13/05/2017

ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA - LEI ÁUREA


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Princesa Isabel: assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888

Introdução 

Na época em que os portugueses começaram a colonização do Brasil, não existia mão-de-obra para a realização de trabalhos manuais. Diante disso, eles procuraram usar o trabalho dos índios nas lavouras; entretanto, esta escravidão não pôde ser levada adiante, pois os religiosos católicos se colocaram em defesa dos índios condenando sua escravidão. Assim, os portugueses passaram a fazer o mesmo que os demais europeus daquela época. Eles foram à busca de negros na África para submetê-los ao trabalho escravo em sua colônia. Deu-se, assim, a entrada dos escravos no Brasil. De acordo com historiadores, entre 1530 e 1850, cerca de 3,5 milhões de negros africanos foram trazidos para o Brasil para trabalharem como escravos.

Processo de abolição da escravatura no Brasil 

Os negros, trazidos do continente Africano, eram transportados dentro dos porões dos navios negreiros. Devido as péssimas condições deste meio de transporte, muitos deles morriam durante a viagem. Após o desembarque eles eram comprados por fazendeiros e senhores de engenho, que os tratavam de forma cruel e desumana.  

Apesar desta prática ser considerada “normal” do ponto de vista da maioria, havia aqueles que eram contra este tipo de abuso. Estes eram os abolicionistas (grupo formado por literatos, religiosos, políticos e pessoas do povo); contudo, esta prática permaneceu por quase 300 anos. O principal fator que manteve a escravidão por um longo período foi o econômico. A economia do país contava somente com o trabalho escravo para realizar as tarefas da roça e outras tão pesados quanto estas. As providências para a libertação dos escravos deveriam ser tomadas lentamente.

A partir de 1870, a região Sul do Brasil passou a empregar assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros; no Norte, as usinas substituíram os primitivos engenhos, fato que permitiu a utilização de um número menor de escravos. Já nas principais cidades, era grande o desejo do surgimento de indústrias.Visando não causar prejuízo aos proprietários, o governo, pressionado pela Inglaterra, foi alcançando seus objetivos aos poucos. O primeiro passo foi dado em 1850, com a extinção do tráfico negreiro. Vinte anos mais tarde, foi declarada a Lei do Ventre-Livre (de 28 de setembro de 1871). Esta lei tornava livre os filhos de escravos que nascessem a partir de sua promulgação.

Em 1885, foi aprovada a lei Saraiva-Cotegipe ou dos Sexagenários que beneficiava os negros de mais de 65 anos. Foi em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que liberdade total finalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil.

A vida dos negros brasileiros após a abolição

Após a abolição, a vida dos negros brasileiros continuou muito difícil. O estado brasileiro não se preocupou em oferecer condições para que os ex-escravos pudessem ser integrados no mercado de trabalho formal e assalariado. Muitos setores da elite brasileira continuaram com o preconceito. Prova disso, foi a preferência pela mão-de-obra europeia, que aumentou muito no Brasil após a abolição. Portanto, a maioria dos  negros encontrou grandes dificuldades para conseguir empregos e manter uma vida com o mínimo de condições necessárias (moradia e educação principalmente).

Você sabia?

- 23 de agosto é o Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição.

- Antes de ser assinada pela Princesa Isabel, a Lei Áurea foi aprovada no Senado com apenas um voto contrário. Na Câmara dos Deputados a lei teve 83 votos favoráveis (de um total de 92).

- Nosso país foi o último a acabar com a escravidão.

FONTE: 

HOMENAGEM AO PIONEIRO DA AVIAÇÃO


Augusto Severo de Albuquerque Maranhão

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Augusto Severo de Albuquerque Maranhão
Nascimento11 de janeiro de 1864
Macaíba Rio Grande do Norte
Morte12 de maio de 1902 (38 anos)
Paris França
NacionalidadeBrasil brasileira
OcupaçãoPolítico
Jornalista
Inventor
Aeronauta
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão (Macaíba11 de janeiro de 1864 — Paris12 de maio de 1902) foi um políticojornalistainventor e aeronauta brasileiro.


Biografia

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi o oitavo dos quatorze filhos de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão (1827-1896) e Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão (1832-1893). Realizou seus estudos primários em Macaíba, e os secundários no Colégio Abílio César Borges, em Salvador (BA). Em 1880, viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Império, e iniciou seus estudos de engenharia na Escola Politécnica.

Os primeiros projetos aeronáuticos

Motivado pelos trabalhos em aerostação do inventor paraense Júlio César Ribeiro de Souza, que apresentou um projeto de dirigível ao Instituto Politécnico Brasileiro em 1881, Severo passou a se interessar pelo voo, realizando observação de aves planadoras e construindo pequenos modelos de pipas, uma das quais denominou Albatroz. Em 1882, passou a lecionar matemática no Ginásio Norte Riograndense, de propriedade de seu irmão Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, acumulando a função de vice-diretor.[1] No ano seguinte o ginásio fechou e Severo dedicou-se ao comércio, primeiro como guarda-livros da empresa Guararapes e mais tarde, seguindo os conselhos de seu irmão Adelino, associou-se à firma A. Maranhão & Cia. Importadora e Exportadora até 1892. Em 1888, casou-se com a pernambucana Maria Amélia Teixeira de Araújo (1861-1896), com quem teve cinco filhos. No ano seguinte passou a escrever artigos para o jornal A República, antimonárquico, do irmão Pedro Velho e projetou um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarania, que, porém, nunca chegou a ser construído.

Política

Em 1892 Augusto Severo abandonou de vez a carreira comercial para dedicar-se à política, onde lhe estava reservado o mais honroso papel. Eleito deputado ao Congresso constituinte que organizou o Estado, teve, em 1893, de preencher a vaga aberta na Câmara dos Deputados Federais pela eleição do Dr. Pedro Velho para o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Norte. A passagem de Augusto Severo pelo parlamento brasileiro ficou assinalada por muitos projetos que viraram leis no país, por trabalhos importantíssimos nas comissões de orçamento, de tarifas, de marinha, sobretudo nesta, onde revelou conhecimentos náuticos que o fizeram autoridade na matéria, chegando muitas vezes a ser apontado para o cargo de ministro da marinha, com o aplauso da ilustre corporação da armada nacional. Defendeu projetos relativos ao saneamento público, assistência à infância, proteção aos operários dos arsenais.[2]

O dirigível Bartholomeu de Gusmão]

Em outubro de 1892, ouvida a opinião favorável de abalizados professores da Escola Politécnica, concedeu o Governo um auxílio pecuniário para que Augusto Severo de Albuquerque Maranhão pudesse mandar fazer na Europa um aeróstato dirigível de sua invenção que incorporava as ideias que havia desenvolvido anteriormente. A esse aeróstato deu o nome de Bartholomeu de Gusmão, em homenagem ao inventor brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, que apresentou em 1709, diante da corte portuguesa, um pequeno balão de ar quente. O dirigível Bartolomeu de Gusmão introduzia um conceito novo. Era um aparelho semirrígido, em que o grupo propulsor estava integrado ao invólucro através de uma complexa estrutura trapeizodal em treliça. O invólucro foi encomendado à Casa Lachambre, a principal firma de Paris especializada na construção de balões. Numa carta escrita da França e datada de 5 de dezembro de 1892, Maranhão explicou os princípios da aeronave:
 
Bartholomeu de Gusmão sendo experimentado em 7 de março de 1894, no campo de tiro de RealengoRio de JaneiroBrasil.
"Estabeleceu como princípio a ciência que a navegação aérea dependia da possibilidade de se obter a justaposição dos centros de tração e resistência. Com efeito, produz esta justaposição uma diminuição considerável de resistência e faz desaparecerem as rotações perturbadoras do movimento do aeróstato, rotações que se dão quando a força propulsiva não se acha colocada sobre a resultante das resistências desenvolvidas. Ora, foi essa justaposição que consegui obter no meu aeróstato. As características do meu invento, denominado 'Sistema Potiguarânia', são estas: 1a. Os meios empregados para fazer coincidir a força de propulsão com a resultante das resistências, pela combinação de um aeróstato, de forma ovoide, e de uma carcaça sólida, de metal ou de qualquer outra matéria, cuja haste superior se vá apoiar no fundo de um bolso, feito em todo o comprimento do aeróstato, e que sustenta, de um lado a hélice, e posto no prolongamento da referida haste, e do outro a barquinha e os demais órgãos. 2a. A disposição especial do leme, também sustentado pela carcaça sólida, e formado de duas asas que, na ocasião da subida do aeróstato, ficam verticalmente para não dificultarem a ascensão. Estou inteiramente convencido de que governarei o meu 'Bartholomeu Dias' [sic] com uma velocidade de 15 a 20m/s, podendo aumentá-la até 50m/s. O meu sistema já está privilegiado em França. Conto chegar ao Rio em fevereiro para fazer aí a primeira experiência pública do meu invento."[3]
O balão, de cerca de 2.000m3, medindo 60m de comprimento, chegou ao Brasil em março de 1893. A estrutura em treliça, inicialmente projetada para ser executada em alumínio, foi construída no campo de tiro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, assim como a montagem de uma usina para a produção de hidrogênio. A falta do material previsto para construção da estrutura fez com que Severo alterasse o projeto, construindo a parte rígida do aparelho em bambu. Tratava-se de uma estrutura complexa que deveria suportar o motor elétrico com as baterias e os tripulantes e, além disso, apresentar resistência suficiente para aguentar os esforços durante o voo.
Só em 1894 o Bartholomeu de Gusmão realizou as primeiras ascensões ainda como balão cativo e mostrou-se estável e equilibrado, demonstrando que a concepção proposta por Severo era adequada para o voo. A introdução de uma estrutura semirrígida integrada ao balão permitia que a hélice propulsora ficasse alinhada ao eixo longitudinal do invólucro, evitando assim que o aparelho apresentasse uma tendência de levantar a frente quando o motor fosse acionado. Este problema, conhecido como tangagem, comprometia o equilíbrio e reduzia substancialmente a velocidade. Mas no único voo do dirigível livre das amarras, a estrutura em bambu não aguentou os esforços e se partiu.

Novos inventos

Em 19 de abril de 1896, no Rio de Janeiro, pediu patente para um “turbo-motor com expansões múltiplas e continuadas”, concedida no dia seguinte, às 12h40min (n 2.940). Em 20 de outubro desse ano sua mulher faleceu, após o que Augusto Severo iniciou um relacionamento amoroso com Natália de Siqueira Cossini, de origem italiana, com a qual teria dois filhos. Em 27 de julho de 1899, no Rio de Janeiro, Severo patenteou um novo balão dirigível, o Paz (posteriormente o nome foi latinizado para "Pax"), e em 23 de julho de 1901, uma "máquina a vapor rotativa e reversível", com a qual os navios poderiam atingir velocidades maiores.

O dirigível Pax

 
O dirigível Pax.
Em fins de 1901, Severo licenciou-se da Câmara para se dedicar à construção do novo dirigível que inventou, o Pax. Este novo dirigível era um desenvolvimento do seu anterior, o Bartholomeu de Gusmão, e Severo introduziu uma grande quantidade de inovações: abandonou o leme de direção e introduziu ao todo sete hélices: uma na popa, outra na proa, outra na barquinha e quatro laterais. Manteve a sua ideia de se fazer uma aeronave integrando a quilha que levava os tripulantes e o grupo motor ao balão. Sem ter conseguido qualquer auxílio externo, Maranhão teve que assumir toda a despesa para a construção. Pretendia usar motores elétricos, mas a falta de recursos e de tempo fez com que ele optasse por dois motores a petróleo tipo Buchet, um com 24v e o outro com 16cv. O invólucro tinha a capacidade de 2.500m3 de hidrogênio, com 30m de comprimento e 12 no maior diâmetro. O aparelho pesava cerca de duas toneladas. Os ensaios foram realizados nos dias 4 e 7 de maio de 1902 com sucesso.

Morte

No dia 12 de maio de 1902, tendo como mecânico de bordo o francês Georges Saché, o Pax iniciou seu voo às 5h30min saindo da estação de Vaugirard, Paris. Elevou-se rapidamente atingindo cerca de 400 metros. Realizou diversas evoluções que mostraram aos inúmeros espectadores que as ideias de Severo estavam corretas. Cerca de dez minutos após o início do voo, o Pax explodiu violentamente, projetando os dois tripulantes para o solo. Severo e Saché morreram na queda. Os restos do dirigível caíram na Avenida du Maine, Paris, diante de uma grande multidão que seguia com interesse a demonstração. A catástrofe do Pax teve um impacto enorme. Natália, que assistiu à queda, não se recuperou e, após retornar ao Brasil, suicidou-se com um tiro no coração em 23 de junho de 1908, aos 30 anos de idade.[4] A configuração proposta por Severo, de um dirigível semirrígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes.

Homenagens

  • Em 12 maio de 1902, duas ruas em Paris, próximas ao local do acidente, foram nomeadas Rue Severo e Rue Georges Saché, em homenagem aos aeronautas acidentados.
  • Uma placa de mármore no número 81 da Avenue du Maine, em Paris, celebra hoje o local do acidente de Augusto Severo.[5]

Referências

  1. Ir para cima  SEVERO NETO, Augusto. A outra face de Severo. Natal: Nossa Editora, s/d, p. 9.
  2. Ir para cima  Augusto SeveroA República. Natal: ano XIV, n 100, quarta-feira, 14 mai. 1902, p. 1.
  3. Ir para cima  Navegação aérea, Jornal do Commercio. Rio de Janeiro: Propriedade de Rodrigues & Comp., n 6, sexta-feira, 6 jan. 1893, p. 1.
  4. Ir para cima  Suicídio, Jornal do Commercio. Rio de Janeiro: Propriedade de Rodrigues & Comp., n 175, quarta-feira, 24 jun. 1908, p. 3.
  5. Ir para cima  ASSUMPÇÃO, Maurício Torres (2014). A História do Brasil nas Ruas de Paris. Rio de Janeiro: LeYa/Casa da Palavra. p. 252. ISBN 978-85-7734-485-7

11/05/2017

CRÔNICA DE VALÉRIO MESQUITA


LUZES DA CIDADE

Valério Mesquita*

Poderia até ser o filme de Chaplin. Mas, semana passada, fui ver Macaíba do jeito que eu gosto: sem ser visto ou tocado, escondido na névoa do tempo. Rever e reviver as pessoas, as ruas, as casas e os lugares. Coisas amadas, fortuitas, semidesaparecidas, casuais, descuidadas, assombradas mas constantes em mim. Como náufrago, aos sessenta e seis anos, com os lapsos do cansaço, compreendi a palavra de Sanderson Negreiros de que: “na passagem do tempo – tudo passa e nada cessa”. Tudo ao meu redor, percebi, enfim, encerrava uma absoluta identidade comum: Macaíba permanece em mim como um cais de recordação.
Ruas da Cruz, Pedro Velho, da Conceição, do Vintém, da Aliança, do Araçá, do Gango, do Benjamim, do Cajueiro, as Cinco Bocas, da Cadeia, praças da igreja e Antonio Melo Siqueira, rua do Barro Vermelho, do Fio, do Pernambuquinho, Campo da Mangueira, Alto da Raiz, Trinta de Março, Campo Santo, cais do rio Jundiaí. Eis o inventário telúrico que tracei e naveguei em minha viagem de circunavegação emocional. Todos os lugares interagem como fator de unicidade vivencial porque me falam uma linguagem intimista, visual e sentimental de tudo que vivi e representei em minha terra.
Revisitei de memória o cinema Universal de Walter Ferreira; o cine teatro Independência de Manoel Corcino; o de Ranilson Costa e seu “cinegrafista” Rui Marciano, e, por fim, o de D. Terceira para dizer que em Macaíba não existem mais as casas de exibição. E nem clubes sociais como o Pax Clube e o Centro Líbero Recreativo que congregavam a sociedade local. Por igual, não existem mais banhos na maré (rio Jundiaí), que deu lugar à poluição. Hoje é o mar morto de minha ilusão, da rebentação de minha meninice, onde o navio perdido na imensidão dos sonhos é o barco do velho marinheiro João Lau.
Entre alguns sobressaltos: o desaparecimento de “Cocadinha”, baixo, atarrancado, ajudante de oficina, freqüentador habitual da Farmácia Milagrosa de Vinício Ferreira – outra figura macaibense que ajudava o folclórico “Cocadinha” a livrar-se do alcoolismo que piorava quando o apelidavam de “Açucareiro”. Nas “Cinco Bocas”, petrificados nas paredes, como chamas que a saudade semeia, estão escritos os nomes de Alfredo de Almeida, Antonio Assis, D. Mocinha, Zezito da “banca de bicho”, a padaria Central de mestre Pedro e o bar “Gato Preto” de seu Vital.
“Vai trabalhar Maria Cabral”, era o dito indefectível dos mais jovens só para ouvir, em troca, os impropérios da velha caminhante das tardes pelo centro das ruas. Morena escura, cabelos soltos e grisalhos, mais parecia uma feiticeira raivosa só para assustar crianças desobedientes. No patamar da matriz, lembrei-me de muitos vigários. Do sacristão Adelino Moreira, personagem extraído da bíblia para compor o cerimonial da igreja onde o padre Chacon perdoava cochilando no confessionário os pecados da cidade. O caminhão de Zé Pelado, tal e qual um Nautilus remendado, que arrecadava os detritos, não daria conta, hoje, do lixo urbano. Isto porque lá do outro lado da ponte, as bodegas de Chico Bento e a de Zé Deca, cá na rua da Cruz, demarcavam os pontos cardeais de Macaíba.
Já falei em crônicas passadas, em muitos nomes e renomes que desenhavam o universo de minha terra. Igualmente, aos que são revividos nesta página eu os cumprimento da janelinha aberta sobre a imensidão da noite do meu tempo. Já era tarde quando retornei a Natal. Foi quando senti, ao chegar, uma imensa saudade de Alfredo e Nair.

(*) Escritor.

10/05/2017

DIA 11



 CENTENÁRIO DE SEU POTI

Valério Mesquita
mesquita.valerio@gmail.com

Nascido no dia 11 de maio de 1917, no povoado de Rego Moleiro, na antiga Vila de São Gonçalo do Amarante/RN, Francisco Potiguar Cavalcanti, mais conhecido com Poti Cavalcanti, era filho de Alexandre Carlos Cavalcanti e de Maria Isabel Rodrigues Cavalcanti. Viveu a infância e a adolescência com seus pais e irmãos, tendo estudado no G. E. Otaviano, no colégio Marista e no Atheneu Norte-riograndense, tendo contraído núpcias com Iolanda Lins d’Albuquerque, em 18 de setembro de 1943.
Nessa época, já estava em curso o movimento político para extinção do município de São Gonçalo e a consequente criação de São Paulo do Potengi, ocorrida em dezembro de 1943. Transferida a sede do extinto município para São Paulo do Potengi, Poti e Iolanda mudaram-se para aquela cidade. Dessa união nasceram seis filhos: Paulo Tarcísio, Ana Maria, Maria das Graças, Alexandre Cavalcanti, Marta Maria e João Maria falecido aos seis meses de idade. Em janeiro de 1954, dona Iolanda faleceu na Casa de Saúde São Lucas.
Após rápida passagem no Departamento de Imigração em Natal, Poti retornou às lides da sua terra natal, à época, distrito de Felipe Camarão, município de Macaíba. Decretada a emancipação política de São Gonçalo do Amarante em dezembro de 1958, o patriarca Manoel Soares da Câmara foi nomeado prefeito e governou de 1959 a 1960. Devido a experiência no serviço público, Poti foi nomeado secretário municipal. Nas eleições realizadas em outubro de 1959, Poti foi eleito vice-prefeito, na chapa encabeçada por Leonel Mesquita, tomando posse no dia 19 de janeiro de 1960. Durante o referido mandato, exerceu comulativamente o cargo de presidente da Câmara Municipal, tendo sido, portanto o primeiro presidente. A legislatura inicial da Municipal era assim composta: Francisco Potiguar Cavalcanti – vice-prefeito e os seguintes vereadores: Deomedes Barbosa do Nascimento, Geraldo Correia de Lima, José Moacir de Oliveira, José Horácio de Góis, José Protásio de Lima, José Mendes Emerenciano, Lourival Florêncio de Morais, Maurício Fernandes de Oliveira, Severino Rodrigues da Silva e Sílvio de Pontes Bezerra.
Em 1965, tomou posse no cargo de prefeito ao lado do vice, Lauro Pinheiro da Costa (Capito). Dentre as principais realizações administrativas, destacam-se a integração do município a rede de cidades beneficiadas pela energia de Paulo Afonso, contemplando à sede e o distrito de Santo Antonio do Potengi, a melhoria do sistema educacional, a ampliação e conservação das estradas vicinais, a desapropriação de terrenos na área urbana para doação a famílias carentes, fazendo surgir diversas ruas, como a 31 de Março, rua da Floresta, Poti Cavalcanti, entre outras, inclusive no povoado de Jacaré-Mirim.
Em 16 de janeiro de 1960, casou-se com Iracy Alcoforado, de tradicional família de São Paulo do Potengi. Professora, diretora do G. E. Maurício Freire, Iracy Guedes teve destacada atuação na sua cidade natal. Dessa união nasceram: Poti Junior (hoje Conselheiro do TCE/RN) e Suely. Em 1961, Poti assumiu o cargo de tabelião oficial do registro civil, do 2º cartório judiciário da comarca, no qual permaneceu em exercício até dezembro de 1983, quando se aposentou. Aos 70 anos, em 18 de maio de 1986, ele faleceu na Casa de Saúde São Lucas e foi sepultado no cemitério da Saudade, em São Gonçalo do Amarante.
Agradeço ao Instituto de Arte e Cultura e Educação Popular Maurício Fernandes de São Gonçalo, na pessoa de Teófilo Justino de Oliveira Neto, pelo fornecimento dos dados biográficos aqui registrados. Dia 11 de maio próximo, portanto, o seu centenário será lembrado por todos que admiram a sua conduta, honestidade e liderança política, entre os quais me incluo.

(*) Escritor

07/05/2017

A BANDIDAGEM CHEGA ÀS BIBLIOTECAS


JADIR FARIAS escreveu




MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO

Durante muito tempo tivemos em nossa cidade cinco emissoras de rádio AM. Todas elas tinham programação local, com locutores, programadores e técnicos que divulgavam nosso cotidiano, nossa música, cultura, costumes, sempre com nosso sotaque e interesses. Com a passagem do tempo, vieram inovações tecnológicas, novas emissoras FM e programações retransmitidas de grandes emissoras de outros Estados, sobretudo do eixo Rio-São Paulo.
Algumas rádios AM foram retiradas do AR (Rádio Poti, Tropical), outras tiveram suas programações direcionadas a religiões (Rádio Nordeste, Emissora Rural) ficando apenas a Radio Globo (Antiga Cabugi), como retransmissora da Radio Globo (Rio ou São Paulo), e programação local apenas em horários específicos (esporte) e um programa de variedades, (Manhã da Globo), que era comandado por um radialista local, Duarte Júnior, com mais de trinta anos de rádio, e que através de suas informações, conversas com o público, noticiário, opiniões e notas de utilidade pública, se constituía como o único programa que falava dos nossos problemas, de cultura e falava a nossa linguagem, com sotaque local, sem tentativas de imitação de outros sotaques.
Como aficionado por rádio, sempre que podia mantinha o rádio sintonizado na emissora Globo Natal, no horário do Radialista Duarte Junior. Entretanto, para surpresa minha e de seus inúmeros ouvintes, o programa foi retirado do ar, entrando no horário programas da Radio Globo (Rio/São Paulo). Posteriormente tomei conhecimento que o radialista havia sido dispensado da emissora (Contrato de Trabalho rescindido). Não houve qualquer comunicação ou aviso aos seus ouvintes.
É evidente que, como empresa, a Rádio Globo Natal, tem todo o direito de contratar, rescindir ou mudar sua programação, até aí, nada a contestar contra a decisão da emissora. Entretanto, como ouvinte, como defensor da nossa cultura e da nossa cidade, lamentei tal atitude, pois o “Manhã da Globo” era o último ou o único programa legitimamente potiguar/natalense, como porta voz da nossa cultura, problemas costumes e interesses locais, que utilizava e cultuava o nosso sotaque e dava vez e voz ao público.  Lamento o ocorrido, pois perdemos todos, um programa local e ficamos escravos de uma imposição cultural diversa do nosso cotidiano, com noticiário nacional, com informações que não interessam a maioria da população que ansiava por ouvir o Duarte Junior, suas notícias, conselhos, opiniões e promover debates populares.
Somos conscientes de que a evolução tecnológica é sempre acompanhada pela evolução cultural e que, normalmente a sociedade maior vai, pouco a pouco “consumindo” os costumes locais e sua cultura. Isso é inevitável. Entretanto, temos obrigação de preservar nossa cultura, nossos costumes. Uma emissora de rádio como concessionária de um serviço público, poderia manter acesa essa chama da nordestinidade, do nosso linguajar sem as grosseiras, na maioria das vezes, imitações de sotaques de outras regiões, sem nenhum compromisso com o nosso dia-a-dia. É comum hoje, sabermos muito mais o que ocorre no eixo Rio/São Paulo, do que acontece em nossa cidade e é nostálgico ouvir nossos locutores (uns poucos que ainda aqui trabalham, sobretudo nas emissoras FM), tentando imitar sotaques diferentes do nosso, falando de problemas que não são nossos, carregando a voz nos “esss” e outros estrangeirismos.
É lamentável e nos consola que temos ainda algumas organizações que lutam, a muito custo de alguns poucos homens e mulheres, em preservar a nossa cultura, como o Instituto Histórico e Geográfico do RN, a Academia de Letras, Associação de Danças antigas e Semidesaparecidas, alguns defensores de danças folclóricas e uns poucos estudiosos que tentam de todo modo, manter acesa a chama da nossa cultura, como foi o nosso Câmara Cascudo, o saudoso Prefeito Djalma Maranhão, de Deífilo Gurgel, Veríssimo de Melo,  e uma plêiade de estudiosos, cronistas, jornalistas teatrólogos, e escritores que lutaram e lutam para que nossa história e nossa cultura não seja de todo absorvida pela devorador processo de imitação, sobretudo numa sociedade como a nossa onde os valores culturais não são prioridade, onde a cultura não é prioridade, haja vista que temos uma biblioteca pública fechada e abandonada há anos, um belo teatro fechado há anos, um teatro popular idem, um histórico forte abandonado, acervos históricos às moscas, jornais fechados, museus sem conservação adequada uns poucos, fechados à visitação pública.

Não quero ser nostálgico, apenas penso que a nossa cultura e história carece ser preservada e tratada com mais carinho, com mais cuidado, em prol do nosso futuro.

03/05/2017

H O J E


Caros  amigos, com prazer, anuncio o lançamento de meu novo livro de poesias, o “CADERNO DO IMAGINÁRIO”, programado para o dia 3 de maio de 2017, e conto, para completa alegria, com suas honrosas presenças. No cartão-convite abaixo (e no anexo) reproduzido, há detalhes do evento, tais como horário, local e endereço.


Abraço fraterno de HORÁCIO PAIVA. 


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
 
 
    
     
RESOLUÇÃO No 004/2017-CONSUNI, de 31 de março de 2017.
        
 
Concede Título de Professor Emérito a CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES.
 
 
A REITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE faz saber que o Conselho Universitário – CONSUNI, usando das atribuições que lhe confere o Artigo 14, Inciso V, do Estatuto da UFRN, combinado com os artigos 138, 141 e 142 do Regimento Geral da UFRN,
CONSIDERANDO o desempenho didático, pedagógico e administrativo do professor Carlos Roberto Miranda Gomes, enriquecido com sua extensa produção acadêmica e pelo convívio estimulante e fraterno com seus incontáveis discípulos;
CONSIDERANDO sua inestimável contribuição como Presidente da Comissão da Verdade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, no período de 2012 a 2015 – função que desempenhou com coragem, isenção e brilhantismo sem abrir mão da sua condição de cidadão crítico, atuando como verdadeiro magistrado;
CONSIDERANDO a decisão da Plenária do Departamento de Direito Público – DPU, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA, em reunião ordinária realizada no dia 14 de setembro de 2016; e do Conselho de Centro – CONSEC, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA, em reunião ordinária realizada no dia 03 de novembro de 2016;
  CONSIDERANDO o que consta do processo no 23077.054823/2016-32,
           
RESOLVE:
           Art. 1o Conceder o Título de Professor Emérito ao pesquisador, advogado, auditor, escritor e professor CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, pela notável contribuição ao ensino e à aplicação do Bom Direito – atitudes diuturnamente demonstradas em sua exemplar vida de docente.
  Art. 2o Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
 
                                           Reitoria, em Natal, 31 de março de 2017.
 
 
Ângela Maria Paiva Cruz

                                                                   REITORA

02/05/2017



PROFESSOR CARLOS GOMES – O EMÉRITO.
        Odúlio Botelho Medeiros-IHG-RN

“Feliz o homem que acha sabedoria e o homem que adquire conhecimento”. (Provérbios- 3:13).
        Mais uma vez escrevo, com alegria, sobre o meu ilustre e querido amigo Carlos Roberto de Miranda Gomes – Carlos Gomes para os íntimos. No distanciado mês de agosto de 2005, no âmbito das comemorações da SEMANA DO ADVOGADO, justamente quando a OAB/RN o homenageou, o então Presidente Seccional Joanilson Paula Rego designou-me para saudá-lo em nome da entidade. Naquele momento, assim manifeste-me, em alguns tópicos:
“(...) Carlos é uma personalidade múltipla, pois consegue ser, com muito gabarito, professor universitário, advogado, pesquisador, historiador, escritor, conferencista e destacado orador”.
“(...) Se Carlos Gomes é brilhante professor de Direito Tributário de nossa Universidade Federal, com livros publicados sobre tão importante disciplina, sabe manejar o direito com formas simples e objetivas, sem alardes, sem culto a personalidade e desprovido de soberba”.
“(...) Sou testemunha ocular dessa trajetória de uma vida útil à sociedade e ao seu tempo”.
“(...) Dizia o magistral Ortega y Gasset que ‘os indivíduos à semelhança das gerações têm destino preestabelecido, do qual não se pode afastar, sob pena de censura da sociedade’. Com toda certeza, Carlos não se afastou da sua destinação; ao contrario! É força atuante e ativa no perpassar de sua vida, no conviver com o tempo presente e o permanente compromisso com as gerações do futuro”.
        Repito, agora, já decorridos quase 12 anos das palavras acima transcritas, que Carlos Gomes continua firme e inabalável. Em 2015 foi eleito membro da Academia Norte-riograndense de Letras. Presidiu – com a dinâmica de sempre- a Comissão da Verdade da UFRN, instituída pela magnífica Reitora Ângela Maria Paiva Cruz, o que redundou na publicação de um alentado trabalho relatando todos os fatos apurados. Essa contribuição, inegavelmente, transpõe as dimensões universitárias e a própria história do Estado.
        Recentemente, a Universidade concedeu-lhe o justo título de Professor Emérito, em reconhecimento ao efetivo exercício do magistério por 35 anos, com muito entusiasmo e comprovada eficiência.
        Sobre a contribuição de Carlos Gomes à cultura potiguar já se manifestaram, além de tantos outros autores contemporâneos, o advogado João Medeiros Filho, no seu livro Contribuição a História Intelectual do Rio Grande do Norte – fls. 111/2 e o Escritor Jurandyr Navarro no livro “Rio Grande do Norte- Conferencistas”.
        Por fim, Carlos Gomes, parabenizo-o pelo novo galardão. Você é mesmo um professor emérito, de fato e de direito. Representa a vitória de nossa geração.

01/05/2017

1º de maio de 2017



Acla Pedro Simões Neto 
HISTÓRIA DO DIA DO TRABALHO

Comemora-se no dia 1º de maio o Dia do Trabalho. No Brasil e em vários países do mundo é um feriado nacional, dedicado a festas, manifestações, passeatas, exposições e eventos reivindicatórios. 

A História do Dia do Trabalho remonta o ano de 1886 na industrializada cidade de Chicago (Estados Unidos). No dia 1º de maio deste ano, milhares de trabalhadores foram às ruas reivindicar melhores condições de trabalho, entre elas, a redução da jornada de trabalho de treze para oito horas diárias. Em um boletim da época: “A partir de hoje nenhum operário deve trabalhar mais de 8 horas por dia, 8 horas de repouso, 8 horas de educação”. Neste mesmo dia ocorreu nos Estados Unidos uma grande greve geral dos trabalhadores. 
Dois dias após os acontecimentos (3 de maio) um conflito envolvendo policiais e trabalhadores provocou a morte de 6 operários. Este fato gerou revolta nos trabalhadores, provocando outros enfrentamentos com policiais. No dia 4 de maio, operários fazem uma grande concentração com discursos contra a exploração e a jornada descomunal de trabalho. A polícia ataca e dezenas de mortos, centenas de feridos, milhares de presos, 5 líderes condenados a forca, 2 à prisão perpétua, 1 a quinze anos de cadeia é o saldo desse ocorrido. Sete meses depois, 4 são enforcados e 1 se envenenou. Em 1º de maio de 1888 a Federação Americana do Trabalho – AFL, marca nova greve, prosseguindo na luta pelos anseios, justiça e humanização do trabalho. Em 1889 a Internacional dos Trabalhadores decreta luta pelas 8 horas no mundo todo, encampando inclusive a proposta da AFL. 1891 é decretado o Dia Internacional dos Trabalhadores. 
Em 1932 Getúlio Vargas decreta no Brasil, as 8 horas de trabalho semanais apenas para os trabalhadores urbanos. Os trabalhadores agrícolas ficaram de fora, não foram contemplados.
Alguns relatos em nossa historiografia, dizem que a data do 1º de maio, é comemorada em nosso país desde 1895, tendo começado inclusive com os imigrantes europeus especificamente os italianos que traziam consigo procedimentos básicos da Carta de Lavoro manifesta pelo governo fascista de Benito Mussolini, base também de nossa CLT. Porém, foi somente em setembro de 1925 que esta data se tornou oficial, após a criação de um decreto do então presidente Artur Bernardes que decretou feriado oficial.
Fatos importantes e convergentes relacionados as comemorações do dia 1º de maio no Brasil:
- Em 1932 Getúlio Vargas decreta as 8 horas de trabalho semanal para os trabalhadores urbanos. Os trabalhadores agrícolas não foram contemplados pelo referido decreto.
- Em 1º de maio de 1940, o presidente Getúlio Vargas instituiu o salário mínimo. Este deveria suprir as necessidades básicas de uma família (moradia, alimentação, saúde, vestuário, educação e lazer). Princípio hoje fora da realidade.
- Em 1º de maio de 1941 foi criada a Justiça do Trabalho, destinada a resolver questões judiciais relacionadas, especificamente, as relações de trabalho e aos direitos dos trabalhadores.
- Em 1943 é criada a Confederação das Leis Trabalhistas – CLT.

28/04/2017


OBITUÁRIO DE OMISSÕES

Valério Mesquita*

É no que Macaíba está se transformando. Sinto-me prisioneiro de mãos atadas, apenas, conduzindo lembranças. A linguagem que eu falo é somente de epílogos. Estive lá semana passada e não vi mais as esquinas, as ruas estreitas do centro repletas de segredos, sentimentos, vultos amigos, antigos, furtivos, que as curvas do tempo encobriram. Ninguém vê mais a lâmina d’água do rio Jundiaí no qual navegou Severo, Auta, Alberto, os Castriciano na lancha de mestre Antônio. Uma espessa floresta cobre o leito – e de luto morrem as recordações dos antepassados. A ponte de sessenta e cinco anos nunca mais viu uma embarcação, cansada de ser todo dia atropelada. Ali, no antigo e histórico cais do porto, nunca mais surgiu enorme, carregada de mistérios, a lua cheia que nascia e planava em cima do Solar do Ferreiro Torto.
A cidade de Macaíba hoje é uma fotografia ampliada dez vezes, cuja memória social, política, cultural, virou destroço, boletim de ocorrências. Um profundo baú de ossos. Somente a retina e o amor telúrico, sensitivo, de alguns macaibenses conseguem reconstruir, aqui e acolá, a passarela da sua história. Vista do alto, comprova-se que a chaminé das constantes migrações aumentou a população, os veículos, o barulho, a droga, o homicídio, acabando a paz pastoral dos verdadeiros habitantes. Macaíba se abre fácil para os que chegam de perto e da distância. Até motivo de pesquisa e estatística de uma televisão ela e Parnamirim já foram noticias. O fato serve de alerta para que a juventude nativa não deixe que apaguem as luzes. As luzes e as vozes dos que construíram no passado, o seu futuro e o seu espírito. Que não permita que padeça nem desapareça o sentimento de conterraneidade. Evitem o obituário de esquecimentos!! Aquela reunião em Macaíba de autoridades locais com as da Segurança Pública do Estado, em que ficou?
É preciso plantar urgentes providencias, à nível federal, estadual e municipal. A geração nova de macaibenses deve exigir oportunidades de trabalho, educação, saúde, segurança e combate ao tráfico de drogas, sem olvidar o patrimônio cultural de sua terra que já integra hoje a história da criminalidade do Rio Grande do Norte. Que os migrantes e neo-macaibenses no exercício constante de ir e vir não recusem o gesto de amor a cidade. Que venham e que cheguem como quem ama uma flor recém descoberta. Que não entendam o município como prolongamento de Natal devorado pelo capitalismo econômico e pelo enriquecimento ilícito. Imponham os limites, um basta! Macaíba deve ser a cidade que perdeu o medo, como se fosse a lâmina límpida de águas novas, extraída da própria macaibanidade única e indivisível. Cada um de nós tem a mesma dor e mesma canção.
O esquecimento deliberado do poder público estadual em restaurar o Empório dos Guarapes é outro crime perpetrado contra a história do comércio do Rio Grande do Norte. Nas décadas de 1860 a 1880, em termos de comércio de importação e exportação, Macaíba foi o maior porto do estado. Essa época de apogeu está sendo apagada da história porque o projeto de restauração dorme em algum birô do Centro Administrativo. A área foi desapropriada pelo governo, paga, tombada por decreto oficial, o projeto técnico concluído, prometida a execução, mas o recurso permanece no obituário da omissão. Na matriz de Nossa Senhora da Conceição, em outubro passado, o aniversário de Macaíba foi celebrado missa contra o esquecimento do projeto. Fabrício Gomes Pedroza, El espírito, esteve presente. Se Lampião tivesse subido o monte dos Guarapes, numa chuva de balas, talvez os Guarapes já tivesse sido restaurado. Mas as balas hoje disparadas estão matando os jovens e rasgando a identidade da cidade.


(*) Escritor.

NOTÍCIA ALVISSAREIRA


PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL liberou o valor do saldo do Convênio com o IHGRN, para modernização e recuperação do acervo histórico. Agora será possível complementar os serviços já iniciados na sede da Casa da Memória da Rua da Conceição, 622, dando alento ao salvamento de documentos e obras de grande importante para a história do Rio Grande do Norte.

25/04/2017

O LEITE


O Leite

24/04/2017



texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Seja bem-vindo ao Restaurante Leite. Aqui já almoçaram Joaquim Nabuco e Gilberto Freyre, cada um no seu século, e a gente de todos os tempos. Entre garfadas, colheradas e goles, muita história se escreveu em desfile de artistas e políticos, pessoas importantes da cidade e de fora dela passaram por ali. Acusado de ter o melhor bacalhau da cidade, e também a melhor cartola.

As avaliações contemporâneas dos guias, críticos e visitantes não deixam perder de vista as antigas que começaram com o português Armando Manoel Leite de França, Manoel Leite, proprietário, e um arsenal digno e importado da Europa em que assim se anotava: louça inglesa, cristais Baccarat, talheres de prata. Cem anos de história.

Os últimos cinquenta se fizeram pelos irmãos Dias, que, em 1955, começaram a tocar o barco e estão lá mantendo a tradição, a história e a boa mesa. Uma tradição que afirma que quem visitou Recife e não foi ao Leite não conheceu a cidade. Casarão de esquina, quatrocentos e vinte e cinco mil metros quadrados, piano, bar e pouco mais de trinta mesas, com pedras portuguesas na calçada.

Gilberto Freyre, que entendia e apreciava demais uma boa mesa, alardeou os seus sabores finos. Aliás, tinha mesa cativa, a número 19. Fumava charuto, bebia café e apreciava um licor. O pintor Cícero Dias, amigo de Picasso, era freguês. E se Picasso tivesse visitado o Brasil, provavelmente teria ido ao Leite. Jean-Paul Sartre foi. Mário de Andrade comeu lagosta e anotou no livro o quão agradável foi o banquete.

O artista pernambucano Francisco Brennand ainda é visto lá com frequência. Azulejos na fachada, esquadrias de madeira, a casa antiga, que abriga, no mesmo ponto, desde a primeira e única mudança definitiva, passou de prédio às margens do Capibaribe para a Praça Machado de Assis, 147, bairro de Santo Antônio do Recife, fizeram-no reconhecido patrimônio imaterial.


Dos mais antigos restaurantes do Brasil, registrou-se esse seu pioneirismo. E ainda reserva todo o requinte de antigamente. A crônica anota que o azeite, os guardanapos de tecido e os palitos de dente, estes confeccionados à mão em um convento, vêm de Portugal. E não é somente a tradição que é antiga, as cadeiras de jacarandá estão por lá desde os mil e oitocentos, como alguns móveis e outros objetos, e nem o piano e um pianista se perderam, completando o charme do lugar, com espelhos e cortinas enfeitando o salão.