Zé Areia
AUGUSTO COELHO LEAL
Hoje pego
uma carona em um livro escrito por um grande amigo de meu pai e que com o
passar dos tempos tornou-se meu amigo também, e com ele tinha um bom papo na
Confeitaria Atheneu, quando ele por lá aparecia. Falo aqui de Veríssimo de Melo
que meu pai carinhosamente chamava-o de Viví.
Remexendo
nas minhas “coisas”, encontro um livro de sua autoria- Sátiras e Epigramas-
sobre Zé Areia. Barbeiro, e por vezes biscateiro de verve contundente, José
Antonio Areia Filho, nascido e vivido em Natal, entre os anos de 1901 a 1972,
foi figura participante do anedotário potiguar. Uma comparação pra quem não o
conheceu, ele lembrava fisicamente Brutus aquele das historias de Popeye.
Depois da
guerra, Zé Areia voltou á velha miséria. Não tinha emprego e vivia de vender
qualquer coisa que encontrava. O Chefe de Policia, General Ulisses Cavalcanti,
arranjou-lhe o emprego de barbeiro, na Casa de Detenção de Natal.
Zé Areia
trabalhou uns dias e logo depois desapareceu. Outro barbeiro passou a fazer o
serviço dele.
Quando o
General Ulisses soube que Zé abandonara o emprego, mandou chamá-lo e quis saber
o motivo, Zé areia informou.
- Subloquei
o emprego.
Zé Areia entrou
na gerência da Tribuna do Norte, vendendo bilhetes de rifa de um relógio.
Mostrou o objeto a Mussoline Fernandes e pediu-lhe que ficasse com um bilhete,
Mussoline, muito ocupado, e diante da insistência de Zé Areia, declarou:
- Olhe,
Zé: Eu não quero bilhete de relógio
porque já tenho relógio. Papai tem relógio. Mamãe tem relógio. Minha mulher tem
relógio, meu cunhado tem relógio. Prá que diabo eu quero mais relógio?
Zé Areia
baixou a cabeça e saiu. Na porta voltou-se para Musoline e exclamou:
- Isso é uma
casa ou uma relojoaria?
Zé
Areia andava com enorme carneiro, para
outra rifa, Luiz de Barros adquiriu um bilhete, que a tarde foi sorteado. No
dia seguinte acompanhando Zé Areia, foi buscar em um sitio lá no Alecrim. Zé
apontou para um cerneiro bem magrinho e pequeno que estava no curral e disse:
Pronto Seu
Luiz. O carneiro é este pode levá-lo.
Luiz de
Barros protestou.
- Essa não,
o carneiro da rifa parecia um zebu, não é esse, não levo
- Zé Areia
tentou explicar:
- Seu Luiz,
o carneiro é esse. É que ele passou a noite toda na chuva e encolheu.
Luiz Tavares
nos contou que Zé Areia convidou um amigo para almoçar uma panelada, no seu
casebre lá na Rua do Motor. O cidadão meio constrangido declinou do convite
alegando que a casa era em uma ladeira, a rua cheia de buracos e de areia, era
muito contramão.
Zé Areia
então retificou:
Contramão,
não. Contra os pés...