15/04/2015

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N O S   R U M O S   D A   I N D E P E N D Ê N C I A
Por GILENO GUANABARA, sócio efetivo do IHGRN

            Decidida a estada no Brasil, D. Pedro recebeu representação das Províncias de S. Paulo e das Minas, que solicitavam a formação de um Conselho de Estado. Diante dos rumos que tomavam os acontecimentos, as Côrtes de Lisboa pressionavam. Uma esquadra fora enviada, cujas naves foram contidas ao largo da barra. Em carta dirigida ao Rei de Portugal, com pedido de que fosse dado conhecimento às Côrtes, dizia: (...) para que saibam que o Brasil tem honra e é generoso com quem lhe busca o mal. Já impaciente, em missiva posterior, o Príncipe verberava contra as facciosas, horrorosas e pestíferas Côrtes. A habilidade política de D. Pedro devia-se aos seus conselheiros.
            Diante da penúria financeira do tesouro, o Príncipe tomou medidas saneadoras. Transferiu sua residência para a quinta da Boa-Vista e acomodou a administração no paço da cidade. Reduziu o pagamento de alugueres, de sua mesada e das cavalariças. Visitou repartições, tribunais, quartéis, impingindo sua personalidade. Ao mesmo tempo, a divisão, que era instigada nas Províncias do Norte pelas tropas portuguesas lá sediadas, exigiam juramento. Na Bahia, a tropa dava como certo seu desligamento da Regência, em obediência às Côrtes, com influência em outras Províncias. A esse espírito recolonizador antepôs-se a ação desassombrada da Maçonaria, no Rio de Janeiro e Niterói, com larga influência nas lojas maçônicas e no recém criado Grande Oriente, ao qual D. Pedro viria a se filiar. A essa força juntaram-se a imprensa, com a criação do Revérbero Constitucional Fluminense e a força do púlpito exercida pelo clero em suas igrejas.
            O aporte do brigue de guerra Infante D. Sebatião, trazendo decretos das Côrtes que ordenavam a prisão e a deportação de pessoas acusadas de encitamento da ordem pública, foi rejeitado por D. Pedro. Uma comissão do Senado solicitara uma audiência que se aprazou para o dia 9 de janeiro de 1822, a fim de serem ouvidas as súplicas e votos dos povos do Rio de Janeiro e de Províncias do Sul. Desde a Igreja do Rosário, onde se aglomerou a multidão, o Senado e os notáveis, marcharam em grande estilo e gala, tendo à frente o estandarte da Câmara, na direção do paço da cidade, onde precisamente, às onze horas, foram recebidos pelo Príncipe. Com habilidade bastante, o presidente do Senado, José Clemente Pereira, leu o discurso aguardado. Na proclamação, lembrou que o Brasil não desejava separar-se de Portugal, mas exigia um centro de união e governo, uma assembleia nacional e um poder executivo no seu próprio seio (...) que o Príncipe acolhesse benignamente os votos dos povos, e continuasse na Regência, pois só assim se retardaria a independência completa do Brasil com a República. Após ouvir a súplica, o Príncipe dirigiu-se à multidão: Agora só tenho a recomendar-vos – união e tranquilidade.
            No sentido de burlar a decisão anunciada, a tropa portuguesa, sob o comando do general Jorge de Avilez e de seus oficiais, tornou revolta a turba de soldados da guarnição e a plebe ignara. Ocuparam o sítio do alto do Castelo, de onde vislumbravam toda a cidade, hostis e ameaçadores. De outro lado, a Praça do Campo de Sant’Anna ocupado pelo povo em vibrações patrióticas, por milicianos e voluntários de Minas, Rio e São Paulo, sob o comando dos generais Xavier Curado, Nóbrega e Joaquim de Oliveira Álvares, os quais se puseram ao lado do Príncipe Regente: mais de seis mil pessoas de todas as classes pegaram em armas... Eram dois exércitos aptos para a batalha. O militar português, recuado na Praia Grande e face o ultimato de D. Pedro, fez com que Avilez e suas tropas, à espera de reforços da Coroa que não chegaram, batessem em retirada da Baia da Guanabara, no rumo de Portugal.
            Debelada a última resistência, em meados de janeiro, o Príncipe Regente decidiu compor em coalisão o seu ministério. A pasta do Reino, Justiça e Estrangeiros, coube a José Bonifácio de Andrada e Silva; a da Guerra a Oliveira Álvares, enquanto a da Fazenda coube a Caetano Pinto e a da Marinha a Manoel Antônio. Estavam presentes as forças em conflito, mas em convivência respeitável. A presença de José Bonifácio no ministério contribuiu, desde o seu retorno da Europa e o autoexílio em Santos, para que a sua nomeação (em lugar do irmão Martin Francisco) favorecesse o clima de conciliação que implementou, ora combatendo a indisciplina e a desordem provocada pelos lusoradicais, ora com a responsabilidade pela mantença do presidente da Junta de São Paulo, Oeynhausen, que fora deposto. Eram os rumos contraditórios da política.
            Mesmo em causa única, pró-independência, havia dissenções entre os brasileiros. Para uns, competia a solução da crise com o Príncipe Regente, apesar do temor da reação das Côrtes; ou de a monarquia se aliar na Europa a outras monarquias; ou de o Príncipe – dado a sua fraqueza de caráter - mudar de rumo, o que urgia a proclamação. Era o caso dos radicais Gonçalves Ledo, Cunha Barbosa, dos redatores de O Reverbero e da maçonaria. Outra corrente, de José Bonifácio junto ao Regente, primava pela serenidade da conciliação, tornando a independência uma obra de engenharia política, com desfecho natural dos acontecimentos. Daí a ação diplomática do Marquês de Barbacena, aconselhando-se junto ao Almirantado inglês, para efeito de contratação de Lord Cochrane, dos empréstimos financeiros a serem tomados e da possível reação dos estados europeus diante das posições assumidas por D. Pedro, no Brasil.  
            Sem querer e querendo, concebeu José Bonifácio a convocação do conselho de procuradores das províncias, com funções constituintes, como forma de pactuar entre o Príncipe e os interesses provinciais, tornando efetiva a autoridade central, no sentido de amenizar a dependência do país à tutela das Côrtes. Na prática, eram passos decisivos à opção entre ser ou não ser um ente colonial, calcados na realidade possível. Bastava ver a influência exercida pelo Partido das Côrtes nas Províncias do Norte, dentre elas a de Pernambuco, a que se juntava a nomeação do Brigadeiro Madeira de Melo, para o comando das armas da Bahia e a agitação que desencadeou.
           
           
                            

14/04/2015

UMA OPINIÃO II

Destino do Augusto Severo: AEROPORTO
Armando Negreiros, médico (armandoanegreiros@hotmail.com)
                Não entendo como uma população de cerca de um milhão e meio de habitantes (a região metropolitana de Natal) se submete a esse crime que os governantes fizeram transferindo o aeroporto para São Gonçalo do Amarante. Aliás, é a população de todo o estado, pois só temos aeroporto para grandes aeronaves em Natal: TRÊS MILHÕES E QUINHENTOS MIL HABITANTES!
                Estava tudo funcionando muito bem. Investiram cerca de VINTE MILHÕES DE REAIS para em seguida fechar o aeroporto. E ficam uns babacas dando sugestões, opiniões para saber o que fazer com o Aeroporto Augusto Severo. Ora, como o próprio nome indica, a melhor destinação para o Aeroporto é continuar sendo Aeroporto! Então, para que se gastou tanto dinheiro com reformas?
                Inicialmente dizia-se que o de São Gonçalo era apenas para cargas. E, realmente, parece um Aeroporto para transportar cargas. O de São Gonçalo não tem a metade do conforto do Augusto Severo. Do ponto de vista técnico o Augusto Severo tem três pistas e o de São Gonçalo tem apenas uma.
                E o trajeto de ida e volta? Uma verdadeira via crucis! Não entendo, mais uma vez, como uma população de três milhões e quinhentos mil habitantes se submete, cordeiramente (de cordeiro, mesmo) a um trânsito infernal tanto para ir como para voltar. Acabou a história de ir deixar, ou ir buscar, um parente, um amigo no aeroporto. A distância, o trânsito, o risco, inviabilizam completamente esse tipo de gentileza. Quem quiser que pegue um taxi, pelo triplo do preço de quando era no Augusto Severo!
                A entrada – e saída – de Natal pela BR 101, além de esteticamente bonitas, não têm a metade do engarrafamento que enfrentamos para o Aeroporto de São Gonçalo. E a distância? Acredito que seja em torno de um terço. E o tempo? Deve ser em torno de um sexto.
                Então, diante dos argumentos aqui elencados da superioridade do Aeroporto Augusto Severo sobre o de São Gonçalo, e que repito apenas alguns entre inúmeros outros:
1.       A apresentação de uma entrada na cidade de Natal esteticamente bonita pela BR 101;
2.       O engarrafamento de veículos bem menor;
3.       A distância significativamente menor;
4.       O preço dos taxis bem inferiores;
5.       As instalações bem mais confortáveis com restaurantes e lanchonetes;
6.       A presença de três pistas de aterrissagem e decolagem enquanto o de São Gonçalo só tem uma.
Pergunto:
Qual a justificativa para ficarmos calados, mudos como cordeiros obedientes e oligofrênicos?
Porque não nos movimentamos para voltarmos para o Aeroporto Augusto Severo?
Está mais do que na hora de nos unirmos todos, todos os segmentos da sociedade, para que o Aeroporto de São Gonçalo tenha lá a sua finalidade para a qual foi construído.
O argumento de que Natal não suporta dois aeroportos é fácil de resolver: vamos encontrar uma destinação para o Aeroporto de São Gonçalo! Até pela sua localização e pelo seu tamanho daria para ser adaptado para todas as sugestões que foram feitas para o Augusto Severo.
Dessa forma o Aeroporto de São Gonçalo poderia facilmente ser transformado numa das seguintes opções:
1.       Hospital de Trauma do Rio Grande do Norte;
2.       Centro Cultural da Grande Natal, com Teatro, Biblioteca, Cinema, etc.;
3.       Shopping Center – Grande Mall da Zona Norte;
4.       Um grande centro de diversões nos moldes da Disney em Orlando, o que seria um grande incentivo ao turismo;
5.       Qualquer outra utilidade, desde que o nosso Aeroporto voltasse a ser o confortável e eficiente AEROPORTO AUGUSTO SEVERO!

CONCLAMO, POIS, TODOS OS SEGMENTOS DA NOSSA SOCIEDADE, TODAS AS ASSOCIAÇÕES, TODOS OS EMPRESÁRIOS, TODAS AS FEDERAÇÕES, TODOS OS PODERES, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, JUDICIÁRIO, MINISTÉRIO PÚBLICO, O POVO EM GERAL PARA UMA LUTA COM O OBJETIVO DE VOLTARMOS A TER COMO O NOSSO AEROPORTO PARA EMBARQUE E DESEMBARQUE, O AEROPORTO INTERNACIONAL AUGUSTO SEVERO.

13/04/2015

UMA OPINIÃO

A luta pelo Aeroporto Augusto Severo
Armando Negreiros, médico (armandoanegreiros@hotmail.com)

            Não podemos esmorecer nessa luta para que o Aeroporto Augusto Severo volte a ser o nosso Aeroporto. Não se pode submeter toda uma população ao suplício nesse trajeto de ida e volta para São Gonçalo do Amarante. Além de um belo artigo de Dalton Melo de Andrade, publicado no Jornal de Hoje do sábado/domingo (11 e 12 de abril), recebi um convite de Aníbal Barbalho para fazer um palestra no Rotary sobre o assunto e inúmeras manifestações concordando com esse retorno. Vejamos algumas:
            Edna Trindade: Até hoje não vi uma pessoa dizendo-se melhor assistida com essa transgressão. Prefiro perdoar nosso dinheiro gasto naquela obra, desde que possamos desfrutar de tudo o que nos foi levado com a ausência do Augusto Severo. Todo ser vivo sabia que a maçã caia. Só Isaac Newton pensou a Lei da Gravidade. Alguém pensante teria que erguer essa bandeira do Aeroporto Augusto Severo. Ufa!
Soraya Tinôco: Acabo de ler sua coluna no JH e achei simplesmente maravilhosa. Tudo que o Sr. diz é a mais pura verdade, a população poderia se manifestar para ter o aeroporto Augusto Severo de volta, acho que temos que fazer algo, precisamos nos movimentar, talvez o Sr. com seus conhecimentos possa começar esse manifesto e estou totalmente de acordo.  
Lenilson Carvalho: Parabenizo o amigo pelo texto inteligente, oportuno e verdadeiro. Faço minha as suas palavras.
Mário Lúcio: Parabenizo-lhe pela iniciativa de conclamar a população de Natal para que nos insurjamos contra o gritante contrassenso, a ululante irracionalidade, sobretudo o frontal desrespeito ao nosso povo que representa a medida governamental empurrada de goela abaixo de deixar de usar o Aeroporto Augusto Severo  e adotar o de São Gonçalo como nosso terminal de passageiros. O novo aeroporto tem como cargo sua finalidade precípua, a qual faz todo o sentido, uma vez que os grandes mercados Europeu e EUA teriam Natal como Gateway para acessar o Brasil. A grande maioria dos produtos que importamos são de pequeno volume e vêm em geral via aérea. Os aviões cargo internacionais evitariam os já tumultuados aeroportos de São Paulo e Rio, voariam 4 horas menos e grandes empresas distribuidoras de importados se instalariam em Natal. Os produtos importados seriam mandados para o resto do país por terra, provendo assim, frete para lotar a enorme frota de caminhões que atualmente voltam vazios para o Sul do país, quando vêm trazer a grande quantidade de produtos oriundos do Sul e Sudeste que consumimos. Entretanto a medida claramente eleitoreira de forçar sua inauguração prematura e inconclusa, para impressionar os que viessem ver os jogos da Copa e para mostrar mais uma obra creditada ao governo candidato a reeleição, impôs aos potiguares, da maneira mais esdrúxula, o uso irracional do novo aeroporto.
Sugiro que confeccionemos decalques para fixar nos automóveis com os dizeres "VOLTA AO AEROPORTO AUGUSTO SEVERO JÁ !". Tenho certeza que a população em peso aderiria à campanha. Vamos fazer valer a nossa cidadania.
Gimenna Correia Nieves Machado: Bom dia Armando, recebi um e-mail encaminhado sobre esta campanha que você iniciou para a reabertura do Augusto Severo. Compartilho das suas opiniões, mas acredito que para a campanha ser mais efetiva e para a população enxergar os frutos dessa mobilização, seria necessário dar um direcionamento.
O que devemos fazer, a nível legal, para que o Augusto Severo volte a funcionar? Se se tratar de um abaixo assinado, seria interessante criar um site para votação e quando atingíssemos "x" assinaturas encaminharíamos (via Ministério Público) um pedido... Estou falando como leiga, mas acredito na ideia e grande parte da população do RN também, só que não sabe como fazer! Sou administradora e me coloco à disposição para levar adiante este projeto de retomada do Augusto Severo. Sei que somos todos muito ocupados no nosso dia a dia e encampar essa luta requer união. O mais importante é saber até que ponto a população está disposta, e neste caso o correto seria medir o desejo da população. Quero me dedicar nem que seja meia hora do meu dia a esta causa, conversei com colega de trabalho e grupo de amigos, chegamos a conclusão que talvez o primeiro passo seja fazer um abaixo assinado e dar entrada no ministério publico.
Para o abaixo assinado pensamos na metodologia da Hidrelétrica de Belo Monte, um site (colegas poderiam criar) para votação. O  trabalho seria divulgar o link do site e aguardar juntar o numero de assinaturas. Tem um grupo também interessado em montar uma campanha, com um grupo de atores, talvez pelo whatsapp... Porém, Armando, o ideal seria confirmar (talvez você pudesse obter esta informação com seu grupo de amigos) o que o Ministério Público exigiria para receber essa solicitação da população. Qual o numero de assinaturas necessárias. Gostaria que me desse um retorno dessa ideia e sobre a possibilidade de obter a informação acima.
Inclusive tempos atrás houve uma reportagem com um grupo de pessoas que fizeram uma manifestação em Parnamirim juntamente com o sindicato dos trabalhadores, reivindicando a reabertura do Augusto Severo.
Pedi para um colega entrar em contato com a TV Cabugi na tentativa de localizar o entrevistado responsável pela manifestação... talvez já exista um grupo mobilizado!!!
            Marizinha Simonetti: Através do nosso Nílton do Vale li sua bela convocação para salvar o Aeroporto Augusto Severo. Dói não vislumbrar a mais significativa imagem da cidade: o cometa e os Reis Magos. Morando ausente, ainda me permito falar de saudades da minha terra da infância e da juventude e agora, na decrepitude da vida, da saudade dos símbolos que estimulavam a emoção quando deixando o avião pegava a rota na qual o cometa me anunciava que estava em Natal.

            Lute, colega, e me faça novamente evocar as lembranças do meu passado, reascender o meu amor, mesmo distante, pela minha capital. Sua amiga e admiradora que saboreia suas histórias pitorescas. Boa ideia!

12/04/2015

Voz do Pastor › 05/04/2015 Mensagem do Arcebispo de Natal por ocasião da Páscoa 2015




Dom Jaime Vieira Rocha,  

Arcebispo de Natal, RN Lema: "Scio Cui Crediti"

MENSAGEM

AOS PRESBÍTEROS, AOS DIÁCONOS, ÁS PESSOAS CONSAGRADAS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS DA ARQUIDIOCESE DE NATAL POR OCASIÃO DA PÁSCOA DO SENHOR DE 2015

Saudações vibrantes! Cristo Ressuscitou!
É ele a razão de nossa alegria! Aleluia!
No momento em que celebramos o mistério da Páscoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, verdade central e princípio motivador da fé cristã, somos instados a buscar à concretude da graça pascal com um olhar de co-responsabilidade no exercício da cidadania. Como nos diz o beato Paulo VI: “A ação política dos cristãos é forma exímia e eminente de caridade”. Nesse espírito de caridade, convidamos todo o Povo de Deus, e cada fiel batizado em Jesus Cristo, homens e mulheres de boa vontade, para nos unirmos em favor do Brasil e do Povo brasileiro.

Todos sabemos dos graves problemas que se abateram sobre o Estado Brasileiro, diante da revelação dos graves casos de corrupção, operados por agentes políticos com a participação de setores empresariais, que, juntos, lapidaram o patrimônio público construído pelo trabalho suado de homens e mulheres de bem que honram a pátria brasileira.

A crise estabelecida – e alimentada pelos inimigos da democracia – traz à luz as mazelas históricas ainda presentes nas práticas de alguns que usurpam do poder político para se locupletarem do bem comum.

A conduta e atitudes de alguns, eivadas e alimentadas por práticas de corrupção, principalmente para macular o processo eleitoral brasileiro, há tempo adornam o noticiário cotidiano. Entretanto, sempre foram negligenciadas ou relativizadas pela opinião pública. Enquanto isso, o Estado brasileiro ainda permanece omisso na resolução dos graves problemas estruturais da sociedade, particularmente aqueles referentes às áreas de saúde, de educação, de acesso ao solo urbano e à reforma agrária, à distribuição de renda e à segurança dos cidadãos. Omissão agravada pelo despreparo e falta de compromisso de parte da classe política, que preferem à violência, usando do aparelhamento estatal para eliminar aqueles que por ausência dessas mesmas políticas públicas, são jogados no crime organizado, e, agora, com a possibilidade de ingressarem até mais cedo pela redução da maioridade penal.

Caríssimos irmãos e irmãs!

Diante de tantos desafios, o Povo Cristão não pode ficar e permanecer inerte. A multiplicação e complexidade das relações sociais no tempo presente torna o papel do Estado mais complexo. Exige-se do Estado que penetre mais profundamente em toda a vida social, o que requer tanto mais discernimento dos cristãos e lhes coloca a obrigação de se informarem melhor.

Uma exigência que a fé coloca para o cristão engajado na política é a necessidade de agir. Análises, denúncias e estudo das soluções não bastam. É preciso orientar esses elementos para a tomada de decisões e para o empenho na ação.

Não basta recordar os princípios, afirmar as intenções, fazer notar as injustiças gritantes e proferir denúncias proféticas; essas palavras ficarão sem efeito real, se elas não forem acompanhadas, por cada um em particular, de uma tomada de consciência mais viva da sua responsabilidade e de uma ação efetiva. É demasiadamente fácil jogar sobre os outros a responsabilidade das injustiças se não se dá ao mesmo tempo conta de como se tem parte nela e de como a conversão pessoal é necessária, mais do que qualquer outra coisa (Cf. OA, 48). Como Igreja devemos cumprir o mandato bíblico a partir do que nos apresenta o profetas Isaias “O espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu, me enviou para curar os corações feridos, para proclamar a libertação, para anunciar a graça, para consolar!” (cf. Is. 61,1), desta forma, compreendemos que o cristão, assumindo sua dimensão profética do batismo é um mensageiro de esperança! Um arquiteto da justiça! Um construtor permanente da paz!

Na vivência de construtores permanentes da paz, percebendo a atual crise que coloca em risco a Democracia Brasileira, esta que foi conquistada com o envolvimento das classes políticas e de todo o povo, e que custou muito sacrifício e sofrimento, não podemos ficar apáticos diante da exigência desse momento histórico. A ocasião exige a participação de todos os que lutaram, acreditam e trabalham para fortalecer e consolidar os valores democráticos no cotidiano de nossas relações como cidadãos. É hora da cidadania! E cidadania ativa!

É no exercício da cidadania ativa que está a essência da Democracia. A cidadania ativa e emancipada se conquista no cotidiano. A cidadania cotidiana é o caminho adequado para fazer frente às mazelas políticas, sociais e econômicas que nos perseguem, que se traduzem por atos de violência, às vezes praticados pelo próprio Estado contra os cidadãos; posturas discriminatórias e preconceituosas; percepção equivocada de direitos, e materializados como privilégios para alguns; clientelismo; corporativismo, autoritarismo; corrupção, entre outros.

A prática cidadã é uma das responsáveis pela construção de espaços públicos, onde todos recebam do Estado a garantia do seus direitos fundamentais – moradia, trabalho, saúde e educação. Não há cidadania quando não se garante a construção democrática de uma ordem pública para o exercício pleno da representação plural dos interesses dos cidadãos mediante um amplo processo de interlocução e negociação.

Então, diante da inquestionável crise por que passam, no Brasil, as instituições da Democracia Representativa, especialmente o processo eleitoral, decorrente este de persistentes vícios e distorções, tem produzido efeitos gravemente danosos ao próprio sistema representativo, à legitimidade dos pleitos e à credibilidade dos mandatários eleitos para exercer a soberania popular.

O momento exige a participação de cada cidadão para cobrar das Casas do Congresso Nacional uma Reforma Política Democrática que estabeleça normas e procedimentos capazes de assegurar, de forma efetiva e sem influências indevidas, a liberdade das decisões do eleitor.

Cabe a cada um de nós manter-se vigilante e atento aos acontecimentos políticos atuais para que não ocorra nenhum retrocesso em nossa Democracia, tão arduamente conquistada.

Para tanto, é necessário que todos os cidadãos colaborem no esforço comum de enfrentar os desafios, que só pode obter resultados válidos se forem respeitados os cânones constitucionais, sem que a Nação corra o risco de interromper a normalidade da vida democrática.

Participemos todos, então, da campanha de assinaturas de adesão à proposição de uma Reforma Política Democrática, realizada por uma constituinte exclusiva e soberana, com a responsabilidade de mudar o sistema político para evitar que a esfera privada continue dominando e sugando a espera pública, além de promover as reformas urgentes e necessárias que garantam a igualdade de direitos econômicos, sociais, ambientais, culturais e civis para todos os brasileiros.

Não faz sentido realizar uma reforma política feita por um Congresso que é parte do problema, e não da solução.

Por fim, lembremo-nos que o cristão é movido e animado por uma profunda esperança, fundada na certeza de que o Senhor Ressuscitado continua no meio de nós e acompanha nossas ações, operando por meio de nós. O cristão sabe que não está sozinho. Deus opera em outras pessoas e grupos, inspirando-lhes ações a favor da justiça e da paz. Nossa ação se junta à de muitas outras pessoas, instituições, até formar uma grande corrente, capaz de mudar as mentes e estruturas (Cf. Paulo VI, AO, 48).

Invocando o olhar materno da Virgem Mãe e Senhora Aparecida, supliquemos ao Bom Deus a esperança de podermos juntos, como cidadãos e como cristãos, construirmos uma pátria mais justa que seja amada e gentil Mãe de todos os brasileiros.

A minha especial bênção de Páscoa!

Natal-RN, 5 de abril de 2015

Domingo da Ressurreição



Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo Metropolitano de Natal

11/04/2015


SANTO E SÁBIO

Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

O final do mês de fevereiro último, dia vinte e oito, assinalou, no relógio do tempo, mais um ano do falecimento do Padre Luiz Monte.
Sacerdote que seus contemporâneos habituaram-se a chama-lo de “Sábio e Santo”, face a sua cultura polivante.
Foi ele ungido sacerdote aos vinte e dois anos de idade e sua primeira missa celebrada na Capela do Colégio da Imaculada Conceição, no final do mês de setembro, de mil novecentos e vinte e sete. Anos depois, seria ele Capelão e Professor do mencionado Educandário.
Viveu apenas trinta e nove anos!
Nasceu no ano do falecimento do Padre  João Maria, em mil novecentos e cinco, dia três de janeiro.
A curta trajetória existencial não impediu a conquista de grandiosa sabedoria e de realizações significativas e consagratórias.
No dia da sua Ordenação Sacerdotal, o então Cônego Estevam José Dantas, seu ex-mestre de Latim, no Seminário, declarou na imprensa, jornal “Diário de Natal”, que o novo sacerdote já poderia ser considerado, inobstante sua pouca idade, o maior latinista do Estado.
Antecipou-se em tudo. Ainda menino, ingressou na Congregação Mariana. Seminarista, já lecionava no Ginásio Diocesano de Natal, embrião do atual Colégio Santo Antônio (Marista), tendo sido seu vice-diretor, ao lado do diretor, Monsenhor Landim. Dito educandário funcionava no velho prédio da conhecida Igreja do Galo.
Aos vinte e seis anos, início da década de mil novecentos e trinta, assumiu a Cadeira de docente do Atheneu, tendo sido aprovado em concurso.
Na Igreja de Natal dirigiu a Juventude Católica, a Juventude Feminina, a Pia União das Filhas de Maria Imaculada, além de criar a Juventude Operária Católica. No Marista dirigiu a Cruzada Eucarística.
Tomou, sob sua responsabilidade, diversos movimentos da cristandade, espalhados por ambientes leigos e religiosos. A Escola de Serviço Social, foi de sua inspiração, sonho tornado realidade pela ação do irmão, então sacerdote, Nivaldo Monte. No velho Atheneu, o alunado pertencente ao Centro Estudantil elegeram-no seu Presidente de Honra, pela confiança nele depositada, como amante da juventude estudiosa. Nesse mesmo educandário ele criou, para os alunos, a Escola da Cultura, a fim de despertar os ânimos literários e artísticos, como uma agremiação incentivadora de projetos educativos e culturais.
A ação era a determinante da sua vida, repleta de afazeres religiosos e intelectuais.
Foi ele um dos fundadores da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, em mil novecentos de trinta e seis, instituição idealizada por Luís da Câmara Cascudo. O Lema dessa instituição cultural: “Ad Lucem Versus”, - “Rumo à Luz”, é de sua autoria.
Após exato seis dias da fundação dessa iimporante entidade, precisamente no dia vinte de novembro do mencionado ano, ele escreveu um artigo intitulado “Nossa Academia de Letras”, no qual, conclui nos termos: “O homem de letras precisa mergulhar na corrente da vida e nunca isolar-se na anacrônica torre de marfim. Bem sabemos que a arte tem sua finalidade própria, e nesse caso é soberana, mas o artista é humano, e o fim do homem supera e governa o fim da arte. (...) Já se vê que não estamos aqui para bater palmas a qualquer literato nem defender qualquer literatura. Releva dizer que o primado do Espírito que defendemos contra a supremacia da Matéria – com todo o seu cortejo tecnicista e economista – não se contente com o simples prestígio da inteligência. Há realidades espírituais que ultrapassam os limites da razão. O verdadeiro Espírito incorpora também a ordem transcendental e a ordem da graça. O poeta que só exprimisse as belezas sensíveis seria um poeta-cone-truncado, sem vértice. Pelas escadas da metafísica e da teologia subimos a planos elevadíssimos, de onde descortinamos um panorama muito mais vasto, pleno de luz e rico de belezas. Prestigiando a Inteligência, representada pela nossa Academia de Letras, saudamos os novos Acadêmicos, certos de que eles não desertarão do drama da vida, nem deixarão de, cultivando a arte e a beleza, reverenciar a Verdade que é a suprema Beleza”.
Foi o primeiro escrito sobre a nova instuição literária.
Dele, disse o Cônego Jorge O’Grady de Paiva, autoridade em ciências exatas, naturais e literárias: “ Monte dominou todas as ciências do seu tempo”.
Biólogo que era, o Padre Luiz Monte foi autor de um compêdio de Biologia e Botânica, dentre outros. Conhecia a trajetória tumultuada da ciência da vida e através dela desvendada sintomas de doenças as mais variadas. Daí, a inspiração para traduzir o drama existencial de almas aflitas, na sua definição: “A dor é a sentinela da vida, ela fere, mais depois consola”.
Por outro lado, a sensível revelação espiritual, motivava-o pensamentos como este: “A Eucaristia é um infinito numa sensação e a  eternidade num minuto. Sem ela, somos pequenos demais para o céu; com ela, demasiado grandes para a terra”.
Na esfera da manisfestação cultural, conceituada: “A arte não matará o amor, porque a arte é a religião do belo”.
Como estudioso do método indutivo, raciocinava: “por ilógica e absurda repilo a quadratura do círculo e, por concebível, mas ilusória, a transaltura do espaço”.
Com relação ao Amor: “ninguém é mais exigente, nem escolhe mais que o amor. A alma elege o coração que quer amar”. E conclui: “a inteligência foi feita para a verdade, como o coração para o amor”.
Em relação à Onipotência Divina: “a unidade é Deus, elevada a qualquer potência, a unidade é sempre unidade – imutável, simples, perfeita. A unidade incriada, por ser indivisível, é eterna”.
Analisando o ato da vontade: “Tudo que o homem tem pertence a Deus, porque Ele pode tirar; a única coisa do homem é a vontade; é a única coisa que podemos dar Aquele que nos deu tudo”.
Escreveu, certa vez, Dom Adelino Dantas, que o Latim, por ser uma língua dúctil, se prestava à cunhagem perfeita de lemas, frases e sentenças, a mais lapidares. E o Padre Luiz Monte gravava sempre, esses pensamentos, no clássico idioma do Lácio.
O espaço é exíguo para abordar parte considerável dos frutos advindos da inteligência e do coração do conhecido sacerdote.
O Padre Monte foi um sacerdote exemplar: caridoso e intelectual. Dotes estes que elevaram o seu conceito social por todos conhecidos. Daí, o epíteto de Sábio e Santo.
Razão pela qual tramita o seu processo de Beatificação, postulado pela Igreja de Natal, junto ao Vaticano, ao lado da postulação, de outro processo, o do Padre João Maria, este último conhecido como Santo da Caridade.



10/04/2015



COMUNICAÇÃO DA ACLA À POPULAÇÃO CEARÁ-MIRINENSE

Como é do conhecimento de todos, esta Academia Cearamirinense de Letras e Artes “Pedro Simões Neto”- ACLA encaminhou o Ofício 001/2015 (no dia 05 de março do corrente ano) às autoridades municipais competentes, quais sejam: Prefeito Municipal, Secretário Municipal de Cultura, Secretário Municipal de Educação, Presidente da Câmara de Vereadores, Pres...idente da Fundação Nilo Pereira e Representante do Ministério Público em Ceará-Mirim, e outras autoridades no âmbito estadual e federal. Tal procedimento foi adotado pela ACLA na condição de guardiã da cultura do Ceará-Mirim, conforme disposição estatutária e por decisão unânime dos seus membros.
O oficio solicitava providências do poder público, no tocante à recuperação e conservação da Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas, ao mesmo tempo em que propunha a realização, de uma audiência pública, no prazo máximo de 30 dias, a contar daquela data (05/03/2015), e uma audiência com o Prefeito Municipal, em caráter emergencial, para tratar do assunto em tela. Tudo isso poderá ser visto no texto integral do ofício, que se encontra na página https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1439831656308566&id=100008452352746&substory_index=0
Todo o prazo ofertado no Ofício, foi expirado no dia 05/04, sem que nenhum dos órgãos a quem foi dirigido tenha manifestado qualquer tipo de resposta. Mas, oficiosamente a ACLA tomou conhecimento que a representação local do Ministério Público, através do Ofício no 0229/2015/2ªPmJCM perquiriu a Fundação Nilo Pereira (responsável pelo funcionamento da Biblioteca Pública), e obteve a seguinte resposta: “[...] Atualmente a Biblioteca encontra-se fechada, POIS ESTAMOS REPARANDO ALGUNS PROBLEMAS CAUSADOS PELA AÇÃO DO TEMPO, TAIS COMO: RETELHAMENTO E PINTURA. Os servidores da mesma estão cumprindo expediente na Biblioteca do CEUS das Artes no Conjunto Novos Tempos [...]” (destaque acrescido).
Entretanto a correspondência, firmada pelo sr. Waldeck Araújo de Moura, endereçada à representação local do Ministério Público, não assume compromissos e nem atende os anseios da população, porque não fala sobre o acervo, nem sobre a continuidade das obras de reforma, tampouco sobre o retorno das atividades regulares da Biblioteca.
A ACLA procurou uma solução conciliatória para o problema, mesmo assim, não foi atendida e nem obteve, dos vários agentes do poder público municipal, NENHUMA RESPOSTA À SUA REIVINDICAÇÃO, até a presente data. Mas apesar de tudo, continuará a sua luta em defesa da cultura e do patrimônio de Ceará-Mirim e, se necessário for, até mesmo utilizando-se da via judicial.
A ACLA se pauta pela consciência dos seus membros, intelectuais, professores, artistas e escritores, respeitados pela sociedade e por seus pares, e pelos desígnios do seu Estatuto, e merece todo o respeito devotado às instituições culturais. 
Isso posto, convoca a população de Ceará-Mirim e demais instituições culturais interessadas e comprometidas com o patrimônio histórico e cultural do município, para caminhar juntos nesta empreitada.
CEARÁ-MIRIM TEM JEITO 

09/04/2015

Nelson Patriota e a importância da crítica literária

 
Thiago Gonzaga
É mestrando em literatura potiguar contemporânea na UFRN

Há um fenômeno atualmente na literatura local, que não sei identificar se acontece em outros Estados. Nunca se produziu tanta literatura como nos dias atuais no Rio Grande do Norte. Arrisco-me até a dizer que é muito maior o número de escritores do que de leitores (pelo menos em se tratando de livros locais), e embora haja muitos escritores  - que, aqui coloco de forma generalizada, sem fazer juízo crítico, sobre as respectivas obras - a crítica literária é quase inexistente no Estado. Porém, a literatura do Rio Grande do Norte pode se orgulhar, de ter um crítico literário que talvez seja o melhor e mais completo em mais de 150 anos de história literária.

Poeta, ficcionista, jornalista e crítico literário, Nelson Patriota publicou um livro assaz importante para manter acesa a chama da crítica em solo potiguar, “Uns Potiguares”, obra que reuniu múltiplos textos sobre obras literárias locais e nacionais, alternando ensaios com características mais analíticas e outros em forma de resenhas/registros literários. Filho de poeta, e sobrinho de um dos maiores intelectuais potiguares, Nelson  tem um longo currículo: foi editor do jornal “O Galo” (FJA) por muitos anos e nos anos 1980 editou o segundo caderno na  Tribuna do Norte . Também é autor de biografias, traduções, dois livros de contos “Colóquio com um Leitor Kafkiano”,e  “Um Equívoco de Gênero e Outros Contos”, além de um livro de poemas denominado, “Livro das Odes”.

Compreendo que a função de “Uns Potiguares”, que é também uma das funções da crítica literária,  é buscar a melhor leitura para as obras em foco e, consequentemente, para melhor entendimento do universo humano e literário, e isto Nelson Patriota faz extraordinariamente bem em seus textos críticos , além de ser  um escritor consagrado pela obra ficcional e poética que já produziu. 

Em “Uns Potiguares” ele dá enfoque e comenta sobretudo construções literárias dentro do universo da literatura potiguar.  Além de explorar o uso da capacidade de criação inventiva dos autores, faz uma análise estilística, inclusive sobre  influência das escolas e movimentos literários em suas obras, dentre outros aspectos,  numa tentativa,  querendo ou não, de  compor um cânone local.

A palavra crítica origina-se do grego Krinein, que quer dizer quebrar. A ideia da crítica é ‘quebrar’ uma obra em pedaços para se fazer uma espécie de análise. Torna-se  necessário  conhecer e entender as partes do objeto que será analisado para justamente descrevê-lo. A partir daí, o crítico faz sua própria interpretação de acordo com o contexto em que se encaixam o escritor e sua obra. E é, justamente, essa a operação que a crítica de Nelson efetua ao fragmentar e desalinhar determinada obra literária, reinserindo-a em possíveis contextos, sejam eles históricos, artísticos ou sociais.

O livro “Uns Potiguares” tem papel relevante na dinâmica interna da cultura literária local, e diga-se de passagem, nacional; porque estabelece a relação entre as obras e as características literárias de cada cenário cultural dentro de certo período.  Através das críticas melhor se pode avaliar o conteúdo estético numa determinada situação da história literária. Este aspecto histórico faz com que a literatura de modo geral se torne um dos instrumentos mais presentes de que se utiliza uma sociedade para entender as questões sociais e políticas.

Quando Nelson Patriota interpreta um texto literário, age de maneira a reconhecer a construção e a permanência da literatura como expressão de estratos dos conflitos humanos e interage com a obra num diálogo intelectual dinâmico, propiciando a junção da literatura com a crítica, numa representatividade mútua, feita de encontros e desencontros com a verdade de cada uma delas. 

A crítica de Nelson Patriota seja ela de caráter jornalístico, ou não, relaciona-se com a literatura, sobretudo com a contemporânea. Na maioria das vezes intentando interpretar e analisar a obra literária, busca justamente valorizá-la através dos elementos específicos de uma obra de arte. 

A arte literária em geral sempre foi motivo para reflexões, ou melhor, sempre foi debatida, em diferentes épocas e culturas. Afrânio Coutinho diz que devemos começar nosso estudo sobre a crítica literária por quem começou a estudá-la, os gregos: “Foi entre os dois grandes Platão e Aristóteles que se iniciou, por assim dizer, a concepção da literatura e, consequentemente, a crítica literária”. 

Desses nomes, surgiram os grandes críticos, que optaram pela corrente de um ou de outro filósofo, platônica ou aristotélica. Aqui no Rio Grande do Norte, estamos bem representados na atualidade.