Pirangi do Norte, início de 2014
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
No verão, para fugir da rotina e ver novas paisagens, renovando nossas energias, saímos de Natal para Pirangi do Norte, 22 quilômetros de um lugar para outro. Fugimos do trânsito fatigante da capital, onde os sinais estão constantemente sem sincronia, e não funcionam a onda verde e as vias livres, para os engarrafamentos das praias da costa sul do Rio Grande do Norte.
Na chegada, notícia de um assalto, no dia anterior, praticado por cinco indivíduos contra a casa de um agente da Polícia Rodoviária Federal. As autoridades policiais continuam repetindo a mesma ladainha de sempre e tudo continua como antes. Falta inteligência no setor de segurança deste país.
Os sinais de comunicação já não funcionam bem na capital, e nas praias, mesmo as mais próximas, a coisa desanda. Telefones e internet se tornam um martírio para quem quer se comunicar. Mais ainda, os paredões fazem a festa das novas tribos e o inferno dos veranistas e moradores. Músicas da pior qualidade drogam as mentes jovens e atanazam o sono dos mais velhos. As únicas coisas que se interiorizam, neste país, são o crime organizado, as aulas online de maldades (novelas), as drogas, com predomínio do crack, e as aulas online de mediocridade (os big brother da vida). É a coisa ruim chegando a todos os lugares.
Pirangi, e as praias vizinhas, mesmo com seus moradores habituais, os veranistas e milhares de turistas transitando por ela, não tem todos os serviços necessários para atender as demandas dos usuários. Nenhuma agência bancária, nem as oficiais estão por aqui. É o retrato do atraso, da falta de visão dos governantes.
O Rio Grande do Norte possui uma grande costa em relação ao seu tamanho. Praias de riquezas naturais e históricas não são aproveitadas pelos seus prefeitos e governador. O discurso do turismo continua pobre e sem ação concreta. As praias beneficiadas pelos royalties de petróleo só atraem políticos aventureiros que não levam benefícios para as mesmas. Carnavais são suas grandes realizações. As roubalheiras são as maiores. Mas os ladrões continuam flanando por aí. O que restou dos PRODETUR I e do PRODETUR II?
Na natureza, temos a noite para descansar nosso corpo físico e reiniciar novos programas instalados na nossa mente. As semanas, os meses e as estações do ano quebram as rotinas do dia a dia e são necessárias para que estejamos sempre recomeçando nossas vidas e nossas visões do mundo. Mas não é isso que acontece. Os condicionamentos são mais fortes que a nossa vontade de mudar. Estamos sempre usando a memória psicológica e as imagens do passado para começar o dia, a semana ou o mês. E por isso, nada muda de verdade.
E assim não avançamos como seres humanos. Tudo se repete, monotonamente. As pessoas contam seu tempo a partir dos eventos. Em 2014, por exemplo, vai ser assim: Veraneio, carnaval, semana santa, copa e eleições. Quando terminar o sonho da copa no Brasil, voltamos para realidade do dia a dia. Vamos ter os infames programas eleitorais, onde tudo vai ser prometido com a maior cara de pau. Os candidatos, que serão os de sempre, vão falar, inicialmente, em saúde, educação, segurança, planejamento estratégico, sustentabilidade, governança solidária, choque de gestão e outros termos novos que seus marqueteiros vão inventar. Depois, vão infernizar a vida dos adversários, dando início a sessão escândalos. Vai ser o sujo falando do mal lavado.
Quando tomarem posse, no início de 2015, os novos mandatários vão reclamar dos seus antecessores, se não foram os reeleitos. Segue o papo furado da governabilidade para justificar as composições partidárias e o preenchimento dos cargos comissionados. Contratam consultorias desnecessárias, pois, tudo que elas propõe, já foi proposto anteriormente, pela prata da casa. E, aí, já começa a próxima eleição. Os que saíram do governo, mas não fizeram o prometido, querem retornar. E o gigante pela própria natureza vai continuar deitado eternamente em berço esplêndido.
A natureza quebra a monotonia da terra com suas catástrofes. Sensibilizamos-nos temporariamente. Os governos prometem tudo, mas em 6 meses tudo é esquecido. E no ano seguinte as mesmas catástrofes se repetem nos mesmos lugares, causando dores, principalmente, para os menos favorecidos, as principais vítimas.
A genealogia nos mostra que somos frutos de centenas de milhares de pessoas. Os indivíduos não se repetem, mas os condicionamentos de milhares de anos não nos deixam seguir um caminho diferente. Nem as religiões, nem os educadores, nem os filósofos e nem os psicólogos têm ajudado muito a humanidade.
Vez por outra aparece um messias na terra. Mas quando ele se vai, os seguidores esquecem os ensinamentos e o transformam num ídolo, deturpando tudo que foi proclamado. Buda disse que não precisávamos percorrer o mesmo caminho que ele. Seus ensinamentos iluminavam o caminho que tínhamos que seguir; Jesus ensinou que quando quiséssemos conversar com Deus, entrássemos em um quatro, fechássemos a porta e orássemos, dando como o exemplo o pai nosso, mas fazemos o contrário; Krishnamurti ensinou que prestássemos atenção na nossa mente, pois é ela quem tem o comando de tudo, mesmo dos que se dizem livres. Mas, infelizmente não compreendemos o que eles disseram e a humanidade caminha sem muita evolução, comandada pelos expertos e enganadores.
Assim, 2014 vai ser, em essência, a repetição do que tem acontecido até agora. A única novidade é o próprio ano.