23/06/2021

A festa de São João Batista Padre João Medeiros Filho Com exceção de Cristo e da Virgem Maria, João Batista é o único personagem, cujo natalício é celebrado na liturgia da Igreja Católica. Segundo as palavras de Jesus, “ele é o maior, dentre os nascidos de mulher.” (Mt 11, 11). Um anjo anunciou a Zacarias o nascimento da criança (Lc 1, 5-25). Pelo que se infere dos relatos neotestamentários, João era seis meses mais velho que o Messias. “O menino foi crescendo e se fortificando em espírito.” (Lc 1, 80). Viveu no deserto até o dia em que se apresentou em Israel. Iniciou a sua catequese, à beira do Rio Jordão. Proclamou, de forma contundente, a necessidade de mudança pessoal e social, alertando para a vinda iminente do Salvador. A conversão é a única forma de escapar da ira divina. Símbolo de sua pregação é o batismo no Rio Jordão, resultando daí o epíteto de Batista. Entretanto, apesar de batizar o próprio Redentor, declara que Ele “batizará com o Espírito Santo.” (Mt 3, 11). Estudiosos acreditam que João pertencia à seita dos essênios, monges austeros, que viviam às margens do Mar Morto, entregues à oração e à penitência. Esta afirmativa advém do estilo de suas prédicas e vida despojada. Os evangelhos narram que ele se vestia rudemente, usando peles de camelo e alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre. Quanto a pertencer à comunidade esseniana, não há comprovação histórica. Porém, pela leitura dos Documentos do Mar Morto, deduz-se pela verossimilhança do unigênito de Isabel com aqueles religiosos. João Batista, cuja devoção se espalhou pelos sertões do Brasil, tem uma importância especial no cristianismo. Denunciou a corrupção do seu tempo. O poder de Herodes, contaminado por erros e abusos, cortou a sua cabeça, mas não apagou seus ensinamentos e exemplo. Denunciou a mentira e a hipocrisia de seus contemporâneos. Importava-lhe Jesus: “Caminho, Verdade e Vida.” (Jo 14, 16). Apontou Cristo presente entre os homens, mostrando igualmente qual deve ser a nossa missão: indicar onde está o Filho de Deus. Com ele, encerrou-se o reino do pecado, inaugurando-se a era da graça e do perdão. Profeta da fidelidade e justiça, ensinou a coerência e a humildade. Centrou sua atenção em Cristo, de quem não se sentia digno de desatar as correias de suas sandálias. Apresentou Jesus ao povo: “Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que tira os pecados do mundo” (Mt 3, 11). Batizou muitos, mergulhando-os nas águas de Deus e nos seus valores. Pregou que a verdadeira religião não está no formalismo, mas na autenticidade e no interior. Antecipou-se ao Messias, quando Este se dirigiu aos hipócritas e fariseus: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar?” (Mt 3, 7). João Batista, na tradição e na metáfora das fogueiras, convida-nos a acender também em nós o clarão de nossa fé e caridade para que “todos vejam as boas obras e glorifiquem o nosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5, 15). Seu culto é bastante difundido no Brasil. Doze dioceses lhe são dedicadas. É titular de centenas de templos espalhados pelo país e padroeiro de dez paróquias no Rio Grande do Norte. No período colonial, era muito venerado pelos jesuítas. Câmara Cascudo registra esse fato e explica a devoção ao santo precursor em localidades potiguares. Segundo o nosso pesquisador, aqueles missionários catequisaram Arês e disso resulta o orago joanino naquela comunidade. A freguesia de Assú – a segunda a ser criada na Província – tem o Filho de Zacarias como patrono. Em Apodi, erigiu-se um templo dedicado ao Precursor e a Nossa Senhora da Conceição. A esta veneração dos discípulos de Santo Inácio de Loyola acrescente-se a devoção pessoal de Dom João VI. “Muita gente alegrar-se-á com o nascimento do menino.” (Lc 1, 4). De acordo com alguns folcloristas, eis a origem dos folguedos e festejos juninos. No ensejo desta data, convém lembrar o aniversário de um dos padres mais queridos de Natal, Monsenhor Lucas Batista Neto. Há mais cinquenta anos, como São João Batista, o preclaro sacerdote prepara os caminhos do Senhor nesta arquidiocese!

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