GIÁCOMO PALUMBO
Carlos Roberto de Miranda Gomes, do IHGRN
Um dos
documentos mais importantes da história da cidade de Natal é o Plano de
Sistematização, elaborado em 1929 pelo arquiteto Giácomo Palumbo.
Formado na
Academia de Belas Artes na França, nasceu na Grécia no dia 2 de fevereiro de
1891. Chegou ao Brasil em 1918, indo morar inicialmente em Recife. Lá construiu
várias edificações, entre elas a Ponte Duarte Coelho, considerada até hoje um
dos cartões postais da cidade. Posteriormente muda-se para a Paraíba, onde
também realiza várias obras durante o governo de João Pessoa.
Chegou a
Natal nos anos 20, procedente da Paraíba, e logo foi contratado pelo Intendente
Municipal (prefeito), Omar O’Grady, para realizar um plano de Sistematização da
Cidade, de acordo com a resolução n° 304, de 6 de abril de 1929. O contrato foi
assinado no dia 22 do mesmo mês. Na ocasião disse o Intendente O’Grady: “ era
este plano, no meu pensar, uma necessidade inadiável...”
Nesse mesmo
ano, o prefeito, que também era engenheiro Civil, formado nos Estados Unidos, preocupado
com o ordenamento da cidade, institui a Lei n° 4 que “dispõe sobre construções,
reconstruções, acréscimos e modificações de prédios”. Esta lei tornou-se o
primeiro instrumento legal a fazer o zoneamento da cidade.
Conhecido
apenas como Plano Palumbo, até os dias de hoje, são grandes os benefícios
embelazadores da nossa capital. Para se não falar dos aspectos de modernidade
inseridos no seu famoso planejamento arquitetônico. O seu principal objetivo
era criar uma cidade planejada, e com pensamento voltado para o futuro. Com um traçado
urbanístico moderno e eficaz, com forte influência Européia e Norte- americana,
definia e distribuía funções administrativas, comerciais e industriais. Nos
bairros residenciais, preocupou-se com o embelezamento, arborização e lazer de
ruas e avenidas. Os bairros eram ligados por largas avenidas com espaços
públicos destinados ao lazer. Tirol e Petrópolis foram os bairros que mais se
beneficiaram com o Plano, muito embora alguns historiadores defendam que esses
bairros foram criados a partir do bairro de Cidade Nova, como eram chamados os bairros
de Tirol e Petrópolis, criado pelo Plano Polidrelli em 1904, durante o governo
de Alberto Maranhão.
O arquiteto Palumbo projetou uma cidade para
100 mil habitantes, tendo atingido esse número já no ano de 1950, possivelmente
com o meu nascimento, ocorrido no dia 6 de dezembro daquele ano.
Entretanto,
a revolução de 1930 tirou do poder os idealizadores desse plano, o que impediu
a continuidade na sua completa implantação.
Até hoje,
apesar de buscas feitas por diversos pesquisadores, ainda não se tem notícia
dos originais dessa peça histórica. Em
1977, o Diário de Natal publicou uma matéria onde informava que os originais
foram criminosamente incinerados. Dizia à matéria que o então chefe do Arquivo
Geral da Prefeitura de Natal, Severino Césio Pereira Dantas, enviou no dia 7 de
fevereiro de 1972 ao então Secretário de Planejamento, Efren Lima, um memorando
onde solicitava autorização para incinerar documentos, ditos antigos. Fazia
parte dessa solicitação todos os documentos sob a guarda da Prefeitura, produzidos
entre os anos de 1898 a 1950, juntamente com o material (?) que se encontrava
“jogado” em um sótão, em cima do Mercado das Rocas, onde o chefe do arquivo dizia
encontrar-se em “estado não prestável”. Não se sabe se a esdrúxula solicitação
foi atendida. O fato é que existe grande possibilidade de o Plano Palumbo ter
sido incinerado juntamente com esses documentos, já que o mesmo datava de 1929,
por conseguinte condenado pelo servidor, a ser transformado em cinzas.
Portanto, já
vem de longe o desrespeito que administradores e a população em geral têm com
documentos antigos e com todas as formas de cultura em nosso Estado. Não custa
lembrar, que o povo que não se preocupa em preservar o seu passado, certamente
não terá um bom futuro.
Quanto ao
grande arquiteto Giácomo Palumbo, os administradores da cidade de Natal foram “bastante
generosos” e lhe prestaram uma grande e merecida homenagem. Para isso, puseram
seu nome em uma ruela localizada próximo ao cruzamento das ruas Presidente
Bandeira com a São José. No mapa, a tal ruela é tão pequena que não deu pra
escrever o nome. Com apenas algumas pequenas residências de um lado e do outro lado,
galpões onde funciona uma distribuidora. A ínfima ruela, não faz jus ao grande
arquiteto que teve reconhecida importância no traçado urbanístico de nossa
cidade.
Com o
advento da Copa do Mundo, nossa cidade, que figura entre as doze sedes onde ocorrerá
à disputa dos jogos, obrigatoriamente receberá várias obras importantes,
principalmente na área de mobilidade urbana. Fica aqui nossa humilde sugestão
para que as autoridades responsáveis corrijam essa imperdoável ingratidão, batizando
pelo menos uma dessas obras em sua homenagem, dignificando o nome daquele
histórico e grande profissional, além disso, trazendo à luz, a sua história de
valoroso arquiteto, para que seja conhecida por todos os natalenses inclusive, aqueles
que sabiamente adotaram a cidade de Natal para viver com suas famílias.
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Fotos: Ormuz Simonetti