAL, QUEM CUIDARÁ DE MIM!
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes


Sou um ancião de 112 anos
E vivo em constantes dificuldades
Velado por algumas entidades
Que não compensam os tantos abandonos.

Todos me querem e proclamam o meu valor
Mas não ofertam o socorro que preciso
Neste caminho fico a mercê do improviso
Dos que me amam e conduzem o meu andor.

Ação profunda eu anseio seja notória
Para salvar o meu corpo de riqueza
Que meditem com a necessária profundeza
O destino desta Casa da Memória.

22/03/2014


Na prática à práxis marxista é outra

Tomislav R. FemenickMestre em economia, contador e historiador

Práxis é uma forma de pensamento que procura explicar a conduta humana em relação à política, à economia e à moral. Se buscarmos suas raízes as encontramos nas ideias de Platão, que procurou direcionar a ação política pela teoria. Já Aristóteles entendia que a conduta humana, em relação à vida e suas relações socioeconômicas, se caracteriza por uma objetividade concreta e não por reflexões teóricas. O próximo grande salto foi dado por Hegel, que definiu a práxis como um processo de interação da objetividade e da subjetividade tendo por base o pensamento e a ação do homem, como agente das transformações sociais.
Já a práxis marxista, é um conceito que procura explicar as ações humanas que objetivam transformar a sociedade. Marx postula a existência de uma teleológica nas ações do homem, relacionando ações com causas objetivas, fato que explicaria as grandes lutas revolucionárias. A práxis marxista (aqui simplificada) é a base da argumentação que dá suporte a outro pensamento central do marxismo: o conceito de modos de produção, uma concepção abstrato-formal, um processo de ascensão do concreto para o abstrato, de descida progressiva do abstrato para o concreto e, finalmente, de comprovação empírica.
Em “A ideologia alemã”, Marx e Engels afirmam que a forma como a sociedade está organizada para a produção de bens identifica uma “fase de desenvolvimento das suas forcas produtivas materiais” que, por sua vez, determina as relações de produção entre os homens. Sobre essa estrutura econômica é que se ergueria uma supraestrutura social, alicerçada em um ordenamento político que se fundamentaria em formulações jurídicas, ambos (ordenamento político e formulações jurídicas) resultantes da consciência da sociedade, esta também consequência das relações de produção. Assim, o “processo da vida social, política e espiritual em geral” seria resultante do modo de produção vigente. Todavia esse estado de coisa teria caráter precário, pois a própria evolução das relações de produção criariam choques de interesses entre as classes sociais, abrindo, “assim, uma época de revolução social”.
Esse posicionamento deu ensejo ao desenvolvimento da teoria do “etapismo”. Engels foi o primeiro (Origen de la familia, de la propriedad privada y del Estado) a apontar para o gradualismo, sendo seguido por Lênin (Acerca del Estado, in Marx, Engels e el marxismo). Enquanto o primeiro tomou como campo teórico a Europa ocidental, o segundo deu uma amplitude geral ao conceito dos degraus evolutivos. Porém o “etapismo” só foi sacramentado como dogma do marxismo quando Stalin (Materialismo dialético e materialismo histórico) reconheceu como históricos somente “cinco tipos fundamentais de relações de produção: a comuna primitiva, a escravatura, o regime feudal, o regime capitalista e o regime socialista”.
Ora, todas essas contorções teóricas tiveram por objetivo sentenciar o fim do capitalismo, que seria vitima de si mesmo: o crescimento do capital exige o crescimento do proletariado que, vivendo na miséria, se engajaria na luta pela derrubada do regime, fazendo surgir o socialismo que viria no bojo da ditadura do proletariado. A realidade contradisse toda essa argumentação. Embora não o ideal, nos regimes verdadeiramente capitalistas houve um crescimento continuado do padrão de vida dos trabalhadores, enquanto que o socialismo “científico” veio e foi embora. Somente restaram Cuba e a Coréia do Norte, simples ditaduras hereditárias. China e Vietnã só têm de comunista o nome do partido no poder.
 

Tribuna do Norte. Natal, 23 mar 2014.

O Mossoroense. Mossoró, 15 mar 2014.