08/12/2013


Verdades cruzadas - IV

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, Professor aposentado do Curso de Direito da UFRN e Presidente da Comissão da Verdade. Sócio do IHGRN.


            Mesmo derrotado no período do Estado Novo, continuou na política alcançando vitória no Parlamento do Brasil e o retorno à curul do Poder Executivo que o levou à morte de forma trágica – o suicídio.

            Foi-se o homem, mas ficou a fama.

O Brasil sem Vargas era uma incógnita eleitoral nas semanas que se seguiram ao suicídio. Alguns pensavam que Getúlio continuaria a eleger ‘post-mortem. O udenismo tinha esperanças de que o poder bem manipulado poderia alterar o rumo dos acontecimentos, extirpando as raízes do PTB órfão e retirando a motivação do PSD, que não se privaria das condições de se beneficiar do poder.
Claudio Bojunga. JK o artista do impossível. RJ: Objetiva, 2001


Nesse clima de incerteza foi realizado o pleito para escolher o novo Presidente da República, saindo vencedor Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela legenda do PSD, contra Juarez Távora (UDN-PDC), Adhemar de Barros e Plínio Salgado. Com ele assume o Vice-Presidente João Goulart (PTB).

Sua gestão é iniciada em pleno estado de sítio, com a deposição do Presidente interino Carlos Luz e substituição por Nereu Ramos. Mas, apesar de muita turbulência, inclusive de duas rebeliões armadas – Jacareacanga, no Estado do Pará, provocada por militares da Aeronáutica e Aragarças, no Estado de Goiás, respectivamente, em 1956 e 1959, conseguiu chegar ao final do seu governo com grande aplauso do povo e reconhecimento da Nação, transferindo a Capital da República para Brasília em 21 de abril de 1960, de onde, em 31 de janeiro do ano seguinte, no Palácio do Planalto (DF) transferiu a faixa presidencial ao seu sucessor Janio Quadros, vencedor da eleição pela coligação UDN/PR/PL/PDC/PTN, tendo como Vice-Presidente o Senhor João Goulart (PSD/PTB/PST/PSB/PRT) que fazia parte da chapa do seu principal opositor Henrique Teixeira Lott (PSD/PTB/PST/PSB/PRT), Marechal do Exército brasileiro e que se apresentava como exceção à regra dos militares de alta patente.

Concorreu nesse pleito, ainda, o conhecido político paulista Adhemar de Barros (PSP).

Janio Quadros assume o governo num clima de democracia e com a presença de grande concentração popular, iniciando uma gestão marcada pela expedição de atos excêntricos e procedimentos contraditórios, que abreviaram o exercício do seu mandato, abruptamente terminada com a sua renúncia no dia 25 de agosto de 1961 – Dia do Soldado, cuja solenidade marcou o seu derradeiro ato presidencial, pois logo no início da tarde anunciava a renúncia: “Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou difamam, até com a desculpa de colaboração.”

Seu gesto foi comunicado aos três ministros militares pelo General Pedro Geraldo e em seguida ao Senador Moura Andrade pelo Ministro Oscar Pedroso Horta, sendo encarregado ao jornalista Murilo Melo Filho fazer a entrega de cópia à Câmara Federal na pessoa de Abelardo Jurema.[1]

Nessa emergência assume o governo o Deputado Ranieri Mazzili, uma vez que o Vice-Presidente João Goulart encontrava-se em viagem ao exterior, gerando expectativas durante treze dias de incertezas, pois forças militares se opunham à sua investidura, sob o comando do Marechal Lott e incontrolável pressão das forças populares lideradas por Leonel Brizola e pelos estudantes. A solução política encontrada naquela ocasião foi a aprovação, em regime de urgência urgentíssima, no dia 2 de setembro, da Emenda nº 4 à Constituição, restringindo os poderes da Presidência da República e da instauração de um regime de gabinete (parlamentarismo), inteiramente fora das tradições brasileiras.

Com esse novo formato, João Belchior Marques Goulart assume a Presidência da República Federativa do Brasil no dia 7 de setembro de 1961, tendo como seu Primeiro Ministro o Senador Tancredo Neves.

O novo Presidente era pressionado para formar um governo à esquerda, com projetos de reformas de base no campo agrário – organizam-se ligas camponesas com atuação no nordeste através de Francisco Julião e da nacionalização de empresas e bancos; criação da SUDENE e da CHESF, apontando para o início da industrialização do Nordeste. Para isso Leonel Brizola percorria todo o Brasil em pregação dessa ideologia.

Em 6 de janeiro de 1963 um plebiscito derruba o regime parlamentar e restaura o presidencialismo dando ao Presidente o maior respaldo de que ansiava para complementar as suas ideias reformistas, que foram o estopim para o início de um clima de violência política, com realização de comícios inflamados – um dos quais em 26 de fevereiro de 1964, promovido por Brizola com resultado de pessoas feridas – era a radicalização inevitável.[2]




[1] Registram os historiadores que a renúncia de Jânio seria um golpe,  para, em seguida desistir dela, e retornar mais forte ao governo, oportunidade que não lhe foi dada.
[2] Os analistas políticos apontam o pouco preparo político e ideológico de JG – “latifundiário com saudável preocupação social”, porém vacilante, fraco, apavorado, demagogo, corrupto, populista de pouco talento, ambíguo – herdeiro do legado de Getúlio.

 
 

07/12/2013

UM HOMEM CHAMADO PAZ - ROBERTO LIMA DE SOUZA.

 
ROBERTO LIMA DE SOUZA
UM REI: MANDELA

UM HOMEM CHAMADO PAZ 
- Poema à Memória Bendita de Nelson Mandela
POR  Roberto Lima de Souza 

 Um dia, a paz despojou-se das convenções humanas 
E foi nascer, de novo, vestindo pele negra, 
No hemisfério sul, no continente mais negro 
Deste mundo de meu de Deus... 

 É que a paz se cansou de ser branca no hemisfério norte,
 Onde surgiram, meu Deus, as grandes guerras, 
Embora tantos por lá tenham sempre buscado a paz, 
Tenham sempre sonhado com a paz, sempre ela, 
 Vestida de branco e sempre bela... 

 A paz, porém, naquele extremo sul, não foi reconhecida
 Porque estava vestida de negro 
E os que governavam, 
 Iguaizinhos aos homens do outro hemisfério,

 Imaginavam que ela, a paz,
 Nascesse branca, dócil e subserviente ao regime
 Que apartava os homens pelas diferenças de cor... 

 E a paz, tomando as dores da sua prima-irmã, a igualdade, 
 Precisou endurecer-se na vida para poder lutar 
E enfrentar as duras injustiças sofridas pelos seus irmãos,
 Só porque tinham a mesma cor da sua pele... 

 E porque defendia direitos iguais para os seus, 
Foi a paz considerada subversiva 
E, por longos vinte e sete anos, banida, 
Privada do convívio dos seus...

 E a paz, então, começou a cantar pela voz dos seus irmãos de cor 
E de todas as outras cores que tem o amor... 
E o seu canto foi ouvido pelo mundo inteiro, 
Do hemisfério sul ao hemisfério norte, 
Porque o canto da paz é um grito que vence o furor,
Que não teme a força bruta, que não teme mesmo a morte...

 E tão forte foi o canto da paz 
Que, um dia, num dia de muita claridade,
 Mandela, que nasceu livre,
 Reencontrou a liberdade 
E, a ela, de mãos dadas, fez esquecer a ideia de norte e sul: 
Vestiu-se com as cores todas da diversidade, 
E, entre os homens de pele branca e de pela escura, 
Passou a conviver no coração de todos 
Com o nome de fraternidade, 
Até que, um dia, foi chamado, de novo, de paz, 
Nos braços do Pai de toda a humanidade...

 Natal, 6 de dezembro de 2013.

06/12/2013

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
– A MAIS ANTIGA INSTITUIÇÃO CULTURAL DO ESTADO –
Rua da Conceição, 622 / 623, Centro – CEP: 59025-270 – Natal/RN  -  Brasil
CNPJ.: 08.274.078.0001-06  -  Fone: (0xx84) 3232-9728
E-mail: ihgrn1902@gmail.com

NOTA OFICIAL

            Tendo em vista os comentários relativos ao embargo pelo IPHAN, de serviço que estava sendo realizado no auditório da sede do Instituto, esta  Diretoria, após reunião especial, resolveu emitir esta nota oficial para a reposição da verdade:

1º)  Não é exata a divulgação de que o piso retirado do auditório fosse original;

2º) A Diretoria do IHGRN  conhecia o requerimento dirigido ao IPHAN visando a recuperação do auditório, sob a responsabilidade do Vice-Presidente, diante da precariedade dos mosaicos ali existentes e dos problemas de funcionamento e segurança que vinham ocorrendo em relação ao piso do referido auditório.

3º) Declara que a ação do Diretor Vice-Presidente Ormuz Barbalho Simonetti não foi arbitrária, pois a autorização foi requerida ao órgão competente, embora reconheça que o seu Diretor interpretou equivocadamente o teor da resposta, em forma de Parecer, elaborado pelo IPHAN, tendo o mesmo assumido a responsabilidade de fazer os devidos esclarecimentos, o que já ocorreu, sendo apresentada a documentação exigida pelo referido órgão federal.

4º) A Diretoria acatou as justificativas apresentadas pelo citado dirigente e reconhece que o dirigente referido agiu de boa fé e em prol da Instituição;

5º) Por último, a Diretoria repudia os comentários divulgados via rede social, de forma precipitada e sem a observância do contraditório, o que gerou distorções sobre a realidade dos fatos, excetuando-se, apenas, as reportagens da imprensa, consideradas comedidas e observando o princípio do contraditório. Compromete-se esta Diretoria a prestar os esclarecimentos necessários aos seus associados, à imprensa e à sociedade potiguar, tão logo concluído o processo em andamento no IPHAN.

Natal, 06 de dezembro de 2013
Valério Alfredo Mesquita
Presidente

05/12/2013


1969 - Um corso na Avenida Deodoro

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br

A alegria não tinha limites! A Avenida Deodoro era um mar de foliões. Ao lado do Cine Rio Grande, os automóveis de praça não estavam no seu posto, na Praça Pio X.
A avenida era somente carnaval! As serpentinas cortavam o ar e enchiam as calçadas e a rua. Os automóveis, enfileirados, circulavam devagarzinho, fazendo o percurso do corso que ia até o final da Avenida – perto da Rádio Poti.
As buzinas fonfonavam. O cheiro de lança-perfume estava no ar. Um grupo de animados foliões passava com uma corneta arrebentando os tímpanos de quem estava mais perto. Mas ninguém reclamava do barulho.
Os ladrilhos das calçadas estavam totalmente cobertos de serpentinas, confetes e papéis picados – um tapete de alegria! Por toda parte, o som dos pandeiros, chocalhos e cuícas.
A multidão observava o desfile momesco e dançava, suava e gritava, em meio ao som dos reco-recos e das matracas. Os cordões de foliões se sucediam nas calçadas repletas de pessoas.
Na esquina da Rua João Pessoa várias crianças e adolescentes, trepados nos muros do antigo casarão de Moisés Soares, molhavam os foliões com suas bisnagas d’água. Vez ou outra, alguém não gostava da brincadeira e reclamava – não adiantava – ganhava uma vaia grande e outro banho de água.
Foliões bêbados, outros fantasiados, dançavam ao som das marchinhas carnavalescas dos blocos de elite que desfilavam. O corso movimentava-se vagarosamente, mas não parava.
Os automóveis e jipes vinham lotados – alguns de capotas arriadas, com os foliões sentados de pernas para fora. De vez em quando, um desses pulava do veículo e dançava sem a menor inibição.
Pierrots, colombinas, arlequins, odaliscas – tinha de tudo.
À medida que a noite se aproximava, a animação crescia. O povo cantava em uníssono:

“Quando eu morrer,
Não quero choro, nem vela.
Quero uma fita amarela,
Gravada com o nome dela”.

Umas garotas bonitas, de saiotes curtinhos, eram uma das atrações daquela noite de carnaval. Na frente do grupo, um rapaz vestido de bebê, com fraldas e chupando “bubu”. No seu pescoço, pendurava-se uma grande mamadeira. Claro que tinha bebida em seu interior.
De qualquer lugar da avenida escutava-se a cuíca, surda e triste. Os tamborins batiam ritmados e os trombones gritavam com força.
E o grupo de moças bonitas continuava dançando, rodando com o saiote curto, mostrando as pernas bem-feitas – um show de sensualidade. De mãos dadas, unidas, em meio à multidão, quase não se distinguia uma da outra... pareciam iguais.
Mesmo a noite, o calor era imenso. Os ambulantes estavam por toda parte, oferecendo refrescos, refrigerantes, cervejas, sanduíches, pastéis, cachorros-quentes... havia comida para todos os gostos.
De repente, no auge da euforia coletiva, choveu. Choveu grosso. Alguns se abrigaram nas marquises do Cine Rio Grande, na “Palhoça”, outros na casa de conhecidos. Mas, a maioria não deu a menor importância. “Passa já! Passa já!”. Diziam alguns.
Contudo, a chuva de verão persistiu – ora mais forte, ora mais fraca. Depois de meia hora, todos que permaneceram na avenida estavam molhados. Algumas fantasias largaram a tinta, nos rostos despencavam as maquiagens, as roupas encharcadas. Mas, nenhum deles pareceu se incomodar e a festa de momo prosseguia com a mesma agitação.
As batalhas de confetes e lança-perfumes tornavam-se mais intensas. Vez ou outra passavam os blocos de elite (Jardim de Infância, Xafurdo, Apaches...) com suas bandas e alegorias, animando ainda mais.
Os tratores que puxavam os carroções iam bem devagar, parecendo não querer concluir o trajeto do corso. Ou será que queriam que o carnaval demorasse mais?!



04/12/2013

DIA 05 DE DEZEMBRO

O PRESIDENTE DA UBE CONVIDA PARA A NOITE DE AUTÓGRAFOS DE CLAUDIONOR BARROSO BARBALHO, DO SEU LIVRO: "CONHEÇA O QUE É MUSEU",.
 EDUARDO GOSSON
PRESIDENTE DA UBE/RN
CLAUDIONOR BARBALHO
AUTOR
CONHEÇA O QUE É MUSEU

CLAUDIONOR BARROSO BARBALHO 

 Nasceu em Arez/RN no dia 13/09/1946, filho de Bianor Boavista Barbalho e Elina Barroso de Souza. Licenciado em História, possui pós graduação em Museologia na Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Em sua terra natal fundou a Escola Municipal João Guió, ensinou História do Brasil no Colégio Marista de Natal. No Centro Regional de Ensino Superior do Seridó fundou a Cadeira de Arquelogia e Museologia.
 Em 1982 retornou a Natal onde passou a lecionar Pré-Hstória, Arqueologia e Museologia no Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Além de diversos trabalhos em revistas científicas, o professor Claudionor publicou os seguintes livros: 
1. Conheça o que é museu. Natal: 2ªEdição, Nave da Palavra,2013. 
2. Breve História dos Símbolos Nacionais. Natal: Natal Editora, 2005.

SERVIÇO: 

DATA: 05-12-2013
HORA: 18 HS
LOCAL?: ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS, RUA MIPIBU, 443, PETRÓPOLIS.

claudionorbarbalho1946@hotmaul.com
IHGRN - Instituto Histórico e Geográfico.

A História Colonial, especialmente a História da Capitania do Rio Grande, pode ser pesquisada pelo menos em duas ordens de documentos pertencentes ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN): os documentos publicados na Revista do IHGRN e os do acervo de manuscritos.

A inserção exploratória nessa documentação preciosa propicia tanto um conhecimento multiforme da história do Rio Grande Norte dos tempos coloniais quanto possibilita, a posteriori, uma interação entre um antigo passado e um presente em constante mutação. É a partir da possibilidade de uma interação como essa, envolvendo uma instituição cultural ─ o IHGRN e o seu expressivo acervo de documentos escritos provenientes do contexto colonial, especialmente da Capitania do Rio Grande ─, que se visa explicitar pelo ângulo da leitura interpretativa de fontes documentais uma conjugação de manifestações políticas, religiosas, sociais, e também individuais, consoante a (e até mesmo dissonante) da vigência das tradições da cultura portuguesa.

Na cidade de Natal, quem caminha entre a Praça Padre João Maria e a Igreja de Santo Antônio (Igreja do Galo) aprecia um conjunto arquitetônico representado pela Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, o Memorial Câmara Cascudo, o Palácio da Cultura (antigo Palácio do Governo), o Palacete da Prefeitura Municipal, o Museu Café Filho, a Coluna Capitolina e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).

A Casa do IHGRN, na Rua da Conceição, nº 622, foi construída em 1906, numa época em que se vivia a euforia do remodelamento e do embelezamento das cidades, um projeto das elites republicanas para modernizar a sociedade e as instituições brasileiras. O seu prédio expressa uma arquitetura neoclássica, típica da européia da segunda metade do século 2XIX, revelada por seu desenho geométrico, pelas colunas, pelo entablamento, bem como pelo modo de acesso pelas laterais (valorizado pelas escadarias) e fachada monumental.

Na fachada, destacam-se os frontões curvos triangulares, as balaustradas arrematadas com o coroamento das paredes, as esquadrias em madeira e vidro e os vãos de vergas retas. Esse prédio foi tombado como patrimônio estadual, em 30 de novembro de 1984.

Os Institutos Históricos e Geográficos são instituições responsáveis pelos acervos documentais que guardam grande parte das fontes da história colonial, imperial e republicana brasileira. Sua importância em levantar, metodizar e sistematizar um conhecimento histórico foi tamanha a ponto de o historiador José Honório Rodrigues (1978) afirmar que a pesquisa histórica nasceu com a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, no Rio de Janeiro.

Do ponto de vista dessa missão, o IHGB auxiliou o governo imperial na definição de um projeto de nação e de uma identidade nacional. O IHGB, que se espelhou em agremiações congêneres européias, especialmente o Instituto Histórico de Paris, incentivou a fundação de institutos locais em cada Província, objetivo que, à exceção do Instituto de Pernambuco (fundado em 1862) e o de São Paulo (fundado em 1894), somente foi atingido no início do século XX, a exemplo da criação do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).

O IHGRN, uma das entidades culturais mais antigas do Estado foi fundado, em Natal, sob a inspiração do IHGB, a 29 de março de 1902, durante o primeiro Governo de Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, num momento enfático de preocupação com a preservação do patrimônio histórico-documental, que possibilitaria a escrita da história de acordo com os parâmetros da ciência positivista, do encontro da história nacional com a memória social e do testemunho documental.
______________________
(*) Extraído Trabalho de Marta Maria de Araújo Ana Verônica Oliveira Silva da UFRN
Foto: Instituto Histórico e Igreja de N. S. da Apresentação.

Postado por Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto.(Blog TOK DE HISTÒRIA) 

03/12/2013

Dr. Carvalhinho, sobrinho do Barão de Serra Branca

 
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
 
Nas pesquisas genealógicas, uma das grandes dificuldades advém das migrações, de um localidade para outra, de pessoas ou famílias. Você perde o fio da meada. Algumas pessoas, que fazem parte dos que migraram da Ilha de Manoel Gonçalves para Macau, tomaram destino que, muitas vezes, não encontramos depois. Com a ajuda de jornais da Hemeroteca Nacional, livros mais antigos, notícias de familiares e revistas dos Institutos Históricos têm sido possível encontrar alguns descendentes desses primeiros habitantes da Ilha de Manoel Gonçalves e de Macau.

Os genros do capitão João Martins Ferreira, que acompanharam o sogro na mudança para Macau, segundo várias fontes, foram: Manoel José Fernandes, casado com Anna Martins Ferreira; Manoel Antonio Fernandes, casado com Maria Martins de Pureza; José Joaquim Fernandes, casado com Maria Martins Ferreira e Antonio Joaquim de Sousa, casado com Thomásia Martins Ferreira. Para onde eles e seus descendentes se deslocaram, posteriormente?

No livro Bacharéis de Olinda e Recife: norte-rio-grandenses formados de 1832 a 1932, do sócio do IHGRN, Raimundo Nonato, encontramos Manuel de Carvalho e Sousa, conhecido por Dr. Carvalhinho, filho de João Antonio de Sousa e Anna Joaquina da Silveira, nascido em 12 de abril de 1856, na Província do Rio Grande do Norte. Quem eram esses pais do Dr. Carvalhinho, vamos ver através do registro de casamento, abaixo.

 “Aos vinte e dois de novembro de mil oitocentos cinquenta e dois, nesta Freguesia de Santa Anna do Mattos, depois das denúncias de estilo, sem impedimentos, confissão, e exame de Doutrina Cristã, o Vigário João Theotonio de Sousa e Silva, nesta Matriz, pelas nove hora da manhã, uniu em Matrimônio just. Trid. e deu as Bênçãos Nupciais, a João Antonio de Sousa, filho legítimo de Antonio Joaquim de Sousa, e Thomásia Martins Ferreira, da Freguesia dos Angicos, com Anna Joaquina da Silveira, filha legítima de Antonio da Silva Carvalho, e Maria da Silva Velosa; foram testemunhas Felippe Nery de Carvalho e Silva, solteiro, e Balthasar de Moura e Silva, casado. Do que para constar fiz este assento, que assino. O Pároco – Coadjutor João Ignácio de Loyolla Barros.”

Pelo visto acima, João Antonio de Sousa, pai do Dr. Carvalhinho, era neto do capitão João Martins Ferreira e de D. Josefa Clara Lessa. Era, portanto, primo legítimo do meu bisavô, tenente-cirurgião Francisco Martins Ferreira. Além disso, uma das testemunhas, o português Balthazar de Moura e Silva, casou a primeira vez com Josefa Martins de Sousa, irmã de João Antonio. Dois anos após esse casamento, ela faleceu com a idade de 25 anos, e Balthazar casou novamente, 4 meses depois, com Maria Petronilla Fernandes, prima de Josefa, e filha de José Joaquim Fernandes e de Maria Martins Ferreira.

Já D. Anna Joaquina, mãe do Dr. Carvalhinho, era irmã de uma das testemunhas, Felippe Nery de Carvalho e Silva, Barão de Serra Branca. Ela nasceu em 28 de janeiro de 1828.

Dr. Carvalhinho fez seus estudos primários em Natal e os secundários e superiores em Recife, morando lá, na companhia do tio Irineu Brasiliano de Carvalho e Silva. Diplomou-se em 7 de novembro de 1877, pela Faculdade de Direito de Recife. Dr. Irineu Brasiliano era médico, casado com D. Maria Christina Antunes, filha do Barão de Messejana, Antonio Cândido Antunes de Oliveira. Morou em Aracati, por 15 anos e, lá, faleceu em 10 de agosto de 1877, com a idade de 43 anos, tendo seu pai Antonio da Silva de Carvalho, falecido um dia antes, no Assú, com a idade de 93 anos.

Dr. Carvalhinho casou-se com D. Maria Emília de Carvalho (faleceu em 1960), de quem teve os seguintes filhos: Orígenes de Carvalho, médico, 1º tenente da Marinha, falecido em 8 de janeiro de 1916, com 32 anos, na Bahia; capitão de fragata e professor da Escola Naval e da Escola de Marinha Mercante, Otávio Tácito de Carvalho, casado com D. Olga Régis Bittencourt, falecido em 19 de maio de 1932, com um único filho, o engenheiro Tácito Bittencourt de Carvalho; e D. Ofélia de Carvalho Rodrigues (falecida em 1926), casada com o Sr. Carlos Howat Rodrigues. Faleceu aos 4 de julho de 1936, no Rio de Janeiro, para onde tinha se transferido com a sua família.

Dr. Carvalhinho ocupou diversas funções aqui no Rio Grande do Norte: Promotor Público da Comarca de Macau, Diretor Geral da Instrução Pública, Juiz de Direito da Comarca de Triunfo e da Comarca de Ceará-mirim, Deputado Constituinte, e Secretário Interino do Governo Provisório, na administração de Pedro Velho. Aposentado em 1892.
Jazigo do pai do Barão de Serra Branca