23/03/2014



AFINAL, QUEM CUIDARÁ DE MIM!
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes


Sou um ancião de 112 anos
E vivo em constantes dificuldades
Velado por algumas entidades
Que não compensam os tantos abandonos.

Todos me querem e proclamam o meu valor
Mas não ofertam o socorro que preciso
Neste caminho fico a mercê do improviso
Dos que me amam e conduzem o meu andor.

Ação profunda eu anseio seja notória
Para salvar o meu corpo de riqueza
Que meditem com a necessária profundeza
O destino desta Casa da Memória.

22/03/2014


Na prática à práxis marxista é outra

Tomislav R. FemenickMestre em economia, contador e historiador

Práxis é uma forma de pensamento que procura explicar a conduta humana em relação à política, à economia e à moral. Se buscarmos suas raízes as encontramos nas ideias de Platão, que procurou direcionar a ação política pela teoria. Já Aristóteles entendia que a conduta humana, em relação à vida e suas relações socioeconômicas, se caracteriza por uma objetividade concreta e não por reflexões teóricas. O próximo grande salto foi dado por Hegel, que definiu a práxis como um processo de interação da objetividade e da subjetividade tendo por base o pensamento e a ação do homem, como agente das transformações sociais.
Já a práxis marxista, é um conceito que procura explicar as ações humanas que objetivam transformar a sociedade. Marx postula a existência de uma teleológica nas ações do homem, relacionando ações com causas objetivas, fato que explicaria as grandes lutas revolucionárias. A práxis marxista (aqui simplificada) é a base da argumentação que dá suporte a outro pensamento central do marxismo: o conceito de modos de produção, uma concepção abstrato-formal, um processo de ascensão do concreto para o abstrato, de descida progressiva do abstrato para o concreto e, finalmente, de comprovação empírica.
Em “A ideologia alemã”, Marx e Engels afirmam que a forma como a sociedade está organizada para a produção de bens identifica uma “fase de desenvolvimento das suas forcas produtivas materiais” que, por sua vez, determina as relações de produção entre os homens. Sobre essa estrutura econômica é que se ergueria uma supraestrutura social, alicerçada em um ordenamento político que se fundamentaria em formulações jurídicas, ambos (ordenamento político e formulações jurídicas) resultantes da consciência da sociedade, esta também consequência das relações de produção. Assim, o “processo da vida social, política e espiritual em geral” seria resultante do modo de produção vigente. Todavia esse estado de coisa teria caráter precário, pois a própria evolução das relações de produção criariam choques de interesses entre as classes sociais, abrindo, “assim, uma época de revolução social”.
Esse posicionamento deu ensejo ao desenvolvimento da teoria do “etapismo”. Engels foi o primeiro (Origen de la familia, de la propriedad privada y del Estado) a apontar para o gradualismo, sendo seguido por Lênin (Acerca del Estado, in Marx, Engels e el marxismo). Enquanto o primeiro tomou como campo teórico a Europa ocidental, o segundo deu uma amplitude geral ao conceito dos degraus evolutivos. Porém o “etapismo” só foi sacramentado como dogma do marxismo quando Stalin (Materialismo dialético e materialismo histórico) reconheceu como históricos somente “cinco tipos fundamentais de relações de produção: a comuna primitiva, a escravatura, o regime feudal, o regime capitalista e o regime socialista”.
Ora, todas essas contorções teóricas tiveram por objetivo sentenciar o fim do capitalismo, que seria vitima de si mesmo: o crescimento do capital exige o crescimento do proletariado que, vivendo na miséria, se engajaria na luta pela derrubada do regime, fazendo surgir o socialismo que viria no bojo da ditadura do proletariado. A realidade contradisse toda essa argumentação. Embora não o ideal, nos regimes verdadeiramente capitalistas houve um crescimento continuado do padrão de vida dos trabalhadores, enquanto que o socialismo “científico” veio e foi embora. Somente restaram Cuba e a Coréia do Norte, simples ditaduras hereditárias. China e Vietnã só têm de comunista o nome do partido no poder.
 

Tribuna do Norte. Natal, 23 mar 2014.

O Mossoroense. Mossoró, 15 mar 2014.

18/03/2014

Jerônimo de Barros, o primogênito de João de Barros

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
 
 
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
A Casa da Índia era uma organização portuguesa que administrava os territórios ultramarinos de Portugal. Durante sua existência, foi a instituição econômica mais importante de Portugal. Era localizada no Paço da Ribeira, em Lisboa.
João de Barros, capitão das terras dos potiguares, foi Tesoureiro e depois Feitor da Casa da Índia, a partir de 1525. Renunciou ao cargo em 12 de agosto de 1567, talvez para concluir suas “Décadas”. Pouco tempo depois, 21 de outubro de 1570, faleceu.  Era casado com Maria de Almeida, filha de Diogo de Almeida e Catarina Coelho. Eram seus filhos: Jerônimo de Barros, o primogênito, casado com Loisa Soares, e faleceu em 20 de agosto de 1586; João de Barros que esteve aqui na Costa do Brasil, com Jerônimo, morreu na batalha de Alcácer-Quibir; Lopo de Barros,o mais moço, falecido em 3 de abril de 1587; Diogo de Barros; Isabel de Almeida, que casou com o primo Lopo de Barros; Ana de Almeida, freira; Catarina de Almeida, casada com Cristovão de Melo, filho de Diogo de Melo e de Catarina de Castro.
O Feitor, por conta da sua alta responsabilidade, nunca veio ao Brasil, tendo mandado duas expedições para a conquista das suas capitanias, sem muito sucesso, e com grande fracasso financeiro.
Conta Jerônimo de Barros, que no tempo de Dom João III, foi a mando dele, com o irmão João de Barros, ao Rio Maranhão, com uma armada para descobrir o dito rio e costa, na esperança de resgatar ouro, descobrindo mais de quinhentas léguas de costa. Ali, resgataram alguns homens que nela andavam dos que se perderam com Luis de Mello. Tiveram muito trabalho de guerra com os franceses e com o gentio da terra e povoaram em três partes, gastando perto de cinco anos, sustentando tudo a custa do seu pai, até gastar quanto tinha.
Transcrevo para cá minuta de petição de Jerônimo de Barros, sem data, mas depois do falecimento do seu pai (1570). Fiz algumas adaptações para facilitar a leitura.
Diz Jerônimo de Barros que ele tem uma capitania no Brasil de cinquenta léguas ao longo da costa dos Pitigares e vinte e cinco na boca do rio Maranhão. E já que seu pai, nem ele, por seus serviços, mereceram servir V. A. neste Reino como seu Pai sempre requereu, quer ir povoar esta capitania no que espera fazer a Deus e a V. A. muito serviço pela experiência que tem daquela costa do tempo que nela andou de que ficou tanta despesa, que sem ajuda de V. A. não pode povoar pelo que pede lhe faça V.A. mercê de lhe mandar dar cem moradores dos oitocentos, que o contratador do Brasil é obrigado a por lá; E assim, de haver por bem que possam entrar neste reino de Inglaterra cinco mil peças de pano no que as alfândegas de V. A. R. proveito e ele ajutoria para fazer esta obra(?). E que os primeiros dez anos possam tirar, cada ano, mil quintais de pau do Brasil; e, assim, de cinquenta peças de escravos em São Tomé e aqui somente duas peças de artilharia e da que está em Pernambuco oito peças para defesa da fortaleza a qual artilharia dará fiança. 
E lembro a V. A, que muito mais  e maiores mercês se fizeram aos capitães que povoaram no Brasil por que (a) alguns deles deram as fortalezas feitas e artilhadas e navios com que defender a costa. E há outros com que as fazer e se parecer muito, o que peço, a isso responda por mim a fazenda de V. A. com dizer o que tem custado à baia a povoar e se é necessário ou não povoar-se esta capitania, por uns apontamentos que abaixo desta apresento se verá quanta obrigação V. A. tem na sua consciência a mandar que se povoe e quanto importa a seu serviço e bastam para mim estas duas coisas para muito o desejar que interesse ao presente não o espero e, de futuro Deus sabe o que será no que R. M.
Ao serviço de V.A. é necessário mandar povoar esta capitania antes que os franceses a povoem os quais todos os anos vão a ela a carregar de Brasil por ser o melhor pau de toda a costa. E fazem já casas de pedra em que estão em terra fazendo comércio com o gentio. E os anos passados estiveram nesta capitania dezessete naus de França a carga e são tantos os franceses que vem ao resgate que até as raízes do pau brasil levam, porque tinge mais as raízes do que pau que nasce nesta capitania. Que o pau das outras capitanias é sempre valor dobrado do outro brasil. E agora tomaram os franceses nos Pitigares três mil quintais de brasil que o portugueses tinham na praia feitos a sua custa para carregar e antes que os franceses faça uma fortaleza que obrigue depois a muito, parece que será bom povoar-se por nós e com isso feito lhe não levarem este pau a França e ficará então rendendo mais a V. A.
Outro respeito se deve ter que muito importa ao serviço de V. A. É que todos os navios que se alevantam no Brasil para as Antilhas é com dizer que vão a esta capitania. E eles como nela são por não haver quem não defenda salteia o gentio e cativam-nos no que se faz muitas ofensas a Nosso Senhor e vão-se com os navios carregados deles a vender as Antilhas no que a fazenda de V. A. perde por respeito dos escravos de Guine que se escusa com estes índios que lá vão.
E o que mais importa para o bem do Brasil é a perda dos homens e eles por esta porta travessa para as Antilhas tomados do amor do ouro que lá há onde há tantos portugueses que me atrevo a dizer que dos que são idos para o Brasil as duas partes estão nas Antilhas onde há muitas povoações cujos moradores as duas parte são  de portugueses e o proveito que eles fazem às conquistas deste reino Deus o sabe.
Todos os navios que não dobram o Cabo de S. Agostinho são forçados arribar nas Antilhas e muitos dos que vão para a Guiné o que não será tendo uma fortaleza nesta capitania por que podem ficar nela a qual é a mais perto terra que há no Brasil a este reino e mais breve e melhor viagem e povoando-se além dos benefícios apontados pode este Reino receber outros e se naquela terra há ouro pelo que a meu pai tem custado sei que por esta parte se pode melhor descobrir que por outra nenhuma e não digo isto por que o visse mas quando me perguntarem direi o que disso sei.  E o principal respeito que se deve ter é a obrigação que se tem em acudir aquela gentilidade que não seja cada dia destruída e roubada pelos nossos (?) dos quais muitos receberão água do batismo com povoar entre eles e muitos inocentes se salvarão no que R. M.

Mapa das capitanias hereditárias

17/03/2014


A PALAVRA E SUAS CONVENIÊNCIAS
Por: Gileno Guanabara, advogado.

O sentido tradicional da expressão “patriarca” se aplica a quem exerce chefia, o juizado da família, do clã, da tribo, o padre, pai ou Pagé. No Brasil, se atribuiu a José Bonifácio o título de “O Patriarca da Independência”. A vinculação do título ao Conselheiro do Império não se deveu a historiadores da época, apesar da sua participação nos atos que antecederam e procederam a proclamação da Independência. Mas a causa maior foi uma graça. Um comerciante expôs na sua loja da Rua do Olvidor, no Rio de Janeiro, a tela, de autor desconhecido, que retratava José Bonifácio entre dois anônimos e onde estava inscrito na parte inferior: “Patriarca da Independência”. Quer se tratasse de mera brincadeira, quer fosse simples humor, no entanto, a ideia vinculada na obra ganhou repercussão entre os partidários do suposto homenageado, que não eram poucos, havendo também reações contrárias de parte dos seus desafetos.

José Bonifácio tivera papel político relevante, quando se incorporou ao Gabinete de D. Pedro I, superando contradições políticas com o Imperador. No entanto, se indispôs com a influência crescente da Marquesa de Santos junto ao monarca, ela que era simpática aos partidários da independência. Diferentemente, o Conselheiro perseguiu os carbonários, cuja ação conspiratória se dava na Maçonaria, na Igreja e na imprensa. No poder, José Bonifácio desencadeou intensa repressão e ordenou a prisão de José Clemente Pereira e do Cônego Januário da Cunha Barbosa, dentre outros. Joaquim Gonçalves Ledo, maçon, jornalista e panfletário, vivendo sob a iminência de ser preso, escapou vestido de padre e se exilou na Argentina.

Os adversários de José Bonifácio, participantes dos atos da proclamação ocorrentes em 1821 e 1822, após a sua demissão, trataram de desfazer o equívoco, de desmistificar a brincadeira inclusa na tela. Mesmo assim, sem querer, o termo “patriarca” ganhou um novo sentido e assim ficou no vernáculo nacional.

A pantomima referida na expressão atribuída ao paulista que ajudou o Brasil a fazer o Império, traduzia bem as contradições de sua prática naquele momento político. Afinal, faça o que eu digo, não faça o que eu faço. O patriarca costumava recomendar aos brasileiros a política dentro da razão e da moral. Contrariamente, no Ministério, mandou prender inocentes e adversários, libertou criminosos, perseguiu seus desafetos, destituiu a carreira de juízes que não lhe eram simpatizantes, e desviou verbas públicas a fim de custear seus partidários. Em cartas que endereçou ao Conde de Funchall, José Bonifácio afirmou que praticara o que as circunstâncias e as oportunidades o exigiram.

Outra expressão que viu alterado o seu sentido tradicional, foi o vocábulo emérito, cuja origem latina decorre do composto “ex”, fora, e da expressão méritus, merecimento. Dessa forma, emérito teria o sentido de imprestável, inútil, sem valor. Nas Catilinárias de Cícero, vê-se a expressão emeritus cônsul, no sentido de cônsul aposentado. Em Seneca, lê-se emérita dies, como dia acabado, dentre outras expressões referentes ao vocábulo.

Dicionários portugueses definem o termo emérito no sentido de:   aposentado, gozando os vencimentos do emprego; ou também glosado como: “Emérito, adj. Aposentado. Ex: soldados eméritos, isto é, reformados, jubilados.”.

A deformação ocorrida se deveu ao texto de um jornalista lusitano que ao legendar a foto de um político ementou: Emérito patriota. Afora a discussão que gerou, no entanto, a expressão cunhou um novo sentido. Deixou de se referir a aposentado, inútil, e passou a ser entendido como corruptela de ilustre, de notável (Significações Burlescas, Fialho de Almeida, Lisboa, 1885).

A renovação do conteúdo das palavras não tem fronteira. O caso de emérito chegou e foi adotado no Brasil, nos conformes do novo sentido. De igual forma, também chegou a Paris, cuja imprensa registrou “emérite”, referindo-se a Victor Hugo, como sendo um destacado escritor. Escusado dizer das manifestações ocorridas pró e contra aquela mudança.

Graciliano Ramos nas crônicas que escreveu, registrou um erro de grafia atribuído a um linotipista de jornal que, em consequência, distorceu o sentido da notícia a ser divulgada.  A nota rabiscada pelo redator e dirigida às máquinas dava conta da presença do Imperador D. Pedro I, na festa de um subúrbio carioca. O inusitado, porém, era o destaque, segundo o qual o Imperador, que havia caído de um cavalo, teria fraturado um dos pés. Daí ter saído amparado num par de muletas. A matéria foi publicada com equívoco: O Imperador D. Pedro compareceu a um baile no subúrbio. Ao se retirar, caminhava trôpego amparado num par de mulatas.

 Por descuido ou imperdoável mau humor, a notícia verdadeira dera lugar ao equívoco e provocou um mal estar governamental. O soberano tinha comparecido e se ausentara do baile amparado num par de muletas. Portanto, o sentido pejorativo da notícia tal o erro publicado, encontrou guarida no procedimento libertino do monarca, de todos sabido, que não podia ver rabos-de-saia na sua frente.

A radicalização da campanha política em 1960, no Rio Grande do Norte, notabilizou-se pelas passeatas populares em que os candidatos e os eleitores caminhavam nas ruas, durante noites inteiras. O então Governador, Dinarte Mariz, líder da UDN, posicionou-se ao lado da candidatura de Djalma Marinho. No vale tudo que prevaleceu, tencionando sensibilizar os eleitores numa avenida do bairro do Alecrim, reduto da oposição, Dinarte subiu o tom do desabafo e acusou o opositor, Aluísio Alves, da Cruzada da Esperança, de lhe fazer acusações indevidas. Do alto do palanque, o governador proclamou: “Foi numa noite como essa, nas Quintas, que Aluisio me desonrou”. A turba de eleitores oposicionistas, incrédulos, no entendimento precário e dúbio da revelação, respondeu: “vai casar ... vai casar”.

13/03/2014



Morre Dosinho, um dos principais carnavalescos do RN

Ele estava internado há quase 30 dias no hospital Promater, com quadro de infecção generalizada.

Gerlane Lima, 
Morreu na manhã de hoje (13), Claudomiro Batista de Oliveira – Dosinho, um dos principais carnavalescos do Rio Grande do Norte.
Dosinho estava internado há quase 30 dias no hospital Promater. Ele estava em coma, com quadro de infecção generalizada. A família ainda não definiu o horário, nem local do velório.
Claudionor Batista de Oliveira nasceu na cidade de Campo Grande no Rio grande do Norte. Iniciou sua carreira fazendo composições para campanhas publicitárias e políticas. Foi assistente de orquestra da Rádio Nacional no Rio de Janeiro. Trabalhou na Gravadora Copacabana como agente e na Mocambo como representante. Em Natal, nos anos 60, produziu e apresentou um programa na Rádio Trairy, aos domingos, denominado Fábrica de Melodias, onde tocava os últimos sucessos da gravadora Mocambo, que ele recebia com exclusividade.
Começou a compor nos anos 40, mas suas primeiras composições gravadas, datam de 1952: o samba choro "Há sinceridade nisso" e o baião "Se tocá eu danço" feitos em parceria com Manezinho Araújo e Carvalhinho e gravados por César de Alencar. No mesmo ano e com a mesma dupla fez o baião "Jica-jica" gravado em dueto por Cesar de Alencar e Heleninha Costa. Por essa época  compôs a música de carnaval "Marta Rocha" em homenagem a então miss Brasil, que visitava a cidade de Natal - essa música permaneceu inédita.
Em 1962  suas composições falavam da uma paixão maior do povo natalense - o Futebol. Compôs "O mais querido" - hino do ABC Futebol Clube sucesso até hoje entre a galera do "frasqueirão". Compôs ainda o hino do Alecrim Futebol Clube e um segundo Hino do América Futebol Clube de Natal, já que o primeiro era o mesmo do América Futebol Clube do Rio de Janeiro.
Ainda esse ano, Gilberto Fernandes gravou o samba-canção "Maltrapilha" e os Cancioneiros o samba "Sofredor". Em seguida foi a vez do lançamento do LP "Primeiro Ensaio", com o qual obteve grande sucesso e  elogios de Câmara Cascudo.
Entre seus LPs destaca-se "Carnaval de norte a sul" com 12 composições em parceria com Waldir Minone, interpretadas por Claudionor Germano. Albertinho Fortuna, Expedito Baracho, que cantou solo e como integrante do conjunto Os Cancioneiros e Carminha Mascarenhas.
Dosinho é considerado um dos grandes nomes do Carnaval ao lado de Capiba e Nelson Ferreira. Depois de atuar no Rio de Janeiro e no Recife, voltou pra Natal onde permaneceu até hoje.
________________________
FONTE: Portal nominuto.com

Dozinho

Claudomiro Batista de Oliveira
 24/12/1927 Augusto Severo, RN 
morte: 13/3/2014

Dados Artísticos

Embora ficasse conhecido como compositor de frevos, sua carreira teve início com composições para campanhas publicitárias como também políticas. Compôs também sambas-enredo. Foi assistente de orquestra da Rádio Nacional no Rio de Janeiro. Trabalhou na Gravadora Copacabana como agente e na Mocambo como representante. Começou a compor na década de 1940. Em 1952, teve suas primeiras composições gravadas, o samba-choro "Há sinceridade nisso?", e o baião "Se tocá eu danço", feitos em parceria com Manezinho Araújo e Carvalhinho e gravados por César de Alencar, dois de seus maiores sucessos. No mesmo ano e com a mesma dupla fez o baião "Jica-jica", gravado em dueto por César de Alencar e Heleninha Costa. Por essa época compôs a música de carnaval "Marta Rocha", em homenagem à então miss Brasil, que visitava a cidade de Natal e que permaneceu inédita. Em 1955, Os Cancioneiros gravaram, de sua parceria com Genival Macedo, o baião "Menino de pobre". No mesmo, ano Déa Soares gravou o samba "Peço a Deus", parceria com Sebastião Rosendo. Em 1956, o Trio Puraci gravou dele e Hilário Marcelino a marcha "Vou de reboque" e Expedito Baracho o samba-canção "Beco da maldição". Em 1957, Os Cancioneiros gravaram os frevo-canções "Tempero de pobre" e "Fantasia de capim", que também figuram entre seus maiores sucessos. Em 1959, Gilberto Fernandes gravou o samba-canção "Trapo", parceria com Zito Limeira, e o samba "Só depende de você". Em 1962, Gilberto Fernandes gravou o samba-canção "Maltrapilha" e Os Cancioneiros o samba "Sofredor". Nesse mesmo ano, obteve grande êxito no lançamento do LP "Primeiro ensaio", que recebeu as seguintes palavras elogiosas do historiador Câmara Cascudo: "Dosinho tem a linguagem musical. Diz todas as suas emoções na linha melódica, doce, clara, fácil, com uma naturalidade de fonte. E uma grandeza espontânea de predestinado". Ainda no mesmo ano compôs "O mais querido", hino do ABC Futebol Clube, popular clube de futebol de Natal. Compôs ainda o hino do Alecrim Futebol Clube e um segundo hino do América Futebol Clube de Natal. Em 1963, Roberto Bozzam gravou o bolero "Se alguém me perguntar" e o frevo-canção "Só presta quente". Em 1964, Meves Gomes gravou o frevo-canção "Eu quero mais..." e José Alves "Me deixa em paz". Entre seus LPs destaca-se "Carnaval de Norte a sul", com 12 composições em parceria com Waldir Minone, interpretadas por Claudionor Germano, Albertinho Fortuna, Expedito Baracho, que cantou solo e como integrinte do conjunto Os Cancioneiros e Carminha Mascarenhas. Em 1965 lançou o compacto simples "A vez do morro" e "Ponta negra", como parte da campanha Pró-Frente de trabalho João XXIII. No mesmo ano Gilberto Ferandes gravou "Baião". Teve músicas gravadas, entre outros, por Claudionor Germano, Blecaute, Expedito Baracho, Trio Guarany com Orquestra Tamandaré e Paulo Marquez. É um considerado um dos grandes do carnaval ao lado de nomes como Capiba e Nelson Ferreira. Depois de atuar no Rio de Janeiro e no Recife, retornou para a cidade de Natal.
Memória da MPB
Fonte: 



 
JOSÉ BONIFÁCIO E A INDEPENDÊNCIA
Por: Gileno Guanabara, advogado.

                                               A explosão revolucionária da França chegou ao Brasil, no momento em que o ouro se exauriu. O “quinto” devido, impossível de saciar Portugal, era de 100 arrobas/ano. Em 1789 rebentaria a revolução das Minas. O movimento de Xavier, o “Tira-dentes”, delineou o espírito nacional.

                                               A chegada da corte portuguesa no Brasil – milhares de servos, conselheiros, desembargadores, marquesas, comendadores, padres e Carlota Joaquina - correspondeu ao expansionismo inglês, abrindo-se os portos às nações amigas e a conseqüente liberdade de produção, criação da imprensa, dos tribunais, banco e escolas superiores. A influência inglesa no governo da corte valia-se de dois áulicos: Linhares e Gauveias. Abarrotara-se a alfândega de mercadorias inglesas para até 10 anos.

                                               De uma gente trabalhadora que habitava as cidades, se antepôs uma horda de famélicos que antes devorara Portugal. Agora, tinha-se o caráter da corte dirigida por um príncipe indolente que governara em nome de sua mãe louca, tendo ao lado uma princesa debochada e pródiga, com quem não mantinha vida conjugal regular e de um filho estouvado e premeditado. À corrupção e a venalidade, tudo se somou à subserviência aos interesses ingleses. Eram contra isso as revoltas da Bahia e de Pernambuco.

                                               Há de se estranhar o fato de São Paulo e Minas não se terem filiado às revoltas do Norte. Eis o significado político da presença hábil de José Bonifácio, o Patriarca, o chefe do partido e o caráter que incorporou à independência, diferentemente dos revoltosos da Bahia e de Pernambuco: explorar a ambição de D. Pedro, tal a temerária nobreza de seu caráter; devolver D. João VI a Portugal, tal a pressão da Corte contaminada  pelo movimento de restauração de 1820.

                                               Vamos reconhecer a prodigalidade intelectual do Brasil do século XVIII. Citam-se diversos brasileiros, ao tempo da presença singular de José Bonifácio de Andrade. Nascido em Santos, em 1765, José Bonifácio, aos 15 anos chegou a Lisboa. Já aos 25 anos foi estudar na França. Época da revolução. Estudou as ciências de então e observou como as sociedades se rebelam, vencem e qual o papel dos chefes destemidos. Estudou com mestres na Alemanha, visitou Wegner, o geólogo de Freyberg, Conheceu as minas do Tirol, da Estíria. Na Itália, visitou  Pávia, onde tomou lições. Aprendeu com Bergmann em Upsala e com Abilgaard em Compenhaque. Dados os estudos e as descobertas, José Bonifácio tivera o mérito de ser reconhecido “mestre da ciência”. 

                                               De volta a Portugal, feito “desembargador”, atribuíram-lhe “todas as coisas”, dentre elas o de ensinar em Coimbra. No entanto, Portugal não estava nem aí para a mineralogia. Passada a crise da guerra com os franceses, Portugal postava-se à inutilidade da Regência de Beresford. A pobreza, a vileza e a corrupção decidiram a volta de José Bonifácio.

                                               Cauteloso quanto ao ideário da revolução, José Bonifácio possuía todos os ingredientes para sua participação no processo de Independência vivido no Brasil. Não era certamente um Bolívar. Era um estadista conservador.

                                               A eclosão da revolução de 1820, em Portugal, e a reclamada volta de D. João VI, acelerou, para os lados de cá, os ideais de Independência. Deu-se a correspondente criação dos partidos. A presença do príncipe Pedro, co-resultado da fragilidade de D. João VI nos fatos, prova a passividade e ambição que o movia, à falta de inteligência ao seu redor. De Portugal, o gênio da mãe que pariu dois filhos gênios díspares: um, institivo pelo poder, reacionário e ultramontino da Austria de Metternich. O outro, liberal, da maçonaria, da Inglaterra de Canning. O primeiro, dos sanguessugas do antigo regime. O segundo, a par da sorte renovada pelos sopros da modernidade da Europa.

                                               Como se avesso ao tio/irmão, D. Miguel, e ao pai, D. João VI, D. Pedro tivera cumplicidade com os republicanos de 1817, em Pernambuco, e era possuído da idéia de voltar a Portugal para assumir a revolução de lá. Idéia bem aceita pelos que não digeriam à autonomia do Brasil a residência do Rei no Rio, açodados pela possibilidade de volta à condição colonial.  De reconhecida incompatibilidade com D. João VI, em razão do gênio herdado da mãe, Carlota, assim era D. Pedro de Orleans e Bragança.

                             Mais para ambicionista e menos para revolucionário, D. Pedro postou-se ao lado dos rebeldes no Brasil, em que pesem os seus instintos absolutistas para com as idéias liberais. Da inutilidade da estada, D. João VI terminara de regresso a Portugal, movido sempre pela indolência e pelo medo das revoluções que cortavam cabeças dos reis, na Europa.  Para os sátrapas da coroa, o regresso era o louvaminho da derrota da colônia, a quem continuariam a explorar. Havia, por fim, o partido separatista de São Paulo e Minas, contrário aos portugueses, ungindo-se pela Constituição de 1815. Diante do embate, instado à frente da guarnição do Rio, D. João VI deixou o seu filho príncipe regente.

                               No ano de 1822, com o fim do período de Regência, diante do intuito das Cortes de restaurar a Colônia, ou D. Pedro retornaria à Europa, ou optaria em ficar no Brasil. A presença de José Bonifácio revelou o momento não de um Reino Unido, mas de um Estado independente de Portugal. De um lado, o partido dos Andrades, defensores do equilibro dos poderes (Bentham), do governo parlamentar, quase radical, que insuflara a D. Pedro não regressar a Portugal. A proclamação do “Fico” comprometeu o príncipe Regente. A sua decisão fez as tropas portuguesas rebelarem-se, em apoio ao plano de restauração colonial. De outro lado, os jacobinos da Bahia e Pernambuco, contrários a D. Pedro, que somaram a favor o posicionamento geral dos partidos brasileiros.                                                               D. Pedro expulsou as tropas portuguesas. Tratava-se de salvar a colônia das Cortes, que instigavam o seu pai e do intuito da re-colonização. Encarnou assim o ideário de Independência em proveito da sua dinastia. Mas esqueceram de indagar a José Bonifácio acerca das questões postas. No arrufo de arrogância, temerário, despótico por temperamento e formação, faltava a D. Pedro o tempero do estadista. Tornara-se vítima da armadilha posta de escolher entre Portugal e o Brasil.

                               Declarado “Defensor Perpétuo” em maio de 1822, proclamou guerra a Portugal. Convocou a Assembléia Constituinte. Bradou de São Paulo o grito de separação. Com a sua opção pelo Brasil, D. Pedro, a par da gratidão da nação recém-proclamada, dissolveu assembléias, subjugou os  Andrades, submeteu os revoltosos, aliciou os áulicos. Vadio nas peripécias amorosas, em pouco tempo foi-se o louvor de haver proclamado a Independência.

                               Produto de uma dinastia européia, D. Pedro não era brasileiro. Aprendeu pouco do gênio nativista: “Abdiquei a Coroa e saio do império, sejam felizes na sua pátria”, disse ao se despedir. Ressalvou “na sua”.  Não disse “na nossa pátria”. Desdenhou o significado que o povo que lhe reconhecia. Restou a figura de José Bonifácio, o “patriarca da Independência”.