Os Torres do Cururu
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Na viagem de Frei Aníbal de Genova, o filho de Francisco Xavier Torres teve oportunidade de demonstrar toda a sua experiência. Já no Cariri, há o seguinte relato: Subitamente, saíram de dentro de um bosquezito, duas onças enormes. Imediatamente foram alvejadas pelo jovem Torres e um dos índios. Rolou um dos jaguaretês. Acudiram os dois onceiros que com extraordinária bravura fizeram frente à fera ferida. Mas nisto os animais da tropa espavoridos, dispararam pelo campo a fora. Receosos de os perder partiram todos para os cercar. Ao voltarem encontraram a onça que os dois cães haviam acabado, embora um deles houvesse levado terrível munhecaço do felino que quase o matou.
Acho que o síndico do convento de Recife, Francisco Xavier Torres, que recebeu lá no Cururu, Frei Aníbal de Gênova, e foi, com a família, levá-lo até Goianinha, é o mesmo que foi testemunha em 1749, na capela de Santa Anna da Aldeia de Mipibu, do casamento de Constantino de Lima Rocha e Francisca Florência Leal de Jesus, uma filha do capitão João Fernandes de Sousa e Antonia Dias de Araújo; e que foi testemunha, na mesma capela em 1755, do casamento de Passivaldo de Freitas e Maelma Ribeiro; e que no ano de 1754, foi padrinho junto com a filha Eugenia Maria da Conceição, de João Manoel, filho de Clemente de Barros e Arcângela Pereira; Clemente de Barros casou, na capela de Santa Ana da Aldeia de Mipibu, com Arcângela, em 1753, sendo viúvo de Úrsula Pereira. Eram os pais de Arcângela, Clemente Pereira e Maria das Neves. Houve dispensa no terceiro grau de parentesco, por afinidade, e no espiritual de compradesco. Estavam presentes como testemunhas Francisco Xavier Torres e seu filho Manoel Fernandes Torres.
Maria Caetana, filha do casal Clemente e Arcângela, foi batizada em 1756, em Mipibu, tendo como padrinhos o sargento-mor Caetano Machado Barreto e Joanna Maria Torres. Talvez o genro de Francisco Xavier, lá de Caiçara, citado por Frei Aníbal, fosse Caetano Machado e não Antonio Machado.
Por falta de outros livros, já desaparecidos, não encontramos, até agora, mais informações sobre o síndico.
Somente no ano de 1821, voltamos a encontrar novos registros sobre os Torres, na Vila de São José de Mipibu. Naquela data, Antonio Lotério, filho de Francisco Xavier Torres e Quitéria Maria, casava com Rita Maria de Jesus, filha de Vicente Ferreira da Costa, falecido. Mas quem era esse Francisco Xavier Torres? Seria filho ou neto do síndico?
Aos 11 de outubro, de 1836, na matriz de Nossa Senhora do O’ de Papari, Joaquim José de Sousa, casou com Antonia Clara da Silva, sendo ele viúvo de Joaquina Maria de Sousa, e ela filha legítima de Francisco Xavier Torres e Maria Francisca, falecida, natural e moradora no Cururu. No ano seguinte, em 1837, Francisco Xavier Torres e Maria Joaquina foram padrinhos de Joaquina, filha de Joaquim José e Antonia (nesse novo registro foi escrito Antonia Maria do Carmo). Nenhuma informação sobre o estado civil dos padrinhos. Por coincidência, meus trisavós eram Francisco Xavier Torres Junior e Maria Joaquina Lúcia da Costa. A descontinuidade dos documentos e a falta de maiores detalhes não permitem qualquer inferência, somente suposições.
Em 1849, em Touros, Clementino Gomes Torres, filho de Francisco Xavier Torres e Joaquina Gomes da Costa, casou com Joaquina Francisca das Virgens, filha de Francisco Bezerra de Melo e Rita Maria de Medeiros. Vamos encontrar, também, no Vale do Ceará-mirim, no ano de 1860, o casamento de Manoel Xavier Torres filho de Francisco Xavier Torres e Joaquina Gomes da Costa, com Maria Francisca de Paula, filha de José Francisco de Paula, falecido, e Manoela de tal. Quem era esse Francisco, pai de Manoel e Clementino? Sabemos, pelos estudos que temos feito, que os diversos filhos de um mesmo casal colocam nos filhos o nome do avô, por isso as várias repetições de nomes.
Meu trisavó, citado acima, era filho de Francisco Xavier Torres e Úrsula Córdula do Sacramento (do Espírito Santo, em outros registros). Era natural de Extremoz, mas morador na Freguesia de Touros, segundo os registros paroquiais de Angicos. Pelo seu óbito, meu trisavô nasceu por volta de 1810. O documento de doação de terras, para Nossa Senhora da Conceição de Guamaré, é datado de 1783, sendo os doadores Francisco Xavier Torres e sua esposa Maria Gomes da Silva. Constava nesse documento que eles, os doadores, eram antigos moradores de Mangue Seco. Por outro lado, em 1762, Francisco Xavier Torres, o síndico do convento de Frei Aníbal, já era pai de um jovem Torres que acompanhou Frei Aníbal e, alem disso, tinha uma filha, casada com Antonio Machado, que morava em Caiçara. Outra informação interessante, é que um irmão de meu trisavô tem Gomes no sobrenome, como é o caso de Felis Gomes Torres que casou com Joanna Francisca da Costa, filha de Roberto da Costa Gomes e Rita Antonia do Espírito Santo, tendo sido dispensado no segundo grau de consanguinidade. Roberto da Costa Gomes devia ser irmão de Úrsula Córdula, talvez parente de Maria Gomes da Silva, doadora da Capela.