21/04/2018
LÁGRIMAS DO SOL
Valério Mesquita*
O planeta que hospeda
a humanidade está aflito. Não por causa de Deus ou dos elementos naturais que
Ele criou. Mas por culpa do maior predador do universo: o homem. Deus sempre
foi misericordioso com o mundo. Tanto antes quanto depois de o seu Filho
unigênito ser mutilado na cruz para remissão dos nossos pecados. Sacrifício
vicário a fim de que se cumprissem as Escrituras.
Segundo os cientistas
e pesquisadores geofísicos o clima na Terra, estará insuportável. E prevêem uma
série de catástrofes terrestres. O aumento das águas dos oceanos invadirá os
continentes em virtude do contínuo degelo polar. Não são eles profetas do
Apocalipse, pois seriam logo contestados e ironizados pelos céticos e
agnósticos. Avisaram, ainda, que a Amazônia se transformará paulatinamente num
cerrado, vítima da desertificação promovida pelos insensatos. Advertem,
igualmente, sobre a falta de alimentos que virá como conseqüência dos
transtornos climáticos e atmosféricos. O ecossistema global entrará, por fim,
em colapso.
E Deus, o Pai supremo
sabe de tudo. Porque, pelo lado espiritual, todos esses fatos fazem parte das
previsões tanto do Antigo como do Novo Testamento. A cavidade da camada de
ozônio já é bem maior que a ganância dos países ricos e os desvãos das
civilizações pecadoras através dos tempos. O homem é um predador natural. Não,
apenas, do ecossistema, mas da família, das instituições públicas, do sistema
judiciário, da atividade política através da corrupção dos costumes e da
exploração dos mais fracos. O ser humano é o devastador e ceifador de vidas
desde a era pré-histórica, das guerras da Antiguidade, da Idade Média, da Idade
Moderna até a fase contemporânea. Sempre o homem será o lobo do homem. Porque
não permitem que nele atue o Espírito Santo de Deus e sim o instinto diabólico.
E assim caminha a
humanidade para a autodestruição numa encruzilhada que nem o gênio e a
sabedoria científica dos geógrafos, geólogos, oceanógrafos, geobotânicos,
astrônomos, biólogos e ecologistas podem deter ou evitar a catástrofe.
O Sol imutável,
inatingível, obra de Deus, continua rei da galáxia. A ele devemos o brilho dos
nossos dias, todos os dias. Não fossem os seus raios luminosos, a Terra seria
congelada e escura. O seu calor faz parte da vida humana e animal desse corpo
celeste. Mas o buraco negro na atmosfera terrestre é da autoria criminosa do
homem, hóspede predador da Terra. As águas que vão aumentar o nível dos oceanos
e os tsunamis que assolarão as cidades são lágrimas inconformadas de Jesus. O
planeta Terra suicidou-se paulatinamente.
(*)
Escritor.
20/04/2018
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19/04/2018
OBRIGADO, IDENILDE –
Nos
anos de 1950, surgiu, na cidade do Rio de Janeiro, uma voz feminina que
chamou a atenção do cantor Nelson Gonçalves (1919-1998). De pronto, o
ainda não famoso intérprete apresentou a jovem e iniciante cantora ao seu parceiro maior, o compositor romântico Adelino Moreira (1918-2002).
Na época,
pouco se valorizava a voz feminina. Ao ouvi-la, Adelino ficou
surpreendido e encantado com a voz da jovem morena jambo, oriunda do
Nordeste. Seu nome: Idenilde Araújo Alves da Costa.
Idenilde Araújo Alves da Costa nasceu no município
de Açu/RN, em 21 de janeiro de 1937. Ainda pequena com a idade de 3
anos, foi morar na cidade do Rio de Janeiro com a sua mãe Maria Luíza. Desde criança já gostava de se exibir como cantora, fazendo do cabo de vassoura um microfone, imitando a voz dos seus ídolos da época: Vicente Celestino e Dalva de Oliveira. Aos 8 anos, participou do programa “Clube do Guri” da Rádio Tupi/Rio.
Em 1958, trabalhando como vendedora das Lojas Pernambucanas foi incentivada, por um amigo de nome Samuel Rosemberg, a participar do concurso de calouros “A voz de Ouro ABC”, na TV Tupi, com o nome de Nilde de Araújo. Um dos jurados, Jordão Magalhães, proprietário da boate Clave, impressionado com a bela voz da jovem, convidou-a para ser crooner da sua casa noturna.
Em 1959, com o nome de Nilde de Araújo, gravou por incentivo do cantor e compositor Joel de Almeida o seu primeiro disco, um 78 rpm pela gravadora Polydor, com as músicas: “Sou eu”,de Valdir e Rubens Machado, e “Vai de vez”, de Ricardo Galeno e Paulo Tito.
Em suas apresentações na boate Clave, conheceu o compositor Adelino Moreira por intermédio do seu amigo e admirador, o cantor Nelson Gonçalves, momento que passou a usar o nome artístico Núbia Lafayette, sugerido por Adelino, por achar que o nome dava mais sonoridade e energia a bela voz da jovem cantora.
No ano de 1960, já com o seu nome artístico, gravou, pelo selo RCA Camden, o seu primeiro disco, um 78 rpm com 2 músicas de Adelino Moreira: “Devolvi” e “ Nosso amargou”. Daí para frente só deu Núbia gravando Adelino, a ponto de causar uma ciumeira danada nas outras intérpretes, entre elas a mais queixosa de todas: Ângela Maria.
Em 1970, grava um novo disco pela CBS, com destaque para “Casa e comida”, de Rossini Pinto; “Aliança com filete de prata”, de Glória Silva; “Mata-me depressa”, de Rossini Pinto; “Quem eu quero não me quer”, de Raul Sampaio e Benil Santos; “Lama”, de Aylce Chaves e Paulo Marques; e o grande sucesso de Mário Lago: “Fracasso”.
Apesar dos modismos, Núbia sempre se manteve ligada às canções sobre dor de cotovelo, amores acabados, fossas, mágoas, traição, desconsolo; gravou também outros grandes nomes como: Lupicínio Rodrigues, Herivelto Martins, Raul Sampaio, Jair Amorim, Evaldo Gouveia, Ataulfo Alves, Carlos Gardel, entre outros.
Recebeu na sua carreira artística muitos troféus: Roquete Pinto, Revista do Rádio, Airton Perlingeiro, Buzina de Ouro do Chacrinha, O Velho Capitão, estatueta em bronze do busto do homem da comunicação do Brasil, Assis Chateaubriand.
Em 1976, foi classificada em segundo lugar no Festival da Canção na Colômbia, interpretando a música “A vida tem dessas coisas”, de César Sampaio. Gravou a canção “Uno”, de Carlos Gardel e Espinita, lançado em compacto.
A partir do ano 1990, passou a morar em Maricá, litoral norte fluminense, com um rítmico de trabalho bem mais lento. Ano em que se apresentou em Natal, no Recanto do Garcia, no Jiqui Country Clube, no América Futebol Clube; participou ainda do projeto Natal em Canto, em companhia do Trio Irakitan.
Núbia faleceu em Maricá, no dia 18 de junho do ano de 2007, numa segunda-feira, às 13h15, no Hospital de Clínica de Niterói, aos 70 anos. Acometida por um segundo episódio de acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH).
Os norte-rio-grandenses, em especial a comunidade açuense, se sentem ricamente orgulhosos pela sua inserção na história da música popular brasileira, como uma das melhores intérpretes de samba-canções e boleros, com sua inigualável e inimitável voz jamais esquecida e vivamente escutada.
Um legado inapagável.
Obrigado, Idenilde!
Berilo de Castro – Escritor
18/04/2018
Manias de Corbiniana
Por Gustavo Sobral
Cheia de fricotes. Se se dissesse assim, passe ai o arroz e se
passasse o prato de arroz por cima do prato de macarrão, ela não comeria
o macarrão porque o prato tinha passado por cima. Quando ia cortar uma
costura, a toalha para forrar a mesa precisava ser lavada e
esterilizada, era todo um processo. Ai, as enteadas, que não suportavam
tanto capricho e mania, troçavam. Iaiá dizia deixe que eu corto isso, ai
quando ia cortando a fazenda cortava o forro debaixo todinho, mas
menina, quem mandou você cortar o forro também.
As meninas só comiam carne de segunda, camarão e estas coisas era
para ela e o marido. Um dia Iaiá disse às irmãs, esperem que hoje a
gente vai comer camarão adoidado. Maria disse, Iaiá o que é que você vai
fazer. Pode deixar Maria, você vai ver o que eu vou fazer. Começou a
gritar, ai, ai, ai. Um escândalo e sapateando e gritando. Um rato, um
rato, um rato bem em cima dos camarões. Como é que pode, um rato, ai meu
deus. Corbiniana ouviu calada e o resultado foi que a semana passou
toda para as meninas no almoço a base dos camarões.
Quem servia o açúcar na mesa era ela Corbiniana, saia colocando
açúcar na xícara de cada uma delas, não havia o próprio direito de se
servir. Maria com raiva deste absurdo, que não aceitava, se acostumou a
tomar café amargo. Quando comprava um chapéu novo, para evitar que,
vindo sei lá de onde, e sabe-se lá como guardado, e se estava asséptico,
forrava com um lenço, dava quatro nozinhos na ponta e cobria a cabeça
antes de colocar o chapéu. Era assim Corbiniana.
17/04/2018
SABEDORIA
A CEGUEIRA DO ÓDIO
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
Consoante a teologia cristã, o ódio é um dos sete pecados capitais. É
também um dos pilares de desajuste do ser humano, levando-o à cegueira
espiritual. Do ponto de vista simbólico e segundo a narração dos
evangelistas, Cristo curou vários cegos, os que nasceram deficientes e
aqueles com a limitação adquirida. Talvez se possa constatar o fenômeno
da cegueira oriunda do ódio na sociedade brasileira atual. Isso faz-nos
recordar o romance de José Saramago “Ensaio sobre a cegueira”, onde ele
descreve a epidemia que assolou uma cidade. Expressiva é igualmente a
obra do pintor holandês Pieter Bruegel “De parabel der blinden” (A
parábola dos cegos), conservada no Museu de Capodimonte, em Nápoles
(Itália). O autor retrata na tela a história contada por Jesus, na qual
Ele afirmara: “Se um cego conduz outro, ambos cairão no precipício”. A
passagem bíblica é narrada por Mateus (cap. 15, v. 14) e Lucas (cap. 6,
v. 39). Ali, o Mestre aponta os fariseus, ícones de muitos pseudolíderes
de hoje.
Diz-se que o amor é cego. Mas, os psicólogos explicam que o amor
romântico é o causador dessa limitação. O ódio em todas as suas faces e
nuances (cólera, ira, raiva, fúria, rancor etc.) leva à ausência de
visão interior. Curar-se dele é fazer com que as escamas caiam dos
olhos, recobrando a luz. Vivem-se tempos de cegueira coletiva em nosso
país, conduzindo inúmeros à barbárie. Atravessam-se dias de trevas e
desencontros. Faz-se abertamente apologia à violência, à intransigência e
ao radicalismo, filhos da ira. Caminha-se a passos largos para a
insanidade social. É preciso correr o risco de chamar à lucidez aqueles
que mergulharam nas águas turvas do rancor.
Cristo exorta os discípulos a reconhecer a dignidade de seu
semelhante. Essa é a origem do amor cristão, não necessariamente
obrigado ao afeto, e sim ao respeito pelo outro. O avesso disso induz ao
ódio. Se, do ponto de vista médico, o cólera é uma doença, de modo
análogo, a cólera é uma patologia mental, que está se tornando uma
epidemia no Brasil. Aqueles que odeiam, não conseguem vislumbrar no
próximo a sua dignidade. Concebem um mundo totalmente desigual, onde o
“Eu” (ou o partido político) serve de parâmetro de valor ou desvalor que
se dá aos seres humanos. Isto desumaniza a pessoa. Atrofia-se a
personalidade e atribui-se ilícita e iniquamente o direito de praticar
injustiça e violência. Aqueles que destroem alguém física ou
mentalmente, perderam o sentido de Deus, da vida e da dimensão social. A
ira massifica os cidadãos e cria abismos profundos.
Quem curará a nossa sociedade, privada de lucidez, coerência e
respeito? No romance de José Saramago, restava uma mulher (esposa de um
médico) que enxergava e orientava os deficientes visuais. Nela
poder-se-ia entrever uma metáfora da fé cristã. De acordo com os
evangelhos, o Filho de Deus libertou da escuridão muitos cegos. É
verdade que Ele não está mais presente fisicamente entre nós. Mas,
permanece a sua Palavra, que cura, converte e transforma. O Brasil
contemporâneo carece da escuta atenta e vivência autêntica da Palavra
divina. Infelizmente, Ela é usada inescrupulosamente ou de forma
bastante distorcida, numa flagrante afronta à semântica bíblica e à
hermenêutica sagrada. “Tende confiança, eu venci o mundo” (Jo 16, 33),
assegurou aos apóstolos o Senhor Jesus. Os cristãos acreditam que virá a
hora em que a cegueira generalizada passará. Surgirão os escombros dos
valores éticos de nossa sociedade. Mas, será preciso – como recorda o
poema “Fim e começo”, de Wislawa Szymborska – que alguém faça a faxina,
tire os entulhos das ruas e abra caminho para que as caçambas passem com
o lixo moral. Enquanto isto, faz-se necessário anestesiar o ódio. Este é
satânico. Os que têm algum discernimento deverão se empenhar para que,
ao ressurgir dessa triste crise social, haja os que se dediquem à tarefa
do recomeço e da reconstrução. Eduquem-se os brasileiros para o amor,
que abre horizontes! E não se esqueçam de que “Deus é Amor” (1Jo 4, jamais o ódio!
14/04/2018
Cesário colecionava
tudo no mundo
tudo no mundo
Quando Cesário morreu a casa foi vendida e o marido de Tereza doou as
coisas para o museu. Cesário morava na avenida Visconde Suassuna,
bairro de Bela Vista, numa casa grande, no meio de um terreno muito
grande. Na casa havia móveis antigos e cristais, um verdadeiro
antiquário. Cesário colecionava de tudo no mundo até jornais velhos,
vencidos, lidos, tinha para dar, vender e emprestar. Quando o aborrecia a
bisbilhotice alheia, fechava a janela e colocava os jornais.
Empilha-os, tapando a vista. No diário que tinha, tomava nota em
pormenores de tudo o que acontecia na sua vida e na dos seus. Caminhava e
andava sempre bem vestido. Alto, corado, esguio, era Nobre de Almeida e
Castro e faleceu de velhice. Trabalhou numa firma e foi por
desentendimento que acabou deixando. Depois disso, dedicou-se
inteiramente às antiguidades, comprava e vendia. Aos domingos ia à missa
e levava a tiracolo a mulher, Sinhazinha e as meninas suas filhas.
Nísia ensinava música, Candinha era casada e Tereza era a mais moça. Os
filhos, Marciano morreu menino e Antônio fugiu para o Rio de Janeiro.
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