04/02/2015

03/02/2015

 Manoel José Martins, o tutor

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Alguns construtores da História do Rio Grande do Norte, muitas vezes, não têm seus nomes escritos nos livros do presente. Não são lembrados nem pelos seus parentes que sobrevivem hoje. Se não foram militares, escritores, políticos e não exerceram atividade mais significativa ficam esquecidos para sempre. 

Manoel José Martins nasceu em Macau, como podemos ver do registro a seguir: Manoel, branco, filho natural de José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres, moradores nesta Freguesia, nasceu aos dezenove de abril de mil oitocentos e trinta, e foi solenemente batizado, com os Santos Óleos, aos vinte e um de maio do mesmo ano, em Macau, pelo Reverendo José Beraldo de Carvalho, de minha licença, o qual (José Martins) disse em minha presença reconhecia o dito párvulo por seu filho, e me pediu fizesse essa declaração para todo tempo constar, foram padrinhos o capitão Silvério Martins de Oliveira e sua mulher Joanna Nepomucena; do que para constar mandei fazer este assento, e por verdade assino. O Vigário João Theotônio de Souza e Silva.

Esse registro acima é o primeiro de quatro, dispostos continuamente, onde José Martins Ferreira faz o reconhecimento dos filhos: Manoel, José, Josefa e Joaquim.

Encontramos Manoel com vários sobrenomes: Manoel José Martins, Manoel José Martins Ferreira, Manoel Martins Ferreira. Em 1847, já em Cacimbas de Viana, ainda solteiro, ele foi padrinho, junto com Josepha Clara Martins, de Justino, filho legítimo de Bartholomeu P. da Silva e Izabel Maria da Conceição. Em 1857, ambos casados, Manoel José Martins Ferreira e Josepha Clara Martins foram padrinhos de Manoel, filho legítimo de João Alves Martins e Anna Maria de Jesus. Esse João Alves Martins, que quando casou tinha o nome de João Martins Ferreira, era irmão de Manoel José Martins, embora não aparecesse na lista dos reconhecidos pelo pai José Martins Ferreira.

Vejamos seu casamento: Aos vinte e oito de novembro de mil oitocentos e cinquenta, pelas 4 horas da tarde, na fazenda das Cacimbas de Vianna, na Freguesia do Assú, foram unidos e abençoados em matrimônio, de minha licença, pelo Reverendo Silvério Bezerra de Menezes, os contraentes, meus fregueses, Manoel Martins Ferreira, e Prudência Maria Teixeira, brancos, servatis ex more servandis: foram testemunhas José Martins Ferreira e João Gomes Carneiro: do que faço este assento em que assino. Felis Alves de Souza, Vigário Colado de Angicos.

Nesse registro não aparecem os nomes dos pais dos nubentes. Acredito que essa Prudência era filha de Francisco Antonio Teixeira de Sousa e Marianna Lopes Viegas, pois no inventario desta última, do ano de 1839, aparece uma filha do casal, com a idade de seis anos, com esse nome. Os Teixeira de Sousa tinham fazendas em Cacimbas de Vianna. No ano de 1853, Manoel José Martins e João Lins Teixeira de Souza (irmão de Prudência), foram testemunhas do casamento de escravos de João Teixeira de Souza e de João Gomes Carneiro (casado com Anna Joaquina Teixeira de Souza).
Não encontrei um registro sequer de filhos do casal Manoel José e Prudência. Acho que eles não tiveram filhos e, talvez, isso foi  determinante para Manoel José assumir a tutoria dos filhos de seu irmão José Alves Martins, assassinado em 1871. Eram nove, tendo o mais velho a idade de 18 anos e o mais moço, 4 anos. 

No inventário acima podemos observar o zelo que Manoel José Martins teve, prestando contas periodicamente do mesmo. À medida que os herdeiros ganhavam o direito da herança ela era repassada aos mesmos, sem nenhuma contestação, sendo o último a receber o caçula Manoel Alves Martins.

02/02/2015


Lançamento
Quarta, 4 de fevereiro às 19:00 em UTC-03
Livraria Nobel Salgado Filho em Natal (Rio Grande do Norte)Aluísio Azevedo Júnior convidou você para o evento de Havana - Em Busca da Noite Perfeita
Marcelo Alves
Marcelo Alves

O problema do nosso modelo misto


Esta semana, recebi um e-mail de um colega revoltado com a falta de uniformidade na nossa Jurisdição Constitucional (na verdade, a revolta dele se dirigia, especificamente, ao Tribunal perante o qual atuamos, mas isso fica cá entre nós). Segundo ele, os julgados do Supremo Tribunal Federal, tanto nas ações diretas de controle de constitucionalidade como no controle difuso, devem ser respeitados, sem os subterfúgios de interpretações casuísticas, sob pena de se verem gravemente comprometidas as elevadas funções daquele Tribunal (o STF) e do nosso sistema constitucional como um todo.



Já tinha pensado sobre o tema (e escrito também) e, em resposta eletrônica, dei inteira razão ao colega: essa coexistência dos controles concentrado e difuso no Brasil está precisando de muitos ajustes.



Na verdade, como sabemos, são dois os principais modelos ou sistemas de controle jurisdicional da constitucionalidade das leis (tome-se aqui lei em sentido lato para abranger outros atos normativos): o difuso, também conhecido como o modelo americano; e o concentrado, modelo desenvolvido na Europa continental. Eles são bastante distintos na forma de intervenção e poderes, apesar de poderem até coexistir em determinado ordenamento jurídico, como no caso, por exemplo, de Portugal e do Brasil.



No Brasil, sob a Constituição de 1988 e as emendas ao seu texto, no que toca ao controle difuso, basicamente, qualquer juiz ou tribunal pode, em qualquer processo, por requerimento de qualquer das partes, via de exceção na discussão do caso concreto, apreciar a constitucionalidade de lei ou ato normativo. Como efeito imediato, dá-se a não aplicação da norma tida por inconstitucional somente no caso concreto discutido em juízo, com eficácia, portanto, “inter partes”. No mais, compete ao Senado Federal suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal (que poderá, por sua vez, após reiteradas decisões, à luz do art. 103-A da CF, aprovar enunciado vinculante sobre a questão). No que toca ao controle concentrado, ele se dá, no Brasil, através de ações diretas perante o Supremo Tribunal Federal (ou perante Tribunal de Justiça de Estado da Federação quando se tem por paradigma a respectiva Constituição Estadual). As duas principais ações diretas são a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal e estadual (CF, art. 102, I, “a”, primeira parte) e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal (ação declaratória de constitucionalidade - CF, art. 102, I, “a”, in fine), que produzem decisões com eficácia para todos (“erga omnes”) e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo. Adicione-se ao caldo a arguição de descumprimento de preceito fundamental (CF, art. 102, § 1º), a ação direta de inconstitucionalidade por omissão (CF, art. 103, § 2º) e a ação direta de inconstitucionalidade interventiva.



O problema é que essa mistura em nosso sistema jurídico dos dois modelos de controle de constitucionalidade, concentrado e difuso, não foi esse sucesso todo, frequentemente dando ensejo a decisões distintas para casos semelhantes e ao não seguimento dos precedentes do Supremo Tribunal Federal.



Tenho uma tese para explicar o problema: em grande parte, ele pode ser atribuído à adoção capenga do controle difuso no Brasil. Inspirados no exemplo americano, nós adotamos esse modelo de controle, mas sem adotarmos a doutrina do “stare decisis” (situação que, até onde eu sei, é comum na América Latina). Isso é causa determinante da falta de uniformidade decisória no controle de constitucionalidade entre nós. Enquanto que, nos Estados Unidos, as decisões no controle difuso são razoavelmente uniformizadas pela aplicação da doutrina do “stare decisis”, no Brasil, exatamente pela ausência desta doutrina, essa uniformidade não existe.



E o pior (sendo esse o caso reclamando pelo meu colega): se a multiplicidade de processos no controle difuso gera, comumente, decisões contraditórias - o que, dado a igualdade perante a lei, já não é desejável - o problema ganha feição bem mais grave quando essa contradição se dá em relação às decisões, em sede de controle concentrado, do Supremo Tribunal Federal, órgão responsável pela guarda da Constituição.



É crucial a criação de mecanismos para harmonização dos dois modelos ou para, pelo menos, minorar a um grau aceitável o problema da falta de uniformidade, sob pena de se ver nosso sistema de controle de constitucionalidade como um todo, sobretudo na visão do jurisdicionado, gravemente comprometido. Dentre os mecanismos já previstos estão a eficácia “erga omnes” e o efeito vinculante das decisões do Supremo Tribunal Federal no controle concentrado, a repercussão geral nos recursos extraordinários e a súmula vinculante.



Mas precisamos de mais. Muito mais. Quem sabe até uma regra de vinculação mais abrangente nos moldes da doutrina do “stare decisis” anglo-americana.


Alguma ideia, caro leitor?

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

01/02/2015

 Senador, os Alves vieram de Macau



João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

No velório da escritora Ana Maria Cascudo Barreto, estávamos em uma roda de amigos, quando Severino Vicente provocou o Senador Garibaldi Alves: João Felipe diz que os Alves vieram de Macau. Garibaldi, então, falou: mas não foi de Angicos?
Comecei a responder, mas a chegada contínua de pessoas impediu a complementação do assunto. Por isso, dou continuidade àquela conversa interrompida, neste artigo, embora já tenha tratado desse assunto em outros artigos.
Em 1810, administrava a Ilha de Manoel Gonçalves, pião de várias terras da região do Assú, José Álvares Lessa. Em 1818, o português e morador da Ilha de Manoel Gonçalves, João Martins Ferreira escrevia para o governador da província, José Ignácio Borges dando notícia da invasão da dita ilha por corsários ingleses. Era casado com Josefa Clara Lessa, possivelmente, filha de José Álvares Lessa. Em 1823, capitão, encontramos João Martins Ferreira como testemunha ou padrinhos em várias localidades do Assú.
A invasão contínua das águas oceânicas sobre a Ilha foi obrigando seus moradores a se deslocaram para outras localidades, sendo a preferência maior pela então Ilha de Macau, ainda sem habitantes, tendo somente, por lá, alguns práticos. Na lista dos primeiros habitantes de Macau aparecem o capitão João Martins Ferreira, seu filho major José Martins Ferreira e mais quatro genros, segundo a tradição oral.
No período que vai de 1830 até 1834, encontramos os batismos de quatro filhos do major José Martins Ferreira e Delfina Maria dos Prazeres. Nesses registros, onde esses filhos têm seus registros um atrás do outro, por se tratar de reconhecimento de paternidade, consta que eles foram batizados em Macau, embora em outros registros, encontrados isoladamente, as localidades de alguns batismos sejam diferentes. No caso de José Alves Martins, o segundo filho dessa lista, ele foi batizado em Guamaré.
Pois bem, José Alves Martins, casou com Francisca Martins de Oliveira, no dia 27 de novembro de 1852, em Curralinho. Não havia informações dos pais dos nubentes. Em uma das mensagens de um Presidente desta província do Rio Grande do Norte, vamos encontrar a notícia do assassinato dele, em 1871, na povoação de Rosário, por um sócio, João Rodrigues Ferreira.
Em uma das minhas viagens a cidade do Assú, encontrei, no Fórum João Celso da Silveira Filho, o inventário do falecido, tendo como inventariante, e ao mesmo tempo tutor dos filhos órfãos, seu irmão mais velho, Manoel José Martins, ambos inventariante e inventariado moradores em Cacimbas do Viana.
Na relação desses filhos constavam: José Alves Martins (Jr.), 18 anos; João Alves Martins, 13; Francisco Alves Martins, 12; Joaquim Alves Martins, 11; Militão Alves Martins, 10; Josefina Emília Alves Martins, 8; Delfino Alves Martins, 7; Maria, 5; e o caçula Manoel Alves Martins, com 4 anos de idade.
Em 10 de janeiro de 1879, Dona Josefina Emília casou com Absalão Fernandes da Silva Bacilon, natural de Santana do Matos.  Esse casal gerou Dona Maria Fernandes (D. Liquinha) e Dona Jesuína, que casaram, respectivamente, com Manoel Alves Filho e Jose Fernandes Silva.
Manoel Alves Martins, o mais novo de todos os filhos do José Alves Martins, em 1888, foi emancipado por completar 21 anos. Casou, primeiramente, com Joaquina Teixeira Martins, nascendo desse casamento, aos 2 de dezembro de 1890, um único filho, Manoel Alves Martins Filho.  Enviuvando, casou com Maria Ignácia da Conceição. Desse casamento, nasceram vários filhos, entre eles Manoel Alves Filho, aos 10 de agosto de 1894, que casou com sua prima legítima Maria Fernandes (D. Liquinha). Martins desapareceu do sobrenome dos descendentes.
O percurso, portanto, da família Alves, aqui no Rio Grande do Norte, foi Ilha de Manoel Gonçalves, em seguida Macau, depois Cacimbas do Viana (Porto do Mangue), Santana do Matos, e, finalmente, a mais conhecida, Angicos. Os Fernandes (aqui desapareceram os sobrenomes Alves e Martins) onde a maior estrela foi Aristófanes, filho de Jose Fernandes da Silva e Jesuína Fernandes, permaneceram em Santana do Matos.
Inicialmente, alguns dos filhos do major José Martins Ferreira se assinavam como Martins Ferreira, mas com a chegada de outros filhos, com o mesmo nome, do seu segundo casamento com Josefina Maria Ferreira, foi introduzido o sobrenome Alves, que talvez seja originário de José Álvares Lessa, português de Leça da Palmeira, e antigo administrador da Ilha de Manoel Gonçalves.


Batismo de José Alves Martins

31/01/2015

Aula

  

DISCURSO PROFERIDO PELA FORMANDA PRISCILA MEDEIROS ALFF, DO CURSO DE NUTRIÇÃO, TURMA 8MA 2014.2, DA UNIVERSIDADE POTIGUAR-UNP, NA SOLENIDADE DA AULA DA SAUDADE FORMAL.


Ilustríssima Senhora, Professora Lidiane de Lima Fernandes, MD Coordenadora do Curso de Nutrição, desta Universidade Potiguar,
Ilustríssimos senhores professores do Curso de Nutrição aqui presentes,
Estimados colegas formandos,
Minhas senhoras e meus senhores.

Quis a generosidade dos meus queridos colegas que ora concluem o Curso de Nutrição da TURMA 8MA - 2014.2 -, desta respeitável Universidade, a quem muito estimamos, que o nosso nome fosse escolhido para, festivamente, proferir estas palavras de saudade, tradicionalmente denominada AULA DA SAUDADE. Na verdade, a incumbência se tornou muito honrosa, uma vez que a distinção nos comove e nos obriga a uma profunda reflexão em torno de todos os fatos que ocorreram ao longo desses quatro anos de salutar convivência, entre alunos e os nossos caríssimos professores. É inegável que, no perpassar do tempo, nem sempre os momentos foram de alegrias, conforme o transcorrer da própria existência. E é justamente por isso que a vida se torna tão empolgante, tal a dinâmica no relacionamento entre pessoas que marcam definitivamente no tempo e no espaço, as amizades, as
interrogações sobre o futuro e os episódios naturais do dia a dia. São tantas as emoções idas e vividas que nós as conduziremos para sempre, como agradável lembrança de nossa juventude e dos nossos anseios. Agora chegou o momento de se por em prática todos os conhecimentos que foram adquiridos durante esses anos de efetivo aprendizado.  Devemos reconhecer, nesta saudosa oportunidade, o esforço dos valiosos mestres, ávidos para nos transmitir lições didáticas de dedicação e de profissionalismo, tal a expectativa deles sobre o nosso futuro e sobre o imprevisível destino. É tanto, que em PROVÉRBIOS – 20:24, encontramos: “os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; como, pois, poderá o homem entender o seu caminho”? Parece, até, que este provérbio foi destinado a nossa turma, que está iniciando os seus dias profissionais, com muita vontade de acertar e utilizar as lições que foram assimiladas por nossas inteligências e pelos rumos que foram traçados pelos dinâmicos e cultos professores. Assim, estando lançadas as sementes, resta-nos colher os frutos que o futuro nos oferece. Nada demais: basta seguir os exemplos que foram adquiridos nesta Universidade, para que a colheita seja pura e verdadeira. Dizem os antigos que: “O futuro a Deus pertence”, e, nós, faremos o que for possível, para obtermos do Poder Divino a necessária proteção para dignificarmos a escolhida profissão e respeitarmos o próximo como a nós mesmos, pois a tarefa do autêntico nutricionista nos encaminha para o bem estar das pessoas e para o equilíbrio da saúde. Em PROVÉRBIOS – 3:13, está consignado: “Feliz o homem que acha sabedoria e o homem que adquire conhecimento”.
Neste momento solene, porque inesquecível, não podemos deixar de registrar a magnífica atuação de nossa colega Gislane Kellen, uma verdadeira guerreira na luta pela concretização das solenidades de Colação de Grau. Gislane, embora enfrentando todas as dificuldades que se apresentavam ao longo do tempo, nunca fraquejou no seu intento de nos propiciar tantos momentos de alegria e de inegável emoção. Na verdade esta cearense de Limoeiro é um exemplo vivo de liderança e de magnitude que veio para ficar no “meio de nós” definitivamente, sem distinção de limites ou de atividades. São nessas horas que se percebe como Deus é perfeito. Ah! Gi, não temos palavras para descrever a sincera gratidão por TUDO que você realizou, pela sua paciência (e como, não é amiga?). Somente resta agradecer, pela sua luta em prol de toda a turma. É sempre bom relembrar Cecília Meirelles, quando nos ensina: “Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam; mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre”.
Não devemos esquecer, ainda, as lições que nos foram transmitidas no Culto e na Missa de Ação de Graças, quando o Pastor nos alertou para que antes de caminharmos, procurássemos aprender a ficar de pé, ou seja, seguir o caminho natural próprio da profissão, sem pressa e sem ganâncias. E o Padre celebrante também enalteceu em sua 
pregação que a vida é feita de fé, de esperança e de confiança em Deus.  E, com certeza, nós não nos afastaremos dessas recomendações, uma vez que temos consciência que deveremos exercer com dignidade a nobre profissão de nutricionista, que tem por objeto principal a saúde do cidadão e a sua valorização no contexto social.  Mais uma vez agradecemos a Deus por tudo quanto Ele nos destinou, por que: “riqueza e glória vem de Ti, Tu dominas sobre tudo, na Tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e tudo dá força”, como está consignado na Liturgia do Culto de Ação de Graças. Finalmente, evocamos os versos do poeta potiguar Cleanto Wanderley, ao antever que: “A vida passa /Passa a alegria/ Passa até mesmo a própria felicidade/ Mas a saudade fica/ E fica o amor que é eterno...”

Aos queridos colegas e mestres, muito obrigada.






GG



PRESTES, REVOLUCIONÁRIO E PEQUENO BURGUÊS


Gileno Guanabara, do IHGRN


            É factível, se jovem não militou na política, não sabe o que perdeu. Ou, mais claro, quem na juventude não militou na esquerda, depois dela se apartou. Muitas gerações se formaram ouvindo falar no Cavaleiro da Esperança, quer pouco ou mais fundamento tivesse o debate sobre sua trajetória e ideias. Por décadas, admiradores, camaradas, adversários ou não, falaram de Luís Carlos Prestes.

            Todos exaltam o feito da marcha que a Coluna Prestes, empreendeu de Norte a Sul do Brasil, cujo comando dividiu com Miguel Costa e da qual participaram camaradas tenentistas, em oposição ao governo Bernardes. Declarada a revolta, a concepção de guerra de movimento que afinal predominou entre os revolucionários, assemelhada ao romanceiro do cangaço e de jagunços embrutecidos que, na época, atanazavam os sertões do Nordeste, fanáticos que atravessavam veredas e caatingas e com forças desiguais desafiavam o poder rural, em busca de vingança. Entre os tenentes, predominava o espírito de revolta política, de consertar o mundo, independentemente da aceitação e vontade de seus beneficiários imediatos: as massas urbanas e camponesas, soldados e marinheiros, em estágio de pobreza, sem o direito de voto.

            Vencidos pela exaustão, dada a perseguição inclemente do Estado oligárquico, a Coluna evitou o quanto pode o confronto militar direto, dada a desigualdade dos meios de combate que dispunha. Ziguezagueou nos vilarejos e cidades incompreendida, até que o restante das tropas famélicas e, sem adesões ou apoio, foi-se ao exílio na Bolívia.

            Seguiram-se os primeiros contatos do Capitão Prestes, com a leitura de textos marxistas e com lideranças comunistas de primeira hora. Astrogildo Pereira fora o primeiro a lhe visitar. Na Argentina, a par de novos contatos políticos com integrantes do comitê da Internacional Comunista, sediado no Uruguai, tornaram-se explícitas as divergências no enfoque do mundo e de sua transformação. Prestes se dedicara a estudar os clássicos do marxismo. Sem se desfazer de sua formação de militar, tornara-se o revolucionário intransigente, absoluto em suas concepções, incapaz de conceber alianças, duvidando dos princípios alheios que não coincidissem com os seus.

            As mudanças que se operavam na economia do planeta, enquanto se davam as ocorrências na política brasileira, cujos sortilégios desencadearam na Revolução de 1930, não tiveram a melhor recepção dos antigos tenentistas, os quais se dividiram, uns em adesão plena aos derrotados do processo eleitoral, outros, reinaram em contradita ao antigo chefe. Em sua compreensão militarista, um Prestes se mostrou absoluto, rejeitando as alianças, só a revolução armada, como forma até de agradar o obreirismo do Partido. Ausentou-se do processo político, enquanto desabrochava em si o encanto da revolução proletária. Transferiu-se para Moscou, a fim de trabalhar e sentir a ebulição revolucionária reinante, após a Revolução de 1917.

            De regresso ao Brasil trouxe consigo Olga Benário, a mulher primeira com quem se relacionou. Anteriormente casada, egressa do Exército Soviético, Olga fora destacada para, clandestinamente na companhia de Prestes, lhe prestar segurança. A convivência de ambos venceu nele a timidez, dada a intensidade a que se viram unidos, gerando daí Anita Leocádio, a primeira filha.

            A par de um projeto político mal formulado desde Moscou, quanto as condições objetivas da revolução proletária no Brasil, ao que Prestes se propôs, embora estivesse afastado há muitos anos, a imprevidência e o despreparo político motivaram o fracasso e a brutal repressão aos participantes da sublevação e a seus militantes, nos anos posteriores a 1935. Sobre Prestes abatera-se ainda a injúria de ser preso ao lado de Olga Benário que, ainda grávida de Anita, foi expulsa do Brasil e entregue a polícia da Gestapo pelas forças repressoras de Felinto Muller.

            Após os anos de prisão, com o fim da Segunda Grande Guerra, a derrota nazifascista, o sopro de democracia pairou sobre o mundo. A presença ativa de Prestes e dos comunistas constituintes de 1946, teve momentos de rara configuração: a denúncia dos crimes de Stalin, com a política de revisão do culto à personalidade, procedido por Khruchov, na URSS; internamente, as contradições inerentes à guerra fria, confundindo a estratégia política dos comunistas, ora em defesa da luta armada; ora em fazer oposição à burguesia nacional; ora em admitir aliança com setores da burguesia e de combate ao latifúndio e ao imperialismo, confluindo tudo isso na tática dúbia do Queremos Getúlio, apoiar ou não a presença de Getúlio durante a Constituinte.

            No decênio de 1950, mesmo com o registro do PCB cassado pela Justiça Eleitoral desde 1948, a liderança e o prestígio político de Luís Carlos Prestes eram inegáveis. O movimento sindical, os embates no parlamento e as intervenções na administração pública, passavam não raro pelo âmbito do Partido e sua influência. Internamente, as decisões emanadas da Conferência da Mantiqueira (1950) perdiam o foco, a par dos rumos emergentes da política, ou da evidente divisão interna no Partido. A morte de Getúlio: a reviravolta popular, diante da declaração de jornais comunistas no dia anterior, em oposição aos rumos burgueses de seu governo; a tibieza de Café Filho perante a postura agressiva da Banda de Música da UDN e outros líderes; a candidatura frágil do General Lott; a eleição de Jango (vice-Presidente) e as contradições populistas de Jânio, ora em agraciar a burguesia no Ministério da Fazenda, ora em reverenciar Che Guevara, eram sintomas de rupturas céleres na confusa conjuntura política pós 1946. A isto os comunistas não tinham resposta imediata, tamanhas eram as suas certezas e incertezas de vitória fácil sobre os conservadores.

            De sua vida intensa, plena de clandestinidade e devoção, o fato de decisões imponderáveis da História a que o destino coletivo e clandestino lhe reservou tomar a responsabilidade; a soberba no trato dos grupos dissidentes, a quem chamava de canalha pequeno-burguesa, pari passo à convocação de frente ampla; os louros da glorificação das massas populares, enfim, a consagração imorredoura. Mas o agravo da perda sempre o perseguiu. A primeira mulher expatriada que lhe deu a primeira filha, outras duas, a última, Maria. Quis o preconceito que a olvidasse, mas que tantos filhos gerou que não o perdoariam negar. Prestes morreu sem prestígio. Não viu o fim do Muro de Berlim. Amargou solitário sua exclusão do partido por quem tanto lutou.