19/11/2013

“Kristallnacht”

Dalton Mello de Andrade

“Quem dormir no ponto, o jacaré abraça”

            Quem se lembra da “Noite dos Cristais Quebrados”, no dia 9 de novembro de 1939? Que fez agora 74 anos? Poucos, acho eu. Acredito que deve ter saído alguma coisa sobre o assunto na mídia brasileira, mas não vi nada. Jornais estrangeiros não esquecem esses fatos, especialmente os europeus.
            Nesse dia, os nazista agrediram judeus por toda a Alemanha, à mando de Goebell, ministro da Informação de Hitler (hoje, marqueteiro) e com a concordância do partido nazista. Suas pessoas, suas propriedades, lojas e casas, foram atacados e destruídos em todo o país. Foi um prenuncio do que estaria por vir no “Reich” dos propalados mil anos.
Foram mortos cerca de cem judeus, foram destruídas centenas de sinagogas, escolas, lares, e lojas a eles pertencentes. Cerca de 35.000 foram presos, muitos dos quais foram enviados aos já então criados campos de concentração, torturados e assassinados. Foi o começo do Holocausto, que matou seis milhões de judeus. E outras etnias consideradas inferiores pelos “deuses” nazistas.
O argumento dos nazistas foi de que isso era uma reação espontânea ao assassinato de um diplomata alemão em Paris, Ernst Von Rath, morto por um judeu polonês de 17 anos, Herschel Grynzpan. A história diz que ele procurava se vingar, em razão da perseguição à sua família na Alemanha. No entanto, o ataque aos judeus estava muito bem preparado, as organizações nazistas devidamente orientadas pelo partido, e a policia e corpo de bombeiros instruídos para não interferir. Uma noite de terror, muito bem orquestrada, tudo executado com a melhor eficiência, que é e sempre foi a marca registrada do país. A morte do diplomata foi um argumento fajuto.
Quando olhamos para o mundo de hoje, com as conturbações que andam por aí, quando vemos os desentendimentos crescentes no Oriente Médio, as chamadas “primaveras árabes”, a falta de dialogo entre as nações, não há como não nos preocuparmos com o futuro. O que esperar de tudo isso? Teremos adiante novas “noites de cristal”, sem alvo definido ou motivações evidentes?
O que esperar de vândalos, como os que ultimamente surgiram em nossas cidades, sem posições claras ou razões objetivas para um tresloucado comportamento, que prenunciam apenas a anarquia e o desprezo pelo direito dos outros e pela convivência sadia? Do protesto pelo protesto?
Por isso, é bom lembrar essa noite marcante da história da humanidade. Lembrando o passado, podemos evitar que ele se repita. A tolerância dos cidadãos, que aceitaram a destruição e os ataques com um “não foi comigo”, os levaram a pagar muito caro por essa indiferença. Que não se repita o mesmo nos dias presentes e especialmente entre nós.

O populismo, o desprezo pela liberdade em geral e da imprensa especialmente, o desrespeito ao direito, a aceitação das agressões ao patrimônio público e privado, às pessoas e aos policiais, nos leva a prever um triste cenário para o futuro deste país. E não vemos uma reação inteligente ao problema. Muita conversa e pouca ação.

18/11/2013


RESULTADO OFICIAL DA ELEIÇÃO PARA RENOVAÇÃO DA DIRETORIA DA UBE/RN - 2014 A 2015.

EDUARDO ANTONIO GOSSON
PRESIDENTE DA UBE/RN 
ROBERTO LIMA DE SOUZA
PRESIDENTE ELEITO DA UBE/RN - 2014/2015

ATA DA ELEIÇÃO DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES-UBE/RN, REALIZADA EM 13 DE NOVEMBRO DE 2013
 Aos 13 dias do mês de novembro de 2013, tendo como local a sede da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras ( sede provisória da UBE/RN) sito à Rua Mipibu, 443, Cidade Alta, das 10 às 16 horas, realizou-se a eleição para renovar a Diretoria para o biênio 2014/2015.
 O processo eleitoral foi preparado pelos seguintes atos: 
1. Portaria nº 1/2013 de 27 de setembro de 2013, nomeando a Comissão Eleitoral ( Horácio de Paiva Oliveira, George Antonio de Oliveira Veras e Paulo Jorge Dumaresq Madureira). 
2. Convocatória publicada no site da instituição e no Diário Oficial do Estado, no dia 30 de setembro de 2013. 
3. Edital, de 30 de setembro de 2013, publicado no blog da UBE/RN e afixado no quadro de avisos da UBE. A chapa A União faz a Força foi registrada dentro do prazo legal e tem a seguinte composição:
 CHAPA: A UNIÃO FAZ A FORÇA Biênio 2014-2015 DIRETORIA EXECUTIVA
 Presidente: Roberto Lima de Souza 1º Vice-Presidente: Eduardo Antonio Gosson 2º Vice-Presidente: Manoel Marques da Silva Filho Secretario Geral: Jania Maria Souza da Silva 1º Secretário: Maria Rizolete Fernandes 2º Secretário: Paulo de Macedo Caldas Neto 1º Tesoureiro: Pedro Lins Neto 2º Tesoureiro: Claudionor Barroso Barbalho Diretor de Divulgação: Lucia Helena Pereira 
 Diretor Representações 
Regionais: Antonio Clauder Alves Arcanjo Diretor Jurídico: David de Medeiros Leite CONSELHO CONSULTIVO
 Carlos Morais dos Santos
 Cid Augusto Rosado Maia,  Diulinda Garcia de Medeiros Silva,  Diógenes da Cunha Lima
 José de Castro Joaquim Crispiniano Neto,  Ormuz Barbalho Simonetti,  Tomislav Rodrigues Femenick ,Valério Alfredo Mesquita
 CONSELHO FISCAL:  Aluízio Matias dos Santos,
 Alexandre Magnus Abrantes de Albuquerque,
  Carlos Roberto de Miranda Gomes,
  Geralda Efigênia Macedo Gilvania Rodrigues Machado Às 16 horas, conforme normas estabelecidas na legislação aprovada, a Comissão Eleitoral encerrou a votação e procedeu a contagem de votos: 
A UNIÃO FAZ A FORÇA: 26 votos, nenhum voto branco, nenhum voto nulo.
 Encerrada a apuração, foi proclamada vencedora a chapa A UNIÃO FAZ A FORÇA. Nada mais sendo tratado foi a eleição encerrada, cuja ata é assinada pela Comissão Eleitoral. 

Natal-RN, 13 de novembro de 2013 
Horácio de Paiva Oliveira
 PRESIDENTE 
George Antonio de Oliveira Veras
 SECRETÁRIO
 Paulo Jorge Dumasreq Madureira
MEMBRO

BENVINDOS

 

COM SETE MEMBROS, CANGUARETAMA/RN, TEM A SUA ACADEMIA DE LETRAS DESDE O DIA 27-10-2013. PARABÉNS MEUS CONFRADES E CONFREIRAS.


SETE MEMBROS DÃO INÍCIO À ACADEMIA DE LETRAS DE CANGUARETAMA/RN - ALC.


Depois de 155 anos de existência, os canguaretamenses criaram sua academia de letras (Academia de Letras de Canguaretama RN - ALC). A reunião ocorreu na manhã do domingo (27/10/2013), no Casarão da Família Gomes, no centro da cidade. O objetivo que moveu a criação da Academia foi incentivar o desenvolvimento cultural do município. Em breve a diretoria provisória organizará o estatuto e abrirá espaço para a indicação dos membros efetivos. A comissão provisória, que dirige a entidade, foi formada inicialmente por: Francisco Alves Galvão, Eduardo Gomes de Carvalho, Erivan de Souza Lima (TATÁ), João Maria Alves de Castro, Maria de Fátima Pessoa, Anadir Pessoa Cavalcante e Auricéia Antunes de Lima. A reunião se deu num clima especial de companheirismo e preocupação com a cultura local. No final, todos puderam demonstrar a satisfação pelo grande acontecimento e foram feitas várias leituras de obras literárias entre os presentes. Um brinde especial pelo sucesso de todos selou a reunião.

 Fonte: História de Canguaretama 

FONTE: Blog Ponto Crítico

Tempos de criança
Augusto Leal, engenheiro

          Eu daria tudo que tivesse /Pra voltar aos tempos de criança/ Eu não sei por que a gente cresce/ E não sai da mente esta lembrança.
           A minha infância foi vivida nos bairros de Petrópolis e Tirol. Nasci e vivi na Rua Seridó, até os seis anos de idade, depois fomos morar na Rua Mossoró de onde sai casado.
            Na Rua Seridó meu pai fez uma casa quase que exclusiva para crianças. O nosso quarto tinha no teto, pintado as figuras do Mickey, Pato Donald, Pateta e outros personagens das histórias de Walt Disney. No jardim casinhas feites com pés de fícus, que dava para a gente entrar e ficar fazendo traquinices, jogando caroço de pitombas e carrapateiras com baladeiras nas pessoas e nos carros que passavam. Tinha uma charrete puxada por um carneiro, chamado Belém, a gente andava dentro do quintal ou na Praça Pedro Velho. Belém morreu e o carneiro passou a ser meu irmão José Maria, que na época era mais gordo que Jô Soares e tinha longos cachos nos cabelos. Por isso foi promovido a carneiro por mim e minha irmã Liege. As tardes mamãe reunia os três no jardim da frente da casa para contar histórias infantis. Lembro-me de uma triste que a madrasta de uma menina enterrou ela no jardim da casa, os cabelos cresceram com as ramas e quando o jardineiro ia cortar as ramas ela cantava uma música que tinha uma parte que dizia assim “Jardineiro de meu pai/ não me cortes o meu cabelo/Minha mãe me penteou, minha madrasta me enterrou/Pelos figos da figueira/Que o passarinho bicou.”
            As tardes uma senhora que morou muito tempo na casa de meus pais, nos levava brincar na Praça Pedro Velho, lá tinha um parque infantil muito grande, com vários equipamentos, como gangorra, balanços, escorregos. Na praça havia bancos para sentar, pés de fícus cortados em formas de animais, de cassinhas, fotógrafos para tirar fotografia naquele momento, tanques com água onde tinham peixes, tartarugas, um coreto com um pequeno bar e lanchonete e uma quadra para a prática de esportes.
            Da Rua Seridò fomos morar na Rua Mossoró no ano de 1950, mas continuei frequentando o bairro de Petrópolis, pois fui estudar depois no Colégio Sete de Setembro e jogar basquete e futebol de salão no Santa Cruz Futebol Clube. Tive como treinador de basquete os irmãos Oscar e Cristalino Fernandes. Oscar era professor de desenho no Sete de Setembro e Cristalino me parece que já era funcionário do Banco do Brasil.

            Na Rua Moçoró, já um meninote, tinha a liberdade de andar só. Fui estudar no Atheneu, ainda continuei ligado a Rua Seridó, pois deixei por lá muitos amigos e continuei jogando pelo Santa Cruz.

            A Rua Moçoró a partir da Rua Prudente de Morais era quase que deserta, principalmente os quarteirões ente a Prudente e a Afonso Pena, sem pavimentação o leito da Rua era de terra batida, servia para os nossos campos de futebol mirim. Havia poucos veículos, é tanto que quando aparecia um, alguém gritava – Parábola- Era um aviso para parar a bola, parar o jogo, quando o veículo passava a “pelada” continuava.
              O quarteirão onde estava localizada a casa de meu, (foi a terceira a ser construída), era de vizinhança escolhida, por serem pessoas boníssimas. Na esquina com a Prudente Djalma Marinho e Eider Furtado, José Barbosa de Farias, por ser muito magrinho e de pouca estatura, era conhecido como Seu Pigmeu, em frente Aderson Eloi de Almeira. adiante Olimpio Procópio de Moura. Iderval Medeiros, Paulo Sobral, Antônio Justino Bezerra, José Idelfonso Emerenciano, José Lopes, Tenente Clotário Tavares, e por último João Rodrigues Barbosa, não sei por que também chamado de João Mamão.
              A Rua Mossoró ainda hoje é ligada com a Ulisses Caldas, onde ficava o comércio de meu pai (Farmácia Natal), e quando eu fazia minhas traquinices, era sentenciado a ir de castigo passar as tardes na Farmácia, aprendendo o oficio ou estudando, ia a pé e voltava a pé. Da Rua Ulisses Caldas já se tinha uma visão ampla da Rua Mossoró, pois não tinha arvores plantada, daí a visão direta do Parque das Dunas. No domingo este morro, na parte por trás do Estádio Juvenal Lamartine, ficava lotados de torcedores que iam assistir aos jogos e sentado no batente do portão da minha casa eu tinha a visão daquela torcida, que às vezes soltava alguns foguetões geralmente anunciando um gol do ABC Futebol Clube.
              Na época do inverno, como o leito da rua era de terra batida, formava grandes poças de água, onde se ouviam o cantar das rãs ou dos sapos que passavam a noite cantarolando. Tinha os vaga-lumes que ficavam desfilando pela noite com sua luzinha apagando e acendendo, e a meninada a procurar pega-los para colocá-los em um vidro para fazer lanterna. Fazíamos coleções de besouros e borboletas caçados nos terrenos baldios, colocados em pequenas caixa de madeira e conservados no formol.
Na rua além das “peladas” jogávamos bola de gude, biloca, triângulos e tila eram as modalidades preferidas. Brincávamos de bandeirinha ou pega bandeira, de tica, de esconde esconde, cobra sega, guerra de baladeiras, tô quente tô frio, bom barquinho e outras.
Nos colégios as quermesses, nas igrejas as festas, íamos às festas do Colégio Sete de Setembro, Colégio Marista, Ginásio São Luiz, quermesse na Lagoa Manoel Felipe, hoje Cidade da Criança, a da Igreja Santa Terezinha, do Colégio Nossa Senhora de Fátima, Festa da Padroeira na Praça André de Albuquerque, Festa da Mocidade, na Praça Pio X. Aos domingos, banho de mar nas praias do Meio, Forte e Areia Preta, ou a travessia do Rio Potengi, nas lanchas de Luiz Romão, ou nos botes a vela, capitaneados por Janjão, Ferrinho ou Gonzaga.]
Cresci, envelheci, ficou a saudade. Boas lembranças de um tempo bem vivido.

17/11/2013

Casa da Vida: Maternidade Januário Cicco

TN - Publicação: 16 de Novembro de 2013 às 00:00
Texto: Gustavo Sobral 
Ilustração: Arthur Seabra

Contratam um artista para desenhar a fachada. Profissional formado pelo liceu de artes e ofícios de Pernambuco e especialista naqueles arabescos, sacadas, arcos, e tudo que revelasse a beleza das formas da arquitetura clássica. Subiram as paredes no tempo que na cidade se andava de bonde que numa fotografia antiga habita o momento. Era Petrópolis, Natal/RN, nos anos trinta, tão bucólica quanto moderna naquele tempo. Construída em 1940, Avenida Nilo Peçanha, 259, só se torna mesmo maternidade e lá nos anos 1950, quando dr. Paulo Sobral na tecnologia do forceps realiza o primeiro parto que o Diário de Natal contou em reportagem da época. A ocupação como quartel general na segunda guerra mundial atrasou o emprego a que a casa era destinada. E cada fato ficou no seu tempo. Quem inventou aquilo tudo foi um médico quando a história costumava a registrar que um visionário era um realizador do futuro, pois foi aquele que lhe emprestou o nome, o médico Januário Cicco. 

Arthur SeabraAquarela da Januário CiccoAquarela da Januário Cicco

Joaquim Victor de Holanda o futuro construtor da cidade arrumou o pórtico de colunas imponentes que passada a escadaria compõem a sua entrada, nos frontões de beleza barroca, rosáceas, arcos plenos em algumas janelas e cobertura com o charme das telhas coloniais aparentes. O edifício imperioso para o seu tempo criava-se em três andares de volumes bem definidos, portas e janelas em desenho harmônico e no terceiro pavimento uma varanda. Sessenta e cinco quartos, cada quarto o nome de uma flor e dois leitos, de maneira que cada criança que nascia para a vida chegava à vida embalada por um quarto como se brotasse em um jardim. E assim a Maternidade Januário Cicco se inscreve como única maternidade sabida em que os leitos não são números, são flores, e o edifício se completa com todos os serviços essenciais à vida da criança e da gestante, e assim se realiza o visão do seu criador de que a maternidade é o berço do milagre da vida.

16/11/2013


Luís, o paladino da desesperança

Tomislav R. Femenick – Membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN


 


Luís Carlos Prestes (1898-1990) foi um militar e político brasileiro. Formou-se em engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro e serviu como tenente-engenheiro na Companhia Ferroviária de Deodoro, até ser transferido para o Rio Grande do Sul.

Foi um dos mais destacados lideres do “movimento tenentista”, uma série de rebeliões político-militar, deflagrada por oficiais de baixa e média patente das forças armadas brasileiras, acontecida na década de 1920. Os jovens militares se posicionavam contra o sistema político nacional de então, dominado pelas oligarquias estaduais. Em 1924, militares rebelados de São Paulo, comandado por Miguel Costa, partiram em direção ao sul do país. O capitão Prestes aderiu à revolta e, liderando um grupo de Santo Ângelo-RS, se dirigiu ao Paraná, onde se juntou aos paulistas, formando um contingente de cerca de 1.500 homens.

A Coluna Prestes (como o contingente passou a ser conhecido) percorreu 25.000km pelo interior do Brasil, em um período de 29 meses, promovendo uma “guerra de movimentos” contra as forças do governo, num episódio idealístico e romântico, porém sem qualquer possibilidade de êxito. No final de 1926, sem condições de continuar a luta, a coluna se refugiou na Bolívia, de onde o seu líder – já conhecido como o “Cavaleiro da Esperança” – foi para a Argentina, onde se dedicou ao estudo do marxismo.

Em 1930 Prestes se posicionou contra a revolução getulista e no ano seguinte foi para a União Soviética, onde foi eleito membro da comissão executiva da Internacional Comunista. Quatro anos depois voltou ao Brasil acompanhado da mulher, a comunista alemã Olga Benário, e comandou a Aliança Nacional Libertadora. Em 1935 dirigiu o episódio conhecido como a “insurreição comunista”. Com a derrota da intentona, Prestes perdeu a patente de capitão e foi preso durante nove anos. Sua mulher, mesmo grávida, foi deportada para a Alemanha nazista e morreu no campo de concentração de Ravensbrück.

Todavia a história de Prestes tem muitas facetas, como o caso de Elvira Cupello Colônio (Elza Fernandes ou Garota), uma moça semianalfabeta, que não sabia o que era comunismo ou revolução, doméstica, irmã de um membro do Partido Comunista Brasileiro e amante de Antonio Maciel Bonfim (Miranda ou Alberto Fernandes), secretário-geral do partido. Quando os líderes da insurreição de 1935 começaram a ser presos, recaíram sobre o casal suspeitas de que um ou outro (ou os dois) tinha fornecido à polícia nomes de militantes comunistas. Elza foi julgada e condenada à morte em 16/17 de janeiro de 1936, por um tribunal revolucionário do partido. Como a decisão não foi unânime, Prestes escreveu aos julgadores chamando-os de medrosos e exigindo que Elvira fosse executada. A carta diz: “Fui dolorosamente surpreendido pela falta de resolução e vacilação de vocês. [...] Por que modificar a decisão a respeito da ‘garota’? [...] Com plena consciência de minha responsabilidade, desde os primeiros instantes tenho dado a vocês minha opinião quanto ao que fazer com ela”. Elvira, com apenas 16 anos, foi estrangulada com um fio de varal.

Com o fim do Estado Novo, em 1945, Prestes assumiu o cargo de secretário-geral do PCB e manifestou apoio a Getúlio Vargas, defendendo a sua permanência na presidência; o mesmo Getúlio que o prendera e que deportara sua esposa para a Alemanha nazista. Naquele ano elegeu-se senador, porém seu mandato foi cassado dois anos depois, passando a viver na clandestinidade em virtude de um mandato de prisão que somente foi suspenso em 1958. Em 1964, com a ditadura militar, teve seus direitos políticos suspensos por dez anos e novamente foi moram na União Soviética. Em 1979 regressou ao Brasil, em função de decretação da anistia, todavia as novas lideranças do partido o destituíram do comando do PCB. Em 1982 foi expulso do partido.

Gazeta do Oeste. Mossoró, 08 nov. 20113

O Jornal de Hoje. Natal, 12 nov. 2013

15/11/2013

UMA VISÃO DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA DO BRASIL


Império Conservado

Onde a Monarquia é conservada e o Império encontra uma arma nas mãos jovens: a Retórica


 


               Ao contrário do que muitos pensam no dia 15 de novembro não será celebrado o triunfo da vontade popular através da “proclamação” da República. Tampouco será comemorada a democracia ou a liberdade, mas sim o aniversário de um golpe de Estado, despido de qualquer participação popular e visto pelos brasileiros da época, se não com indignação, com grande indiferença. Na realidade, não era pra ter acontecido, não fossem maquinações e boatos de militares bastante espertos para saberem que não haveria república alguma sem um grande teatro por trás de um golpe que, diga-se de passagem, representou muito bem o “jeitinho brasileiro”.
Para começar, vamos conhecer um pouco mais do nosso herói republicano: Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, nascido em 1827, filho de militar conservador, tinha duas irmãs e sete irmãos, três dos quais morreram servindo a Pátria na Guerra do Paraguai. Deodoro entrou para o Exército em 1843, se formando em 1847 no curso de artilharia. No ano seguinte teve sua primeira participação numa ação militar na repressão da Revolta Praieira (insurreição de liberais e separatistas da província de Pernambuco). Nos anos que se seguiriam, Deodoro participaria da Guerra do Paraguai, e subiria rapidamente na hierarquia militar. Em 1887, após muitas comendas, já como brigadeiro do Exército, e depois de ter ocupado diversos cargos políticos (como o de vice-presidente da província do Rio Grande do Sul), Deodoro foi nomeado marechal-de-campo. Até aí tudo bem, tivemos um grande herói militar, que gozava de grande prestígio entre os colegas de farda, um cidadão prezado, conservador, amigo do Imperador e monarquista convicto. Opa, eu disse monarquista convicto? Isso mesmo: Deodoro era um monarquista convicto.
Ao contrário de outros militares da época, que se deixavam encantar pelas ideias republicanas, Manuel Deodoro insistia que a república seria “desgraça completa”, como vemos em carta enviada ao seu sobrinho Clodoaldo da Fonseca, em 30 de setembro de 1888:
República no Brasil é coisa impossível porque será verdadeira desgraça. Os brasileiros estão e estarão muito mal-educados para republicanos. O único sustentáculo do nosso Brasil é a monarquia; se mal com ela, pior sem ela”.
Logo a seguir voltava a insistir junto ao mesmo parente:
“Não te metas em questões republicanas, porquanto república no Brasil e desgraça completa é a mesma coisa”.
Pois bem, vimos que nosso herói não era lá bem um herói republicano. Ou seja, nosso “proclamador da República” era na verdade um “fiel e leal” súdito da Coroa, até o momento em que seu ego foi atingido. Como assim? Bom, antes de entender isso é necessário conhecer outro protagonista dessa história, um sujeito chamado Benjamin Constant Botelho de Magalhães. Esse, de herói, não tinha nada. Chegou a ir para a Guerra do Paraguai, como engenheiro civil e militar, mas depois de treze meses voltou alegando doença, e sua mulher, como boa esposa, foi lá busca-lo para lhe dedicar os devidos cuidados em casa. Então ele foi dar aula de matemática na Escola Militar. Mas não vamos deixar de ser justos e clarificar que, apesar de militar, o dito Benjamin não era um militarista. Acreditava na submissão do Exército ao poder civil, e não era um revolucionário qualquer; bem instruído e positivista de carteirinha, era um leitor de Comte e seu republicanismo se devia a isso. Mas onde ele entra na história da “proclamação”? Pois bem, para isso teremos de entender outra história, essa um pouco mais complicada.
Desde a formação do Brasil como Estado soberano e independente, que teve início de facto com a elevação da colônia ao status de reino (Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves), o Exército nunca exercera de fato participação nos destinos políticos do país. Na realidade, o Exército era uma instituição fraca e mal aparatada, bem inexpressiva diante de sua correspondente civil, a Guarda Nacional. Os militares de influência geralmente o eram por serem ao mesmo tempo grande nomes de um dos dois partidos políticos, o Conservador e o Liberal, não por serem militares unicamente. Mas as coisas mudariam com o advento da Guerra do Paraguai, que exigiu o melhoramento da instituição em questão, caso o Brasil quisesse ter sucesso na empreitada. Com o fim da guerra, e com um exército melhor aparatado e “politicamente alfabetizado”, o governo viu o nascimento de uma nova força política, não muito contente com o tratamento que vinha recebendo por parte do executivo imperial. Como se não bastasse esse descontentamento, o Gabinete inferiu algumas punições contra os militares, e iniciou uma política de restabelecimento da Guarda Nacional como maior força armada da Nação. É claro que os ‘novos’ militares não viram isso com bons olhos, e teve início uma peleja política conhecida como “Questão Militar”. De um lado, um poder executivo querendo podar qualquer possibilidade do exército aumentar ainda mais sua influência, e de outro, militares ansiosos por “um assento no banco de decisões” dos destinos do Império.
Voltemos ao nosso marechal. Após a morte do Duque de Caxias e do General Osorio, Deodoro se tornara o grande nome militar do Brasil, a admiração que seus subordinados nutriam por ele não era pouca. Era visto como um herói. Cioso do enorme prestígio do marechal em todo o Exército, Benjamin Constant, o professor de matemática, resolveu iniciar uma empreitada para converter Deodoro ao republicanismo. Mas, apesar de ser profundamente solidário à causa militar, e ter escrito mais de uma vez ao Imperador, implorando por uma intervenção nas ações do governo, Deodoro via o movimento republicano com péssimos olhos, como já foi mostrado. Mas as coisas se voltaram para um caminho tortuoso, e o próprio Deodoro viu que deveria ele mesmo agir contra o governo, e percebeu que não era uma boa ideia importunar o velho e doente Imperador com problemas que talvez ele mesmo pudesse resolver. Mas o monarca não estava tão alheio assim à questão, e respondeu a segunda carta de Deodoro com a demissão, no mesmo dia, do Ministro da Guerra, Alfredo Chaves. Nosso marechal então “deu-se por satisfeito”, para ele a questão tivera seu fim. “Petrus locuta, causa finita” (Pedro falou, o papo acabou). Contudo, o novo ministro não cancelou as punições, mas se pronunciou dizendo que os militares punidos deveriam requerer, junto ao governo, o cancelamento dessas punições. Então voltamos ao ponto de partida: governo versus Exército.
Sabendo da frágil situação física do soberano, que sofria de diabetes e havia adoecido muito nos anos que se seguiram ao término da guerra, os querelantes resolveram não recorrer ao juiz imparcial, para recorrer ao Senado. Rui Barbosa lançou um manifesto em defesa do Exército, no qual dizia:
“(...) Deploramos que a doença inquietadora de Sua Majestade não permita invocar diretamente o Chefe do Estado. Sabe o Exército que o Imperador nenhuma responsabilidade constitucional tem. É-lhe grato saber que, nos abusos de que se tratam, não lhe cabem nenhuma responsabilidade real. Mas, em toda a parte, ainda nos países onde exemplarmente se pratica a monarquia parlamentar, o soberano, se é, como entre nós, um elevado espírito, tem sempre em si, pela sua sabedoria, pela sua experiência acumulada, pela superioridade da sua intuição, pela alta imparcialidade do seu cargo, uma imensa reserva de autoridade moral, de influência persuasiva sobre o ânimo de seus ministros mais independentes, dos seus conselheiros mais austeros, e não lhe faltam ocasiões como esta de exercê-la, com benfazeja discrição, em proveito da justiça, da liberdade e da lei”.
E após discorrer sobre o estado de saúde de Dom Pedro, citando as recomendações médicas de repouso e também os anseios do povo por sua recuperação, termina:
“Não nos resta, pois, senão recorrer para opinião do país, que desde o princípio esposou a nossa causa, idêntica à dele, endereçar ao Parlamento este derradeiro apelo à legalidade, que é nosso dever, do qual nada nos arredará, enquanto o direito postergado não receber a sua satisfação plena”.
Como vemos, a Monarquia ainda gozava de lealdade e prestígio e, na verdade, era bastante popular. O grande vilão da história era o Gabinete de Ministros, órgão que representava o poder Executivo durante o Império. O Brasil era uma monarquia constitucional, ou seja, o Imperador reinava, mas não governava de facto. Essa função cabia o Conselho de Ministros encabeçado por um presidente, que era nomeado pelo Imperador. O Gabinete, por sua vez, convocava as eleições legislativas, e então se formava o Parlamento. O Poder Legislativo era composto por duas câmaras, o Senado e a Câmara dos Deputados que se reuniam uma vez por ano em sessão extraordinária chamada Assembleia Geral Legislativa, ocasião em que o Imperador, em trajes majestáticos e rituais solenes, pronunciava a Fala do Trono. Tínhamos o que os historiadores chamam de “parlamentarismo às avessas”, por ocorrer aqui exatamente o contrário de outras monarquias parlamentaristas, onde primeiro o Parlamento é eleito, então se propõe um governo ao monarca que nomeia então um primeiro-ministro.
Mas apesar das manifestações de diversos políticos no Senado e na Câmara dos Deputados a favor dos militares, o governo não cedeu. Nesse ínterim, Benjamin Constant se dirigia praticamente todos os dias à casa de Deodoro, em consecutivas tentativas de convertê-lo de uma vez por todas ao ideal republicano. Mas o marechal se mostrava intransigente, e dizia que sua amizade e lealdade pelo Imperador, de quem era protegido, eram maiores do que qualquer argumento de Benjamin. Contudo, a tensão entre o governo e o Exército foi aumentando, e no dia 14 de novembro de 1889, o Major Solon Ribeiro espalhou um boato pela capital de que o Gabinete mandara prender Deodoro e Benjamin, por conspiração. Começa aí a jornada do 15 de Novembro.
Na madrugada daquele dia, Deodoro e Benjamin, à frente de tropas militares, se dirigiram ao quartel onde se encontrava em vigília o ministério liberal do Visconde de Ouro Preto, Afonso Celso de Assis Figueiredo. O pobre visconde repetia insistentemente as ordens do ataque contra os sublevados, mas gritava aos ventos. O Ministro da Guerra, Marechal-de-Campo Visconde de Aracaju, confessou que não tinha meios para reagir, enquanto que Floriano Peixoto, ajudante-general do Exército, bradou que não lutaria contra compatriotas brasileiros. Ouro Preto logo viu que não estava entre aliados, e só então foi constatar as prévias atitudes dúbias de Peixoto, e os conselhos dos supostos aliados militares de não se importar com os rumores de conspiração, dos quais o gabinete havia sido alertado diversas vezes pelo chefe de polícia. O presidente então enviou um telegrama ao Imperador, que se encontrava em Petrópolis, comunicando-lhe de sua demissão, e informando que Deodoro entrara triunfalmente no quartel, aclamado pelas tropas. Proclamou-se então a república? Na verdade não. Deodoro havia marchado até ali para derrubar o ministério, e foi isso que ele fez. Após Ouro Preto se entregar, o marechal pronunciou um discurso que não incluía nenhuma república e que, após exaltar o Exército, concluía:
“Quanto ao Imperador, tem minha dedicação, sou seu amigo, devo-lhe favores. Seus direitos serão respeitados e garantidos”.
Assim terminava o dia 15 de novembro, e até então os republicanos viram seu sonho ir por água abaixo. O próprio Benjamin parecia ter-se convencido de que não se podia impor uma forma de governo ao povo. Mas por pouco tempo.
O Imperador já estava no Rio de Janeiro, e nomeou um novo gabinete assim que chegou, como fizera inúmeras vezes durante seus quarenta e nove anos de reinado. O novo ministério seria encabeçado pelo Conselheiro José Antônio Saraiva, que recebeu a seguinte mensagem do palácio, enviada por Franklin Dória:
“Exmo. Amigo Sr. Conselheiro Saraiva – o Imperador e a princesa estimariam que V. Ex.ª viesse agora mesmo ao Paço da Cidade, no qual se espera compareça, daqui a pouco, General Deodoro, a fim de apresentar a S.M. a sua mensagem (...)”.
Tudo teria ocorrido normalmente, o Imperador voltaria a descansar e os detalhes da Questão Militar seriam acertados numa outra ocasião, se certo boato, dizendo que o Imperador nomeara como ministro Gaspar da Silveira Martins, um inimigo pessoal de Deodoro, não tivesse se espalhado pela cidade. Alguns acreditam que tal boato foi obra do espero Benjamin Constant. Deodoro também estava doente, e se encontrava de cama quando mandou chamar Benjamin e, bastante irritado, declarou: “Pois diga ao povo que a República está feita”. Logo, ao contrário do que muitos pensam, a república não se deu num quartel, com o povo gritando vivas ao novo regime, mas sim na cama de um marechal monarquista com o orgulho ferido por um mero boato.
Nas horas seguintes se reuniram homens que em breve seriam ministros, e começaram a pôr em prática o novo regime. Na tarde do dia seguinte, o mesmo boateiro Major Solon, em uniforme de gala e seguido por um piquete de cavalaria, foi ao Paço da Cidade entregar a D. Pedro II a mensagem do governo republicano provisório, que depunha e ordenava o exílio da dinastia (decidi por transcrever este documento em particular em sua grafia original):
“Senhor! — Os sentimentos democráticos da nação ha muito tempo preparados, mas despertados agora pela mais nobre reacção do caracter nacional contra o systema de violação, de corrupção, de subversão de todas as leis, exercido em um gráo incomparável pelo ministério 7 de Junho; a politica systematica de attentados do governo imperial n'estes últimos tempos, contra o exercito e a ar-mada, politica odiosa á nação^ e profundamente repellida por ella, o esbulho dos direitos d'essas duas classes que, em todas as épocas, têm sido entre nós a defesa da ordem, da constitução, da liberdade eda honra da pátria, a intenção manifes- tada nos actos dos vossos ministros e confessada na sua imprensa, de dissolvel-as e aniquilal-as, sub- stituindo-as por elementos de compressão official, que foram sempre entre nós objecto de horror para a democracia liberal, determinaram os acontecimentos de hontem, cujas circumstancias conheceis e cujo caracter decisivo certamente podereis avaliar. Em faced'esta situação, pesa-nos dizer-vol-o e não fazemos senão em cumprimento do mais custoso dos deveres, a presença da família imperial, no paiz, ante a nova situação que lhe creou a revo lução irrevogável do dia 15, seria absurda, impossível e provocadora de desgostos que a salvação publica nos impõe a necessidade de evitar. Obedecendo, pois, ás exigências do votonacional, com todo o respeito devido á dignidade das funcções publicas queacabaes de exercer, somos forçados á notificar-vos que o governo provisório espera do vosso patriotismo o sacrifício de deixardes o território brazileiro, com a vossa família, no mais breve termo possivel.
Para esse fim se vos estabelece o prazo máximo de 24 horas que contámos não tentareis exceder (...)”.
Assim, com um discurso leviano e claramente ressentido, Deodoro traía seu juramento, seu ideal, seu amigo. Assim findava sessenta e sete anos de monarquia constitucional, sem qualquer participação popular no levante, obrigando um monarca idoso e doente a abandonar o país de madrugada, e espalhando o boato de que a Família Imperial havia fugido e abandonado o país face ao perigo quando, na verdade, temia apoio do povo ao velho Dom Pedro, que era bastante popular. Um plebiscito foi prometido para os meses seguintes, mas só aconteceria realmente em 1993, dando à República cem anos para distorcer a história e, como sempre, enganar a população. Em 15 de novembro de 1889, através de um golpe mesquinho, nascia a República, que tirou estadistas e grandes políticos da vida pública, e deu seus lugares a homens inexperientes que, como o próprio Rui Barbosa diria, transformaram o que era uma escola de estadistas num mercado de corrupção. Tem início então era de maus políticos na história da Nação brasileira, que persiste até os dias de hoje.
 
OUTRA VERSÃO:
 

Proclamação da República


Deodoro da Fonseca: executor de uma mudança construída ao longo do tempo.

 
 
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O processo histórico em que se desenvolveu o fim do regime monárquico brasileiro e a ascensão da ordem republicana no Brasil perpassa por uma série de transformações em que visualizamos a chegada dos militares ao poder. De fato, a proposta de um regime republicano já vivia uma longa história manifestada em diferentes revoltas. Entre tantas tentativas de transformação, a Revolução Farroupilha (1835-1845) foi a última a levantar-se contra a monarquia.

Podemos destacar a importância do processo de industrialização e o crescimento da cafeicultura enquanto fatores de mudança sócio-econômica. As classes médias urbanas e os cafeicultores do Oeste paulista buscavam ampliar sua participação política através de uma nova forma de governo. Ao mesmo tempo, os militares que saíram vitoriosos da Guerra do Paraguai se aproximaram do pensamento positivista, defensor de um governo republicano centralizado.

Além dessa demanda por transformação política, devemos também destacar como a campanha abolicionista começou a divulgar uma forte propaganda contra o regime monárquico. Vários entusiastas da causa abolicionista relacionavam os entraves do desenvolvimento nacional às desigualdades de um tipo de relação de trabalho legitimado pelas mãos de Dom Pedro II. Dessa forma, o fim da monarquia era uma opção viável para muitos daqueles que combatiam a mão de obra escrava.

Até aqui podemos ver que os mais proeminentes intelectuais e mais importantes membros da elite agroexportadora nacional não mais apoiavam a monarquia. Essa perda de sustentação política pode ser ainda explicada com as consequências de duas leis que merecem destaque. Em 1850, a lei Eusébio de Queiroz proibiu a tráfico de escravos, encarecendo o uso desse tipo de força de trabalho. Naquele mesmo ano, a Lei de Terras preservava a economia nas mãos dos grandes proprietários de terra.

O conjunto dessas transformações ganhou maior força a partir de 1870. Naquele ano, os republicanos se organizaram em um partido e publicaram suas ideias no Manifesto Republicano. Naquela altura, os militares se mobilizaram contra os poderes amplos do imperador e, pouco depois, a Igreja se voltou contra a monarquia depois de ter suas medidas contra a presença de maçons na Igreja anuladas pelos poderes concedidos ao rei.

No ano de 1888, a abolição da escravidão promovida pelas mãos da princesa Isabel deu o último suspiro à Monarquia Brasileira. O latifúndio e a sociedade escravista que justificavam a presença de um imperador enérgico e autoritário, não faziam mais sentido às novas feições da sociedade brasileira do século XIX. Os clubes republicanos já se espalhavam em todo o país e naquela mesma época diversos boatos davam conta sobre a intenção de Dom Pedro II em reconfigurar os quadros da Guarda Nacional.

A ameaça de deposição e mudança dentro do exército serviu de motivação suficiente para que o Marechal Deodoro da Fonseca agrupasse as tropas do Rio de Janeiro e invadisse o Ministério da Guerra. Segundo alguns relatos, os militares pretendiam inicialmente exigir somente a mudança do Ministro da Guerra. No entanto, a ameaça militar foi suficiente para dissolver o gabinete imperial e proclamar a República.

O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao contrário do que aparentou, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação política e não contou com intensa participação popular. Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo, a proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de forma bestializada.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola