15. A Prisão do Capitão Euclides
Sensível às 72 toneladas de granadas de artilharia que abarrotavam os paióis da fortaleza, o ministro da Guerra propõe uma conversação de paz, aceita pelos insurretos.
O major Egídio Moreira de Castro e o tenente-aviador Pacheco Chaves são enviados pelo governo. No momento em que o tenente Newton Prado cruza o portão para recebê-los, dois hidroaviões da Marinha sobrevoam o forte, bombardeando-o. A missão de paz degenera em conflito verbal e físico entre os embaixadores.
Indignado, o capitão Euclides Hermes toma o telefone e protesta. Calógeras desculpa-se, argumenta que foi um engano: a Marinha não fora devidamente informada sobre a trégua. Lembrando as relações cordiais que mantinham até o início do levante, propõe um encontro pessoal entre ambos. A oferta é aceita pelos revolucionários.
Depois de passar o comando do Forte ao tenente Siqueira Campos, o capitão Euclides, a bordo do táxi 231, transpõe as linhas governistas sem ser molestado. Chegando à residência de seu pai, em Botafogo, telefona a Calógeras, que pede para aguardá-lo. Mas quem comparece é o capitão Marcolino Fagundes que lhe dá voz de prisão e o conduz ao Palácio do Catete. Lá, visivelmente embaraçado, Calógeras explica que: por decisão posterior do Presidente da República era forçado a prendê-lo, devendo também o Forte render-se incondicionalmente.
Às 12h30, o capitão Euclides, por telefone, comunica a Siqueira Campos o resultado da missão de paz:
Estou preso, Siqueira. Eles traíram a palavra de honra dada... Eles querem que os oficiais se rendam, que deixem o forte, marchando desarmados, um a um, até se entregarem às tropas legais.
As mais próximas se encontravam na Praça Serzedelo Correia, a mais de um quilômetro de distância. A oligarquia cafeeira pretendia liquidar a fatura com uma lição exemplar e definitiva. Em troca de suas vidas, à guarnição rebelada não bastaria render-se. A humilhação era o preço a ser pago por haverem levado a luta até aquele ponto.
16. A Decisão que Mudou a História
Na sala de comando reúnem-se os quatro últimos oficiais que se mantinham em armas pela revolução. Todos eram tenentes. Nenhum tinha mais de 25 anos. Dois eram membros da guarnição original do Forte Copacabana: Siqueira Campos e Newton Prado. Outros dois haviam se juntado a ela no momento da sublevação: Mário Carpenter e Eduardo Gomes. Reinava uma paz temporária, pois o dispositivo legal recebera ordens de aguardar a rendição.
A decisão que sai da reunião é ousada, surpreendente, e muda o rumo da história, transformando a derrota do levante numa esmagadora vitória moral dos revolucionários.
Ao invés de rendição, a resolução é a de marcharem contra a tropa governamental, armados de fuzis e revólveres. Se fossem atacados, reagiriam. Se não, a parada seria no Palácio do Catete. O ânimo retorna e os preparativos são realizados em ritmo febril.
Siqueira pede ao sergipano Manoel Ananias dos Santos, o soldado 108, e ao praça José Olympio, que desçam a bandeira do Forte. Dividiu-a em 29 pedaços, dando um a cada revolucionário presente - cujos nomes foram gravados a prego e bala numa das paredes internas da fortaleza. O último guardou-o consigo, para o capitão Euclides. Todos se municiaram, enchendo os bolsos com cartuchos. Ninguém deixou de levar menos de 200 tiros. Os oficiais barbearam-se, ajustaram seus uniformes, e desfizeram-se das insígnias do grau militar. Naquele momento, eram todos soldados.
As 13h30, antes de transpor as barricadas, Siqueira fala aos companheiros:
Eles têm que atirar primeiro... Não se dá nenhum tiro antes... Deixa eu conversar com quem chegar primeiro... Agora, se derem um tiro na gente, não precisam esperar ordem de fogo
17. Arrancada Final
Marcharam pela rua e a calçada que margeia a praia de Copacabana. A avenida Atlântica, na época, tinha poucas construções, mas não estava deserta. No caminho falavam aos moradores sobre seus motivos. Lenços brancos eram acenados das janelas. De longe, oficiais e praças do 3º Regimento de Infantaria lhes gritavam que se rendessem. Foram assim até o hotel Londres, onde pararam para beber água. Já haviam percorrido mais de um quilômetro.
Ao reiniciar a marcha, Siqueira verifica que alguns haviam desistido. Mas isso já não tinha importância.
Antes de atingirem a rua Barroso, o jovem engenheiro gaúcho Otávio Correia se aproximou do grupo. Dirigindo-se a Siqueira, a quem conhecera na casa da escritora Rosalina Coelho Lisboa, falou:
Vou com vocês Antônio, preciso de uma arma...
Newton Prado entregou-lhe o fuzil que trazia e sacou a parabellum, que passou a empunhar na mão direita.
Ao chegarem na esquina da rua Barroso, hoje Siqueira Campos, uma surpresa. O tenente Segadas Viana, comandante de um dos três pelotões da 6ª Companhia do 3º Regimento de Infantaria, surge diante deles.
A 6ª Companhia, estacionada na praça Serzedelo Correia, havia recebido ordens de preparar-se para deter a marcha dos revolucionários, enquanto se providenciavam mais reforços. Seu comandante, o capitão Pedro Crisol Fernandes Brasil, dispôs então um pelotão na rua Barroso, comandado pelo tenente Segadas; outro na rua seguinte, Hilário de Gouveia, chefiado pelo tenente Miquelina; e o terceiro manteve na praça, sob comando do tenente Sawen.
Algum tempo depois, o tenente Segadas recebeu ordem de descer pela rua Barroso, em direção à praia, para observar a progressão dos reforços. Tendo atrás de si, a uns 30 metros, seu pelotão, logo que chegou na esquina deparou-se com os insurretos. Ao verem o tenente legalista, três soldados tentaram dominá-lo. Ele sacou a arma, mas o tenente revolucionário Mário Carpenter, seu colega no 3º Regimento, ordenou aos praças que se detivessem. Enquanto isso, os 40 membros do pelotão apontavam suas armas contra os revoltosos e vice-versa.
Nessas circunstâncias iniciou-se um diálogo. Siqueira e Carpenter exortavam Segadas a acompanhá-los e este procurava fazer com que se rendessem. Esgotados os argumentos, o destacamento revolucionário retomou a marcha, mas, vindo da Hilário de Gouveia, surge o capitão Brasil que acaba dando a ordem de "fogo" ao pelotão do tenente Segadas. Um soldado obedeceu e disparou. A bala matou pelas costas o soldado Pedro Ferreira de Melo. Siqueira virou-se e devolveu o tiro. O combate começou.
18. Combate na Praia
Depois de sustentarem o tiroteio por alguns minutos em pé, na rua, os revolucionários pularam para a areia e se entrincheiraram por trás do paredão da calçada da avenida Atlântica. A esta altura, eram 15. Ali iriam se manter por mais de uma hora enfrentando o fogo combinado do Exército, da Polícia Militar e do Batalhão Naval.
Os pelotões do tenente Segadas e Miquelina, da 6ª Companhia, sofrem imediatamente várias baixas, inclusive seis mortes.
As forças legalistas acorrem em massa à praça Serzedelo Correia, em socorro aos pelotões do 3º Regimento de Infantaria. Até mesmo a tropa de guarda do Palácio do Catete foi deslocada para essa finalidade. Ao todo, 4.000 homens foram mobilizados contra os 18 do Forte.
Embora a desproporção entre as forças fosse esmagadora, o paredão representava excepcional proteção aos revolucionários. E a motivação com que pelejavam dava às suas ações a objetividade que faltava às forças governistas.
O voluntário Joaquim Maria Pereira Júnior, que sobreviveu ao combate, relatou:
"O tiroteio foi renhido, mas atirávamos com calma e precisamente... as forças do governo avançavam lentamente".
O primeiro revolucionário atingido pela fuzilaria foi Eduardo Gomes, o único que não sofreu um ferimento mortal. Teve o fêmur partido por uma bala, mas seguiu combatendo. Depois tombou o gaúcho Otávio Correia, com um tiro no coração.
Considerando a dificuldade de sufocar os revoltosos, foi cogitada a carga de baionetas. Os oficiais, no entanto, recusaram-se a empregá-la contra aqueles que, mesmo na condição de inimigos, lutavam tão corajosamente. Que se rendessem ou fossem mortos a tiros, nunca estripados.
A luta prosseguiu, até que a munição dos rebeldes se esgotou. Já havia caído o sargento José Pinto de Oliveira, com uma bala na fronte. O tenente Mário Carpenter, atingido no tórax, mergulhara na inconsciência. Estavam feridos também os praças Hildebrando da Silva Nunes e Manoel Antônio dos Reis - corneteiro, cujos toques de clarim vibravam duros golpes no moral das tropas governistas.
Siqueira Campos - com um ferimento na mão esquerda - e o tenente Newton Prado - baleado no abdome e na perna - ainda guardavam a última bala em seus revólveres. Aos demais combatentes já não restava nenhuma.
19. Retirada dos Praças
O tenente Siqueira Campos ordena, então, aos praças e voluntários civis, que que cada qual tome um rumo, mas não se deixem prender.
Dois conseguem fazê-lo com êxito.
O soldado 108, Manoel Ananias dos Santos, respirou fundo, saltou para cima do paredão e desviando-se das balas atravessou a avenida em busca de abrigo. "Os legalistas deram uma rajada contra mim, mas não acertaram", conta ele, quarenta e dois anos mais tarde ao jornalista Glauco Carneiro, da revista O Cruzeiro. "Consegui alcançar e pular o muro de uma casa... havia no jardim uma corda estendida com vários calções de banho." Disfarçado de banhista, ele conseguiu atravessar o túnel, por volta das 16h30, chegando em seguida à residência de um sargento, na rua Mena Barreto, Botafogo.
O voluntário Joaquim Maria Pereira Júnior escapou pelo mar:
"Esgotada a minha munição, ordenou o tenente Siqueira Campos que eu me retirasse... Atirei o meu fuzil ao mar e logo adiante nadei até um lugar abrigado, onde alguns operários humanitários me vestiram à paisana".
Preso, ao tentar romper o cerco, o soldado João Anastácio Falcão de Melo fez um significativo relato do acontecimento:
"Quando não tinha mais munição fui avançado, com um bruto ferimento na perna, mas com um punhal na mão. Me pegaram logo adiante e um oficial legalista me chamou de bandido. Aquilo moeu-me a alma. Lutara de peito descoberto contra gente armada em número muito superior e aquele homem a chamar-me de bandido! Depois, sendo da Paraíba, de uma terra em que o inimigo é seguro pelo nariz e degolado a frio, eu nunca tinha matado ninguém até aquele dia".
O inquérito policial registra também as prisões dos soldados Francisco Ribeiro de Freitas, Benedito José do Nascimento, Heitor Ventura da Silva e do civil Lourival Moreira da Silva. Em seus depoimentos eles admitem que estavam na praia no momento dos combates, porém negam terem feito uso das armas que portavam.
20. A Última Bala
Como os revolucionários não respondiam mais aos disparos, o capitão Brasil e o tenente Segadas Viana suspenderam o fogo e iniciaram um avanço lento e cuidadoso em sua direção. Já tinham caminhado cerca de vinte metros quando, repentinamente, um contingente de 100 homens do 3º Batalhão de Infantaria da Policia Militar, sob o comando do coronel Tertuliano Potiguara, sai da rua Barroso, em veículos de transporte apelidados de viuvinhas. Em alta velocidade, chegam ao local onde se encontram Siqueira Campos e seus companheiros.
Calar baioneta! Avançar! Foi a ordem de Potiguara.
Debaixo de uma gritaria infernal os atacantes se precipitam contra uma fortaleza sem muralhas guarnecida por mortos e feridos. Mas a surpresa ainda os espera.
A última bala do tenente Newton Prado é certeira, derrubando para sempre o atacante mais afoito. Siqueira aguarda até o último instante para disparar a sua, atingindo na boca o sargento Lindolfo Garcia Godinho que lhe enterrara a baioneta no fígado.
Levantem os vivos! Os vivos levantem! - uivam os comandados de Potiguara, tomados de histérico frenesi.
Não há quem os possa atender.
Junto ao corpo inerte do tenente Mário Carpenter jaz o seu quinhão da bandeira do Forte. Nele está escrito:
"Forte Copacabana - 6 de julho de 1922
Aos queridos pais ofereço um pedaço da nossa bandeira em defesa da qual resolvi dar o que podia…minha vida".
21. Epílogo
O jornal Gazeta de Notícias foi o primeiro a dar a notícia de que o número de heróis que participaram da saga foi de 18. Não seria a primeira nem a última vez em que o rigor histórico haveria de ceder lugar à lenda. Cantado em verso e prosa, o feito dos 18 do Forte incendiou corações e mentes e ganhou a força do mito.
Apesar de mortalmente ferido, Siqueira Campos sobreviveu. Em breve estaria comprovando que não fora precipitado o juízo expresso pelo escritor Coelho Neto, no artigo Arrancada Radiante. Mesmo opondo-se aos objetivos do levante, ele conclui:
"Que povo não se orgulharia de possuir na raça tais leões?"
A oligarquia cafeeira perdera as condições de exercer tranqüilamente o seu poder autocrático. Mais radicais e mais amplas, novas revoluções se sucederiam até a sua derrocada em 1930.
SÉRGIO RUBENS DE ARAÚJO TORRES
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24/07/2013
JORNAL "HORA DO POVO" (FINAL)
22/07/2013
NOSSO CONFRADE ADALBERTO TARGINO ACABA DE SER ELEITO MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DO ESTADO DA PARAÍBA, FUNDADA EM 1977, seguindo a tradição da Academia Brasileira de Letras Jurídicas e a nossa ALEJURN, Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte.
Com o lema "Recta Ratio” (Reta Razão), a restrita e seleta Academia de Letras Jurídicas do RN (ALEJURN), tem por finalidade central o estudo crítico do Direito e, sobretudo, o aperfeiçoamento das letras jurídicas e o resgate da memória jurídica potiguar, expondo as biografias e obras dos grandes mestres que foram destaques como magistrados, professores, membros do Ministério Público, Procuradores do Estado, Defensores Públicos, Advogados privados, isto é, que foram referências como escritores e conferencistas sem nenhuma mácula moral.
Tudo buscando incentivar a publicação de livros e revistas jurídicas e trazer até os jovens, as histórias paradigmáticas dos grandes nomes das letras jurídicas, que servem de norte aos estudantes e operadores de Direito em início de carreira.
A ALEJURN é filiada oficialmente à Academia Brasileira de Letras Jurídicas, com sede nacional no Rio de Janeiro, o que assegura aos seus membros vitalícios o titulo de Acadêmicos Correspondentes da co-irmã nacional.
A ALEJURN, mantém revista e jornal próprios, e é reconhecida de utilidade pública por leis municipal e estadual. Todos os Patronos e fundadores das 40 cadeiras são, sem exceção, pessoas de notório saber jurídico e de idoneidade irrepreensível..
Depositário da história do direito - Adalberto Targino, procurador corregedor-geral do Estado/PGE e membro da Academia de Letras Jurídicas do RN (ceaf_pge@rn.gov.br) .
José Adalberto Targino de Araújo é conhecido no mundo jurídico e jornalístico como Adalberto Targino. Natural de Araruna/ Pb, mudou-se para o Rio Grande do Norte com um ano de idade. Graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, Pedagogia, licenciatura plena em Administração, Secretariado e Contabilidade e pós-graduação em Comunicação Educacional, Teologia, Direito, Docência do Ensino Superior, Psicanálise, Direito Canônico. O autor é membro titular de diversas academias e cidadão honorário de quinze municípios paraibanos e norte-riograndenses, como Natal e João Pessoa. Colabora com jornais da Paraíba e de Natal. É advogado militante, jornalista e professor. Autor de teses e trabalhos publicados em diversos órgãos de imprensa, destacando-se o judiciário.
Algumas obras publicadas: Poesias - Artigos - Ensaios - Discursos - Teses - Monografias jurídicas e correlatas.
Anotações originais postadas por LÚCIA HELENA PEREIRA
20/07/2013
João Barbosa Pimentel, bisneto de João Lostau Navarro
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
Hélio Galvão listou, no seu livro “História da Fortaleza da Barra do Rio Grande”, os seguintes filhos de Francisco Lopes e Joanna Dornelles: Paula Barbosa, casada com Theodósio de Grasciman; Manoel Lopes Pimentel, casado com Maria Pinta; Joanna Lopes; Gregório Lopes Pimentel; Izabel Dornelles, casada com Manoel de Abreu Friellas; Francisco Dornelles, casado com Maria da Silva Figueiredo; e Cipriano Lopes Pimentel, casado com Tereza da Silva. Já fizemos um artigo sobre Francisco Lopes, genro de Manoel Rodrigues Pimentel e Maria Lostau, esta filha do francês João Lostau de Navarro.
A maioria dos estudos sobre os descendentes de João Lostau de Navarro é dedicada a Cipriano Lopes Pimentel, que gerou Cipriano Lopes Galvão, ou a Paula Barbosa, por suporem, que o marido dela, Theodósio de Grasciman, era filho do holandês Joris Garstman. Entretanto, outro filho de Francisco Lopes e Joana Dorneles, não constante da lista de Hélio Galvão, deixou descendência no Rio Grande do Norte, mas seu nome escapuliu das anotações dos nossos historiadores. Seu nome, João Barbosa Pimentel.
O primeiro registro que encontro, sobre João Barbosa Pimentel, é o batismo de Constantino, filho de Felipe da Costa e Helena da Silva, em 20 de fevereiro de 1695, no qual ele foi padrinho junto com Pascoal Gomes de Lima. Nesse registro ele aparece como filho do sargento-mor Francisco Lopes. Posteriormente, nesse mesmo livro de batismos, encontro registros de três filhos do dito João Barbosa Pimentel com sua mulher Mariana de Azevedo Cerqueira, batizados na Capela de Nossa Senhora do O’, da Aldeia de Mipibú.
Francisco foi batizado, em 17 de abril de 1704, tendo como padrinhos Manoel de Abreu Friellas e o capitão João de Carvalho Marinho; Antonia foi batizada, em 14 de junho de 1708, tendo como padrinhos, o Padre Francisco Lopes e Florença de Grasciman (filha de Theodósio); Thereza foi batizada, em 5 de novembro de 1709, tendo como padrinhos Faustino Tinoco, e Catarina de Azevedo, filha da viúva Maria de Araújo Barros.
Encontramos outros filhos através de registros de casamento: Em 22 de junho de 1729, Joana Dornelles, filha do capitão João Barbosa e de Mariana, casou com o Alferes Nazário Lopes da Cunha, filho de Estevão Lopes, falecido, e Úrsula Borges; ele viúvo de Antonia Xavier e, ela de Manoel da Silva Porto; em 18 de agosto de 1734, Apolônia Dornelles de Jesus, filha de João Barbosa e Mariana, casou com o capitão Francisco de Sousa Gusmão, filho do Doutor Dionísio Peres de Gusmão e Leonarda Peres de Gusmão.
Não encontrei mais registros sobre Thereza e Francisco, mas Antonia, que se tornou Antonia Barbosa de Azevedo, em 6 de junho de 1747, casou, na Capela de Nossa Senhora do O’, com Nazário Lopes da Cunha, filho de Nazário Lopes da Cunha e Antonia Xavier. Isto é, Antonia casou com o enteado de sua irmã, Joana Dornelles. Pela idade, Antonia não deve ter tido filhos.
Dois sobrenomes aparecem na descendência de Manoel Rodrigues Pimentel e Maria da Costa Maior, filha de João Lostau, sem que se saiba de onde provinha: Barbosa e Dornelles. Um detalhe é que não se sabe, também, quem era a esposa de João Lostau.
Da mesma forma encontramos o sobrenome Barbosa Pimentel, em outras pessoas, sem descobrir sua relação com os filhos de Francisco Lopes e Joanna Dornelles. Um exemplo é o que segue: em 14 de dezembro de 1751, na capela de Nossa Senhora do O’, Manoel Barbosa, filho de João Barbosa Pimentel, e Antonia Neta, casou com Izabel Maria do Anjos, filha de Gonçalo Fernandes das Neves, falecido, e Maria Antunes, sendo testemunhas João de Oliveira Freitas e o capitão Manoel da Costa Travassos, casados. Quem era esse João Barbosa Pimentel, casado com Antonia Neta, que não se repete, posteriormente, nos registros existentes?
Outro registro diz que: em 15 de julho de 1778, nascia Helena, filha do tenente José Barbosa Pimentel e Josefa Francisca Bezerra, do Assú, neto paterno de Manoel Rodrigues Pimentel e Clara Barbosa de Sousa, e pela paterna de Francisco Calheiros e Ana Maria da Conceição, do Assú, sendo testemunhas Joaquim de Morais e sua mulher Maria Soares. Em de abril de 1778, Helena, com 7 dias, faleceu. Manoel Rodrigues Pimentel e seu filho José parecem descender de Francisco Lopes, diferentemente de um certo Manoel Rodrigues Pimentel que foi exposto e criado na casa de Brízida Rodrigues, que talvez não tenha nenhuma relação com a família.
Como escrevemos em artigo anterior, na Fazenda Santo Antonio, da freguesia de Santana do Matos, José Barbosa Pimentel, de 30 anos, casou com Maria Rita Bezerra, de 25 anos, dispensados do parentesco em que estavam ligados, no ano de 1824. Ele era filho de José Barbosa Pimentel, mas não há no registro o nome da esposa (seria Josefa Francisca Bezerra, acima?). Era desse casal Jose Barbosa Pimentel e Maria Rita que nasceu outro José Barbosa Pimentel Junior (28 de fevereiro de 1832), que casou com Maria dos Anjos Pereira Fagundes, filho de Lopo Gil Fagundes.
José Barbosa Pimentel Junior e Maria dos Anjos geraram, entre outros, os seguintes filhos: Maria, nascida em 22 de novembro de 1851, tendo como padrinhos Major José Martins Ferreira e sua mulher Josefina Maria Ferreira (meus trisavós); Valentim, nascido em 4 de fevereiro de 1862, tendo como padrinhos Antonio Toscano Barbosa Pimentel (deve ser o irmão de José Barbosa Junior, que nasceu em 19 de abril de 1833) e Jerônimo Cabral de Oliveira Câmara; Jerônimo, nascido em 3 de maio de 1868, tendo como padrinhos Nossa Senhora e Manoel José Pereira Fagundes; Maria, nascida em 6 de Junho de 1864, tendo como padrinhos Pe. Elias Barbalho Bezerra e Francisca das Chagas de Jesus; José, que faleceu, na idade de 4 meses, em 1853.
João Barbosa Pimentel, fº de Francisco Lopes |
19/07/2013
JORNAL "HORA DO POVO" V
11. Malogra a insurreição
Na Vila Militar estava aquartelado o 1º Regimento de Infantaria, principal corpo de tropa a partir do qual os revolucionários pretendiam irradiar o levante às demais unidades da 1ª Divisão de Infantaria.
O comandante do regimento era o coronel Nestor Sezefredo Passos, oficial governista que, às 22h15 do dia 4, recebeu ordens para prender diversos oficiais que haviam tomado o trem na Estação Central com destino à Vila Militar. O coronel Sezefredo incumbiu o tenente-coronel Álvaro Mariante de organizar patrulhas para aprisionar os insurretos, antes que esses sublevassem o regimento.
Assim, quando desembarcaram na Vila Militar, foram presos o capitão Agenor Aguiar, os tenentes Aníbal Duarte, Leônidas Hermes da Fonseca e outros três revoltosos. Também num alojamento da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, conhecida como Baiúca, as patrulhas do tenente-coronel Mariante detiveram vários oficiais. Desse modo, mais de uma centena de revolucionários foi sendo detida, desarticulando o levante.
O tenente João Alberto Lins e Barros, que poucos anos mais tarde se converteria num destacado expoente do Movimento Tenentista, integrava, na época, o 1º Regimento de Artilharia Montada, sediado na Vila Militar. Eis o testemunho que apresenta sobre o seu malogrado batismo de fogo:
"No dia 4 de julho, durante a noite, todos nós, revolucionários, estávamos a postos para erguer a tropa ao primeiro sinal... Éramos poucos, dentro de um regimento considerado legalista e precisávamos de um apoio vindo de fora do quartel para fazer o levante... fomos presos com a impressão de que o movimento abortara. Só depois de transferidos de unidade, quando nada mais podíamos fazer, soubemos que a Escola Militar e o Forte Copacabana estavam revoltados".
À meia-noite, no cassino do 1º Regimento de Infantaria, estavam reunidos vários grupos de oficiais. Entre eles encontrava-se o 2º tenente Frederico Cristiano Buiz. Pouco antes da 1h, Buiz dirigiu-se à sua companhia, armou os praças e formou dois pelotões. O primeiro recebeu a missão de guarnecer a frente do quartel. Com o outro sob seu comando, retornou ao cassino. O objetivo era prender o coronel Sezefredo e os oficiais governistas que ali se encontravam.
O cassino foi cercado. Irrompendo pela porta, pistola à mão, seguido por praças de armas embaladas, Buiz surpreendeu os oficiais, mas não conseguiu dominar a situação. Após um cerrado tiroteio, no qual foi mortalmente atingido o capitão José Barbosa Monteiro, Buiz acabou dominado. Falhara o levante do 1º Regimento de Infantaria.
Nas demais unidades o quadro não era alentador. O capitão Luís Gonzaga Borges conseguiu sublevar a Companhia de Pontoneiros do 1º Batalhão de Engenharia, mas não logrou assumir o controle da unidade. O tenente Luís Carlos Prestes, outro futuro vulto da história nacional, responsável pela rebelião no 1º Batalhão Ferroviário, contraíra tifo, no dia 13 de junho, ficando fora de combate. Na Escola de Aviação Militar, quando os pilotos e observadores se dirigiam para o campo, a fim de experimentar os motores das aeronaves, um batalhão governista ocupou os hangares, neutralizando a rebelião. Também na Escola de Sargentos de Infantaria, Fortaleza de Santa Cruz e 15º Regimento de Cavalaria, unidades cuja adesão era esperada, os oficiais revoltosos retraíram-se frente aos reveses iniciais.
Às 6h do dia 5, o marechal Hermes da Fonseca e o general Joaquim Inácio são presos num sítio, onde aguardavam contato com os comandantes das unidades rebeladas. O sítio de propriedade de um dos quatro filhos do marechal, o deputado Mário Hermes, ficava próximo à Vila Militar, nas imediações da estação ferroviária cujo nome lhe rendia homenagem - Marechal Hermes.
A Escola Militar ainda sustentava um desigual duelo de artilharia com as forças da Vila. Às 9h empreenderia a retirada, seguida da rendição ao meio-dia. Só no Forte Copacabana a bandeira da revolução seguia desfraldada.
A guarnição militar do Mato Grosso havia cumprido o compromisso de sublevar-se, concentrando em Três Lagoas, na fronteira paulista, a Divisão Provisória Libertadora, formada a partir das diversas unidades rebeladas. No entanto, surpreendida pela evolução desfavorável dos acontecimentos no Rio de Janeiro, permaneceu estacionada até a deposição das armas, em 13 de julho
12. Falam os Canhões
Na manhã do dia 5 os disparos do Forte continuam a atingir pontos da cidade, com uma precisão que alarmou as autoridades e assombrou os membros da Missão Militar Francesa.
Durante a fase de organização do levante, Siqueira Campos e outros oficiais do Copacabana haviam preparado cuidadosamente novas tabelas para o tiro de canhões, com redução de carga, para modificar a trajetória dos projéteis, encurtando seu raio de ação. Os cálculos foram revisados por um antigo professor de balística da Escola Militar. Com isso os canhões do Forte tornaram-se aptos a atingir alvos da cidade considerados invulneráveis.
Às 9h, o general Carneiro de Fontoura, chefe da 1ª Região Militar, nomeia o coronel Nepomuceno da Costa comandante das Forças de Assalto ao Forte Copacabana, e encaminha uma intimação à sua guarnição.
A resposta foi um disparo sobre o quartel-general situado no edifício do Ministério da Guerra, na praça Duque de Caxias. O tiro não foi preciso, atingiu os fundos do prédio da Light and Power e a casa número 216 da rua Barão de São Félix.
O ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, tomou então a iniciativa de telefonar para o Forte, a fim de protestar contra o bombardeio. Calógeras não era militar. Não percebeu que sua reclamação indicava com precisão a localização do alvo atingido. Com a informação prestada pelo ministro, os revolucionários prontamente refizeram os cálculos, ajustaram a pontaria e realizaram novo disparo. O impacto do obus destruiu parte da ala esquerda do Palácio da Guerra. Em seguida, mais dois tiros explodiram no pátio interno do prédio, onde tropas do Exército e da Marinha estavam estacionadas, espalhando morte e destruição. Rapidamente o quartel-general foi transferido para o Corpo de Bombeiros, do outro lado do Campo de Santana, e, em seguida, para o quartel-auxiliar do Largo de Humaitá.
13. O Forte esta isolado
Às 4h da madrugada do dia 6, o capitão Euclides Hermes reúne todos os oficiais que participam da defesa do Forte e expõe claramente a situação vivida. O levante da Vila falhara. A Escola Militar tinha deposto as armas. O mesmo ocorrera com o 15º de Cavalaria. A fortaleza de Santa Cruz não havia aderido. O marechal Hermes e o general Joaquim Inácio estavam presos. O Forte Copacabana era a única unidade que se mantinha rebelada. Estava completamente isolado. Poderia resistir por mais tempo, em virtude de seu imenso poder de fogo, mas as chances de vitória eram inteiramente nulas.
O capitão prosseguiu declarando que, em vista da precariedade da situação, não se considerava no direito de sacrificar seus companheiros. Facultava, portanto, a cada um, a opção pela resistência ou pela retirada.
Desse modo, dos 301 homens que iniciaram a insurreição do Forte Copacabana, restaram apenas 29 - cinco oficiais, dois sargentos, um cabo, dezesseis praças e cinco voluntários civis. Os demais deixaram as armas e se retiraram.
14. Contra-Ataque Mortífero
Pouco tempo depois, a Marinha inicia uma ofensiva contra o Forte.
Os encouraçados São Paulo e Minas Gerais, escoltados pelo destróier Paraná, cruzaram a barra. Os revolucionários são atacados pelo fogo dos canhões de 305 milímetros do São Paulo. O impacto das granadas chega a estremecer o solo. Ao organizarem o contra-ataque, os 29 defensores constatam que o motor que movimenta seus canhões de 305 milímetros está inutilizado. Então, manobrando a braço os canhões de 190 milímetros, a guarnição responde ao fogo.
O São Paulo é atingido. O tiro disparado pelo tenente Siqueira Campos explodira na torre de comando. A esquadra recua para uma distância segura, e não volta a entrar em ação. O Forte faz novos disparos contra a Ilha das Cobras, o Forte do Vigia, o Palácio do Catete.
18/07/2013
"LUMEN FIDEI" (LUZ DA FÉ)
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO (pe.medeiros@hotmail.com)
A primeira Carta Encíclica de Francisco dá o tom de seu estilo pastoral, apesar do projeto inicial ter sido concebido por Bento XVI, que ali traçou algumas ideias. No entanto, o uso de certas expressões, a riqueza de imagens a que faz referência, algumas citações de autores antigos e modernos fazem desse texto uma introdução ao pensamento do atual Pontífice, permitindo melhor compreensão de sua visão teológica.
No documento, Francisco emprega três verbos: caminhar, construir, confessar. São os mesmos de sua primeira homilia aos cardeais, no dia seguinte de sua eleição. De certa forma, podemos dizer que a encíclica está estruturada sobre este eixo. Dividida em quatro capítulos, mostra que se deve continuar a experiência que a Igreja viveu durante O Ano da Fé, com tantos fatos significativos.
Há encíclicas que se tornaram famosas pelo seu conteúdo, por exemplo, a Rerum Novarum, de Leão XIII (1891). Outras passarão à história pelo caráter inédito de sua gênese. É o caso da Lumen Fidei. O texto escrito “a quatro mãos” tem de insólito o fato de que os dois protagonistas estão vivos: um papa emérito e outro reinante. Não seria um caso sem precedentes, se Bento XVI fosse falecido, pois a primeira Carta de Ratzinger (Deus caritas est) utilizou material póstumo de João Paulo II. A novidade, portanto, está no fato da Lumen Fidei ter dois coautores. É o que expressa Francisco no começo do documento: Bento XVI “já tinha completado praticamente uma primeira redação desta carta encíclica sobre a fé. A ele agradeço de coração e, na fraternidade de Cristo, assumo o seu precioso trabalho, acrescentando ao texto algumas contribuições”.
No século XX, Pio XI bateu recorde em matéria de encíclicas, escrevendo quarenta e uma. No entanto, Francisco é o papa que publica a primeira em menos tempo, quase quatro meses, após ser eleito. Mais rápido ainda que João Paulo II, ao escrever Redemptor hominis, no sexto mês de seu pontificado.
Desde sua eleição como Papa, Bergoglio vem insistindo sobre a centralidade da fé. Parece-nos que seu programa está sintetizado na última parte da encíclica: “A luz da fé não nos leva a esquecer dos sofrimentos do mundo. Quantos homens e mulheres de fé receberam a luz das pessoas que sofrem! São Francisco de Assis, do leproso; a beata Madre Teresa de Calcutá, dos seus pobres”.
Talvez pudéssemos resumir a Lumen Fidei em poucas palavras: um humanismo evangélico. “A fé não é a luz que dissipa todas as nossas trevas, mas é uma lâmpada que guia nossos passos na noite e isto basta para o caminho. Não é prestar assentimento a um conjunto de verdades abstratas, mas fazer a vida entrar em comunhão plena com o Deus vivo”. A fé não é obscurantista, tampouco intransigente. É a primeira vez que um papa fala nisso, contradizendo a tese de alguns: “o catolicismo não pode se separar da intransigência”. Na Lumen Fidei, o Papa diz claramente que o católico não pode ser arrogante. Ao contrário, deve ser humilde, pois se refere a uma verdade que não lhe pertence: o Deus do Amor e da Misericórdia. Sem dúvida, é uma mensagem cheia de paz, sabedoria e bondade.
Francisco, pouco a pouco, está ocasionando mudanças na Igreja e na relação desta com a sociedade. Seus gestos têm mostrado uma nova face do catolicismo. Assim o fez, quando afirmara que deseja “uma Igreja pobre e para os pobres” ou anunciou que “para minha própria saúde mental, fico morando em Santa Marta, porque não quero viver isolado”. Ou, ainda, quando, em audiência para seis mil seminaristas, noviços, num discurso improvisado, proferiu estas palavras: “dói ver uma freira ou um padre com o último modelo de carro”. Em Roma, há quem antecipe que, após a Lumen Fidei, logo virá outra, tendo como eixo a bem-aventurança bíblica dos pobres.
AS ROCAS
AS “ROCCAS” Gileno Guanabara.
As Roccas, mantida a grafia da época,
foi um dos primeiros bairros da Cidade do Natal. Possível que o nome tenha derivado de “rocha”,
os arrecifes em que foi construída a Fortaleza dos Reis. Começava desde o “Alto
da Castanha”, ao Noroeste do morro e vinha margeando em dunas curvas, até a Praia
do Canto do Mangue. Ocupava uma área de terrenos alagados. Casas e coqueiros
vistos nas partes altas, enquanto as casas de frente eram banhadas pelas águas
do Rio Potengi, dando-lhe a aparência de canais venesianos. Na lembrança dos mais
antigos, as Roccas fora “cama de baleia”.
A principal artéria chamou-se de Rua São João,
nome derivado das fogueiras e da animação das festas de São João. No alto do
morro foi edificada a capela de São João, o nome do padroeiro. Apesar de as
águas do Rio Potengi banharem o eito das casas, formando canais, não impedia de
ser a Rua São João a mais movimentada. Sua população era composta de operários
e pescadores, conhecidos por “canguleiros” dada o consumo do peixe cangulo.
Além da Rua São João, a Rua Dr.
Pereira Simões, direcionada no sentido do Nascente, foi também importante para a
consolidação do Bairro. Seu nome original era “Rua Cordão Azul”. Iniciava-se às
margens do Rio Potengi, provavelmente onde se edificou o cais do porto, passando
pela Estação da Estrada de Ferro Central, indo até o alto do Monte Petrópolis,
onde está o Hospital Onofre Lopes (ex-Hospital Juvino Barreto). Tem provavelmente
hoje o percurso que vai pela atual Rua do Motor, passando onde está situada o
Clube Araruna de Danças Semi-Desaparecidas.
Das primeiras ruas tem-se ainda a
“Rua Paraense”. Eam poucas casas edificadas pelo capitão João Fernandes de
Almeida, conhecido por “Joca do Pará”, policial truculento e de muita valentia,
de que derivou o nome da Rua, correspondente a atual Rua Expedicionário José
Varela.
Mais ao Norte da Praia do Canto do
Mangue existia a praia denominada “As Limpas”, à margem direita do Rio Potengi,
entre o canal que separava as dunas do Forte dos Reis Magos. “As Limpas”
corresponde hoje à sede do Iate Clube e do quebra-mar ao longo do Quartel de
Regimento de Obuzes do Exército.
Ao Sul de “As Limpas” foi edificada
durante a Segunda Grande Guerra a base de abastecimento e manutenção dos
hidroaviões que pousavam no Rio Potengi. Na margem do Rio, havia a torre de
controle e a pista de acesso, através de que eram rebocadas as aeronaves. O
declive de acesso, nos quais os aviões eram içados do Rio Potengi, designou o
local que ficou conhecido como “A Rampa”. A desativação da “Rampa” ocorreu com
a construção da Base Militar de Parnamirim.
Em direção ao centro, no lugar mais
alto de “As Limpas”, foi construída a capela de Santo Reis, por iniciativa dos
Capitães Julião Bento da Costa e Antônio Milhomens. Durante o dia de Santo Reis
- dia 06 de janeiro – os católicos acorriam em romaria à capela, a pé, a
cavalo, ou através do Rio Potengi. O percurso de dois quilômetros era feito em
pequenas embarcações a remo, devidamente enfeitadas, até as “Limpas”, a fim de
participar da missa e outros atos religiosos.
“Canguleiro”, nascido na “Roccas”, João
Café Filho defendeu operários, criou sindicatos e fez política. Revolucionário de
1930, se pronunciou contra o golpe do “Estado Novo” de 1937. Perseguido, exilou-se
na Argentina. Foi eleito, no ano de 1950, Vice-Presidente da República. Com o
suicídio de Vargas, assumiu o cargo de Presidente. Moradores ilustres das “Roccas”:
“Toré”; “Saquinho”,“Badidiu”; “Biró”, “Paulo Izidro”, e “Jorginho”, foram estrelas
do futebol anteriores a Pelé.
O Bairro das Roccas é o berço das manifestações
culturais. As comemorações de Santo Reis; de São João; os cultos de “Umbanda”; o
carnaval dos cordões e das tribos de índios, são parte do calendário da cidade.
Cornélio Campina preservou, durante anos, o Clube Araruna de Danças Antigas e Semi-desaparecidas.
Na atividade gastronômica, o pirão escaldado da cabeça de peixe representou o
prato predileto servidos nas peixarias de mesas rústicas, de chão batido e
cobertas de palha da Rua São João.
Desde cedo a atividade industrial do
algodão e da fibra de agave se instalou nas Roccas (Anderson Clayton; Whorton
Pedrosa; Machine Cook; João Câmara). Outros espaços se incorporaram desde os
campos cultivados da Lagoa do Jacó: o Estádio do João Câmara; a Vila
Ferroviária, interligados ao “Areal” e ao Monte Petrópolis.
À Feira das Rocas acorriam os moradores das
praias de Pitangui, Barra do Rio e Muriu. Embalados pelos ventos do mar, adormeciam
nas areias do morro de Genipabu. Cedo atravessavam
o Rio Potengi. Traziam cestas de camarão,
peixe moqueado, mangaba, cambuim, ubaia doce, pitomba e beiju de mandioca. O
Mercado Público e a feira semanal, que se realizavam na Rua Almino Afonso (STTU),
passaram para o pátio do Mercado das Roccas, local onde permanecem até hoje.
17/07/2013
JORNAL "HORA DO POVO" IV
8. A Prisão do Marechal Hermes
Às 23h, por ordem do Presidente da República, o marechal Hermes é preso e recolhido ao 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha. A afronta viria colocar mais lenha na fogueira, e sua libertação, ao meio-dia do dia 4, não detém a marcha dos acontecimentos.
A truculência empregada pela oligarquia cafeeira para sufocar o questionamento à fraude eleitoral que patrocinara voltava-se contra ela.
O líder das bancada fluminense, senador Irineu Machado, pronuncia inflamado discurso que conclui dizendo:
"Espero dos acontecimentos e da história os grandes dias em que arrancaremos desse pântano mefítico a nossa nacionalidade. Será essa, ainda uma vez, a obra grandiosa do Exército".
Também o líder da bancada gaúcha na Câmara Federal, deputado Otávio Rocha, não poupa adjetivos para incentivar a resposta revolucionária que está prestes a ser desencadeada:
"De joelhos, nunca. De pé e de frente eu encaro o ditador... fiquem para todo e sempre malditos os que... tiveram a ilusão de que os césares eram eternos e o poderio da Terra o supremo bem"..
A única pessoa a quem foi permitido visitar o Marechal Hermes, durante a sua estada de dezessete horas na prisão, foi o ex-presidente Nilo Peçanha. A conversa foi reservada e não há relato sobre o que foi discutido. Porém o marechal Hermes não deixou o 3º Regimento de Infantaria com a mesma firmeza de propósitos que havia demonstrado até antão. Talvez porque Nilo de alguma forma o tenha feito entender que tanto ele quanto o governador Borges de Medeiros, que até então vinham apoiando seus pronunciamentos, consideravam inoportuno o recurso à insurreição naquele momento.
Borges formalizaria essa posição em manifesto publicado no dia 7, no jornal gaúcho A Federação:
"Nada mais absurdo nem mais condenável do que corrigir uma violência com outra violência"...
Declarando-se "solidário com os vencidos", Nilo Peçanha empregaria seus últimos vinte meses de vida na defesa dos tenentes rebelados, e em conversações que conduziriam à eclosão de novo levante, na cidade de São Paulo, dando início à Revolução de 1924.
9. O Forte Está Pronto
À noite, cerca de duzentos oficiais, praças e voluntários civis começam a cruzar os portões do Forte, para reforçar a sua guarnição. Às 22h toda uma bateria do Forte do Vigia, situado na outra extremidade da praia de Copacabana, bairro do Leme, integra-se nesse esforço. São 54 homens comandados pelo tenente Fernando Bruce.
Às 23h30 o general Bonifácio Gomes, comandante do 1º Distrito de Artilharia de Costa, chega ao Forte com ordem expressa de destituir o capitão Euclides Hermes do comando da unidade. Vem acompanhado do capitão José da Silva Barbosa, a quem pretende investir na função. Ambos são presos.
Uma companhia do 3º Regimento de Infantaria, que havia sido deslocada para apoiar a missão do general, é intimada a recuar. O tenente Mário Carpenter, que integra a companhia, confraterniza com os revoltosos e também adere ao levante.
À 1h15 de 5 de julho, um disparo para o céu anunciava o compromisso do Forte Copacabana com a revolução. Conforme o combinado, as outras fortalezas deveriam confirmar o apoio disparando também os seus canhões. A resposta é o silêncio.
Mas o Forte não se deixa impressionar. Seus canhões alvejam a desabitada ilha de Cotunduba. Depois começam os tiros para valer: os dois primeiros, dirigidos ao 3º Regimento de Infantaria e ao Forte do Vigia.
10. O Levante da Escola Militar
Às 23h do dia 4 teve início o levante da Escola Militar de Realengo. Por iniciativa do corpo de oficiais instrutores, composto por diversos protagonistas das futuras rebeliões tenentistas, entre os quais os tenentes Victor César da Cunha Cruz, Ricardo Hall, Caio de Albuquerque Lima, Edmundo Macedo Soares e Juarez Távora, cerca de 600 cadetes de várias armas entram em forma e começam a ser armados e municiados.
Patrulhas foram destacadas para vigiar a residência de oficiais sabidamente contrários ao movimento.
Foram detidos o comandante da Escola, general Monteiro de Barros, e um cadete que se recusou a participar do levante.
À meia-noite, sob o comando do coronel Xavier de Brito, diretor da Fábrica de Cartuchos de Realengo e veterano da campanha de Canudos, a Escola deslocou-se pela estrada São Pedro de Alcântara em direção à Vila Militar - a 10 quilômetros de distância. Antes de alcançar a parada de Magalhães Bastos, um elemento de ligação trouxe a informação de que toda a tropa aquartelada na Vila estava de prontidão, e sob o completo controle dos oficiais governistas.
Cinqüenta anos mais tarde, Juarez Távora descreveria o episódio, com as seguintes palavras:
"Soube-se mais tarde que apenas alguns elementos de uma Companhia do 1ºRegimento de Infantaria haviam sido sublevados por um dos seus oficiais, o tenente Frederico Cristiano Buiz....
Diante dessa grave situação, o comando da Escola deslocou a marcha da Coluna para ocupar posição no morro da Caixa d'Água, com bom domínio sobre toda a Vila Militar... Ao clarear do dia 5, o comando da Escola determinou o disparo de alguns tiros de shranpnel da artilharia, sobre os quartéis da Vila... A reação não demorou... Por volta das 9h, a situação estava claramente definida; toda a tropa da Vila se movimentava contra a Escola. Entre os elementos desta já havia um morto - o cadete Fedorval Xavier Leal - e um outro ferido... Seria insensato e desumano prosseguir naquele duelo desigual... A retirada foi feita em ordem".
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