Jerônimo de Barros, o primogênito de João de Barros
João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
membro do IHGRN e do INRG
A Casa da Índia era uma organização portuguesa que
administrava os territórios ultramarinos de Portugal. Durante sua existência,
foi a instituição econômica mais importante de Portugal. Era localizada no Paço
da Ribeira, em Lisboa.
João de Barros, capitão das terras dos potiguares, foi
Tesoureiro e depois Feitor da Casa da Índia, a partir de 1525. Renunciou ao
cargo em 12 de agosto de 1567, talvez para concluir suas “Décadas”. Pouco tempo
depois, 21 de outubro de 1570, faleceu. Era casado com Maria de Almeida, filha de
Diogo de Almeida e Catarina Coelho. Eram seus filhos: Jerônimo de Barros, o
primogênito, casado com Loisa Soares, e faleceu em 20 de agosto de 1586; João
de Barros que esteve aqui na Costa do Brasil, com Jerônimo, morreu na batalha de
Alcácer-Quibir; Lopo de Barros,o mais moço, falecido em 3 de abril de 1587;
Diogo de Barros; Isabel de Almeida, que casou com o primo Lopo de Barros; Ana
de Almeida, freira; Catarina de Almeida, casada com Cristovão de Melo, filho de
Diogo de Melo e de Catarina de Castro.
O Feitor, por conta da sua alta responsabilidade, nunca veio
ao Brasil, tendo mandado duas expedições para a conquista das suas capitanias,
sem muito sucesso, e com grande fracasso financeiro.
Conta Jerônimo de Barros, que no tempo de Dom João III, foi
a mando dele, com o irmão João de Barros, ao Rio Maranhão, com uma armada para
descobrir o dito rio e costa, na esperança de resgatar ouro, descobrindo mais
de quinhentas léguas de costa. Ali, resgataram alguns homens que nela andavam
dos que se perderam com Luis de Mello. Tiveram muito trabalho de guerra com os
franceses e com o gentio da terra e povoaram em três partes, gastando perto de
cinco anos, sustentando tudo a custa do seu pai, até gastar quanto tinha.
Transcrevo para cá minuta de petição de Jerônimo de Barros,
sem data, mas depois do falecimento do seu pai (1570). Fiz algumas adaptações
para facilitar a leitura.
Diz Jerônimo de Barros que ele tem uma capitania no Brasil
de cinquenta léguas ao longo da costa dos Pitigares e vinte e cinco na boca do
rio Maranhão. E já que seu pai, nem ele, por seus serviços, mereceram servir V.
A. neste Reino como seu Pai sempre requereu, quer ir povoar esta capitania no
que espera fazer a Deus e a V. A. muito serviço pela experiência que tem daquela
costa do tempo que nela andou de que ficou tanta despesa, que sem ajuda de V.
A. não pode povoar pelo que pede lhe faça V.A. mercê de lhe mandar dar cem
moradores dos oitocentos, que o contratador do Brasil é obrigado a por lá; E
assim, de haver por bem que possam entrar neste reino de Inglaterra cinco mil
peças de pano no que as alfândegas de V. A. R. proveito e ele ajutoria para
fazer esta obra(?). E que os primeiros dez anos possam tirar, cada ano, mil quintais
de pau do Brasil; e, assim, de cinquenta peças de escravos em São Tomé e aqui
somente duas peças de artilharia e da que está em Pernambuco oito peças para defesa
da fortaleza a qual artilharia dará fiança.
E lembro a V. A, que muito mais e maiores mercês se fizeram aos capitães que
povoaram no Brasil por que (a) alguns deles deram as fortalezas feitas e
artilhadas e navios com que defender a costa. E há outros com que as fazer e se
parecer muito, o que peço, a isso responda por mim a fazenda de V. A. com dizer
o que tem custado à baia a povoar e se é necessário ou não povoar-se esta
capitania, por uns apontamentos que abaixo desta apresento se verá quanta
obrigação V. A. tem na sua consciência a mandar que se povoe e quanto importa a
seu serviço e bastam para mim estas duas coisas para muito o desejar que
interesse ao presente não o espero e, de futuro Deus sabe o que será no que R.
M.
Ao serviço de V.A. é necessário mandar povoar esta capitania
antes que os franceses a povoem os quais todos os anos vão a ela a carregar de Brasil
por ser o melhor pau de toda a costa. E fazem já casas de pedra em que estão em
terra fazendo comércio com o gentio. E os anos passados estiveram nesta capitania
dezessete naus de França a carga e são tantos os franceses que vem ao resgate
que até as raízes do pau brasil levam, porque tinge mais as raízes do que pau
que nasce nesta capitania. Que o pau das outras capitanias é sempre valor
dobrado do outro brasil. E agora tomaram os franceses nos Pitigares três mil
quintais de brasil que o portugueses tinham na praia feitos a sua custa para
carregar e antes que os franceses faça uma fortaleza que obrigue depois a muito,
parece que será bom povoar-se por nós e com isso feito lhe não levarem este pau
a França e ficará então rendendo mais a V. A.
Outro respeito se deve ter que muito importa ao serviço de V.
A. É que todos os navios que se alevantam no Brasil para as Antilhas é com
dizer que vão a esta capitania. E eles como nela são por não haver quem não
defenda salteia o gentio e cativam-nos no que se faz muitas ofensas a Nosso
Senhor e vão-se com os navios carregados deles a vender as Antilhas no que a
fazenda de V. A. perde por respeito dos escravos de Guine que se escusa com
estes índios que lá vão.
E o que mais importa para o bem do Brasil é a perda dos homens
e eles por esta porta travessa para as Antilhas tomados do amor do ouro que lá
há onde há tantos portugueses que me atrevo a dizer que dos que são idos para o
Brasil as duas partes estão nas Antilhas onde há muitas povoações cujos
moradores as duas parte são de portugueses
e o proveito que eles fazem às conquistas deste reino Deus o sabe.
Todos os navios que não dobram o Cabo de S. Agostinho são
forçados arribar nas Antilhas e muitos dos que vão para a Guiné o que não será
tendo uma fortaleza nesta capitania por que podem ficar nela a qual é a mais
perto terra que há no Brasil a este reino e mais breve e melhor viagem e
povoando-se além dos benefícios apontados pode este Reino receber outros e se
naquela terra há ouro pelo que a meu pai tem custado sei que por esta parte se
pode melhor descobrir que por outra nenhuma e não digo isto por que o visse mas
quando me perguntarem direi o que disso sei.
E o principal respeito que se deve ter é a obrigação que se tem em acudir
aquela gentilidade que não seja cada dia destruída e roubada pelos nossos (?)
dos quais muitos receberão água do batismo com povoar entre eles e muitos
inocentes se salvarão no que R. M.