29/12/2013


A Coluna do General Miguel Costa/Prestes (I)
Luiz Gonzaga Cortez.


Um dos poucos registros confiáveis sobre a passagem da Coluna Miguel Costa/Prestes, em São Miguel, no Oeste do Rio Grande do Norte, em 1926, é de autoria de José Guedes do Rêgo, que foi vice-prefeito de Pau dos Ferros, em 1957. Ele foi testemunha ocular dessa história. Escreveu um depoimento de cinco páginas datilografadas sobre o que viu e ouviu, sem embromações. Vou transcrever o longo depoimento da forma mais fiel possível cortando as repetições dos fatos e dos nomes das pessoas já devidamente identificadas, sem “livrar” a cara de ninguém, seja lá de quem  foi. Por isso, vou dividir em capítulos. “Zé Guedes”, como era conhecido em Pau dos Ferros e em Natal, como assim o seu relato:
“Aos dois dias do mês de fevereiro de 1926, o Chefe Político daquela cidade snr. João Pessoa de Albuquerque, conhecido por João Leite, recebeu do Governador do Estado (1) Dr. José Augusto de Medeiros, um telegrama, comunicando que, de acordo com telegrama recebido do Governador do Estado do Ceará, havia passado em Suçuarana, região do município de Iguatú naquele estado, 70 bandidos desmuniciados rumando a fronteira deste Estado e para garantia seguia naquele dia um contingente de 700 praças da policia, comandado pelo Tenente Joventino, para aquartelar-se em S. Miguel. Diante de tal telegrama, a população agitou-se e logo foram preparando para hospedar tão grande número de praças, coisa nunca vista pela população”.
Começam as divergências de interpretação, uns acreditando, outros combatendo e dizendo tratar-se da Coluna Prestes. Ouvi o comerciante Manoel Vieira de Carvalho, diser ao chefe, “o snr não pense nem de leve que é bandidos, é a coluna Prestes, pois venho acompanhando pelos jornais, a marcha dessa gente”.No dia 3 as 11 horas mais ou menos, chegava um cidadão conhecido por Antonio de Chica, que vinha de uma pescaria no sitio Malhada de Bois, pé da serra de Pereira, Estado do Ceará; vinha referido homem espantado e chegou a casa do chefe  político e disse: seu João Leite, o pé da serra está todo tomado de homens armados, o chefe respondeu: “Tu és tolo, isto os cangaceiros que passaram em Suçuarana; ele respondeu: seu João é os revoltosos, é gente que não cabe aqui dentro da cidade”.  Baseando-se o chefe no telegrama, reuniu seus amigos e concordaram em mandar uns homens armados empiquetar tal pessoal na ladeira denominada do Engenho, município de Pereiro, Estado do Ceará, embora o comerciante Manoel Vieira de Carvalho lutasse muito contra as demais opiniões, enquanto os outros concordavam para tal medida, ele era de opinião se preparar amigavelmente para receber aquele pessoal com recepção. Conseguiram juntar 25 homens armados e às 14 horas mais ou menos o seguinte o contingente, chefiado por Francisco Moreira de Carvalho, ex-genro do coronel João Pessoa, quase todo esse pessoal era gente das principais famílias daquela cidade, inclusive José Pessoa de Carvalho e Francisco Moreira Filho, filhos de Francisco Moreira de Carvalho e Francisco Queiroz, comerciante. Ao chegarem no sítio Engenho, distante 3 léguas de S. Miguel, propriedade de do snr. Manoel Pinheiro Barbosa, juntaram-se  mais  homens, que não recordo a quantidade, seguindo rumo a tal ladeira, numa serra muito difícil de passar, somente uma pessoa atrás do outro e para um lado e outro somente pedras e mato; aconteceu que antes de atingir ao objeto almejado- a ladeira – e no lugar chamado Canta Galo, ao passar uma curva da estrada, depararam com um contingente de homens armados, diante de tamanha surpresa, o elemento que vinha a frente dos inimigos, sacou de duas armas curtas e disparou-as de uma só vez. Travou-se o tiroteio, com poucos minutos, os revoltosos recuaram, isto ameaçando com gritos muito altos que já voltavam para dá o troco. Neste momento o pessoal de S. Miguel foi examinar o campo da luta e lá encontraram vários objetos, como cantis, manta de lã de ovelha, usadas no Sul, aí, então um dos elementos de nome José Felix, conhecido por José Ferreiro, alarmado disse “seu Chico Moreira, nós não estamos brigando com cangaceiros e sim com o exército e vamos embora se não nós não contaremos vitória”. Chico Moreira, um homem que não corria pouca coisa,  respondeu: “deixa de ser mole negro, esta canalha já correu a primeira vez e corre a segunda”. Quando  estavam nessa conversa, ouviram gritos alarmantes, avança, avança e então dizem eles que parecia um grande estrondo a procura deles e a estrada vinha cheia que não se contava três pessoas tamanha era multidão e por todos os lados, por dentro do mato, apesar de um pouco fechado, gritava gente  dizendo avança,  avança, tiveram que correr, como o chão era muito acidentado e pedregoso, bastava encubrir-se poucos metros mato adentro, ninguém via mais e foi assim que escapuliu a maior parte deles, tendo o Francisco Moreira Filho, recebido um balaço em um braço, coisa leve. Junto aos 25 homens foi também José Augusto Pessoa, filho do coronel João Pessoa, cidadão que nunca se envolveu em luta para ter quem corresse primeiro do que ele e foi o que aconteceu. A luta foi a tardinha e antes das 7 horas da noite passava ele de volta na cidade, noticiando o caso do Canta Galo e dizendo que o único que havia escapado tinha sido ele e passou direto”.

Notas – 1) Na época, o Governador do Estado era Presidente de Província.

28/12/2013

O CASO POLIDRELLI
Diário do Natal de 17.6.1908
(Colaboração de João Felipe da Trindade)

DISCURSO DE DESPEDIDA DO ESCRITOR EDUARDO GOSSON DA PRESIDÊNCIA DA UBE-RN



DR. EDUARDO GOSSON
DISCURSO DE DESPEDIDA DO ESCRITOR EDUARDO GOSSON DA PRESIDÊNCIA DA UBE-RN 

Ilustríssimo Senhor Presidente eleito da UBE-RN – Escritor Roberto Lima Meus senhores, Minhas Senhoras Iniciado pelo poeta Lívio Oliveira o processo de reorganização da UBE-RN no ano de 2006, precisamente em 23 de março quando um grupo de intelectuais (Anna Maria Cascudo Barreto, Carlos Gomes, Eduardo Gosson, Manoel Onofre de Souza Junior, Nelson Patriota, Pedro Vicente da Costa Sobrinho, Racine Santos) reunidos na Academia Norte – Rio – Grandense de Letras- ANL deu o ponta-pé inicial numa terceira tentativa já que as anteriores não foram eficazes (14 de agosto de 1959 e novembro de 1984). Faltando três meses para concluir o seu mandato, Lívio renunciou. Assumi interinamente por esse curto período, até ser confirmado para um mandato à frente da Diretoria Provisória (2008-2009), depois eleito para um mandato (2010-2011) e depois reeleito (2012-2013). “Eu sou eu e as minhas circunstâncias” afirma o escritor espanhol Ortega Y Casset. Nunca um pensamento foi tão preciso em relação a uma situação como a que vivo de uns tempos para cá. Como é sabido de todos os que fazem Cultura no RN, enfrentei no plano pessoal atropelos que desestabilizariam muitos: a perda de três tios no segundo semestre de 2011 ( Jamyles, José e Jorge), da minha mãe e, em 2012, após 12 anos de luta contra a dependência química em dois filhos, a morte de um deles – Fausto - em circunstâncias trágicas: a cocaína quebrou-lhe todos os seus ossos e aumentou 50 quilos a mais depois de morto, o que obrigou-me a encomendar um caixão especial. Atualmente, luto para salvar o outro – Thiago que tem o mesmo problema. Também fui afetado por uma doença incurável até hoje – o Mal de Parkinson. Mesmo assim não desanimei e continuei a batalha de reconstrução do órgão de representação de classe dos escritores e a militância em prol da Cultura. Por esse motivo, nesta despedida não poderia deixar de enumerar o que fiz com ajuda dos meus confrades e confreiras da Diretoria. Paulo Freire (mestre de todos nós), diz: “Ninguém faz nada sozinho”.Eis, em síntese, a minha prestação de contas: 1.1. Ações Administrativas - Encaminhei ao 2º Ofício de Notas de Natal o registro da UBE-RN em 01/12/2008, obtendo a legalização da entidade em 13/04/2009. A UBE-RN está registrada sob o nº 7.093. - Na Receita Federal obtive o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ 11.034.721/0001-39). - Na Caixa Econômica (agência Ribeira) abri conta corrente: Agência 0033 – OP 003 – C/C 874-0 - Encaminhei a filiação de 90 escritores, contando hoje a UBE/RN com 140 associados. - Encaminhei pedido de Utilidade Pública Municipal (Lei Municipal 5.935/2009) -Encaminhei pedido de Utilidade Pública Estadual l (Lei Estadual 9.321/2010) -Encaminhei através de Resolução a criação do Prêmio Escritor Eulício Farias de Lacerda, sendo o seu primeiro ganhador Paulo Caldas Neto, jovem revelação da Literatura Potiguar - Encaminhei pedido de Utilidade Pública Federal (em tramitação) -Celebrei convênio com a Caixa Econômica Federal para pagamento da anuidade da UBE através de Boleto Bancário 1.2. Ações Organizativas - Organizei o I Encontro Potiguar de Escritores – 1º EPE (Março, 2008); - Organizei o II Encontro Potiguar de Escritores – 2º EPE (Outubro,2009); -Organizei o III Encontro Potiguar de Escritores – 3º EPE (Outubro de 2010); -Organizei o IV Encontro Potiguar de Escritores –4º EPE (Outubro de 2011); -Organizei o V Encontro Potiguar de Escritores – 5º EPE (Outubro de 2012). 1.3. Ações Políticas - Participei da Audiência Pública na Assembléia Legislativa(19.10.2008), debatendo o Livro e a Leitura Literária, que resultou na Lei nº 9. 169/2009 (Promoção da Leitura Literária nas Escolas Públicas); -Aprovei a Carta de Natal (I EPE); -Aprovei a Carta do Encontro Potiguar de Escritores (IV EPE); -Aprovei a Carta do Encontro Potiguar de Escritores (V EPE) -Desenvolvi a Campanha em defesa da biblioteca pública Câmara Cascudo -Idealizei, em parceria com o Tribunal de Justiça, a Campanha de Valorização do Autor Potiguar (2010) 1.4. Ações de Comunicação - Encaminhei a criação de um site para a entidade (www.ubern.org.br) que está em rede desde 02 de dezembro de 2009; -Encaminhei a criação de um blog para a UBE, sob a responsabilidade da escritora Lucia Helena, diretora de divulgação da entidade: blogdaubern.blogspot.com.br na INTERNET desde de novembro de 2011; -Encaminhei o Plano Editorial da UBE/RN (editorei 15 livros ), criando cinco Coleções de Autores Potiguares a saber: Coleção Antonio Pinto de Medeiros (poesia), Coleção Bartolomeu Correia de Melo(prosa), Coleção Enélio Petrovich(memória e história), Coleção Deífilo Guregel (Ensaio) e Coleção Nati Cortez (infanto-juvenil). -Encaminhei a recriação do jornal O Galo (no momento em busca de captação de recursos. Projeto aprovado na lei Djalma Maranhão); - criei o selo editorial Nave da Palavra. - encaminhei a criação da Revista do Escritor Potiguar Meus senhores, Minhas Senhoras, Nem tudo é só realizações. Deixo a Presidência da UBE-RN com algumas frustrações 01. Não ter viabilizado a publicação do jornal O Galo por falta de patrocínio: a elite econômica não é a elite intelectual, infelizmente. Aprovado na lei Djalma Maranhão até hoje não consegui o apoio necessário para viabilizar; 02. não ter editado a obra completa do escritor Eulício Farias de Lacerda conforme prometi; e 03. Uma pendência com a Receita Federal que multou a UBE por não ter declarado o Imposto de Renda (lapso de memória). Tentei resolver este problema, indo à Receita quase 10 vezes (o que daria uma novela) e nada: a primeira vez após passar uma manhã quando fui ser atendido o sistema saiu do ar; a segunda, a burocrata não aceitou o documento que levei do contador por que faltava uma letra da inscrição profissional do CRC; a terceira por ter chegado com 05 minutos de atraso devido ao trânsito; na quarta tentativa tive meu carro multado pela STTU; na quinta... com certeza é o pior órgão do Serviço Público brasileiro. Durante esses 06 anos sob a minha administração, a UBE-RN teve a transparência da lágrima. Tudo feito às claras: entrego ao meu sucessor uma entidade sem dívidas e com dinheiro em caixa. Se não fiz mais foi porque não pude, afinal “interditados estavam o poema, a aurora e o seu fluir” como afirmou o poeta maior de Angicos/RN- Jarbas Martins em seu Contracanto. Resta-me o consolo do poeta e filósofo português Miguel Torga: “quem faz aquilo que pode, faz o que deve”. Missão cumprida!
 Cidade do Natal/RN, 26 de Dezembro de 2013 

Eduardo Gosson
 Ex- presidente da UBE/RN


NOTA: O QUERIDO EDUARDO GOSSON DIRIGIU A UBE-RN  COM A CORAGEM DE UM TOURO, A SENSIBILIDADE DE UM PÁSSARO E O CORAÇÃO DE UM PAI!

Lúcia Helena Pereira.

25/12/2013

Balthazar Soares, da Fazenda Curralinho, e a Baronesa de Serra Branca
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
 
Nos estudos genealógicos de Manoel Américo de Carvalho Pita, sobre as famílias de Santana do Matos, Balthazar Soares aparece como genro do fundador de Angicos, tenente Antonio Lopes Viegas, e como sogro de Luiz da Rocha Pita, nada confirmado até agora. Encontro informações sobre um Balthazar Soares que não sei se é o mesmo.

Pelo livro de óbitos de Santana do Matos,  o cadáver de Balthazar Soares, branco,  foi sepultado aos onze de dezembro de mil oitocentos e vinte e cinco, na Matriz de Santa Ana do Mattos, falecido com a idade de oitenta e quatro anos de idade, casado que era com Isabel Maria de Figueredo; e o da sua esposa, por sua vez, foi sepultado aos vinte de janeiro de mil oitocentos e vinte e seis, na mesma matriz,  falecida com setenta e oito anos de idade.

Pelos registros acima, Balthazar deve ter nascido por volta de 1741, e D. Isabel por volta de 1748. Além desses registros, encontramos, também, assentamentos de praça de dois filhos de Balthazar, no Assú. Em tais registros não aparece a mãe dos assentados.

João Baptista Xavier, filho do capitão Balthazar Soares, natural da Freguesia do Assú, idade de 32 anos, cabelos castanhos, olhos pretos, altura 5p e 2pm, praça na 4ª Companhia em 10 de setembro de 1779, e por despacho do ilustríssimo Sr. Governador, de 26 de junho de 1806, e cumpra-se do Vedor Geral, passou para esta companhia, casado, vive de criar de gado.

Antonio da Silva Barbosa, filho de Balthazar Soares, natural, e morador nesta Ribeira do Assú, branco, solteiro, de estatura baixa, dentes grandes, olhos pequenos, e azuis, nariz grande, sem barba, de idade de dezesseis anos, assenta praça em revista de vinte e sete de Julho de 1789.

Encontramos mais uma referência ao capitão Balthazar em  um “Diário Oficial da União” de 1906, de onde extraímos trechos que o capitão Absalão Fernandes da Silva Bacilon, juiz distrital em exercício da Vila de Santana do Mattos, da comarca do Assú, escreveu: Faço saber aos que o presente edital, com o prazo de 90 dias virem, que, por parte de D. Belisária Wanderley de Carvalho e Silva, baronesa de Serra Branca, me foi dirigida a petição do teor seguinte: Cidadão juiz distrital, em exercício, da Vila de Santana do Matos. A baronesa de Serra Branca, D. Belisária Wanderley de Carvalho e Silva, viúva e ora residente na cidade do Assú, sede desta comarca, diz, por seu procurador e advogado, abaixo assinado: que é senhora e possuidora de uma data ou lote de terras na serra de Santana, deste distrito, e na parte a que ora dão os nomes de Pelado e Lagoinha; que a extensão superficial da área desta terra, conforme a respectiva concessão, é de uma légua de largura sobre três de comprimento, pegando de um olho de água que ali se acha em um riacho, denominado Caiçarinha, que deságua para parte do Assú; que a dita terra estende-se na chapada daquela serra, e tem sido cultivada e possuída, delimitando-se, ao norte, pelas sinuosidades desta mesma serra e quebra das águas, como vulgarmente se diz, ficando neste lado a antiga fazenda Curralinho de Balthazar Soares; limita-se, no sul, com terras da fazenda do riacho  da Areia, que foi do capitão-mor Cypriano Lopes Galvão, ao poente, com terras que foram do capitão Felix Gomes Pequeno, e ao nascente com terras da ribeira do Putegy, onde atualmente está o sítio Bodó e outros, que tendo a suplicante por si e seus antecessores uma posse de longíssimo tempo, se não imemorial, pela povoação e cultura constantes das ditas terras, há menos de um ano, os confrontantes Joaquim Bezerra, viúvo e morador em S. Bento, Antonio Florêncio, morador em Cipós de Leite, João Lopes de Araújo Galvão, morador em Areia ou Furna da Onça e as mulheres destes, cujos nomes a suplicante ignora, bem como Miguel Rodrigues e sua mulher D. Francisca, Antonio Hermógenes e sua mulher D. Constância, e o cidadão Cícero Rodrigues, moradores no lugar Catunda e todos no vizinho distrito de Currais Novos, têm feitos roçados e picadas nos matos dos terrenos sempre possuídos e cultivados pela suplicante e seus antecessores, sob o pretexto de uma linha novamente tirada entre este município e aquele de Currais Novos ter apanhado pequena parte dos mesmos terrenos.
Continuando, mais adiante, a baronesa justifica: A referida terra foi pedida em 1764 por D. Adriana de Hollanda Vasconcellos, e não tendo voltado de Portugal esse pedido com a confirmação, o tenente-coronel Francisco de Souza e Oliveira, em 1804, requereu e lhe foi concedida a mencionada terra por data da sesmaria, com três léguas de cumprimento e uma de largura, tendo o ponto de partida e limites acima descritos; em 1822 o capitão Felix Gomes Pequeno que já havia comprado a mesma terra ao dito donatário, requereu a certidão daquela data pra realizar a sua propriedade.

Adquirindo esta mesma terra o capitão Felix Gomes Pequeno, pela forma por que ficou dito, em 1810 a vendeu ao capitão Antonio da Silva de Carvalho, e esta venda foi ratificada pelos herdeiros do mesmo capitão Felix Gomes, por escritura pública passada em 22 de julho de 1858, com tudo se vê do documento.

Por morte dos sogros da suplicante, o mesmo capitão Antonio da Silva de Carvalho e sua mulher, D. Maria da Silva Veloso, passou essa terra aos seus herdeiros, um dos quais era o falecido marido da suplicante, Felipe Nery de Carvalho e Silva, barão de Serra Branca, e este comprando as partes dos demais, ficou possuindo toda aquela terra.

Falecendo o barão de Serra Branca, sem herdeiros necessários, a suplicante sucedeu-lhe no todo da herança dos bens por ele deixado, não só por sua meação como por ter sido instituída, em testamento, sua herdeira universal, e por isso hoje lhe pertence exclusivamente a terra de que se trata e cuja demarcação ora se requer.

Em “Velhos Inventários do Seridó”, Olavo de Medeiros Filho, tratando do inventário de D. Adriana de Holanda e Vasconcelos, que foi casada com Cipriano Lopes Galvão, Felix Gomes Pequeno e Antonio da Silva e Souza, cita, também, como confrontante da Data de Terra, na Serra de Santa Ana, o capitão Balthazar Soares da Silva, do sítio denominado Curralinho.

Quem sabe mais alguma coisa sobre Balthazar Soares?

24/12/2013


SALVE O MENINO DEUS!

FELIZ NATAL

O AMOR DO CRISTO JESUS PERMITA A CONFRATERNIZAÇÃO ENTRE TODOS OS POVOS.

A DIRETORIA DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO
RIO GRANDE DO NORTE

A Coluna Preste no Rio Grande do Norte - III

Tomislav R. FemenickMembro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN


            No início de 1926, quando da passagem de integrantes da Coluna Prestes no Rio Grande do Norte, a cidade e o porto de Areia Branca tinham importância vital para a economia do Estado. Muito mais do que é hoje. Eram ligados a Mossoró pela Estrada de Ferro Mossoró-Porto Franco, cujos trilhos serviam de rota para as exportações e importações do oeste potiguar, da região jaguaribana cearense e, ainda, do alto sertão paraibano.

Segundo Paulo Pereira dos Santos em seu livro “Evolução econômica do Rio Grande do Norte: século XVI ao XXI”, por um longo período que vai das décadas de 70/80 do século XIX até as três primeiras do século XX, toda a atividade empresarial da região oeste do Estado, em especial dos estabelecimentos industriais e comerciais localizados em Mossoró, se refletia na intensa movimentação do porto de Areia Branca. De 1893 a 1895, cento e cinquenta e seis embarcações atracaram naquele porto, enchendo seus porões com mercadorias exportadas por firmas mossoroenses. Em 1911, cento e treze navios nacionais e outros 153 estrangeiros levaram produtos negociados por empresários de Mossoró, sendo 33 noruegueses, 30 ingleses, 50 alemães, 17 dinamarqueses, 10 suecos, seis holandeses, quatro portugueses, um americano, um francês e um russo. O porto de Areia Branca movimentava anualmente entre 200 e 250 mil toneladas de cargas, enquanto o porto de Natal movimentava cerca de 40 mil e os de Fortaleza e Cabedelo, 90 mil cada um deles. Era o sétimo maior porto do Brasil, em movimentação de tonelagem de cargas e contribuía com 58% das receitas portuárias do Estado, enquanto que Natal contribuía com 40%, e Macau apenas com 2%. Além de porto cargueiro, Areia Branca era também ponto de escala de navios de passageiros (os chamados paquetes) e navios mistos – carga e passageiros – da Companhia Nacional de Navegação Costeira, da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro e de outras empresas marítimas.

Naquele começo de ano, a notícia que circulava na cidade era de que um batalhão de Exército estava vindo de Fortaleza pelo navio Paconé (embarcação de origem alemã, confiscada pelo governo brasileiro durante a Primeira Grande Guerra e então agregado à frota do Lloyd) e de lá deveria seguir para Mossoró e para o alto oeste, com a missão de defender as localidades ameaçadas de ataques pelos integrantes de um pelotão avançado da Coluna Prestes, o mesmo que já havia atacado cidades do interior do Ceará.

Envolta nesse clima, a cidade recebia uma multidão que era despejada das embarcações que faziam a ligação entre Porto Franco e Areia Branca.  Eram as pessoas vindas de Mossoró – principalmente, mulheres, crianças e velhos –, fugidas de um possível ataque da Coluna Prestes. Como as hospedarias já estavam cheias pelos passageiros que esperavam a chagada do Paconé e que iriam embarcar para Recife, Maceió, Salvador, Rio de Janeiro e Santos, os mossoroenses foram abrigados em casas de parentes, amigos e até de desconhecidos.

            Em uma localidade relativamente calma, essa situação inusitada de agitação gerou uma serie de hipóteses e especulações, envolvendo a cidade e o porto. Umas eram simples boatos. O mais difundido dizia que entre os defensores das cidades atacadas haveria um herói areia-branquense, José de Samuel, isso quando nem ataques ainda tinha havido no Rio Grande do Norte e o impávido Zé de Samuel estava placidamente trabalhando em uma máquina de beneficiar arroz, em uma fazenda localizada em Apodi. Outro propagava que o popular “Geleia, muito conhecido nos círculos de jogatina”, servia de indicador de caminho para os revoltosos.

Todavia as autoridades estudavam seriamente um sistema de defesa para o porto, tendo em vista a possibilidade de que os militares rebelados, com a habilidade de estrategistas que possuíam, optassem por um caminho alternativo e, evitando atacar Mossoró, atacassem Areia Branca, o seu porto de abastecimento. Seria uma maneira de garantir o reaprovisionamento das tropas e, ao mesmo tempo, um grande tento que, certamente, teria repercussão nacional como uma derrota das forças legalistas. Afora a invasão da multidão de mossoroenses que foram se abrigar na cidade, nada mais aconteceu em Areia Branca. No Rio Grande do Norte as lutas da Coluna Preste se limitaram a São Miguel e Luiz Gomes.

 

21/12/2013


O que nos falta é ciência e tenência

Tomislav R. Femenick – Mestre em economia e contador

 

Desde a década de 1990 que o Brasil está situado entre as dez ou quinze maiores economia do planeta, mas não conseguimos entrar no seleto clube das potencias do primeiro mundo. Estamos quase chegando lá, sem nunca chegar. Sempre ficamos da fila do gargarejo. A pergunta inevitável é: O que acontece e qual é causa? Talvez a resposta esteja nas notícias divulgadas recentemente, que colocam o Brasil entre as nações com menor qualidade de ensino e menor índice de produção científica e registro de patentes de novas descobertas. Então o que nos falta? Obstinação para buscar e ciência para alicerçar o nosso desenvolvimento. Sem ciência não há como chegarmos ao céu do primeiro mundo. Somente para confirma essa afirmação, convido os leitores para um passeio pela história do nascimento da ciência.

Os primeiros estudos científicos foram desenvolvidos pelos filósofos que se dedicavam à filosofia da natureza. A história aponta os gregos e chineses como os precursores desses estudos. Podemos dizer que o ponto de partida foi dado quando Leucipo de Mileto (460-380 a.C.) e Demócrito de Abdera (cerca de 460-370 a.C.) desenvolveram a teoria de que todas as matérias são compostas por átomos, cujas propriedades seriam: forma, tamanho, impenetrabilidade e movimento. Até então a opinião predominante era que as matérias eram compostas de terra, água, fogo e ar. Quatro pensadores gregos deram a base para a separação entre o “raciocínio simplesmente lógico” e o “raciocínio lógico ordenado”. Tale de Mileto (624-548 a.C.) exclui os deuses da origem da natureza, Pitágoras (580-507 a.C.) concebeu a relação matemática como base das coisas, Parmênides (515-540 a.C.) criou a lógica formal (alicerçada no princípio da não contradição, segundo o qual o “ser” é e o “não-ser” não é) e Demócrito (460-370 a.C.) formulou a teoria sobre a constituição da matéria. Eles geraram o embrião da ciência atual.

Os chineses da antiguidade adotavam a ideia de cinco elementos básicos: terra, água, fogo (em comum com os gregos), metal e madeira. Essa teoria foi sistematizada pelo filósofo, historiador, político, naturalista, geógrafo e astrólogo Zou Yan, ou Tsou Yen (305-240 a.C.), tido como o fundador de todo o pensamento científico chinês. Das especulações teoréticas, os gregos e chineses migraram para o uso prático.

Na Grécia as descobertas foram o relógio de água, as máquinas movidas com força motriz hidráulica ou de ar comprimido. No campo das ciências naturais, as pesquisas se expandiram pela astronomia, geografia, zoologia, botânica e medicina etc.

Na China antiga os estudos teóricos eram voltados para conceituações morais (confucionismo, taoismo etc.), porém a ação era principalmente voltada para a exploração do mundo natural. As pesquisas no campo da física e da química resultaram na invenção da pólvora, do balão de ar quente e da bússola magnética. Os estudos sobre mecânica levam à construção da besta e do sismógrafo. Na medicina testaram o tratamento da malária. Também, estudaram e fizeram aplicação prática com elementos de engenharia hidráulica, botânica e astronomia.

Outros povos da antiguidade também enveredaram nos estudos das ciências. Na Mesopotâmia e no Egito houve importantes estudos no campo da engenharia de construção, medicina, matemática e astronomia.

Por que não aprendemos com a história? Se quisermos entrar no maravilhoso mundo dos países desenvolvidos há que se melhorar o ensino em todos os níveis, fazer pesquisas e criar condições concretas para uma ciência verde-amarela, sem xenofobismo.

 

O Mossoroense. Mossoró, 20 dez. 2013.