12/09/2013

Uma noite na Praça Augusto Severo



Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


Ao lado da Praça Augusto Severo, arborizada e deserta àquela hora da noite, o relógio da estação de passageiros Great Western está em sua atividade constante. Na parede frontal do prédio, os ponteiros do relógio correm, marcando os minutos, e as horas avançam na noite.
O silêncio favorece a propagação de qualquer som, mesmo distante. Na tranquilidade da cidade adormecida, três badaladas atravessam a praça, em direção ao Teatro Carlos Gomes.
Naquelas horas noturnas, as lâmpadas sozinhas iluminavam as ruas com sua claridade tênue. As moitas das vegetações baixas produzem sombras que, às vezes, assustam os notívagos.
O relógio da estação é o vigilante do tempo, na sua tarefa solitária e constante, enquanto a maioria dos homens dormem, esperando por mais um dia em que o sol os despertará.
No centro da praça, a estátua de bronze de Augusto Severo. No lado oriental, o Teatro Carlos Gomes, o Grupo Escolar Augusto Severo e a Escola Doméstica de Natal.
Atrás dos trilhos luzidios, o Rio Potengi, que parece não ter pressa em sua jornada de encontro ao mar. As estrelas vagam no céu, enquanto o vento proveniente da Redinha se atreve a chegar até a praça e ruas próximas. No ar, o perfume da noite na Cidade Baixa é inebriante.
O silêncio é total – nenhum barulho de máquina ou de voz humana. Apenas o latido ocasional de um cão vadio quebra aquele silêncio. Vez por outra, os apitos estridentes dos guardas-noturnos se fazem ouvir.
Nem sinal do “Lobisomem” ou do “Batatão” que, segundo a tradição oral, corriam pela Ladeira da Cruz, assustando as pessoas nas quintas-feiras. De vez em quando, uma lufada mais forte de vento traz até Rodolfo o cheiro do mangue, ali próximo, depois da Rua Chile.
Em meio às árvores altas, o coreto permanece em silêncio, talvez, recordando a última retreta ali realizada pela Orquestra Militar. Os morcegos que fizeram das árvores a sua morada diurna começam a retornar.
De repente, uma algazarra chama atenção de Rodolfo. É um grupo de marinheiros barulhentos, que quebram o silêncio da praça, com seus gritos e prosas em voz alta. Provavelmente, dirigem-se ao Porto, no final da Rua Chile, onde um navio argentino se prepara para partir.
A lua, no alto, clareia as águas do rio que se tornam pratas. Rodolfo apressa-se, logo mais os vendedores ambulantes, leiteiros, entregadores de pão, jornaleiros, estarão nas ruas do centro comercial e portuário apregoando seus produtos. Então, senta-se no Tabuleiro da Baiana e pede uma cerveja “Teutonia” gelada, antes de voltar ao Grande Hotel. Tabuleiro da Baiana homônimo do ponto circular de bondes, que existiu no encontro da Rua Senador Dantas com o Largo da Carioca, no Rio de Janeiro.
Na época, a Praça Augusto Severo era o elo que ligava fisicamente os dois mais antigos bairros da Cidade, separados por uma “campina alagada”.



11/09/2013

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES: UMA INSTITUIÇÃO.

Odúlio Botelho Medeiros, OAB/RN, ALEJURN, IHGRN, ASPERN.

                           Meus amigos, e de Carlos Gomes, que neste dia 10 de setembro de 2013 está a completar 74 anos de idade, terei o prazer de relembrar uma homenagem que lhe foi prestada anteriormente.
                            “Mais uma vez Deus me contempla e premia por ter sido designado pelo Professor Joanilson de Paula Rêgo, Presidente da OAB/RN para saudar, neste dia 10 de agosto de 2005, no âmbito da programação comemorativa à Semana do Advogado, uma das figuras mais significativas deste Estado, o Dr. Carlos Roberto de Miranda Gomes.
                           Carlos é uma personalidade múltipla, consegue ser com muito gabarito, ao mesmo tempo, jurista de nomeada, professor universitário, advogado, pesquisador, historiador, escritor, conferencista e bom orador.
                           Homem público que, para minha glória e honra pessoal, é meu dileto e querido amigo desde os idos de 1950. Crescemos no após-guerra, advindos de uma geração sofrida, mas, sobretudo, dinâmica e esperançosa. Nesse quadro, nasceu Carlos Gomes em 1939, filho do Desembargador José Gomes da Costa e D. Lígia de Miranda Gomes, ambos de tradicionais famílias desta terra.
                           Com o passar do tempo, o homenageado tornou-se um menino-cantor de voz belíssima, clara, entoada como o cantar dos passarinhos. E fez escola: eu, que era apenas seu fã de carteirinha, passei a ser seu concorrente (no bom sentido) na difícil arte de cantar. Cantamos juntos com Edmilson Avelino, José Filho, Salete Dias, Maria Cerize (possivelmente a primeira namorada) Selma Rayol, Agnaldo e tantos outros, pois que a memória, às vezes, falha.
                           Lembro-me, também, Carlos, que o Dr. João Juvanklim nessa época, com os seus irmãos, demonstrava o grande músico que seria no futuro, a tocar bandolim, cavaquinho e violão. Estas reminiscências fazem-me visualizar tantos outros que já se foram, como Luiz Cordeiro, Genar Wanderley, Duca Nunes, Ferreira Filho, Chiquinha da Sanfona, Zico Borborema, Gil Barbosa, Jaime Queiroz, Gilberto Wanderley, para não citar todos. Parafraseando o cantor e compositor Roberto Carlos: “velhos tempos, belos dias”.
                           Entretanto, minhas senhoras, meus senhores, advogados, magistrados, promotores de justiça, professores, pessoas convidadas e familiares do Dr. Carlos Gomes, não estou aqui para falar coisas de antanho e, sim, para falar da carreira múltipla deste valioso colega que vem trilhando pelos caminhos da verdade, da decência, da honradez, da ética e do amor à profissão de advogado. Se Carlos Gomes é brilhante professor de Direito Tributário de nossa Universidade Federal, com diversos livros publicados sobre tão difícil ramo do Direito, foi como advogado que estabeleceu sua marca, sua patente. Dá exemplo de cultura e de conhecimentos aos novos e aos mais velhos advogados, mercê do domínio que tem das coisas da advocacia, como também por manejar o Direito com fórmulas simples e objetivas, sem alardes, sem culto à personalidade e sem soberba.
                           Não é à toa que em PROVÉRBIOS – 3:13, está consignado: “Feliz o homem que acha sabedoria e o homem que adquire conhecimento”. Parece, até, que este provérbio foi destinado ao advogado de 66 anos, que está na plenitude de sua eficiência, porque não lhes faltam os dotes do conhecimento e da sabedoria. Sabedoria no trato da profissão, com a coisa pública, com a família, ele que é exemplo de filho, marido, pai e avô.
                           Sou testemunha ocular da trajetória de uma vida útil à sociedade e ao seu tempo. Por ser parte integrante de um discurso, mesmo que dentro da informalidade deste, é bom discorrer um pouco sobre a produção do homenageado: Carlos Gomes foi menino cantor da Rádio Poti de Natal na década de 50; soldado e cabo do Exército Brasileiro, sendo lá condecorado com a Medalha de Bronze, por ter sido o Praça mais distinto entre os conscritos e incorporados ao 16º RI, em 1959; recebeu a Medalha do Mérito Universitário, como o Melhor Concluinte de 1968, do Curso de Ciências Jurídicas e Sociais da UFRN; advogado militante; auxiliar de enfermeiro do Desembargador José Gomes da Costa, seu pai; auditor do Tribunal de Contas do Estado por concurso público de provas e títulos, tendo obtido o 1º lugar; diretor de diversos cursos de Direito em Natal; professor universitário; presidente e auxiliar de serviços gerais da OAB/RN; Controlador Geral do Estado; Diretor da Escola do Tribunal de Contas do Estado, além de pesquisador emérito e historiador.
                           Atualmente debruça-se numa pesquisa de fôlego, que se transformará na “História da OAB/RN”, que está em fase de conclusão, quase no prelo, portanto. Sim, meus amigos: ia esquecendo. Carlos também é metido à prendas domésticas e sabe construir boas casas. Talvez esse detalhe não seja lá tão difícil, pois quem soube construir a família que tem, soube trilhar niveladamente pelos caminhos da vida, soube construir as amizades e a liderança que tem, o fazer casas passou a ser uma diversão trabalhosa e ao mesmo tempo – agradável.
                           Meus senhores, minhas senhoras, é dentro deste contexto que enxergo Carlos Gomes. Como sou parte integrante de uma sociedade politicamente organizada, acredito que todas as pessoas aqui presentes pensam da mesma forma, pois que:

‘os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; como, pois, poderá o homem entender o seu caminho?’ - Provérbios -  20:24.

                           Tenho me inspirado sempre, em momentos como estes, no magistral Ortega e Gasset, que prelecionou:

‘os indivíduos, à semelhança das gerações têm destino preestabelecido, do qual se não podem afastar, sob pena de censura da sociedade’

                           Com toda certeza, Carlos não se afastou do seu destino. Ao contrário: é força atuante e ativa no perpassar da sua vida; no conviver com o tempo presente, com a sua geração e com as futuras.
                           Rui Barbosa, ensina: “Três amores deixou Deus aos homens – o amor da pátria, o amor da liberdade e o amor da verdade” e explicava que dos três o maior deles é o amor da verdade. Porque, os outros dois – o amor da pátria e o da liberdade, são da terra e do tempo, passam. Mas, o amor da verdade, pertence ao céu, e vai à eternidade.”
                           Destarte, sabemos todos nós que Carlos Roberto de Miranda Gomes respeita esses três amores de que fala o “Águia de Háia” e, de tanto praticar a verdade, o seu nome permanecerá reconhecido.
                           Sobre Carlos Gomes já se manifestaram João Medeiros Filho, no seu livro Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte – fls. 111/2 e, mais recentemente, o Prof. Jurandyr Navarro em trabalho que será lançado brevemente em Natal “Rio Grande do Norte – Conferencistas”, além de tantos outros autores contemporâneos.
                           Jamais se torna enfadonho encerrar um discurso relembrando o saudoso tribuno potiguar Dr. Djalma Marinho, cujo pensamento se encaixa como uma luva a esta homenagem:
‘Vim testemunhar, nesta solenidade a vitória da minha geração. Ela não se frustrou como num barco que, singrando para uma grande viagem, desistisse à primeira tormenta e voltasse sem glória e sem rumo (...)’
                          
                                   Digo eu, vim testemunhar, na presença deste seleto e culto auditório, que Carlos Gomes é a vitória da classe dos advogados inscritos na Seccional do Rio Grande do Norte. Deus o proteja.”

                                   Amigo Carlos Gomes, complemento tudo o que foi dito acima, nesta oportunidade, para ratificar o que todos os seus amigos sentem de sua marcante personalidade. Basta que você olhe para cada uma das pessoas aqui presentes, para que possa sentir o brilho da felicidade que resplandece do olhar de cada um. O povo na sua sacrossanta sabedoria nos ensina: “o coração alegre, embeleza o rosto (...)” E vamos sair desta festa mais bonitos e mais alegres, porque os nossos olhos estão mais cintilantes. Como falo em nome dos seus amigos, ouso invocar a grande Cecília Meireles, com a seguinte manifestação:


         ‘Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam; mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre. “
Equipe da Secretário de Estado da Tributação do Rio Grande do Norte, sob o comando do Secretário José Airton da Silva, visita o IHGRN

EM 09-09-2013, REALIZADA REUNIÃO DA DIRETORIA DO IHG/RN, COM A PRESENÇA DOS RESPECTIVOS SÓCIOS E DO DR. JOSÉ AIRTON E SUA EQUIPE, SECRETÁRIO DE TRIBUTAÇÃO DO RN, OCASIÃO EM QUE O IHG/RN, CADASTROU-DE NO PROGRAMA CIDADÃO NOTA DEZ.
TAMBÉM CELEBRADO E PUBLICADO ENTRE A PREFEITURA DE NATAL E O IHG/RN A DESTINAÇÃO DE UMA VERBA ANUAL, PARA AS NECESSIDADES PRIORITÁRIAS DO INSTITUTO. 

 Anexo fotos visita da SET:








Escritores potiguares participam de Encontro de Poetas na Espanha


Universidade de Salamanca sediará 16ª edição do eventoUniversidade de Salamanca sediará 16ª edição do evento
A literatura potiguar ultrapassa as fronteiras do Brasil e ganha o mundo. Nos próximos dias 2 e 3 de outubro, os escritores Paulo de Tarso Correia e Rizolete Fernandes estarão representando o Rio Grande do Norte no XVI Encontro de Poetas Iberoamericanos, evento realizado na Espanha e coordenado pelo professor da Universidade de Salamanca, Alfredo Perez Alencart.
Nessa edição, o Encontro reunirá 50 poetas de 12 países, entre eles México, Portugal, Chile, Colômbia, Nicarágua e Honduras. Além de Paulo de Tarso e Rizolete Fernandes, representam o Brasil no evento os escritores Cyro de Mattos, da Bahia, e Álvaro Alves de Faria, São Paulo.
“Esse é o terceiro ano que participo do Encontro, que é sempre muito agradável e oportuno para manter contato com novas ideais, autores. É uma experiência incrível, em que você faz amizades e expõe o seu trabalho para autores de diversos países”, afirma Paulo de Tarso Correia.
Em sua 16ª edição, o Encontro destaca um dos maiores nomes da poesia espanhola Fray Luis de León, que será homenageado em antologia publicada durante o evento, com poemas escritos por autores convidados, entre eles Paulo de Tarso e Rizolete Fernandes. “Minha poesia intitula-se ‘Posteridade’. A antologia será publicada em 50 línguas. Essa é uma oportunidade ímpar para a cultura do nosso Estado, que ultrapassa as fronteiras”, diz Rizolete Fernandes, escritora natural de Caraúbas.
Além de poemas desenvolvidos em homenagem a Fray Luis de León, os autores potiguares também lançarão obras na Espanha. Paulo de Tarso apresenta seu mais recente título, “Diário de Natal”, conjunto de poemas escritos a partir do periódico que lhe dá o nome, recordando pessoas, visitantes, personalidades, artistas e lugares perdidos, como: cinema, restaurante, bares, entre outros.
Já Rizolete Fernandes lança, em formato bilíngue (português e espanhol) “Vento da Tarde”, o quinto livro de sua carreira literária, iniciada, como a própria costuma afirmar, tardiamente. “Meu primeiro livro, que retrata a história do movimento feminista no RN, foi lançado em 2004. Gosto de escrever sobre a natureza, também sobre a dor e o sofrimento do ser humano, sem pressa. ‘Vento da Tarde’ foi adiantado justamente para ser lançado também em Salamanca. Com esse intercâmbio a nossa obra passa a ser conhecida por outros nomes da poesia, isso é muito gratificante”, relata.
A presença dos poetas potiguares no XVI Encontro de Poetas Iberoamericanos foi intermediado pela editora mossoroense Sarau das Letras, ao qual Paulo de Tarso e Rizolete confiam seus trabalhos. "O convite para participar do evento surgiu a partir da Sarau das Letras, que estabeleceu esse contato com a Espanha, e apresentou meus textos ao organizador do Encontro", lembra Paulo de Tarso, tendo seu pensamento complementado por Rizolete Fernandes. "Através da Sarau das Letras surgiu essa oportunidade, sendo que foi o próprio Alfredo Perez, de Salamanca, que traduziu meu livro".
Para David de Medeiros Leite, diretor da Sarau das Letras, a troca de experiências proporcionada com o Encontro é enriquecedora. "Já participei, como espectador, do evento em Salamanca, e posso afirmar o quão importante ele é para a nossa formação enquanto escritor. Para a Sarau das Letras é um orgulho poder fazer parte desse processo", diz.
David explica que durante a programação do Encontro, cada autor convidado recitará seus poemas em português, traduzidos na sequência por um escritor espanhol. "Haverá ainda apresentação do autor, destacando a sua trajetória literária", conclui.


10/09/2013

A mãe e duas irmãs do padre Manoel de Arruda Câmara

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
 
A genealogia do polêmico capitão-mor de Pombal, Francisco de Arruda Câmara, ainda tem muitas lacunas e dúvidas. Era filho de Francisco de Arruda Câmara e de Clara Mendonça de Vasconcelos (ou Clara Espínola de Mendonça).

Fábio Arruda, lá das Alagoas, que descende de Vicência, irmã do capitão-mor, me enviou documentos inéditos sobre batismos de netos do capitão-mor e do óbito da esposa dele, Maria Saraiva da Silva.

Raquel foi batizada aos vinte e dois de janeiro de mil setecentos e noventa e dois, na capela de Santa Rita do Engenho Jardim, com vinte e dois anos de nascida. Era filha do Alferes Ignácio José Loyola e Dona Emerenciana de Arruda Câmara, neta paterna do tenente Feliciano Pereira de Lyra e Margarida Gomes da Anunciação, e materna do capitão-mor Francisco de Arruda Câmara e Maria Saraiva de Araújo. Foram padrinhos o capitão-mor Francisco de Arruda Câmara e Dona Margarida Gomes da Anunciação.

Amaro foi batizado aos vinte e quatro dias do mês de setembro de mil setecentos e noventa e três, na capela de Santa Rita do Engenho Jardim, com um mês e meio de nascido. Era filho do comandante Domingos de Abreu e Vasconcelos e Dona Maturniana (parece ser este o nome, no registro) de Arruda Câmara, moradores no Engenho Jardim, neto paterno do capitão João Dias da Silva Coutinho e Dona Maria José dos Prazeres, e materno do capitão-mor Francisco de Arruda Câmara e Maria Saraiva da Silva. Foram padrinhos, por procuração, o mestre de campo Amaro Gomes Coutinho e Dona Maria José dos Prazeres.

Como é comum nos registros da Igreja, houve variação no sobrenome de Dona Maria Saraiva da Silva. Com esses dois registros, acima, os nomes dos filhos do capitão-mor e de sua esposa, até agora reconhecidos documentalmente, são Dr. Francisco de Arruda Câmara, Padre Dr. Manoel de Arruda Câmara (botânico famoso), Maturniana de Arruda Câmara e Emerenciana de Arruda Câmara.

No Roteiro dos Azevedo e outras famílias do Nordeste, Sebastião de Azevedo Bastos cita, como uma das filhas do Capitão-mor Francisco de Arruda Câmara, a esposa de Antonio Ferreira de Macedo, D. Ana de Arruda Câmara. Diz mais, que filhos desse casal, netos, portanto, de Francisco de Arruda Câmara e Maria Saraiva da Silva são Antonio Ferreira de Macedo, Vicente Ferreira de Macedo e Estevão Jose da Rocha (Barão de Araruna). Segundo Ormuz Barbalho, baseado em outros autores e em pesquisa própria, é filho, também, de Antonio e Anna, José Ferreira da Rocha Camporra.

Vejamos agora o óbito de Dona Maria Saraiva. Nesse documento consta que: aos dois dias do mês de setembro de mil setecentos e oitenta e quatro, faleceu na vida presente, sem sacramentos, por não dar tempo a enfermidade e a distância, em idade de trinta e oito anos, pouco mais ou menos Dona Maria Saraiva da Silva, mulher do capitão-mor Francisco de Arruda Câmara e, foi sepultada nesta Paróquia, Igreja de Nossa Senhora  do Bom Sucesso, do arco para dentro, solenemente, com ofício de corpo presente, acompanhada de todos os sacerdotes, encomendada por mim, que fiz este assento, que o escrevi, Francisco Xavier de Viveiros – Cúria de Pombal.

Wilson Seixas Nóbrega, no seu livro Velho Arraial das Piranhas, Pombal, expõe outros documentos sobre o padre Manoel de Arruda Câmara. No testamento do padre Antonio Saraiva da Silva, em 1754, ele deixou parte dos seus bens, incluindo metade da fazenda São João do Apodi, para sua sobrinha Maria Saraiva. Por esse documento e outros, Wilson conclui que nessa data, Dona Maria Saraiva ainda era solteira.

Outro documento, citado por Wilson, é um traslado de procuração, no qual Dr. Manoel de Arruda Câmara informa que o sítio de terras, denominado São João, na Ribeira das várzeas do Apodi, foi do seu avô, coronel Ignácio Saraiva de Araújo. Este último e o padre Antonio Saraiva da Silva eram irmãos de João Ferreira da Silva, primeiro sogro do capitão Manoel Varella Barca.

Na busca por detalhes sobre Anna de Arruda Câmara, temos pesquisado sobre seus descendentes.

De um registro encontrado por Isabel Pinto, extraímos que: aos 2 de fevereiro de mil oitocentos e quarenta e um, na casa de Estevão José da Rocha (futuro Barão de Araruna), e na presença das testemunhas major José Joaquim das Neves e o tenente-coronel Leonardo Bezerra Cavalcanti, casaram, dispensados no segundo grau de consanguinidade, Antonio Cândido Tamaturgo de Farias, filho de João Ferreira de Farias e de Ana Joaquina da Conceição, e Maria Madalena de Jesus, filha do capitão Estevão José da Rocha e de Maria Madalena das Dores, ambos naturais da freguesia de Bananeiras.

Já expomos aqui, em outro artigo, casamentos de filhos de Vicente Ferreira de Macedo e Antonio Ferreira de Macedo. Ainda, nos registros da Freguesia de Santa Cruz, encontramos dois casamentos de filhos de José Ferreira da Rocha Camporra e Anna Joaquina de Mello: em 1870, na Fazenda da Volta, Antonio Ferreira da Rocha casou com Thereza Avelina de Faria, filha de Francisco de Faria Costa e Anna Joaquina do Espírito Santo; e, em 1873, na Fazenda São Bento, Firmino Florentino da Rocha casou com Umbelina Hermelina de Faria, filha do finado(1870) José Ferreira de Faria e Balbina Francelina (Filonila) de Faria.

Observamos que na descendência de Antonio Ferreira de Macedo e Anna Arruda Câmara não encontramos ninguém, até agora, com o sobrenome Arruda Câmara.

Se você tiver documentos ou informações sobre velhas famílias, do Rio Grande do Norte, mande para o e-mail acima. 

As sessões de cinema mudo do tio Aldo 

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br 

Em meados da década de 1960, nas noites de quartas-feiras, logo após o jantar, na companhia do meu avô materno costumava ir à casa do seu irmão, meu tio Aldo Medeiros, para assistirmos filmes, que ele tinha prazer em projetar na tela pintada no muro do jardim da casa da Rua Açu. Claro que para isso a primeira condição era ser uma noite não chuvosa.
Após uma conversa rápida, os adultos se dirigiam a lugares previamente estabelecidos, sentando-se com cuidado para que ninguém tivesse a visão obstruída e pudesse perder alguma das imagens a serem projetadas.
Eram tomadas as devidas providências, como por exemplo: apagar as luzes do terraço e sala, para evitar que a luz viesse contaminar as imagens. Após isso, a sessão se iniciava e um mundo de luz e esplendor inundava os meus olhos infantis. Normalmente, eu era a única criança presente, em meio aos espectadores casais.
Todos assistiam em silêncio, interrompido vez ou outra por um esclarecimento de tio Aldo ou tia Mili, que tinham como fundo sonoro o zumbido do projetor de cinema.
Lembro-me claramente do projetor alemão 8 mm e seu ruído insistente na sala, instalado sobre uma mesa de madeira escura, onde na parte inferior ficavam os carretéis dos filmes a serem exibidos no dia.
Um mundo novo e iluminado surgia aos meus olhos. Às vezes, as películas em preto e branco registravam o casamento de algum membro da família, ou um acontecimento importante. Porém, na maioria das vezes eram projetadas imagens de viagens de tio Aldo e tia Mili pela Europa: as ruas de Londres, a Torre Eiffel, as ruas de Zurique, as estações de trem da França...
Tio Aldo tinha prazer de mostrar à família e aos amigos tudo que conhecera em suas viagens no Exterior. As projeções eram acompanhadas de seus comentários e explicações.
Contudo, os filmes preferidos por todos eram os de Charlie Chaplin “Carlitos” (O Garoto; O Circo; Tempos Modernos; O Grande Ditador; Luzes da Cidade, etc), com quem tio Aldo se correspondia e tivera oportunidade de conhecer pessoalmente em uma de suas viagens à Suíça.
Vez por outra, as exclamações diante das cenas, risadas ou algum comentário vindo das pessoas que ali se encontravam. Às vezes, a projeção era interrompida para que o projetor esfriasse ou, em raras ocasiões, quando a película de celuloide quebrava por alguma razão.
Às 20:30 horas, após um breve intervalo para um lanche e cafezinho servido por Silvina, a sessão reiniciava. Eram instantâneos de outros Países que contemplávamos em silêncio: ruas e edifícios, praças, automóveis e pessoas desconhecidas em gestos apressados. Como os filmes eram mudos (alguns eram legendados), apenas se ouvia o ruído do projetor que ficava às nossas costas.
Porém, à medida que as fitas iam se sucedendo, o sono ia chegando para mim. Nessa hora, eu procurava o enorme sofá da sala de visitas, e logo via nos sonhos os fragmentos de imagens que, até pouco tempo, estava assistindo na tela.

Às 21:30 horas, meus sonhos eram interrompidos – estava na hora de voltarmos para casa.