07/08/2013

A luta de Valério e o destino do Instituto Histórico

 
                Por Sílvio Caldas
 
        O escritor Valério Mesquita enfrenta uma luta quixotesca, tentando salvar o patrimônio do nosso Instituto Histórico e Geográfico.
        Assumiu a presidência da instituição consciente dos problemas que teria que enfrentar. Só não imaginou a magnitude dos percalços que teria que enfrentar.
        A diretoria por ele liderada conta com intelectuais da maior competência e boa vontade. Contudo, como dizia a velha piada jurídica, “sem verba o verbo não sai”.
        Realisticamente falando, fica muito difícil, num Estado falido como o nosso, contar com verbas públicas. Afinal, a crise da segurança pública, da educação e da saúde falam por si sós. A essa altura, pensar que os governantes vão se preocupar com a biblioteca e o próprio edifício do IHG é pura quimera.
        Valério está apelando até para os amigos mais próximos e os admiradores em geral da cultura norte-riograndense. Um verdadeiro sacerdócio, já que num estado de coisas que estamos vivendo as preocupações tomam outros rumos.
        Resta apelar para que a dedicação de Valério venha a ser reconhecida imediatamente, antes que o destino de tão importante instituição cultural não sucumba. O que, aliás, falta pouco.
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 Comentário:
Meu caro Odúlio,
Está na hora de se organizar uma mobilização popular , juntando gregos e goianos , capaz  de fazer chegar novos ânimos – financeiro, político e de cidadania – aos dirigentes e aos que se importam, efetivamente, com os temas da Cultura, da  Memória Histórica, enfim, do processo civilizatório.
Não contaria com a sensibilização dos nossos governantes, estado e municípios,  todos voltados para os seus problemas. Mas acredito que ao verem a mobilização das pessoas eles ajudarão. Com certeza. A causa é nobre e justa. O Valério Mesquita e a  sua diretoria me parece um grupo muito sério. Pode contar comigo no que puder, mesmo de longe, ajudar.
Fraterno abraço,
Geniberto (Campos)
 

 

GILENO GUANABARA

O S  J A N D A I A S                              
Natal das serenatas e das mocinhas casadoiras permaneceu assim por dezenas de anos, uma cidadela inocente e pueril. O fausto da boemia se impregnava na juventude a qual, mal superando a adolescência, exercitava patéticas noções de bem viver a boa vadiagem. Mas cedo teria de enfrentar a realidade da vida.
Sob o pretexto de que “periquito come...a jandaia leva a fama”, sem data de fundação, pouco se sabe de Os Jandaias, já que não era um partido, nem um clube, não tinha sede, não tinha ata, nem estatuto. Havia princípios respeitados: “Ver, ouvir e calar”. Daí a solidariedade que reinava entre os sócios, todos jovens. A ação misteriosa facilitava o anonimato de suas traquinagens.
Promoviam encontros e desencontros, festas, saraus, bailes, piqueniques à sombra de juazeiros frondosos, em sítios afastados, longe da indiscrição e da maledicência dos intrusos. No relato de Gothardo Netto, nada poderia ofuscar a alegria de Francisco Herculano a cantar: “Caso de amor tão fingido, eu já fiz,/ hoje não faço; / eu por ti já dei a vida,/ hoje não dou um passo.”. Ou o boêmio a estancar os idílios, com o gorjeio de despedida: “Apenas neste silêncio, ouço gemer uma fonte/ que vem descendo do monte com sonoro trepidar.../Adeus, ò virgem, que o bardo não quer teu sono turbar.”
Lourival Açucena, desde que provocado, fustigava com a sua troça: “Em terra escabrosa, de brenhas escuras, por entre fraguras nasceu linda flor... Ao vê-la senti no meu triste peito o mágico efeito que produz Amor!”. Ao fim choramingava: “Minha gentil Porangaba, imagem, visão querida, só teu amor me conforta nos agros transes da vida.”. Ficou conhecido como “o poeta da Porangaba”.
Aos tragos do “Madeira” espumante, ou do vinho “Málaga” valoroso, o “chambary” ao gole da “Paraty”, liberavam-se as libações: “Nesta pandega animada em que estamos, vamos alegres cantar, pois quem não canta e não dança não sabe a vida alegrar: não haja tristeza ! não haja tristeza ! vamos pandegar.”
Não obstante serem empertigados menestréis das trovas e das modinhas, havia também carícias plenas no furtivo balanço das redes. Palavras adocicadas, como “bom-bons”, e o oba-oba durante os carnavais. As colombinas e os pierrots entoavam as marchinhas, na picardia dos foliões: “Catuco, meu bem”; “Sabão sabiá”; “Caritó”; e outras tantas marchinhas que foram sucessos do ano de 1924.
O hino oficial de Os Jandaias, a marchinha “Pedra da Saudade”, foi da autoria do poeta Tabira, cujo codinome era “Gato Mourisco”. A letra composta por João Estevam (“Morfina”) dizia assim: “Os Jandaias, meus senhores,/Também prestam neste dia,/Homenagens e louvores/Ao reinado da Folia./Nesta doida alacridada/Tudo nos faz esquecer,/Não à Pedra da Saudade/Que um dia nos viu nascer.”.
Emidio Fagundes (“Barão da Vila Flor”) foi o presidente de Honra de Os Jandaias e João Estevam foi o Secretário Perpétuo. A iniciação dos sócios com os aparatos se dava com a adoção do apelido de guerra: “Doce Esperança” (Antônio Braga); “Cavalo do Cão” (João Vasconcelos); “Jeque” (Evaristo); “Zero” (Diolindo Lima); “Pantaleão Bodoque” (Gothardo Netto); “H. Pachola” (Ponciano Barbosa); “Zé d’Esperança” (Ivo Filho); “Felix Fidelis” (Jorge Fernandes); “Z. Balos” (Virgílio Trindade); e “Dr. Patife” (Josué Silva).
 A “J. Vadio” (ou “Morfina”), que era João Estevam, competia musicar os apelidos. Referiu-se a Evaristo com a quadra musicada: “A cor, não!/ Ninguém consegue decifrar com precisão,/ Do velho fraque de “Jeque”,/ Que esteve na Exposição”. Dizia do conjunto fraque preto e calça listrada, que Evaristo não cansava de usar, inclusive, na visita à Exposição da Independência, no Rio de Janeiro.
A marcha “Vestido Azul”, com música do seresteiro Olímpio Batista (“Dr. Caruco”) e versos de “Morfina”, representava o enigma simbólico “passos perdidos”, na misteriosa cavilação que nem o melhor dos dançarinos, Bulhões (“Casaca de Couro”) conseguiu desvendar. A letra de “Vestido Azul” dizia: “Vamos, portanto divertir com animação/ Nesta função/Vamos folgar,/Vamos sorrir,/Vamos dançar,/Vamos viver assim, Vestido Azul,/ para os Jandáias, não tem fim.”.
Assim transcorria a vida boemia e generosa de gerações saudáveis que, até com certa indiferença, atravessaram os horrores da Segunda Guerra Mundial. Sem perder a alegria de viver, cada um, a seu modo romântico peculiar, tornou pitoresca a graça de ser jovem e ternamente enamorado. Foi assim na cidade do Natal.

06/08/2013

O IHGRN TRABALHA



  • HOJE, 05-08-2013, NO PRÉDIO ANEXO DO IHG/RN, REUNIÃO DA DIRETORIA DA REFERIDA INSTITUIÇÃO, COM EXTENSA PAUTA, MAS, BASTANTE PRODUTIVA.

    O PRESIDENTE VALÉRIO MESQUITA NÃO POUCA ESFORÇOS PARA DAR AO INSTITUTO, A SUA MELHORIA EM TODOS OS SETORES, PARA ISSO NÃO LHE FALTAM OS CABEDAIS DA INTELIGÊNCIA E DO CORAÇÃO, PELA MAIS ANTIGA CASA DE MEMÓRIA E CULTURA DO RN.

    REUNIÃO COM EXCELENTES RESULTADOS.

    NOS INFORMES: SOLENIDADE DA AFLAM/MOSSORÓ, DA ALEJUR/PB, DO IHG/MA, CAERN/ ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RN, ENTRE OUTROS ASSUNTOS DO INTERESSE DO IHG/RN.
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04/08/2013

Vale do Ceará Mirim e Taipu


A família Praxedes 

A família Praxedes do Vale do Ceará Mirim e Taipu

Gustavo de Castro Praxedes*

A família Praxedes do Vale do Ceará Mirim e Taipu é a mesma que povoou a região Oeste do Rio Grande do Norte em meados do século XIX e teve como tronco genealógico o Tenente Coronel Vicente Praxedes Benevides Pimenta e suas duas esposas, dona Herculana Josefa do Amor Divino e dona Antônia Mafalda de Oliveira. Destes abençoados casamentos, o “Adão da família Praxedes”, foi pai de 22 filhos, todos batizados com o seu sobrenome e continuadores de sua estirpe.
Dentre os muitos filhos que teve, no ano de 1835 nasceu Francisco Praxedes Benevides Pimenta, que como o pai, foi Tenente Coronel da Guarda Nacional, senhor de terras, gado e escravos. Francisco, em plena jovialidade, faleceu em 1872 com apenas 37 anos, deixando viúva, sua esposa Raimunda Cândida do Rego Leite Praxedes e seis filhos com idades que variava entre dois e onze anos.
Conta a tradição oral que na seca de 1877, Raimunda migrou da Serra do Martins para o Vale do Ceará Mirim onde se estabeleceu com seus seis filhos. Ao sair de sua cidade, levava consigo um contingente de 100 bestas.
Porém, chegando ao Vale, restava apenas a que vinha montada, pois o restante havia morrido de fome pelo caminho. Os menores, Maria Praxedes, João Praxedes, Herculana Praxedes, Cândida Praxedes e dois Franciscos, cresceram e constituíram família pelo verde Vale, principalmente na localidade de Coqueiros, reduto de muitos Praxedes nascidos e por nascer.
Maria, a mais velha, nasceu em 1860, casou com João Ferreira Nobre e foram avós do Dr. Waldir Calvalcanti, médico em Recife e empresário em Garanhuns; João, nasceu em 1861, casou com Petronila Rodrigues Santiago; Herculana, nasceu em 1862, casou com Vicente Felizardo; Francisco, o primeiro com este nome, em 1864, foi casado com Joana Ferreira Nobre; Cândida, em 1865, casou com Manoel de Melo Pinto e o segundo Francisco, nascido em 1869, não tendo-se conhecimento do seu casamento ou se deixou descendentes.
O segundo filho de Francisco Praxedes e dona Raimunda Cândida recebeu na pia batismal o nome de João Praxedes do Amaral Lisboa. João, Barbeiro de profissão, nasceu em Martins, região Serrana do Estado e casou, como já foi dito, com Petronila Rodrigues Santiago. Deste casamento nasceu Otávio Praxedes do Amaral Lisboa, origem da família Praxedes do Taipu. É bom destacar que Dona Petronila, era filha de Jerônimo Ferreira Santiago e Felipa Rodrigues da Silveira; tetra neta de Gonçalo Soares Raposo da Câmara, conhecido por “Gonçalo Morgado”, membro do Senado de Natal em 1801 e de dona Ana Maria do Nascimento; Por sua vez era sétima neta de Manoel Raposo da Câmara, fidalgo português, Morgado da Ilha de São Miguel dos Açores, Portugal e de sua esposa dona Antonia da Sylva, tronco de uma das mais tradicionais famílias do Vale do Ceará Mirim nos séculos XVII, XVIII e XIX.
Os Praxedes de Taipu Otávio Praxedes do Amaral Lisboa, bisneto de Vicente, filho único, nasceu em Ceará Mirim aos 04 de maio de 1901 e faleceu na capital pernambucana aos 10 de janeiro de 1983 com quase 82 anos de idade. No final da década de 1910, deixou Ceará Mirim e foi residir com o seu tio materno Manoel Rodrigues Santiago, “Ué”, no povoado da Boa Vista, Município de Taipu. Posteriormente, passou a residir na sede do município, onde foi tomar conta do comércio de secos e molhados do tio. Com a ajuda do “Tio Ué”, montou seu próprio negócio. Com o passar do tempo a mercearia de “Seu Otávio”, tornou-se referência na região e ele um negociante de prestígio na Vila do Taipu.
Na década de 40 e 50, chegou a ser um dos maiores fornecedores de secos e molhados do Mato Grande, bem como produtor rural. Para se ter idéia do prestígio que possuía, basta dizer que a marca do ferro usada em seu gado, era conhecida por todos e em todas as feiras da região, pois ao invés de ter o sinal “VT”, Vila Taipu, possuía um “U” em homenagem a sua fazenda de criação, Ubiratã. Cada filho possuía seu próprio ferro, João Praxedes era JP e cada neto um número, que junto com a marca do pai, identificava a quem
pertencia o novilho. Por indicação do seu primo, Senador João Severiano da Câmara, foi empossado como Intendente da Vila do Taipu no ano de 1932, tendo durado sua administração menos de um ano. De estatura baixa, magro e de personalidade forte, era homem de idéias avançadas para sua época. Na década de 40, adquiriu o primeiro rádio do município movido à energia eólica e o primeiro caminhão Mercedes Bens do Rio Grande do Norte, assim como, o primeiro trator colheitadeira. Na década de 1970, tornou-se o maior produtor de cana-de-açúcar individualmente do Vale do Ceará Mirim. Em termos de produção, a fazenda Barra de Levada batia recordes, só perdia para Usina São Francisco, dona da maioria das terras da região.
No distante ano de 1926 casou com a jovem Maria das Dores Soares, filha de João Soares de Silva e Izabel de Vasconcelos Soares. Ao longo de 57 anos de casados, Otávio e Maria das Dores foram pais de 12 filhos, sendo o primeiro João Praxedes do Amaral, que reproduzia o nome do avô paterno, pai do autor deste trabalho, casado com dona Susanira de Castro; Otávio Praxedes do Amaral Filho, casado com a cearense Terezinha Nogueira Fernandes; Maria de Lourdes Praxedes, casada com Manoel Dantas Barreto, cujas origens, são as mesmas dos Praxedes; Fernando Praxedes do Amaral casado com Francisca Dantas; Alba Praxedes, casada com Severino Guedes; Armando Praxedes, falecido criança; Renato Praxedes do Amaral Lisboa, casado com sua prima Helione Rodrigues Santiago; Ivone Praxedes, falecida criança; Cristovam Praxedes, 1º com este nome, faleceu criança; Cristovam Praxedes, 2º com este nome, Desembargador, Secretário de Segurança no Governo Iberé Ferreira de Souza, casado com a mineira Adélia Izabel da Cunha; Gilberto Praxedes, agropecuarista no Ceará Mirim, casado com Marluce Ramalho e Djalma Praxedes, o mais novo, panificador, casado com Alzira Amorim de Carvalho, descendente dos Amorins de Martins e que são da mesma estirpe dos Praxedes de Caraúbas.
Otávio e Maria representaram o exemplo de união familiar. Ao longo de suas vidas, muitos foram os momentos de fortalecimento desta união. Durante anos, era quase que sagrado, sempre no dia dos pais, mães, aniversários e até mesmo no domingo para a ferra do gado, a família estar reunida. Cada encontro servia para que filhos e netos reavivassem esse ELO que por muitos séculos chamamos FAMÍLIA.

02/08/2013



sexta-feira, 2 de agosto de 2013


"PATRONOS ESCOLARES", QUE FOI LANÇADO EM FEVEREIRO DE 2013, SERÁ LANÇADO NO FESTIVAL GASTRONÔMICO DE SERRA DE MARTINS, PELO INSTITUTO ZULMIRINHA VERAS E UBE/RN, DIA 03-08-2013, ÀS 19 HORAS, NA PRAÇA ALMINO AFONSO DA REFERIDA CIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE.


GEORGE VERAS - AUTOR DA OBRA
É Diretor Financeiro do IHGRN.

PATRONOS DE GRUPOS ESCOLARES

 01. ALBERTO MARANHÃO – Grupo Escolar de Nova Cruz 02. ALBERTO TORRES – Grupo Escolar de Petrópolis/Natal 03. ALMINO AFONSO – Grupo Escolar de Martins 04. AMARO CAVALCANTI – Grupo Escolar de São Tomé 05. ANTONIO CARLOS – Grupo Escolar de Caraúbas 06. AUGUSTO SEVERO – Grupo Escolar de Natal 07. AUTA DE SOUSA – Grupo Escolar de Macaíba 08. BARÃO DE CEARÁ-MIRIM – Grupo Escolar Ceará-Mirim 09. BARÃO DE MIPIBU – Grupo Escolar São José de Mipibu 10. CAPITÃO JOSÉ DA PENHA – Grupo Escolar de João Câmara 11. CAPITÃO-MOR GALVÃO – Grupo Escolar de Currais Novos 12. CLODOMIR CHAVES – Grupo Escolar de Almino Afonso 13. CÔNEGO ESTEVÃO DANTAS – Grupo Escolar de Mossoró 14. CONSELHEIRO BRITO GUERRA – Grupo Escolar de Areia Branca 15. CORONEL ANTONIO LAGO – Grupo Escolar de Touros 16. CORONEL FERNANDES – Grupo Escolar Luís Gomes 17. CORONEL SILVINO BEZERRA – Grupo Escolar de Florânia 18. DEMÉTRIO LEMOS – Grupo Escolar de Antônio Martins 19. DR. MANOEL DANTAS – Grupo Escolar de Santo Antonio 20. FERREIRA PINTO – Grupo Escolar de Apodi 21. FREI MIGUELINHO – Grupo Escolar de Natal 22. JERÔNIMO ROSADO – Grupo Escolar de Governador Dix-sept Rosado 23. JOÃO BERNARDINO – Grupo Escolar de Alexandria 24. JOÃO GODEIRO – Grupo Escolar de Patu 25. JOAQUIM CORREIA – Grupo Escolar de Pau dos Ferros 26. JOSÉ MARCELINO – Grupo Escolar de Marcelino Vieira 27. JOSÉ RUFINO – Grupo Escolar de Angicos 28. LUIZ GONZAGA – Grupo Escolar de Pendência 29. MARGARIDA DE FREITAS – Grupo Escolar de Portalegre 30. MASCARENHAS HOMEM – Grupo Escolar de Lagoa Seca/ Natal 31. MEIRA E SÁ – Grupo Escolar de Santana de Matos 32. MOREIRA BRANDÃO – Grupo Escolar de Goianinha 33. MOREIRA DIAS – Grupo Escolar do Bairro Doze Anos/Mossoró 34. NÍSIA FLORESTA – Grupo Escolar de Nísia Floresta 35. PADRE JOÃO MARIA – Grupo Escolar de Jardim de Piranhas 36. PEDRO VELHO – Grupo Escolar de Pedro Velho 37. PROFESSOR VALE MIRANDA – Grupo Escolar de São Vicente 38. SENADOR GUERRA – Grupo Escolar de Caicó 39. SENADOR JOSÉ BERNARDO – Grupo Escolar de São João do Sabugi 40. TENENTE CORONEL JOSÉ CORREIA – Grupo Escolar de Assu.
_________________________________________________________FONTE: VERSOS & DIVERSOS

OS JUDEUS EM NATAL.


Gileno Guanabara

A Cidade do Natal nasceu sob o signo da ideologia cristã, durante a expansão do mercantilismo europeu. Donatários, padres, aventureiros, corsários e desterrados foram os primeiros a contagiar os indígenas com seu sangue e suas chagas. Os negros vieram depois. A miscigenação através de relações legais, adúlteras ou pecaminosas, fecundou proles numerosas.
Nos primeiros anos do século XX, a Cidade dos Reis Magos recebeu também a presença dos judeus. Vieram do Leste Europeu, alguns deles serfaditas, todos perseguidos pela intolerância racial ou religiosa. Foram ondas inquisitórias sucessivas o que os motivou a se aventurarem noutra Diáspora, em busca de uma nova Jerusalém que os acolhesse.
Aleatoriamente a província Natal tornara-se referência para os primeiros judeus que aqui aportaram. No censo realizado em 1900, Natal contabilizava apenas uma dezena de israelitas. A chegada do primeiro irmão da família Palatinik fomentou o lucro fácil e fez crescer a comunidade chamada “Jerusalém do Brasil”.
Segundo o trabalho acadêmico de Luciana Souza de Oliveira (A Fala dos Passos: Imigração e Construção de Espaços Judaicos na Cidade do Natal”- Natal 2009) o primeiro dos irmãos judeus, Tobias, se dedicou ao mascate de produtos a domicílio no ano de 1912. Com a chegada dos demais, em poucos anos já acumulavam riqueza e adquiriram propriedades. A sociedade natalense não hostilizava a comunidade judaica. No entanto, a segregação foi estabelecida de parte deles, quando dos casamentos inter-semita de Tobias; Adolfo; José; e Jacob, todos da família Palatinik. Igualmente ocorreu com outras famílias judias.
 Se não traziam riqueza de monta, no entanto, portavam o “Talmude”, a lei oral que norteava a experiência de vida, capaz de manter-lhes as tradições e ritos preservados da origem e até de propiciar vencer as barreiras do asilo sem serem molestados. No silêncio da noite, após a labuta diária e das orações, solfejavam palavras, liam os jornais, a fim de se fazerem entender no comércio das mercadorias que o consumo local ainda não conhecia. A par da disposição para o trabalho pesado, traziam em seus mantras a noção da Torá, a Lei escrita legitimadora da condição de judeu.
No sítio dos Palatinik, através de escritura de doação, no terreno sito no bairro da Cidade Alta, na Rua Felipe Camarão, foi construída a Sinagoga, lugar sagrado de suas orações. Para a “sacramentalização” do espaço foi transferida a arca onde se guardava os pergaminhos em forma de rolo da Torá, escrito à mão, em hebraico, trazido da Palestina.
Tinham preocupação com os seus mortos. Junto a Prefeitura, reivindicaram a demarcação do lugar, onde repousariam os falecidos. Foi-lhes dado o alvará para, nos limites convencionados, ser erigido o “Cemitério Israelita”, no Cemitério do Alecrim, para onde os mortos eram conduzidos em “Levayá” e homenageados através do “Keriá”, em obediência da “mitzvá”.
Com o culto e estabelecido o lugar sagrado - tido entre os judeus como da vida, da morte e das orações – foi possível acumular riqueza que era compartilhada com as necessidades dos parentes próximos e dos amigos que não vieram no primeiro momento. Retornaram à Palestina de onde buscaram as mulheres com quem casariam e dividiriam o nome e a vida. Com os filhos que nasceram compuseram um estrato social distinto, mantido pelo trabalho, pelas tradições e práticas culturais, o sonho inabalável de um dia regressar a Palestina.
Conservavam os nomes de família:”Slavni”; “Genesi”; “Kaller”; “Josuá”; “Weinstein”; “Volfzon”; “Palatinik”, dentre outros. Criaram a associação que os congregava e protegia - Centro Israelita do Rio Grande do Norte. Ao tempo da Segunda Guerra houve dificuldades para a concessão de vistos de entrada aos judeus. A comunidade articulou a vinda de Einstein ao Brasil, repercutindo favoravelmente a causa dos judeus. A visita de Luis da Câmara Cascudo ao Centro Israelita, no dia de “Yom Kippur” provocou o mesmo efeito. Dissipou veleidades correntes que atribuíam aos judeus a prática da agiotagem e “sabedoria” em seus negócios.
A presença judia em Natal se revela nos novos conceitos da arquitetura que a cidade adotou, de ruas e casas da cidade Alta. Eram exímios artífices em ouro, marcenaria, alfaiataria, música e agricultura. No comércio e na prática contábil, deram as primeiras experiências de vendas a crédito. Na parte da educação, as primeiras escolas de ensino infantil, chamadas “Herzlia” (jardim da infância), acolhiam os filhos dos judeus.  Professores foram trazidos da Palestina e ensinavam em hebraico. Também vieram professores do Recife, a fim de ensinar matemática e a leitura da Torá, obrigatoriamente.
Não sei a que atribuir os motivos que desfizeram a comunidade dos judeus na cidade Alta, em Natal, e de seus descendentes. A Vila Palatinik é uma reminiscência do antigo sítio que abrigou a Sinagoga e as casas das famílias dos judeus vindos e nascidos em Natal, até o ano de 1930.