CLAMORES DE GUERRA E PAZ
Valério Mesquita*
Os olhos não devem ser pagos,
porque enxergam, as pernas porque andam nem os ouvidos porque escutam. Assim
deve ser com o gestor público que exige idolatria por realizar ações
administrativas dentro do âmbito estrito da própria competência. Em muitas
ocasiões utiliza a pólvora alheia para satisfações do instituto imediatista de
distorcer o fato, a história e a verdade. O diagnóstico para tal comportamento
é de ordem psicológica, de desvio de conduta com fulcro no rancor, no ganho
eleitoral e no despreparo emocional. Governo sem oposição deixa o administrador
sem rumo nem prumo. A menos que se viva no Vietnã, na Coréia do Norte, Cuba, China
ou em algumas republiquetas africanas. É lamentável o desperdício de poucos, de
significativos talentos políticos no Rio Grande do Norte, que se omitem pelo
medo ou se portam de forma dispersa, sem unidade de ação. Oposição não pode ser
light nem doidivana, delicada, de faz de conta. Aparências, nada mais. O
indivíduo de bom caráter não se vende nem leiloa vantagens com o adversário no
atacado ou no varejo, dentro de sua casa.
Quantos erros não foram
cometidos nos últimos anos pelos presidentes, governadores e prefeitos
municipais que manipularam as respectivas casas legislativas com o mel de furo
do empreguismo e de vantagens pessoais. O homem comum, o eleitor, o popular,
quando enxergam diante deles uma placa enorme anunciando uma obra pública
vultuosa, cara, demorada, comentam de imediato: “Serviço grande, dinheiro
demais e se não for fiscalizado vai sair propina...”. Isso aí já está
impregnado no imaginário do povo porque é a cultura reinante desde o tempo de
Tomé de Souza, o governador geral.
As deduções não são
preter intencionais ou preter dolosas. O comportamento de modo geral do homem
público brasileiro, quando ordenador de despesa, hoje, se traduz como uma
atividade de risco. Quando os tribunais de contas da federação listam e
publicam os nomes dos gestores “ficha suja”, logo, logo, liminares escapatórias
são impetradas junto aos TRE’s e Poder Judiciário, iniciando-se, a partir daí,
uma intrépida viagem de circunavegação polar até o TSE. E a eleição? Essa já
passou e o assunto morreu. De nada valeram: a) o criterioso trabalho dos
técnicos e auditores em contas públicas; b) o detido exame e a proposição cabal
do Ministério Público junto aos TCE's; c) bem como a relatoria do voto dos
conselheiros condenando o agente. Ou o julgamento fiscal, contábil e o controle
da despesa pública exercidos pelos TCE’s
merecem o respeito e o acatamento ou o auxílio que eles ofertam aos
poderes são apenas encenação, bazófia e superficialidade?
O Ministério Público
brasileiro está abastecido de talentos e valores novos. Comece observando a
equipe que investiga a operação “lava jato”. O Poder Judiciário do país deve
ser constituído de cabeças pensantes, antenadas com o objetivo de passar o
Brasil a limpo. Todos irmanados, tais como, pastoradores de auroras boreais
para um país de escassez, desempregos e ultrajes. O grande obstáculo continua:
as casas do congresso, as oficinas da lei. Nelas a legislação nacional caducou
em todos os sentidos e seguimentos. A pluralidade abusiva de partidos políticos
é a maior hipocrisia democrática do nosso tempo. Ela é permissiva e mercadora.
Não desperta autênticas vocações de legisladores. Daí a pobreza de nomes, de
líderes que a nação hoje vivencia. É só trazer à retentiva os nomes dos
políticos de ontem e compara-los com os atuais. Essa tarefa cabe ao povo que
sempre se deixou iludir. E como o sonho não envelhece espera-se que o
brasileiro eleitor faça a sua parte. Terminando o texto, numa FM, ouço Raul
Seixas: “Não pense que a canção está perdida. Tenha fé em Deus, tenha fé na
vida. Tente outra vez!”.
(*) Escritor
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