“O samba é o pai do prazer / O samba é o filho da dor” – Caetano Veloso –
Lembrando o nosso imortal cantor,
compositor, bom de samba, o baiano Dorival Caymmi, em um de seus
inesquecíveis e famosos sambas: “Samba da minha terra”: “Quem não gosta
de samba bom sujeito não é / Ou é ruim da cabeça ou doente do pé”. Na
verdade, Caymmi se autodefiniu: um bom sujeito, de boa cabeça e sem
doença no pé.
– Quem não gosta de samba?
O samba surgiu na Bahia (Samba de Roda),
no século XIX, da mistura dos batuques africanos. Chegando ao Rio, por
volta de 1850, trazido pela população de negros e mestiços,
principalmente da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra dos Canudos.
Somente no início dos anos de 1940, no governo do Presidente Getúlio Vargas, passou a ser visto como símbolo nacional.
No Rio de Janeiro, na década de 1920,
sofreu severa perseguição, a ponto de quem ousasse cantar ou dançar o
samba corria seriamente o risco de sambar na cadeia. Era a maldade do
racismo imperando: o negro descriminado e o escravo severamente
castigado. O samba era, na realidade, ligado à cultura negra,
considerado uma das principais manifestações culturais populares
brasileiras.
Muitas baianas descendentes de escravos,
no final do século XIX, se alojaram em bairros cariocas e passaram a
ser conhecidas como as Tias Baianas, exercendo grande influência para a
sedimentação e disseminação do samba. A mais destacada e de admirável
respeito foi Hilária Batista de Almeida (Tia Ciata – Santo Amaro/BA –
1854 – Rio de Janeiro/RJ – 1924). Conta a história que o samba para ser
bom e fazer sucesso tinha que passar pela casa e o aval da sambista
catimbozeira Tia Ciata.
Na esteira dos importantes nomes do
samba, não se pode esquecer da figura de José Barbosa da Silva
(1888-1930): Sinhô, autointitulado o “rei do samba” que, com outros
pioneiros, como Heitor dos Prazeres e Caninha, criaram os primeiros
fundamentos do gênero musical. Carioca, parceiro de grandes sucessos com
João da Baiana, Pixinguinha e Donga. Há relatos que foram eles os
autores do primeiro samba brasileiro, segundo os registros da Biblioteca
Nacional – “Pelo Telefone” (samba-maxixe), juntamente com a Tia Ciata e
Pixinguinha, mas que foi oficialmente registrado como de autoria de
Donga e Mário de Almeida – em 27 de novembro de 1916 –, comemorado como o
dia nacional do samba; quando completou e foi vivamente comemorado os
seus 100 anos de rica história, em 2016.
O significado da palavra samba recebe
origens bem diversificadas. Em meados do século XIX, a palavra samba
definia diferentes tipos de músicas introduzidas pelos escravos
africanos, principalmente do Congo e de Angola, sobretudo do Quimbundo,
em que: “sam” significa “dar”, e “ba” igual a “receber” ou “coisa que
cai”.
Uma outra versão deriva do termo Zamba
ou Zambra, oriunda da língua árabe, quando da invasão dos mouros à
Península Ibérica no século VIII. Existe, ainda, uma outra versão que
advém de uma corruptela da palavra semba ( dança religiosa para os
angolanos que, levava este nome devido à forma como era dançado com
umbigadas) —é a versão mais aceita no Brasil.
Ao longo dos anos, o samba tem se
apresentado com muitas variações rítmicas, como: o samba-de-breque,
derivado do picote ritmo do samba choro, popularizado pelo famoso
sambista Antônio Moreira da Silva (Moreira da Silva – o Kid Morengueira –
1902/2000 – RJ), nas décadas de 1930 e 1940; samba-maxixe, samba que
foi inserido o piano ou, às vezes, instrumento de sopro como a flauta e o
clarinete; samba-exaltação, samba-enredo, em que a letra do samba conta
uma história que servirá de enredo para o desenvolvimento da escola de
samba; samba-de-terreiro, sambalanço, considerado um subproduto da
Bossa-Nova; samba-de-quadra, sambalada, samba-chulado, samba-quadrado,
samba-raiado, samba-coco, samba-choro, samba-canção, em que destaca
sofrimentos amorosos e surge como fonte de inspiração da Bossa Nova no
final da década de 1950; samba-partido-alto, aquele que mais se aproxima
do batuque angolano e do Congo; samba-rock, samba de gafieira e o samba
joia, ancestral do pagode romântico de São Paulo, que tem, no momento,
Benito di Paula e Luiz Airão como seus representantes, usando em suas
apresentações piano, tomba e chimbal (prato com aparência de chapéu),
elemento básico que juntamente com o bumbo e a caixa compõem a bateria);
samba bambelô, no Rio Grande do Norte.
Em 1927, nasce a primeira escola de
samba, a Deixa Falar, no bairro do Estácio de Sá/RJ, berço e propulsor
do samba carioca, próximo ao bairro boêmio carioca da Lapa, tendo como
fundadores alguns compositores: Ismael Silva, Alcebíades Barcelos,
Armando Marçal e outros sambistas do bairro do Estácio.
A história registra ainda muitos
acontecimentos e relatos sobre o samba e os seus famosos compositores.
Não podemos jamais esquecer ou deixar fugir da lembrança os nossos
grandes representantes da música mais popular do Brasil: Noel Rosa,
Vadico, Ataulfo Alves, Ary Barroso, João de Barro (Braguinha),
Almirante, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Cartola, Adoniran
Barbosa,Martinho da Vila, Clara Nunes, Beth Carvalho, Roberta Sá, dona
Ivone Lara e tantos outros que engrandeceram e engrandecem esse gostoso e
admirado ritmo de consagração nacional.
No ano de 2004, por apresentação do
então Ministro da Cultura, Gilberto Gil, o samba foi tombado pela Unesco
com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, na categoria “Bem
Imaterial”, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN). No ano de 2005, o samba-de-roda do Recôncavo Baiano
foi proclamado também pela Unesco – “Patrimônio da Humanidade na
categoria de “Expressões orais e imateriais”. Em 2007, o IPHAN conferiu
registro oficial no Livro de Formas e Expressões às matrizes do samba do
Rio de Janeiro: samba-de-terreiro, partido-alto e samba-enredo.
Viva o samba, patrimônio cultural da humanidade!
Berilo de Castro –
Médico, escritor, membro do IHGRN –
berilodecastro@hotmail.com.br
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