03/11/2020
26/10/2020
Tomislav
R. Femenick
– Jornalista
Nos meus quase
quarenta anos morando em São Paulo, realizei alguns trabalhos que eu realmente
nunca esperei fazer; quer pela sua magnitude (por exemplo: gerenciar a
auditoria externa do Banco do Brasil, em todo o país); quer pelos seus aspectos
inusitados (outra vez, por exemplo: dar consultoria a um grupo empresarial
italiano na instalação de uma fábrica de fábricas de papel higiênico). No
primeiro caso eu fazia parte do corpo diretivo da Campiglia Auditores; no
segundo, da Deloitte/Revisora Consultoria. Houve outros casos insólitos, como
da vez em que fui chamado a participar de uma reunião para ajudar na solução de
um caso de chantagem amorosa, promovida por uma amante casual de um diretor, ou
de outra em que encontrei mais de três mil geladeiras que haviam “sumido” dos
estoques de uma grande loja de departamento.
Tudo isso foi estranho
e não usual para mim. Mas, nada foi tão insólito quanto meu encontro com o
verdadeiro Sinhozinho Malta. Sim, você não leu errado: o “verdadeiro Sinhozinho
Malta” – e olhe que não estou falando do maravilhoso ator Lima Duarte e sua personagem na novela Roque
Santeiro, da TV Globo.
Um certo dia do ano de 1973 – e
lá se vão quase 50 anos –, bem cedinho recebi um telefonema de José
Pedro Canovas, meu colega de
trabalho na Deloitte/Revisora. Tinha um recado para mim, de parte
de nosso diretor Ernesto Marra: quando eu fosse para a firma, levasse maleta e
bagagem para um trabalho especial fora da cidade, que poderia demorar uma semana,
um mês ou mais.
Mensagens como essa não eram surpresas. Surpresa foi, sim, saber que o
professor Marra (ele, que não saía do escritório) iria comigo para Araçatuba,
iniciar uma auditoria. Só por isso, eu avaliei a importância do cliente.
Também, não era por menos, o cliente era o Frigorífico T. Maia. Dito assim,
hoje isso não significa nada. Mas, há cinquenta anos a história era outra.
O
Frigorifico T. Maia pertencia a Sebastião Ferreira Maia, o celebre e conhecido Tião Maia, então o rei do gado do Brasil. Mineiro, com primário incompleto e boiadeiro. Sabido, explorou o jeito
caipira de falar e de se comportar e fez amizade com empresários e políticos de
altos níveis. Conseguiu ser o maior criador de gado do Brasil e montou um frigorifico,
no interior de São Paulo.
Passada a “porteira” do frigorifico, fomos
recebidos pelo próprio Tião Maia, que estava sentado na calçada do prédio da
entrada. E alí também ficamos sentados. O professor Marra, eu, Tião e dois de
seus funcionários (um era contador e outro, advogado). Em suma: ele queria
saber o que a auditoria especial iria fazer. Algumas questões,
de caráter informativo, foram respondidas e outras,
por se tratarem de matérias relacionadas às investigações propriamente ditas, foram
resguardadas. Aí foi que nós, o célebre Tião Maia e eu, começamos a falar
diretamente. Ele não queria saber como a auditoria seria realizada, queria
mesmo era saber o “porquê”, qual razão, de se fazer de um jeito e não de outro.
Depois disso, fomos lanchar. Mas, como era
por volta das onze horas, o lanche foi um churrasco, ocasião em que, de tão
relaxados, esquecemos-nos do trabalho e começamos a jogar conversa fora. E,
então, o célebre Tião Maia olha para mim e pergunta: “você é russo”? Eu respondi que não, que era de Mossoró, no Rio
Grande do Norte, e filho de croata.
Foi então que ele falou da sua amizade com
Mota Neto, quando este último fora superindentende do Instituto Brasileiro do
Sal. Foi Motinha quem convenceu o maior pecuarista do Brasil a usar sal grosso
misturado à ração de seu imenso rebanho, comportamento que passou a ser copiado
por outros criadores. Depois falei disso com o meu primo (Mota Neto era meu
primo) e ele confirmou o fato.
Por
motivos políticos e econômicos, o ex-boiadeiro mineiro deixou o Brasil em 1976
e foi para a Austrália. De lá foi para os Estados Unidos, para Las Vegas; não
para jogar, mas para construir residências. Quando morreu deixou, entre outras
coisas, cerca de 170 mil cabeças de gado, duas fazendas na
Austrália e um conjunto de casas em Las Vegas – somente este no valor de 30
milhões de dólares.
Tribuna do Norte. Natal, 25 out. 2020
16/10/2020
EVOCAÇÕES
13/10/2020
A democracia, as
eleições e a cidade
Tomislav
R. Femenick
– Jornalista
Dentre os
inúmeros presentes que recebemos dos gregos (falo dos presentes genuínos, e não
do cavalo de Troia), a democracia talvez tenha sido o mais precioso. Todavia,
como muitas outras coisas – tais quais o ar e a água – é frequente não nos
darmos conta de sua importância. A democracia é como a liberdade, a sua irmã
siamesa; falamos muito sobre elas, porém só “sentimos” a sua importância quando
as perdemos.
Como
já deu para notar, o assunto de hoje é a democracia, explicitada nas eleições
que se aproximam. Mas, afinal de contas, quem é essa senhora? Teórica e
filosoficamente, a democracia (do grego: “δῆμος”, povo; “κράτο”, poder) é o regime
político em que todo o poder se origina do povo. Em nossa Constituição está
dito: “Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. É lindo, não é?
Ela, a
democracia, parece estar presente em todo o processo eleitoral, mas somente
parece. Acontece que, no Brasil, os partidos políticos têm donos que se
assenhoram da máquina e impõem sua vontade, prostituindo o conceito de
democracia. Esses senhores fazem o que querem, escolhem os candidatos e a
distribuição dos recursos do fundo partidário. E o povo? Ora, o povo! O povo é
apenas massa de manobra desses senhores que transformam os partidos políticos
em verdadeiros feudos, nos quais eles mandam e, mais que isso, desmandam.
As eleições que
se aproximam são um exemplo clássico desse proceder. Para angariar votos, vale
tudo, inclusive candidatos inexpressivos, sem plataforma nenhuma, mas que são
simpáticos e possíveis puxadores de votos para reforçarem a votação das legendas.
As redes sociais das quais participo dão um exemplo típico. Tenho recebido
mensagens pedindo meu voto, oriundas de pessoas que conheço e, também, de outras
que não conheço e de quem nunca ouvi falar. Tem de tudo. De pagodeiro a
doutores, de intelectuais a gente do povo, de políticos profissionais a
estreantes, dos que apresentam enredos de planos de ação aos que apelam para a
excitação de sentimentos. No entanto, a grande maioria se apega a nomes como
Bolsonaro ou Lula.
O que esses
senhores e senhoras se esquecem é de que as próximas eleições têm caráter
municipal, têm a ver com o cotidiano da cidade em que moramos; aqui, no nosso
caso, a cidade de Natal, uma urbe cheia de problemas que nunca são resolvidos,
dos mais simples aos mais sérios. Por exemplo: quase ninguém fala do nosso
eterno problema de saneamento básico, do desmantelo que é o transporte público,
da desatualização do Plano Diretor que engessou o desenvolvimento urbano. Há,
dirão, mas esses são problemas que exigem grandes recursos ou grandes trabalhos.
Sim, no entanto é para resolver grandes problemas que existem prefeitos e
vereadores. Os pequenos, os funcionários burocráticos resolvem sozinhos.
O que falta é
vontade política para resolvê-los, inclusive os pequenos assuntos controversos.
Quer exemplos? Temos aos montões. Entram e saem governantes e ninguém resolve a
questão da numeração das edificações de nossas ruas, avenidas e praças.
Localizar um número é enfrentar uma loucura organizada. Em alguns logradores, não
há um segmento lógico, há repetição de números, um número alto é seguido de um
número baixo e assim por diante. Para completar a loucura, a maioria das ruas
não têm placas nos cruzamentos.
Outra loucura é
a altura das calçadas. Saindo dos bairros centrais, encontramos calçadas de
todas alturas, umas baixas e outras altas, umas seguidas das outras. Completam
o quadro da desordem os rebaixamentos ou as elevações para as entradas dos
carros. As pessoas, principalmente as com deficiência de locomoção, que se
lixem.
Não vi nem ouvi
nenhum candidato falar nesses problemas; são pequenos demais para eles se
envolverem. O foco deles é se apresentarem como simpáticos ou seguidores dessa
ou daquela corrente, de direita ou de esquerda. A maioria pensa apenas em se
dar bem.
Tribuna do
Norte. Natal, 10 out. 2020.
LUCIA HELENA
(Depoimento do ex-presidente da UBE-RN, Eduardo Gosson, acerca da escritora LUCIA HELENA)
Tem pessoas que passam em nossas vidas e não acrescentam nada; outras deixam marcas profundas. LUCIA HELENA PEREIRA pertencia a esse segundo grupo. Nascida em Ceará-Mirim pertencia à aristocracia do açúcar.
Neta da escritora MADALENA ANTUNES (primeira mulher a escrever um romance no RN e JUVENAL ANTUNES, poeta, morou um tempo no Acre, onde foi Promotor de Justiça. Ficou famoso com o seu poema Elogio à preguiça.
Neta de MADALENA ANTUNES e sobrinha de JUVENAL ANTUNES, logo estaria familiarizada\com o fazer literário.
Presidiu por 10 anos a ASSOCIAÇÃO DE MULHERES JORNALISTAS E ESCRITORAS – AJEB-RN.
Passei a conhecê-la durante um sarau que realizei na livraria AS BOOK. O saudoso ENÉLIO PETROVICH foi quem fez a ponte entre nós.
Reconstruída a UBE-RN logo veio a ocupar a Diretoria de Divulgação onde realizou um profícuo trabalho. Foi uma assessora eficiente. Pronta para combater o bom combate a qualquer hora. Certa vez liguei para ela às 2 horas da madrugada para contar-lhe um fato extraordinário.
Tinha uma qualidade nobre: dizia o que pensava. Não se importava se voava pedaço para todo lado. Corajosa, certa vez fui deixa-la em sua residência, em Lagoa Nova. Durante o trajeto um carro, ocupado por dois homens, quase batia em nós. Um deles gritou: -sai do meio se não passo por cima de vocês! Provocaram e foram adiante. Ela olhou para mim e disse: - Dudu, acelere o carro atrás daqueles bandidos. Tentei com muito jeito demovê-la desta atitude.
Pessoas assim o mundo está carente: coragem e caráter íntegro.
LUCIA, como você está fazendo falta a todos os que ficamos neste Vale de Lágrimas. Fundaremos uma UBE pertinho de JESUS.
Abraço do seu amigo
Eduardo Gosson