27/09/2014

UM ESTRANHO CORTEJO
 
 
                                                             Públio José – jornalista
 
 
 
                       Há uma passagem na Bíblia, no livro de Marcos, (2. 3.) que nos mostra uma cena bastante estranha. Jesus chegara a Cafarnaum, vindo da Galiléia, e logo a notícia correu de que Ele chegara à cidade. Sua fama já era bastante conhecida. Por onde andava grandes multidões se apertavam para vê-lo e ouvi-lo. O versículo 3 narra, então, que “alguns foram ter com Ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens”. Pelo que se vê, uma pequena multidão se aglomerara em torno de um paralítico, sendo que destes todos quatro foram escolhidos para levar o paralítico a Jesus. O paralítico foi carregado em sua própria cama, certamente em razão de dificuldades de movê-lo até Jesus de outra maneira, ou pelas dificuldades financeiras de contratar outro tipo de transporte. O que se depreende do episódio é que o paralítico não era um qualquer – uma vez que muitos se juntaram para socorrê-lo.
                        Assim, fica configurado o inusitado da cena. Um bando de homens, (às mulheres não era permitida tal empreitada, em função da cultura e hábitos judaicos) carregando uma cama, desfila com um paralítico pelas ruas da cidade em busca de solução para suas dores. Da cena se extrai, no mínimo, uma alta demonstração de solidariedade, pois é muito difícil conciliar tempo e interesses de um bom número de pessoas dispostas a desfilar, pelas ruas de uma cidade, carregando um paralítico numa cama. A cena, olhando-se de fora, teria também algo de ridículo, de insólito, de cômico. Mesmo assim, temos que admitir o forte fascínio que o doente exercia sobre as pessoas a ponto de convencê-las a se irmanarem com ele na incomum tarefa. Embora pobre, houve argumentos da parte dele que sensibilizaram outros homens a ajudá-lo na busca da solução para os seus problemas.
                          Do episódio podemos tirar várias lições. A principal delas é que aquele homem jamais se entregou à sua desdita. Podemos concluir isso pelo simples fato de que, ao primeiro sinal da presença de Jesus na cidade, ele se movimentou para procurar ajuda. Pelo pronto atendimento dos amigos ao seu chamado, podemos concluir também que em redor de si havia sempre trânsito de pessoas. Isso demonstra que, apesar de suas dores, de sua vergonha, da sua incapacidade física, ele tinha um comportamento que gerava nas pessoas afeição, carinho, afinidade – irmandade até. Afinal, como narra o texto bíblico, aquele grupo de companheiros topou uma empreitada nada fácil. Ao chegarem na casa onde Jesus atendia o povo se depararam com uma difícil realidade: não havia como entrar na casa; não havia como chegar a Jesus, pois o ambiente, de tão freqüentado, estava completamente tomado. 
                           Mesmo assim eles não desistiram. Acredito que tenham feito uma pequena conferência em torno da dificuldade. “E agora, como vamos fazer?” Um deles, certamente o mais afoito, sugeriu a cena que se perpetua até os dias de hoje: “vamos pelo eirado”. E subiram o paralítico, com cama e tudo, até o telhado, cavaram um buraco no teto e desceram o conjunto até Jesus. Muita coragem, ousadia e disposição para ajudar uma pessoa necessitada! Você chegaria a tanto? Do episódio o que me fascina é o carisma do paralítico. De como ele – em meio a uma realidade dolorosa – permaneceu firme, deixando de lado uma realidade de derrota, para seguir em frente. E como conseguiu unir ao seu projeto um grupo compacto de homens dispostos a tudo para ajudá-lo. Ah, o melhor é o resultado. Curado por Jesus, voltou para casa ereto, feliz, levando de volta o leito às costas. Vitória. Pura vitória...    

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