13/07/2013

HOMENAGEM A PEDRO SIMÕES NETO


CAPATAZ DOS MISTÉRIOS CIRCUNDANTES - AUTORIA DE VALÉRIO MESQUITA.

ESCRITOR VALÉRIO MESQUITA
PEDRO SIMÕES NETO


 É assim como consigo definir o amigo que se encantou: Pedro Simões Neto. Ele foi “o pássaro azul” de Maurice Maeterlinck que dizia “nós só morremos, de fato, quando somos esquecidos”. A minha amizade com Pedro nasceu nas manhãs de ressurreição dos idos de cinquenta quando ingressamos no Colégio Marista: primário, ginasial, secundário, até a Faculdade de Direito, direto depois para as lutas da vida. Atravessou as fases do tempo, como advogado, professor de Direito, escritor, jornalista, pensador e acima de tudo, como ceará-mirinense de corpo e alma. Ele foi tanto Ceará-Mirim ao ponto de assemelhar-se a Leon Tolstoi quando afirmou: “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Falar sobre ele a literatura emerge de todas as variáveis da condição humana. Porque Pedro sabia captar as verdades que se ocultavam por detrás do funcionamento da sociedade de sua época. Fomos missivistas e nativistas incorrigíveis. Fazíamos de Ceará-Mirim e Macaíba, irmãs siamesas. Numa de suas notáveis epístolas telúricas, confidenciou-me que ia sempre a sua “Quinta dos Pirilampos”, paraíso incrustado em Tabatinga, área rural, território macaibense. E em sua viagem de circunavegação polar, além da ponte de Igapó, proveniente de Ceará-Mirim, dizia-me na narrativa, que “apesar de todos os perigos, sentia-se tentando a seguir pela estrada que leva a ponte das lavadeiras, a curva da morte, o peixe-boi, pelos Guarapes, até chegar a Mangabeira, só para evocar o tempo de menino dos anos cinquenta”. Pedro Simões foi excelente cronista, memorialista e ficcionista nato. Tudo estava dentro dele. A percepção da beleza de Ceará-Mirim e o encantamento do seu vale, de sua história, como junção amálgama e simbiose entre o ver e o querer, o desejar e o fazer, o sonhar e o buscar, o nascer e o renascer. Como Pedro aplacava a indignação dos maus que o afligia? Como ele deflagrava um renascer permanente de esperanças em torno de sua terra? Eu percebia nele uma perfeita sintonia de escritor com a vida e a beleza. Acreditava, como o apóstolo Paulo, que o sofrimento engrandece o homem. Foi um idealista na forma, no conteúdo e no proceder porque universalizava os seus temas, nascidos na província, entre os simples. A Academia Ceará-Mirinense de Letras e Artes, da qual é fundador, imprimiu nova dimensão e estatura cultural ao município de tantas tradições. Pedro a criou para Ceará-Mirim ascender, sempre, avançar um percurso sem fim. A instituição transformou-se no seu legado, transferido às novas gerações, não obstante, os contrastes e as heterogeinades da vida social e política. Ela se consagra pelo homem e para o homem. Revela a humanidade ontem, hoje e sempre do Ceará-Mirim. Pedro trazia dentro de si, vivo, a alma do seu tempo; os sonhos, os encantos e desencantos, as paixões telúricas e atávicas, as crenças, os valores e compromissos. Na sua literatura, entre a realidade e a ficção, muitas vezes fazia-me lembrar Gustave Flaubert ante a estupefação da sociedade francesa da sua época, com as aventuras e desventuras de Madame Bovary, desvendou o mistério: “Madame Bovary sou eu”. Nos seus voos literários em busca de decifrar enigmas, ele reafirmou a sua vocação literária com um estilo articulado, conciso e moderno. O nome de Pedro Simões Neto está chantado na província submersa do Ceará-Mirim, porque foi memória, presente e futuro.

Valério Mesquita - Escritor
 Mesquita.valerio@gmail.com

12/07/2013

JORNAL "HORA DO POVO" II





3. As Eleições de 1922
                A pressão que a oligarquia cafeeira mantinha sobre a sociedade acabaria explodindo nas eleições presidenciais de 1º de março de 1922. Os estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia lançariam Nilo Peçanha, contra o candidato oficial Artur Bernardes - a quem a voz do povo, revelando notável antipatia, logo carimbaria com os apelidos de Seu Mé e Rolinha.
            O Clube Militar, presidido pelo marechal Hermes, coloca-se frontalmente contra a candidatura situacionista. Empurrado para um papel cada vez mais subalterno, desprestigiado pelos baixos soldos, mas cioso do papel preponderante que desempenhara na Abolição e na constituição da República, o Exército via com olhos cada vez mais críticos o rumo tomado pelo país.
            A gota d' água viria no dia 9 de outubro de 1921. O jornal carioca Correio da Manhã publica em primeira página uma carta de Bernardes dirigida a seu principal colaborador, o senador Raul Soares, lavrada nos seguintes termos:
"Estou informado do ridículo e acintoso banquete dado pelo Hermes, esse sargentão sem compostura, aos seus apaniguados, e de tudo que nessa orgia se passou... esse canalha precisa de uma  reprimenda para entrar na disciplina. Veja se o Epitácio mostra agora sua apregoada energia, punindo severamente esses ousados... A situação não admite contemporizações; os que forem venais, que é quase a totalidade, compre-os com todos os seus bordados e galões".
            Os protestos de Bernardes quanto à falsidade do documento não encontraram eco na oficialidade. Uma longa, desgastante e acirrada polêmica sobre a autenticidade da carta arrastou-se durante meses. A idéia que ficou pode ser resumida numa afirmação que revela o grau de radicalização atingido pelo confronto:
Se não escreveu, foi o que disse. E se não disse, é o que pensa.
                Nos últimos dias de dezembro, o General Ximeno de Villeroy, depois de condenar com veemência a "desbragada delapidação dos cofres públicos" e a "onda de lama que ameaça submergir a República" lança um dramático apelo:
"Republicanos! Até quando sofreremos tanta ignomínia e abjeção? Uni-vos que é chegada a hora de fazermos justiça implacável! Discípulos de Benjamin Constant! Soldados de Floriano e Deodoro, que vos importam os insultos de um politiqueiro de baixa estofa?"
                A campanha da Reação Republicava, nome pelo qual a chapa oposicionista evocava o compromisso com a causa pública contra o processo de privatização do Estado promovido pela oligarquia cafeeira, empolga as ruas. Era absolutamente nítido o contraste entre a vibração produzida pelas duas campanhas. No carnaval, cantada e tocada até a exaustão, apesar de proibida pela polícia, a marchinha de Freire Júnior e Careca, Ai Seu Mé, renovava as esperanças:
                        Ai, Seu Mé!
Ai, Seu Mé!
                                Lá no Palácio das Águias, olé!
                                Não hás de pôr o pé!
               
4. Tribunal de Honra
            Encerrada a votação, Nilo Peçanha começa a articular, com o apoio do Clube Militar, a criação de um Tribunal de Honra, para garantir a "apuração isenta" do pleito. Em favor da tese, é invocado o exemplo norte-americano das eleições presidenciais de 1876.                                     
            Ao substituir a comissão de verificação de poderes do Congresso, o Tribunal de Honra poria em cheque o principal trunfo da oligarquia para produzir a vitória de seu candidato: a fraude.
            A proposta ganha força na sociedade. Os pronunciamentos militares se sucedem. O presidente Epitácio Pessoa tenta contê-los através de atos administrativos, transferências, punições, o que só faz elevar a temperatura.
            A oficialidade jovem revela-se cada vez menos disposta a aceitar que as eleições terminem num novo cambalacho. Os tenentes sonhavam com um Brasil livre dos grilhões da monocultura cafeeira, renovado pelo voto secreto,  educação pública, industrialização, moralidade administrativa, erradicação da miséria. A fraude eleitoral significava o contrário. Uma idéia vai ganhando força nos quartéis:  Tribunal de Honra ou Revolução!
            No mês de abril, são presos quatro aviadores navais, sob a acusação de planejarem o bombardeio do trem presidencial, que transportaria Epitácio Pessoa em sua viagem de Petrópolis para o Rio de Janeiro, no dia 28.
            Na noite de 1º de maio, o presidente realiza uma reunião de emergência, no Palácio do Catete, com os mentores da candidatura oficial, para avaliar a conveniência de, como resposta ao Tribunal de Honra, promover uma reforma no regimento do Congresso, para que a comissão de verificação de poderes ganhasse o caráter de comissão de arbitragem constituída por três representantes de cada candidato. Seria uma proposta de acordo, que contava com o apoio de Nilo Peçanha.
            Os ministros da Guerra e da Marinha alertam para o estado agudo e explosivo da crise militar e consideram o acordo uma boa saída.
            O senador Raul Soares - já eleito para substituir Bernardes no governo mineiro - contesta a idéia. Argumenta que tal comissão, por ser paritária, terminaria seu trabalho num impasse, não reconhecendo nenhum dos dois candidatos, o que acarretaria a anulação do pleito.
A bem da verdade, a renúncia dos candidatos e a convocação de uma nova eleição não estava fora das cogitações de Epitácio. Em carta a Bernardes, Raul Soares relata o diálogo que manteve com o presidente:
-  O Artur Bernardes - é a minha convicção - não se agüentará 24 horas no Catete... É possível que aqui ainda obtenha certo apoio da guarnição, porque está organizada com o máximo de cuidado... Mas e os estados? As deposição de governadores partidários de Bernardes se sucederão. Não ficará um só governo de pé e o Bernardes não terá forças para restabelecer a ordem. Teremos, pois, a revolução, a anarquia e o mais que se pode prever.
- De acordo com a sua exposição só há uma solução: a desistência do Artur...
- Exatamente, a desistência de Bernades seria a solução.
O senador paulista Álvaro de Carvalho, que havia apoiado a tese do entendimento, comunica, no encerramento da reunião, o recado que Washington Luís lhe transmitira através de uma ligação telefônica: São Paulo não aceita nem reforma, nem renúncia, nem qualquer alteração das regras eleitorais. O pronunciamento do governador reafirmava os termos da nota do Partido Republicano Paulista, porta voz da oligarquia cafeeira, contra as tentativas de apaziguamento realizadas antes da eleição: 
"São Paulo, como sempre, assumiu atitude definida e definitiva".
O assunto estava encerrado. No dia 7 de junho, o Congresso proclamaria a vitória de Bernardes. Porém, até a posse, em 15 de novembro, muita água ainda haveria de rolar por baixo e por cima da ponte.

11/07/2013

JORNAL "HORA DO POVO" I


 
 
A Revolução de 1922
 
OS 18 DO FORTE
 
"Que povo não se orgulharia de possuir na raça tais leões?"
 
 
1. Às Portas da Revolução
 
Domingo, 2 de julho de 1922. O decreto de fechamento do Clube Militar, anunciado pelo governo, é debatido em Assembléia dirigida pelo marechal Hermes da Fonseca, presidente do Clube. Presentes cerca de 600 oficiais, em clima de grande agitação. Contra o tenente Gwyer de Azevedo, que discursa na tribuna,  disparam apartes o major Euclides Figueiredo, o coronel Tertuliano Potiguara, os generais Setembrino de Carvalho, Napoleão Felipe Aché, Carneiro de Fontoura, membros da cúpula militar comprometida com a velha ordem que começava a desmoronar. O relato do episódio, firmado pelo próprio tenente Gwyer de Azevedo, é representativo da tensão que marcava a época. Oito anos e três meses mais tarde, a oligarquia cafeeira seria derrubada do poder pela Revolução de 1930.
Tenente Gwyer: ... Os jornais noticiam que o senhor Presidente da República ...vai mandar seus agentes fecharem amanhã o Clube Militar, baseado numa lei proíbe as sociedades de anarquistas, de cáftens e de exploradores do lenocínio...
Major Euclides Figueiredo: O senhor Presidente da República tem toda a razão.
Tenente Gwyer: Vossa Excelência concorda que o presidente feche o Clube Militar baseado naquela lei?
Major Euclides Figueiredo: Concordo.
Tenente Gwyer: Então Vossa Excelência é cáften? É explorador do lenocínio?Queira desculpar porque, francamente, eu não sabia.
Marechal Hermes: O senhor tenente Gwyer precisa modificar a sua linguagem...
Tenente Gwyer: ... O que revolta é oficiais emprestarem seus galões a um bandido, ... deixando-o cavalgar livremente o Exército e fechar o Clube Militar de maneira infame, injuriosa e opressora.
Coronel Tertuliano Potiguara: Vossa Excelência se atreve a chamar o senhor presidente da República de bandido?
Tenente Gwyer: Ele não é somente bandido, é ladrão também, está provado...
Capitão Teopon Vasconcelos: Vossa Excelência é indigno de vestir a farda do Exército. Não agrida seus superiores!
Tenente Gwyer: Eu falei com o coronel Potiguara, e não com o seu ordenança...
Capitão Teopon Vasconcelos: Vou lhe mostrar quem é o ordenança, seu cachorro...
Marechal Hermes: Se os senhores oficiais continuarem nessa linguagem, serei obrigado a suspender a sessão. Todos nós somos do Exército, e o que está se passando aqui depõe contra nossa cultura e nossa educação. Continua com a palavra o Tenente Gwyer de Azevedo.
Tenente Gwyer: A observação do senhor presidente atinge aqueles que me obrigam a responder com violência aos apartes violentos e indelicados...
Coronel Potiguara: Vossa Excelência é um cretino.
Tenente Gwyer: Cretino é Vossa Excelência. Não estamos no Contestado, onde Vossa Excelência mandava fuzilar a torto e a direito...
General Setembrino de Carvalho: Fosse eu presidente do Clube, esse oficial não continuaria a falar.
Tenente Gwyer: ... Como poderia ser presidente deste Clube um oficial-general que na campanha do Contestado roubou da nação dois mil e seiscentos contos, assinando recibos fantásticos de víveres e deixando os soldados morrerem de fome?
Coronel Potiguara: Vossa Excelência é um caluniador:
Tenente Gwyer: Vossa Excelência toma as dores porque mandou encher de palha os 15 vagões que deveriam levar roupas para os soldados no Contestado, remeteu 30 volumes de pedras no lugar de 30 volumes de granadas  ... fluidificou 20 mil pares de botas de montaria que nunca foram vistas, em ponto algum do planeta, a não ser nas algibeiras de Vossa Excelência, vastas como o oceano...
General Napoleão Felipe: Torna-se necessária uma reação da nossa parte, porque esse oficial está nos enxovalhando.
Tenente Gwyer: Vossa  Excelência também tem rabo de palha..
General Napoleão Felipe: Aponte uma irregularidade minha.
Tenente Gwyer: Vossa  Excelência, na França, requisitou dinheiro do Tesouro Nacional para pagar dívidas contraídas em conseqüência de jogo e libertinagem... Isso está no relatório do embaixador do Brasil enviado ao Ministério do Exterior.
General Napoleão Felipe: Mas esse embaixador é um canalha...
Tenente Gwyer: Não sou o culpado. Entenda-se com o senhor embaixados.
Marechal Hermes: Não posso aceitar os termos em que o senhor está se expressando...
Tenente Gwyer: Senhor presidente... Estamos às portas da revolução!
 
2. A República do Café
               
Em 1894, com a ascensão de Prudente de Moraes à presidência, a oligarquia cafeeira paulista assumira o controle da República.
A produção do café viera se expandindo continuamente, desde 1830. A partir de 1870, com a marcha para o Oeste paulista e a introdução da mão de obra assalariada, esse crescimento foi fortemente acelerado. Porém, no final do século, grandes dificuldades despontaram no horizonte.
Em 1893, a saca de café no mercado internacional estava cotada a 4,90 libras. Em 1899, o preço caíra para 1,48 libras - uma queda de 70% em seis anos. Sob comando dos cafeicultores, a resposta do governo era a desvalorização cambial. A oligarquia cafeeira recebia menos libras por cada saca de café. Mas compensava a perda no momento em que trocava as libras valorizadas pelos mil-réis desvalorizados.
Do outro lado da moeda, o preço, em mil-réis, dos produtos importados se elevava. Como a oligarquia não queria nem ouvir falar em política de industrialização, o país seguia importando quase tudo o que consumia. Portanto, quem acabava pagando a conta da política de manutenção dos lucros do café através da desvalorização cambial era o povo, assolado por uma inclemente carestia.
Em 1901, a produção nacional de café atingiu 16,3 milhões de sacas, enquanto o consumo mundial era de apenas 15 milhões. O problema tornava-se mais grave.
Em 1906, uma nova política foi inaugurada, através do Convênio de Taubaté. O governo paulista - secundariamente os de Minas e Rio -, com o aval do governo federal, contrairia empréstimos junto aos bancos ingleses e norte-americanos para comprar e estocar café, de modo a que a oferta excessiva do produto não acarretasse a redução dos preços.
O resultado era previsível: estoques invendáveis se acumulariam e os bancos não abririam mão de receber seus empréstimos. Para atendê-los o governo acabaria promovendo a socialização dos prejuízos, drenando os recursos do conjunto da sociedade.
Batizada de política de valorização do café, esse expediente arquitetado para garantir lucros à oligarquia cafeeira e ao sistema financeiro internacional, às custas da expropriação de todos os demais setores da sociedade, perdurou até a Revolução de 1930, convivendo, inclusive, em vários períodos com a desvalorização cambial.
Tal situação se refletiria diretamente sobre o sistema político. Na impossibilidade de mantê-la através de regras minimamente democráticas, seus beneficiários transformaram o processo eleitoral num grosseiro cambalacho.
Além do voto a bico de pena - aberto e não secreto - que propiciava toda a sorte de pressões, intimidação e encabrestamento dos eleitores, o sistema de apuração alterava escandalosamente o veredicto das urnas.
A designação de todos os componentes das mesas eleitorais era de responsabilidade exclusiva dos presidentes das casa legislativas. Depois de colhidos e contados, os votos eram incinerados. Sobravam as atas, cuja validação e totalização também estavam sob estrito controle dos presidentes dos legislativos.
Quando isso não se mostrava suficiente para alijar os candidatos oposicionistas, as comissões de verificação de poderes das Assembléias Estaduais e da Câmara Federal, nomeadas pelo mesmo critério, se encarregavam da degola: termo pelo qual celebrizou-se o ato de transformar candidatos derrotados em vencedores e vice-versa.
Tal sistema eleitoral, fraudulento até a medula, garantia às elites estaduais o controle sobre sua província e à oligarquia paulista, coadjuvada pela mineira, o controle sobre a máquina federal.
Só uma única vez, em 1910, uma cisão entre paulistas e mineiros produziu a brecha que levou à presidência da República um candidato fora do eixo café-com-leite, o marechal Hermes da Fonseca.
 

O BAIRRO DA RIBEIRA


                   Gileno Guanabara.

O Bairro da Ribeira se ateve nos limites da Cidade Baixa, circundado pelo Rio Potengi, entre as “Roccas” e o nascituro Bairro da Cidade Alta. Numa faixa que se estendia desde a “Campina”, como era chamada, sujeita às enchentes das marés altas, a Ribeira ganhou projeção urbanística, haja vista o comércio conjugado à agitação do cais da Avenida Tavares de Lira. A população de suas ruas e becos viu edificarem-se igreja, teatro, praças, escolas, grassou o pecado, pois funcionavam plenamente os “estabelecimentos de distração”.

Dentre os logradouros mais importantes da Ribeira tem-se a Avenida Tavares de Lira. Privilegiada durante o Governo de Alberto Maranhão, ganhou arborização com fícus benjamim, calçamento a paralelepípedos, postes e a passagem do bonde elétrico. Desde o cais, onde ancoravam os vapores e a banda de música tocando para os que aportavam, a Avenida Tavares de Lyra se estendia até os jardins da Praça José da Penha (ex-Praça Leão XIII). Ao fundo destacavam-se as construções do “Monte Belo”, ofuscados depois pela presença da Igreja do Bom Jesus, com suas torres retilíneas e sinos musicais.  Avenida dos carnavais do confete, das serpentinas e lança-perfumes; dos carros Ford l929 e do proselitismo revolucionário, com os “meeting” das caravanas da Aliança liberal. A majestosa presença do Hotel Internacional, de cujas sacadas os partidários da revolução, faziam discursos inflamados perante a multidão. Batista Luzardo, Café Filho, Neves da Fontoura, Kerginaldo Cavalcanti, (A Patativa do Norte), incendiavam os populares com a eloquência dos discursos.

Outra via de importância do Bairro foi a Rua do Comércio (atual Rua Chile). À margem direita do Rio Potengi, cruzava a Avenida Tavares de Lyra, seguia em direção à Explanada Silva Jardim e ao Edifício Fernando Costa. Nela residiu Ferreira Itajubá. Funcionou a usina de beneficiamento de algodão de Wharton Pedrosa; funcionaram os armazéns de secos e molhados das famílias Lettieri, Morelli, Machado e Suassuna e ainda a empresa de beneficiamento de algodão Sanbra. Os clubes de remo. Lá estava a Estação da Estrada de Ferro (atual sede da CBTU). Os trilhos seguiam a Rua em direção ao Bairro das Roccas. A sede da Alfândega instalada ao final da Rua desde 1840.  Entre o prédio da Estação e o da firma Wharton Pedroza, o espaço aberto para o Rio, servia de depósito aduaneiro.

A Rua Dr. Barata antes fora Rua Visconde de Rio Branco. Famílias ali residiram. Notabilizou-se pela atividade comercial. Empórios como Galvão Mesquita; Farmácia Brasil; Armazém Lamas; A Cooperativa de Crédito de Ulisses de Gois. A Livraria e Papelaria Pereira; Alfaiataria Londres; A Nova Aurora, dentre outros. Ainda na direção Sul/Norte, a Avenida Sachet que passou a chamar Avenida Duque de Caxias, arborizada com fícus benjamim, canteiros centrais e residências. Nela se construiu o Edifício Alves Billa e residiu o médico Januário Cicco.

Outra via pública, no mesmo sentido, a partir da Praça Augusto Severo, era a Rua Senador José Bonifácio, que passou a ser “Rua das Virgens”, atual Rua Câmara Cascudo. De moradias residenciais, lá nasceu Luis da Câmara Cascudo. Apontando ao Nascente, a Rua General Glicério. Caminhou desde os fundos da Igreja do Bom Jesus, em direção aos jardins da Lagoa do Jacó, com residências, indústrias e serviços públicos (Usina de Algodão de João Câmara e o Estádio de futebol e a Estação Central Ferroviária).

Durante o Governo de Alberto Maranhão, o Bairro da Ribeira foi alvo das construções que lhe deram a atual configuração, tendo por área central a Praça Augusto Severo. Nesse aspecto, o prédio do Banco do Povo (atual Rádio Cabugi); o Edifício Fernando Costa; O Banco do Brasil, os bondes da Cia. Municipal de Transporte, cuja rota interligou a Ribeira aos demais bairros do Sul da cidade.

 O encantamento do Zepelim e a tradição do Café “Cova da Onça”, fechado em decorrência dos boatos políticos. Certa feita, Café Filho em visita ao “Cova da Onça”, foi vítima de um tiro. Jogou-se ao chão. No momento era seu acompanhante o correligionário Abelardo Calafange, que em disparada gritava: “chame um médico”... ”Chame um médico”. Ele próprio era médico.  A Peixada Potengi e os saraus gastronômicos de Cascudo. Os pecados da Rua 15 de Novembro. O albergue do “Beco da Quarentena”. O descortino de Aluísio Alves e o periodismo de A Tribuna do Norte; o Jornal do Comércio de Theodorico Bezerra; a presença do Teatro Carlos Gomes, da Escola Augusto Severo, da Escola Doméstica de Henrique Castriciano, e a Estação da Great West. O Grande Hotel na Praça José da Penha que acolheu governantes, artistas e militares, são marcas de épocas diferentes que contribuíram para as transformações urbanas que estavam por vir.

A Ribeira que durante o dia conciliava a noção pueril de vida pachorrenta, dolente, à noite se via festiva na alegria dos “estabelecimentos de distrações”, como eram chamados os cabarés e as boates. Na polaridade de tais extremos, a Cidade do Natal viveu intensamente aquele momento, tendo em vista se tornar moderna apesar de tudo. Enquanto os holofotes da guerra não causavam preocupações maiores, a Ribeira viveu infestada de vitrolas, luzes e boemia.

10/07/2013

Lopo Gil Fagundes e a barrica de bacalhau




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG
Officinas
As lendas povoam as histórias das nossas famílias, mas sofrem, ao longo do tempo, deslocamentos verticais, horizontais e transversais, nas transmissões orais. Fábio Queiroz informa que na família da sua sogra,  Maria do Rosário Fagundes, nascida no Rosário, é corrente a informação que Lopo Gil Fagundes chegou ao Assú, em um navio, escondido em uma barrica de bacalhau. O primeiro registro que obtive de Lopo Gil data de 1827. Ele foi testemunha de um casamento nas Oficinas (povoação do Assú, onde se preparavam carnes e peixes para exportação), e nessa data já era casado. Era nessa localidade que devia morar, pois, foi de lá que eu encontrei a maioria dos registros sobre ele. Em um registro de uma filha, descubro o nome da esposa.

Em 13 de dezembro de 1831, nascia Maria, filha de Lopo Gil Fagundes, natural da Europa, e de Maria do O’ Pereira da Costa Fagundes, do Assú, que foi batizada nas Oficinas, em 4 de abril do ano seguinte, tendo como padrinhos João Martins Ferreira (meu tetravô), casado, e Josefa Maria da Conceição, viúva. Em 1833 e 1836 nasciam mais duas filhas do casal, batizadas, também, com o nome de Maria.

Pelos diversos registros que encontrei sobre o casal, Lopo Gil e Maria do O’, que dá origem aos Pereira Fagundes, e pelas informações contidas no livro de Antonio Soares de Macedo, sobre a família Casa Grande, deduzo que Maria do O’, esposa de Lopo, era uma das filhas de capitão-mor Pedro Pereira da Costa e de D. Josefa Maria da Conceição, neta por parte paterna de Pedro Pereira da Costa e Rosa Thereza de Sousa, naturais da Freguesia de Santo Antonio do Fayal, patriarcado de Lisboa; e, por parte materna de Jerônimo Cabral de Macedo e D. Maria do O’ de Faria. Portanto, Lopo Gil Fagundes era cunhado do comandante Jerônimo Cabral Pereira de Macedo. As diversas famílias do Assú eram, comumente, associadas às fazendas que possuíam. Maria do O’ mais seus irmãos constituíam a família do Morro, sendo seu membro mais destacado Jerônimo Cabral Pereira de Macedo, morador em Macau.

Os batismos, em geral, traziam somente o primeiro nome do batizado, que algumas vezes se repetiam, em uma mesma família. Em 10 de novembro de 1834, nascia Jerônimo, filho de Lopo e Maria do O’, batizado, nesse mesmo ano, “no pé do Morro”, em Santana do Matos, tendo como padrinhos José Correa de Araújo Furtado e D. Maria do O’ de Araújo Braga; em 1839, nascia outro filho, batizado, com o mesmo nome Jerônimo, na capela de São José das Oficinas e tendo como padrinhos o comandante superior Jerônimo Cabral Pereira de Macedo e D. Josefa Maria da Conceição (avó).

Um registro de casamento, que cita os pais dos nubentes, diz que em 20 de maio de 1852, na povoação das Oficinas, Josefa Maria Pereira Fagundes, filha de Lopo Gil Fagundes e Maria do O’ da Costa Fagundes, casou com José Manoel Fernandes, filho de José Fernandes Novo e de Francisca Sipriana de Arruda, ambos falecidos, tendo sido testemunhas José Barbosa Pimentel e Pedro Pereira Fagundes, ambos casados.

Encontramos diversos nomes que parecem ser de descendentes de Lopo Gil, mas as descontinuidades dos registros, bem como a pobreza das informações neles contidas, impossibilitam a comprovação. Vejamos alguns exemplos: Vicente Gil Fagundes, casado com Maria Francisca Xavier das Chagas, batizou em 13 de dezembro de 1840, Manoel, tendo como padrinhos José Francisco Viera e Maria Joaquina da Conceição; em 27 de fevereiro de 1863, nascia Leandro, filho de José Pedro Pereira Fagundes e Maria do O’ do Espírito Santo, batizado no Rosário, em 5 do  mês de junho do mesmo ano, tendo como padrinhos Lopo Gil Fagundes e Anna Fragosa de Medeiros (esta última concubina de Jerônimo Cabral Pereira de Macedo); em 28 de setembro de 1860, nascia Manoel, filho de Manoel José Pereira Fagundes e Maria Francisca Pimentel Fagundes, batizado aos 8 de janeiro de 1861, tendo como padrinhos Lopo Gil Fagundes e Maria Rita Bezerra Pimentel; Uma das Marias, filha de Lopo e Maria do O’, pode ser Maria dos Anjos Pereira Fagundes casada com José Barbosa Pimentel Junior. Este último pode ser José, nascido em 1832, filho de José Barbosa Pimentel e Maria Rita Bezerra (filha de Balthazar Barbalho Bezerra).

Em vários registros encontramos Lopo Gil já viúvo. Não encontrei um segundo casamento, entretanto encontro o seguinte registro: em 27 de novembro de 1865, nascia Maria, filha natural de Luiza Maria do Espírito Santo e de Lopo Gil Fagundes, batizada na capela do Rosário, em 22 de janeiro de 1866, tendo como padrinhos Nossa Senhora e Pedro José Pereira Fagundes.
Em 1855 há um batismo onde os padrinhos são Jerônimo Cabral Pereira Fagundes e Maria da Glória Pereira Fagundes, ambos nessa época solteiros. Ele deve ser um dos Jerônimos e ela uma das Marias, citadas no início.

Segundo Fábio Queiroz, sua sogra, Maria do Rosário Fagundes, era filha de Francisca Lopo Fagundes e Roque Pereira Fagundes, primos. Os pais de Francisca eram Manoel Fagundes e Ana Varela Barca, naturais do Assú.

Os descendentes de Lopo Gil, com as informações trocadas entre si, poderiam reconstituir uma árvore mais precisa da família.

09/07/2013

A RUA NOVA



                                          Gileno  Guanabara                                  

A “Rua Nova” passou a ser chamada de Avenida Rio Branco, apelido que antes fora “Visconde do Rio Branco”, na Ribeira. Com a mudança, vieram os postes de ferro, iluminação, pavimentação, canteiros, calçadas de mosaico e filas de mugubeiras e ficus benjamin. As famílias prosavam nas calçadas, antes da ceia e se recolhiam para dormir. Os bondes e automóveis trafegavam em mão dupla. Os bondes deixavam de circular às 22,00 horas. Eram recolhidos nas oficinas, final da “Rua do Fogo”, na parte do Baldo que se chamou de “Oitizeiro”.

O comércio migrou da Ribeira para a Cidade Alta. A cidade e o comércio foram tomados por turcos, libaneses e italianos que praticavam o comércio e amealharam riqueza. Os ambulantes andavam pelas ruas a pé, de paletó, gravata e chapéu. Portavam malas de couro. Batiam palmas nas portas e vendiam a prestação tecidos, capas e guarda-chuva, galocha, pentes e leques. Os “turcos” anotavam as contas e os pagamentos em fichas.

Do Mercado Público saiam os verdureiros encorcudados com o peso das arupembas empilhadas num eixo sobre o ombro. Vendiam verduras, legumes e peixes. Os triângulos sonoros repicavam o “cavaco chinês”. Outros vendiam tapioca. Os tabuleiros do “Cucus da Mata” madrugavam. Os tropeiros traziam no lombo dos burros em fila os caçuás com caranguejo, verduras e frutas. Cortavam a madrugada, despertavam o “Beco da Lama”, com o estalar dos seus chicotes. Cedinho, se estabeleciam na pedra. A Avenida Rio Branco ganhava novas lojas, refletindo a origem de seus donos: “A Formosa Syria” (de Hassan Amin & Filhos); “Casa Duas Américas” (Nagib Salla e irmãos); “Casa Vesúvio”(Francisco Maiorana); “Granada Bar – Confeitaria” (Nemésio Morquecho Morina); “Casas Tic-tac” (Habib Chalita); “Armazem Natal” (família Lettieri), dentre outras.

A Escola de Artífices (ex-Escola Industrial de Natal, e Instituto Federal de Educação), construção imponente, esquina com a atual Rua Professor Zuza, ocupava a quadra da Avenida Rio Branco. Abrigou gerações que, em horário integral, estudaram os ofícios de sapataria, alfaiataria, mecânica e outros misteres. Na outra esquina da Rua Professor Zuza, “Seu Josino” dos “mistos” de cabine dupla que faziam a linha Natal/São Tomé. Seus filhos, Juvanklim e João Gilfranklim, exímios violonistas compunham com Zé Erivan e vocalizavam boleros de amor. O “Educandário Natal”, do professor Severino Bezerra, na esquina com da atual Rua General Ozório e depois, defronte o Mercado Público, se chamou “Ginásio Natal”. A sede benemérita da “Associação dos Professores”. O mistério do consultório do Dr. Demétrio Viveiros. O Dr. Paulo Luz e o primeiro aparelho de Raio X de Natal. A Liga Operária Norte-riograndense. A Escola Normal já na descida em direção à Ribeira. Casarios foram  construídos na ladeira do Baldo.

 O castelo da viúva Chiquinha Freire, esquina da Rua João Pessoa com a Avenida Rio Branco. Conta-se que na lateral do castelo foi afixado o reclame de um fortificante. A mensagem ilustrava: “o peito de aço”. O povo vinculou o epíteto à imagem da proprietária: “A viúva do peito de aço”.

 Poucos automóveis passeavam nas ruas e desfilavam na alegria dos carnavais. As marcas “Chevrolet”, “Hudson”; “Dodge”; “Plimothy”; “Ford” e “Mercury”, eram importadas. As “sopas” foram os primeiros auto-coletivos de transporte movidos à gasolina, no trajeto Alecrim/Ribeira. Foi-se o tempo das festas natalinas. Enquanto a “missa do galo” não vinha, moças e rapazes passeavam e se enamoravam nas calçadas, enquanto espiavam as vitrines das lojas.

 O primeiro semáforo de trânsito foi edificado no cruzamento da Avenida Rio Branco com a Rua João Pessoa. O tráfego vinha da Ribeira e descia pela Avenida Rio Branco, rumo ao Alecrim. De volta à Ribeira, retornavam pelo canal do Baldo e atravessavam aquele mesmo cruzamento. O semáforo se assentava na base de alvenaria e tinha cobertura de metal. Ao final do mastro se apoiavam os sinais coloridos. O guarda postado sobre a base orientava o tráfego. Ao apito referente ao sinal verde, a multidão aglomerada evoluía em bloco, numa gritaria uníssona. Caminhava até atingir a outra calçada. Do jeito que ia, voltava com o mesmo alvoroço, durante várias vezes, movida apenas pelo apito do guarda.

Nos anos de 1950, na Avenida caminhou Getúlio Vargas. Nela Juscelino e Jango discursaram. Por ela, o féretro de Dix-sept Rosado foi conduzido em romaria. Anos depois, uma peste de piolhos chamados de “Lacerdinha” justificou a poda dos fícus Benjamin. Os bondes deixaram de circular. Um incêndio devorou o Mercado Público. Em seu lugar foi erigido o Banco do Brasil. As famílias se transferiram. Mesmo assim, o encantamento do comércio e o charme político da “Rua Nova” perduram até hoje.

TONHECA DANTAS


 
O ex-prefeito de Natal na década de 60 Djalma Maranhão costumava chamar Tonheca Dantas de Strauss Papa-Jerimum.
Antonio Pedro Dantas (1871-1940), era filho de João José Dantas e da escrava alforriada Vicência Maria do Espírito Santo, natural de Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte, Brasil. Tonheca Dantas, como era conhecido, foi músico, compositor e maestro, sendo autor de uma obra de mais de mil peças musicais.
Despertou seu gosto pela música desde garoto, aprendendo com seus irmãos, em uma banda de música de sua cidade. Jamais teve formação superior como músico, sendo autodidata. Em 1898 foi contratado como maestro da Banda de Música da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, função que exerceu por três anos. Em 1903 mudou para Belém do Pará, sendo contratado como regente da Banda de Música do Corpo de Bombeiros em 1910 foi para a Paraíba onde regeu as bandas de música das cidades de Alagoa Grande e Alagoa Nova. Retornou definitivamente em 1911 para Natal onde passou a integrar a Banda de Música da Polícia Militar.
Sendo compositor de uma vasta obra até hoje executada pelas bandas filarmônicas Brasil a fora e até mesmo no exterior, é de sua autoria a Valsa Royal Cinema, que compôs para um cinema da cidade do Natal, pertencente a um amigo. Esta valsa foi tocada exaustivamente pela Rádio BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial, infelizmente executada como sendo de “autor desconhecido”.
 
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Colaboração de Odúlio Botelho
Amigos,

Repasso o que recebi de um amigo, onde constam duas valsas de Tonheca Dantas. Royal Cinema que é por demais conhecida e Delírio, que eu particularmente acho mais
bonita do que a primeira.

A informação abaixo não está completa, pois o que sei é que a valsa Royal Cinema foi composta quando ele estava em Belém, a pedido de um homem muito rico, que queria homenagear a sua namorada ou noiva. Tonheca compôs essa valsa com outro nome, mas como o namoro ou noivado acabou, a valsa voltou para Tonheca que trouxe para Natal, e aí sim, homenageou o Royal Cinema.