A RÁDIO NORDESTE
Gileno Guanabara.
Nostalgias à parte, boas lembranças urdem
teimosamente, vez por outra, e nos comovem. As tradições da Cidade do Natal
servem de inspiração.
O Bairro da Cidade Alta, que se estendeu
a partir da “Campina”, onde ficava a “Cidade Baixa” (atualmente a Praça Augusto
Severo e adjacências), viu nascer a Rua João Pessoa atual, a partir dos fundos
da Catedral centenária, onde está a “Praça Padre João Maria”, que se
notabilizou, defronte a casa do Cel. Joaquim Guilherme, em os rapazes se reunirem
para bisbilhotar a vida alheia. Passeio largo, os bancos da praça tornaram-se privilegiados
pela crescente sombra dos fícus benjamim. O busto do padre João Maria ao
centro, velas ardentes, fitas e “ex votos”
pelos milagres alcançados. Da Ribeira, vindo pela Catedral, passava o bonde pela
lateral da praça, preguiçosamente sobre trilhos, indo ao Alecrim.
Pelo lado da frente da Praça ficava a
edificação majestosa do Salão Imperador. Da Rua Vigário Bartolomeu (que fora
“Rua da Palha”), indo pela Rua João Pessoa, a sequência de portas dava acesso ao
salão das mesas de bilhar. O Salão Imperador deu lugar ao primeiro edifício da
cidade, homenagem à Loja Maçônica “21 de Março”. Defronte, um casario cuja
família acomodava moças que vinham estudar na capital. De cômodos dispostos para
a lateral da praça, os janelões pouco eram abertos à luz do sol. Pelos anos de
1970, deu lugar a sede do Banco do Nordeste do Brasil. Do outro lado, o local
que notabilizara o casario do Cel. Joaquim Guilherme deu lugar a imponente sede
da Irmandade do Senhor dos Passos, entidade que congregava religiosos católicos,
desde o ano de 1825.
Ano de 1955. Pela Rua João Pessoa, confluência
das Ruas Gonçalves Ledo e Vaz Gondim (tradicional
“Beco da Lama”), o imóvel que abrigava o Serviço Social do Comércio deu lugar a
Rádio Nordeste, propriedade do então senador Dinarte de Medeiros Mariz. O auditório
com 600 poltronas, ar condicionado, jardins internos, serviços de lanchonete, a
Sorveteria Oasis. O radialista Eider Furtado foi o seu primeiro diretor. Chamado
“Palácio do Rádio Potiguar”, a Superintendência foi exercida inicialmente por
Roberto dos Wanderley Mariz, e depois por Aldo Medeiros que foi sucedido por
Garibaldi Alves, em face da aquisição da Rádio por Aristófanes Fernandes.
A equipe de colaboradores incluía radialistas,
como José Garcia Câmara, Nilson Patriota, que produzia a Revista “Motivos
Brasileiros” e divulgava as coisas do rádio. Contava ainda com Jaime Wanderley,
Robério Santos, Hélio Fernandes. Do Departamento Esportivo os radialistas Ivan
Lima, Amauri Dantas, Jaime Queiroz e Fernando Garcia, com transmissões diretas
do Estádio Juvenal Lamartine.
Entusiasta do rádio/teatro, lá
colaborou Agnaldo Rayol, com as presenças das rádio-atrizes Suzan Lopes, Neide
Maria, Lurdes Nascimento, e Luiz Messias. O “cast” artístico, além de Agnaldo Rayol,
contou com Marli Rayol, José Honório, Francisco de Assis, Francineide Lima,
Valdira Medeiros, Tônia Santos, Lurdinha Silva, Trio Puraci e Isis Del Mar,
esta que se intitulava rumbeira e rádio-atriz.
Sob a direção de Geraldo Melo, atuavam
os jornalistas Eugênio Neto, Aluísio Meneses, José Guará, Marcino Dias, Otomar
Lopes Cardoso e Hênio Melo. E o “cast” dos locutores, Vanildo Nunes, Fernando
Garcia, Danilo Santos, Etevaldo Santiago, Edmilson Andrade, Gutemberg Marinho e
Paulo Macedo (crônica social). Programas radiofônicos semanais: “Vozes do
Brasil”; “Não Diga a Ninguém” (de Nilson Patriota); “Tardes Femininas” (de
Etevaldo Santiago e Suzan Lopes); “Palácio da Alegria” (Paulo Teixeira); e
“Vida apertada” (Luiz Carlos). Pelos seus microfones desfilaram Gregórios
Barrios, Ivon Curi, Trio Yrakitan, Trio
Marabá, Trio de Ouro, Ataulfo Alves, Orlando Silva, Gilberto Alves, Carlos
Gonzaga, Caubi Peixoto, Elza Laranjeira, Consuelo Leandro, Duo Guarujá,
Heleninha Costa, Costinha e Cascatinha.
A disputa político-eleitoral do ano
de 1960 e a eleição dissidente de Aluízio Alves, interferiu no êxito daquele
empreendimento, partidarizando o espaço radiofônico. Com a decadência da “época
de ouro do rádio” deu-se a transferência do projeto para o conglomerado
“Cireda” (Cinemas Rex, São Luiz e Cine São Pedro). A partir da década de 1980,
o Cine Nordeste se resumiu à rotina de filmes “pornôs”. As plateias limitaram-se
ao gosto menos exigente. Adquirida pelo empresário Felinto Rodrigues, a Rádio
Nordeste foi transferida para o local de seus transmissores. Inativo, o cinema
fechou suas portas. Atualmente o espaço do que antes fora o “Palácio do Rádio
Potiguar” serve ao comercio de variedades.