28/12/2013

DISCURSO DE DESPEDIDA DO ESCRITOR EDUARDO GOSSON DA PRESIDÊNCIA DA UBE-RN



DR. EDUARDO GOSSON
DISCURSO DE DESPEDIDA DO ESCRITOR EDUARDO GOSSON DA PRESIDÊNCIA DA UBE-RN 

Ilustríssimo Senhor Presidente eleito da UBE-RN – Escritor Roberto Lima Meus senhores, Minhas Senhoras Iniciado pelo poeta Lívio Oliveira o processo de reorganização da UBE-RN no ano de 2006, precisamente em 23 de março quando um grupo de intelectuais (Anna Maria Cascudo Barreto, Carlos Gomes, Eduardo Gosson, Manoel Onofre de Souza Junior, Nelson Patriota, Pedro Vicente da Costa Sobrinho, Racine Santos) reunidos na Academia Norte – Rio – Grandense de Letras- ANL deu o ponta-pé inicial numa terceira tentativa já que as anteriores não foram eficazes (14 de agosto de 1959 e novembro de 1984). Faltando três meses para concluir o seu mandato, Lívio renunciou. Assumi interinamente por esse curto período, até ser confirmado para um mandato à frente da Diretoria Provisória (2008-2009), depois eleito para um mandato (2010-2011) e depois reeleito (2012-2013). “Eu sou eu e as minhas circunstâncias” afirma o escritor espanhol Ortega Y Casset. Nunca um pensamento foi tão preciso em relação a uma situação como a que vivo de uns tempos para cá. Como é sabido de todos os que fazem Cultura no RN, enfrentei no plano pessoal atropelos que desestabilizariam muitos: a perda de três tios no segundo semestre de 2011 ( Jamyles, José e Jorge), da minha mãe e, em 2012, após 12 anos de luta contra a dependência química em dois filhos, a morte de um deles – Fausto - em circunstâncias trágicas: a cocaína quebrou-lhe todos os seus ossos e aumentou 50 quilos a mais depois de morto, o que obrigou-me a encomendar um caixão especial. Atualmente, luto para salvar o outro – Thiago que tem o mesmo problema. Também fui afetado por uma doença incurável até hoje – o Mal de Parkinson. Mesmo assim não desanimei e continuei a batalha de reconstrução do órgão de representação de classe dos escritores e a militância em prol da Cultura. Por esse motivo, nesta despedida não poderia deixar de enumerar o que fiz com ajuda dos meus confrades e confreiras da Diretoria. Paulo Freire (mestre de todos nós), diz: “Ninguém faz nada sozinho”.Eis, em síntese, a minha prestação de contas: 1.1. Ações Administrativas - Encaminhei ao 2º Ofício de Notas de Natal o registro da UBE-RN em 01/12/2008, obtendo a legalização da entidade em 13/04/2009. A UBE-RN está registrada sob o nº 7.093. - Na Receita Federal obtive o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ 11.034.721/0001-39). - Na Caixa Econômica (agência Ribeira) abri conta corrente: Agência 0033 – OP 003 – C/C 874-0 - Encaminhei a filiação de 90 escritores, contando hoje a UBE/RN com 140 associados. - Encaminhei pedido de Utilidade Pública Municipal (Lei Municipal 5.935/2009) -Encaminhei pedido de Utilidade Pública Estadual l (Lei Estadual 9.321/2010) -Encaminhei através de Resolução a criação do Prêmio Escritor Eulício Farias de Lacerda, sendo o seu primeiro ganhador Paulo Caldas Neto, jovem revelação da Literatura Potiguar - Encaminhei pedido de Utilidade Pública Federal (em tramitação) -Celebrei convênio com a Caixa Econômica Federal para pagamento da anuidade da UBE através de Boleto Bancário 1.2. Ações Organizativas - Organizei o I Encontro Potiguar de Escritores – 1º EPE (Março, 2008); - Organizei o II Encontro Potiguar de Escritores – 2º EPE (Outubro,2009); -Organizei o III Encontro Potiguar de Escritores – 3º EPE (Outubro de 2010); -Organizei o IV Encontro Potiguar de Escritores –4º EPE (Outubro de 2011); -Organizei o V Encontro Potiguar de Escritores – 5º EPE (Outubro de 2012). 1.3. Ações Políticas - Participei da Audiência Pública na Assembléia Legislativa(19.10.2008), debatendo o Livro e a Leitura Literária, que resultou na Lei nº 9. 169/2009 (Promoção da Leitura Literária nas Escolas Públicas); -Aprovei a Carta de Natal (I EPE); -Aprovei a Carta do Encontro Potiguar de Escritores (IV EPE); -Aprovei a Carta do Encontro Potiguar de Escritores (V EPE) -Desenvolvi a Campanha em defesa da biblioteca pública Câmara Cascudo -Idealizei, em parceria com o Tribunal de Justiça, a Campanha de Valorização do Autor Potiguar (2010) 1.4. Ações de Comunicação - Encaminhei a criação de um site para a entidade (www.ubern.org.br) que está em rede desde 02 de dezembro de 2009; -Encaminhei a criação de um blog para a UBE, sob a responsabilidade da escritora Lucia Helena, diretora de divulgação da entidade: blogdaubern.blogspot.com.br na INTERNET desde de novembro de 2011; -Encaminhei o Plano Editorial da UBE/RN (editorei 15 livros ), criando cinco Coleções de Autores Potiguares a saber: Coleção Antonio Pinto de Medeiros (poesia), Coleção Bartolomeu Correia de Melo(prosa), Coleção Enélio Petrovich(memória e história), Coleção Deífilo Guregel (Ensaio) e Coleção Nati Cortez (infanto-juvenil). -Encaminhei a recriação do jornal O Galo (no momento em busca de captação de recursos. Projeto aprovado na lei Djalma Maranhão); - criei o selo editorial Nave da Palavra. - encaminhei a criação da Revista do Escritor Potiguar Meus senhores, Minhas Senhoras, Nem tudo é só realizações. Deixo a Presidência da UBE-RN com algumas frustrações 01. Não ter viabilizado a publicação do jornal O Galo por falta de patrocínio: a elite econômica não é a elite intelectual, infelizmente. Aprovado na lei Djalma Maranhão até hoje não consegui o apoio necessário para viabilizar; 02. não ter editado a obra completa do escritor Eulício Farias de Lacerda conforme prometi; e 03. Uma pendência com a Receita Federal que multou a UBE por não ter declarado o Imposto de Renda (lapso de memória). Tentei resolver este problema, indo à Receita quase 10 vezes (o que daria uma novela) e nada: a primeira vez após passar uma manhã quando fui ser atendido o sistema saiu do ar; a segunda, a burocrata não aceitou o documento que levei do contador por que faltava uma letra da inscrição profissional do CRC; a terceira por ter chegado com 05 minutos de atraso devido ao trânsito; na quarta tentativa tive meu carro multado pela STTU; na quinta... com certeza é o pior órgão do Serviço Público brasileiro. Durante esses 06 anos sob a minha administração, a UBE-RN teve a transparência da lágrima. Tudo feito às claras: entrego ao meu sucessor uma entidade sem dívidas e com dinheiro em caixa. Se não fiz mais foi porque não pude, afinal “interditados estavam o poema, a aurora e o seu fluir” como afirmou o poeta maior de Angicos/RN- Jarbas Martins em seu Contracanto. Resta-me o consolo do poeta e filósofo português Miguel Torga: “quem faz aquilo que pode, faz o que deve”. Missão cumprida!
 Cidade do Natal/RN, 26 de Dezembro de 2013 

Eduardo Gosson
 Ex- presidente da UBE/RN


NOTA: O QUERIDO EDUARDO GOSSON DIRIGIU A UBE-RN  COM A CORAGEM DE UM TOURO, A SENSIBILIDADE DE UM PÁSSARO E O CORAÇÃO DE UM PAI!

Lúcia Helena Pereira.

25/12/2013

Balthazar Soares, da Fazenda Curralinho, e a Baronesa de Serra Branca
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
 
Nos estudos genealógicos de Manoel Américo de Carvalho Pita, sobre as famílias de Santana do Matos, Balthazar Soares aparece como genro do fundador de Angicos, tenente Antonio Lopes Viegas, e como sogro de Luiz da Rocha Pita, nada confirmado até agora. Encontro informações sobre um Balthazar Soares que não sei se é o mesmo.

Pelo livro de óbitos de Santana do Matos,  o cadáver de Balthazar Soares, branco,  foi sepultado aos onze de dezembro de mil oitocentos e vinte e cinco, na Matriz de Santa Ana do Mattos, falecido com a idade de oitenta e quatro anos de idade, casado que era com Isabel Maria de Figueredo; e o da sua esposa, por sua vez, foi sepultado aos vinte de janeiro de mil oitocentos e vinte e seis, na mesma matriz,  falecida com setenta e oito anos de idade.

Pelos registros acima, Balthazar deve ter nascido por volta de 1741, e D. Isabel por volta de 1748. Além desses registros, encontramos, também, assentamentos de praça de dois filhos de Balthazar, no Assú. Em tais registros não aparece a mãe dos assentados.

João Baptista Xavier, filho do capitão Balthazar Soares, natural da Freguesia do Assú, idade de 32 anos, cabelos castanhos, olhos pretos, altura 5p e 2pm, praça na 4ª Companhia em 10 de setembro de 1779, e por despacho do ilustríssimo Sr. Governador, de 26 de junho de 1806, e cumpra-se do Vedor Geral, passou para esta companhia, casado, vive de criar de gado.

Antonio da Silva Barbosa, filho de Balthazar Soares, natural, e morador nesta Ribeira do Assú, branco, solteiro, de estatura baixa, dentes grandes, olhos pequenos, e azuis, nariz grande, sem barba, de idade de dezesseis anos, assenta praça em revista de vinte e sete de Julho de 1789.

Encontramos mais uma referência ao capitão Balthazar em  um “Diário Oficial da União” de 1906, de onde extraímos trechos que o capitão Absalão Fernandes da Silva Bacilon, juiz distrital em exercício da Vila de Santana do Mattos, da comarca do Assú, escreveu: Faço saber aos que o presente edital, com o prazo de 90 dias virem, que, por parte de D. Belisária Wanderley de Carvalho e Silva, baronesa de Serra Branca, me foi dirigida a petição do teor seguinte: Cidadão juiz distrital, em exercício, da Vila de Santana do Matos. A baronesa de Serra Branca, D. Belisária Wanderley de Carvalho e Silva, viúva e ora residente na cidade do Assú, sede desta comarca, diz, por seu procurador e advogado, abaixo assinado: que é senhora e possuidora de uma data ou lote de terras na serra de Santana, deste distrito, e na parte a que ora dão os nomes de Pelado e Lagoinha; que a extensão superficial da área desta terra, conforme a respectiva concessão, é de uma légua de largura sobre três de comprimento, pegando de um olho de água que ali se acha em um riacho, denominado Caiçarinha, que deságua para parte do Assú; que a dita terra estende-se na chapada daquela serra, e tem sido cultivada e possuída, delimitando-se, ao norte, pelas sinuosidades desta mesma serra e quebra das águas, como vulgarmente se diz, ficando neste lado a antiga fazenda Curralinho de Balthazar Soares; limita-se, no sul, com terras da fazenda do riacho  da Areia, que foi do capitão-mor Cypriano Lopes Galvão, ao poente, com terras que foram do capitão Felix Gomes Pequeno, e ao nascente com terras da ribeira do Putegy, onde atualmente está o sítio Bodó e outros, que tendo a suplicante por si e seus antecessores uma posse de longíssimo tempo, se não imemorial, pela povoação e cultura constantes das ditas terras, há menos de um ano, os confrontantes Joaquim Bezerra, viúvo e morador em S. Bento, Antonio Florêncio, morador em Cipós de Leite, João Lopes de Araújo Galvão, morador em Areia ou Furna da Onça e as mulheres destes, cujos nomes a suplicante ignora, bem como Miguel Rodrigues e sua mulher D. Francisca, Antonio Hermógenes e sua mulher D. Constância, e o cidadão Cícero Rodrigues, moradores no lugar Catunda e todos no vizinho distrito de Currais Novos, têm feitos roçados e picadas nos matos dos terrenos sempre possuídos e cultivados pela suplicante e seus antecessores, sob o pretexto de uma linha novamente tirada entre este município e aquele de Currais Novos ter apanhado pequena parte dos mesmos terrenos.
Continuando, mais adiante, a baronesa justifica: A referida terra foi pedida em 1764 por D. Adriana de Hollanda Vasconcellos, e não tendo voltado de Portugal esse pedido com a confirmação, o tenente-coronel Francisco de Souza e Oliveira, em 1804, requereu e lhe foi concedida a mencionada terra por data da sesmaria, com três léguas de cumprimento e uma de largura, tendo o ponto de partida e limites acima descritos; em 1822 o capitão Felix Gomes Pequeno que já havia comprado a mesma terra ao dito donatário, requereu a certidão daquela data pra realizar a sua propriedade.

Adquirindo esta mesma terra o capitão Felix Gomes Pequeno, pela forma por que ficou dito, em 1810 a vendeu ao capitão Antonio da Silva de Carvalho, e esta venda foi ratificada pelos herdeiros do mesmo capitão Felix Gomes, por escritura pública passada em 22 de julho de 1858, com tudo se vê do documento.

Por morte dos sogros da suplicante, o mesmo capitão Antonio da Silva de Carvalho e sua mulher, D. Maria da Silva Veloso, passou essa terra aos seus herdeiros, um dos quais era o falecido marido da suplicante, Felipe Nery de Carvalho e Silva, barão de Serra Branca, e este comprando as partes dos demais, ficou possuindo toda aquela terra.

Falecendo o barão de Serra Branca, sem herdeiros necessários, a suplicante sucedeu-lhe no todo da herança dos bens por ele deixado, não só por sua meação como por ter sido instituída, em testamento, sua herdeira universal, e por isso hoje lhe pertence exclusivamente a terra de que se trata e cuja demarcação ora se requer.

Em “Velhos Inventários do Seridó”, Olavo de Medeiros Filho, tratando do inventário de D. Adriana de Holanda e Vasconcelos, que foi casada com Cipriano Lopes Galvão, Felix Gomes Pequeno e Antonio da Silva e Souza, cita, também, como confrontante da Data de Terra, na Serra de Santa Ana, o capitão Balthazar Soares da Silva, do sítio denominado Curralinho.

Quem sabe mais alguma coisa sobre Balthazar Soares?

24/12/2013


SALVE O MENINO DEUS!

FELIZ NATAL

O AMOR DO CRISTO JESUS PERMITA A CONFRATERNIZAÇÃO ENTRE TODOS OS POVOS.

A DIRETORIA DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO
RIO GRANDE DO NORTE

A Coluna Preste no Rio Grande do Norte - III

Tomislav R. FemenickMembro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN


            No início de 1926, quando da passagem de integrantes da Coluna Prestes no Rio Grande do Norte, a cidade e o porto de Areia Branca tinham importância vital para a economia do Estado. Muito mais do que é hoje. Eram ligados a Mossoró pela Estrada de Ferro Mossoró-Porto Franco, cujos trilhos serviam de rota para as exportações e importações do oeste potiguar, da região jaguaribana cearense e, ainda, do alto sertão paraibano.

Segundo Paulo Pereira dos Santos em seu livro “Evolução econômica do Rio Grande do Norte: século XVI ao XXI”, por um longo período que vai das décadas de 70/80 do século XIX até as três primeiras do século XX, toda a atividade empresarial da região oeste do Estado, em especial dos estabelecimentos industriais e comerciais localizados em Mossoró, se refletia na intensa movimentação do porto de Areia Branca. De 1893 a 1895, cento e cinquenta e seis embarcações atracaram naquele porto, enchendo seus porões com mercadorias exportadas por firmas mossoroenses. Em 1911, cento e treze navios nacionais e outros 153 estrangeiros levaram produtos negociados por empresários de Mossoró, sendo 33 noruegueses, 30 ingleses, 50 alemães, 17 dinamarqueses, 10 suecos, seis holandeses, quatro portugueses, um americano, um francês e um russo. O porto de Areia Branca movimentava anualmente entre 200 e 250 mil toneladas de cargas, enquanto o porto de Natal movimentava cerca de 40 mil e os de Fortaleza e Cabedelo, 90 mil cada um deles. Era o sétimo maior porto do Brasil, em movimentação de tonelagem de cargas e contribuía com 58% das receitas portuárias do Estado, enquanto que Natal contribuía com 40%, e Macau apenas com 2%. Além de porto cargueiro, Areia Branca era também ponto de escala de navios de passageiros (os chamados paquetes) e navios mistos – carga e passageiros – da Companhia Nacional de Navegação Costeira, da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro e de outras empresas marítimas.

Naquele começo de ano, a notícia que circulava na cidade era de que um batalhão de Exército estava vindo de Fortaleza pelo navio Paconé (embarcação de origem alemã, confiscada pelo governo brasileiro durante a Primeira Grande Guerra e então agregado à frota do Lloyd) e de lá deveria seguir para Mossoró e para o alto oeste, com a missão de defender as localidades ameaçadas de ataques pelos integrantes de um pelotão avançado da Coluna Prestes, o mesmo que já havia atacado cidades do interior do Ceará.

Envolta nesse clima, a cidade recebia uma multidão que era despejada das embarcações que faziam a ligação entre Porto Franco e Areia Branca.  Eram as pessoas vindas de Mossoró – principalmente, mulheres, crianças e velhos –, fugidas de um possível ataque da Coluna Prestes. Como as hospedarias já estavam cheias pelos passageiros que esperavam a chagada do Paconé e que iriam embarcar para Recife, Maceió, Salvador, Rio de Janeiro e Santos, os mossoroenses foram abrigados em casas de parentes, amigos e até de desconhecidos.

            Em uma localidade relativamente calma, essa situação inusitada de agitação gerou uma serie de hipóteses e especulações, envolvendo a cidade e o porto. Umas eram simples boatos. O mais difundido dizia que entre os defensores das cidades atacadas haveria um herói areia-branquense, José de Samuel, isso quando nem ataques ainda tinha havido no Rio Grande do Norte e o impávido Zé de Samuel estava placidamente trabalhando em uma máquina de beneficiar arroz, em uma fazenda localizada em Apodi. Outro propagava que o popular “Geleia, muito conhecido nos círculos de jogatina”, servia de indicador de caminho para os revoltosos.

Todavia as autoridades estudavam seriamente um sistema de defesa para o porto, tendo em vista a possibilidade de que os militares rebelados, com a habilidade de estrategistas que possuíam, optassem por um caminho alternativo e, evitando atacar Mossoró, atacassem Areia Branca, o seu porto de abastecimento. Seria uma maneira de garantir o reaprovisionamento das tropas e, ao mesmo tempo, um grande tento que, certamente, teria repercussão nacional como uma derrota das forças legalistas. Afora a invasão da multidão de mossoroenses que foram se abrigar na cidade, nada mais aconteceu em Areia Branca. No Rio Grande do Norte as lutas da Coluna Preste se limitaram a São Miguel e Luiz Gomes.

 

21/12/2013


O que nos falta é ciência e tenência

Tomislav R. Femenick – Mestre em economia e contador

 

Desde a década de 1990 que o Brasil está situado entre as dez ou quinze maiores economia do planeta, mas não conseguimos entrar no seleto clube das potencias do primeiro mundo. Estamos quase chegando lá, sem nunca chegar. Sempre ficamos da fila do gargarejo. A pergunta inevitável é: O que acontece e qual é causa? Talvez a resposta esteja nas notícias divulgadas recentemente, que colocam o Brasil entre as nações com menor qualidade de ensino e menor índice de produção científica e registro de patentes de novas descobertas. Então o que nos falta? Obstinação para buscar e ciência para alicerçar o nosso desenvolvimento. Sem ciência não há como chegarmos ao céu do primeiro mundo. Somente para confirma essa afirmação, convido os leitores para um passeio pela história do nascimento da ciência.

Os primeiros estudos científicos foram desenvolvidos pelos filósofos que se dedicavam à filosofia da natureza. A história aponta os gregos e chineses como os precursores desses estudos. Podemos dizer que o ponto de partida foi dado quando Leucipo de Mileto (460-380 a.C.) e Demócrito de Abdera (cerca de 460-370 a.C.) desenvolveram a teoria de que todas as matérias são compostas por átomos, cujas propriedades seriam: forma, tamanho, impenetrabilidade e movimento. Até então a opinião predominante era que as matérias eram compostas de terra, água, fogo e ar. Quatro pensadores gregos deram a base para a separação entre o “raciocínio simplesmente lógico” e o “raciocínio lógico ordenado”. Tale de Mileto (624-548 a.C.) exclui os deuses da origem da natureza, Pitágoras (580-507 a.C.) concebeu a relação matemática como base das coisas, Parmênides (515-540 a.C.) criou a lógica formal (alicerçada no princípio da não contradição, segundo o qual o “ser” é e o “não-ser” não é) e Demócrito (460-370 a.C.) formulou a teoria sobre a constituição da matéria. Eles geraram o embrião da ciência atual.

Os chineses da antiguidade adotavam a ideia de cinco elementos básicos: terra, água, fogo (em comum com os gregos), metal e madeira. Essa teoria foi sistematizada pelo filósofo, historiador, político, naturalista, geógrafo e astrólogo Zou Yan, ou Tsou Yen (305-240 a.C.), tido como o fundador de todo o pensamento científico chinês. Das especulações teoréticas, os gregos e chineses migraram para o uso prático.

Na Grécia as descobertas foram o relógio de água, as máquinas movidas com força motriz hidráulica ou de ar comprimido. No campo das ciências naturais, as pesquisas se expandiram pela astronomia, geografia, zoologia, botânica e medicina etc.

Na China antiga os estudos teóricos eram voltados para conceituações morais (confucionismo, taoismo etc.), porém a ação era principalmente voltada para a exploração do mundo natural. As pesquisas no campo da física e da química resultaram na invenção da pólvora, do balão de ar quente e da bússola magnética. Os estudos sobre mecânica levam à construção da besta e do sismógrafo. Na medicina testaram o tratamento da malária. Também, estudaram e fizeram aplicação prática com elementos de engenharia hidráulica, botânica e astronomia.

Outros povos da antiguidade também enveredaram nos estudos das ciências. Na Mesopotâmia e no Egito houve importantes estudos no campo da engenharia de construção, medicina, matemática e astronomia.

Por que não aprendemos com a história? Se quisermos entrar no maravilhoso mundo dos países desenvolvidos há que se melhorar o ensino em todos os níveis, fazer pesquisas e criar condições concretas para uma ciência verde-amarela, sem xenofobismo.

 

O Mossoroense. Mossoró, 20 dez. 2013.

20/12/2013

 
O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO
NORTE – IHGRN TEM A ALEGRIA DE SAUDAR OS SEUS
ASSOCIADOS E ADMIRADORES, DESEJANDO A TODOS UM NATAL
CHEIO DE LUZ E PAZ,  E QUE O ANO DE 2014 SEJA REPLETO DE
REALIZAÇÕES.

 
A   D I R E T O R I A


A Coluna Preste no Rio Grande do Norte - II

Tomislav R. FemenickMembro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Os anos de 1920 formaram a década em que alguns oficiais de baixa patente promoveram uma seria de revoltas contra o governo federal e as oligarquias que governavam os Estados. As mais conhecidas deles foi a Revolta do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, e a Coluna Prestes, formada por militares rebeldes principalmente de São Paulo e do Rio Grande do Sul e liderada por Luís Carlos Prestes, Juarez Távora e Miguel Costa. A Coluna percorreu cerca de vinte e cinco mil quilômetros pelo interior do país, fazendo uma “guerra de movimentos” e enfrentando as forças do governo.

Em suas andanças a Coluna Prestes passou pelo Rio Grande do Norte e atacou duas cidades do Alto Oeste potiguar: São Miguel e Luiz Gomes. Todavia, as notícias que antecederam os ataques inquietaram a população de vários outros municípios do Estado. Os escritores Raimundo Nonato (1966) e Itamar de Souza (1989) retrataram esse cenário de medo e as lutas propriamente ditas.

Mossoró, pela sua importância econômica e estratégica, foi um palco de agitação quando os revoltosos que estavam nas imediações da cidade de Jaguaribe, no Ceará, se preparavam para adentrar em nosso Estado. Diz Raimundo Nonato: Mossoró era “um porto aberto ao intercambio de vasta área do comercio nordestino, no negócio de algodão, sal, sementes de oiticica, cera de carnaúba, gesso [e com] agência do Banco do Brasil, não sendo despropositada a precisão de assalto, depois de longas travessias e combates, a um porto que oferecia vantagens múltiplas, inclusive o reaprovisionamento de tropa”.

Essa ameaça de ataque iminente espalhou o medo na população que procurou fugir da cidade. Um grande contingente de pessoas foi se refugiar em Areia Branca. A companhia Estrada de Ferro Mossoró-Porto Franco colocou diversos trens extras, porém não conseguiu atender a demanda e mais de 150 pessoas não tiveram como embarcar. Quem não conseguiu lugar nos trens, fugiu para qualquer lugar da vizinhança.

Na cidade se preparava a resistência. O deputado Juvenal Lamartine, o chefe da polícia (Dr. Silvino Bezerra), o comandante da polícia militar (Cel. Joaquim Anselmo), o intendente municipal (Cel. Rodolfo Fernandes, que um ano depois comandou a defesa da cidade contra o ataque de Lampião), o presidente da Associação Comercial (Cel. Cunha da Mota), o vice-presidente da intendência (Dr. Hemetério Fernandes) e muitos outros organizaram o esquema de defesa. Algumas das decisões tomadas foram: a distribuição de armas e munições fornecidas pelo Exercito Nacional, a formação de trincheiras em torno da cidade e na zona urbana e a vigilância da fronteira com o Ceará.

O Padre Mota, o novo vigário da Igreja de Santa Luzia, atuava em várias frentes. Ao mesmo tempo em que cedia o prédio do Ginásio Santa Luzia (onde hoje é a agencia central do Banco do Brasil) para servir de sede do “quartel general” da defesa da cidade, promovia reuniões entre os representantes do governo com as lideranças civis e procurava acalmar as famílias e evitar as fugas precipitadas, com seus sermões nas missas e, inclusive, com a publicação de um Boletim.   

Os revoltosos não chegaram a Mossoró, como não chegaram a Areia Branca e Natal, aonde as notícias e boatos de ataques da Coluna Prestes também chegaram, com maior ou menos alarme que causaram na “capital do oeste”.

Nos próximos artigos abordaremos o clima nessas cidades e os ataques que integrantes da Coluna Prestes realizaram em São Miguel e Luiz Gomes.

O Jornal de Hoje. Natal, 17 dez. 2013.