AS “ROCCAS” Gileno Guanabara.
As Roccas, mantida a grafia da época,
foi um dos primeiros bairros da Cidade do Natal. Possível que o nome tenha derivado de “rocha”,
os arrecifes em que foi construída a Fortaleza dos Reis. Começava desde o “Alto
da Castanha”, ao Noroeste do morro e vinha margeando em dunas curvas, até a Praia
do Canto do Mangue. Ocupava uma área de terrenos alagados. Casas e coqueiros
vistos nas partes altas, enquanto as casas de frente eram banhadas pelas águas
do Rio Potengi, dando-lhe a aparência de canais venesianos. Na lembrança dos mais
antigos, as Roccas fora “cama de baleia”.
A principal artéria chamou-se de Rua São João,
nome derivado das fogueiras e da animação das festas de São João. No alto do
morro foi edificada a capela de São João, o nome do padroeiro. Apesar de as
águas do Rio Potengi banharem o eito das casas, formando canais, não impedia de
ser a Rua São João a mais movimentada. Sua população era composta de operários
e pescadores, conhecidos por “canguleiros” dada o consumo do peixe cangulo.
Além da Rua São João, a Rua Dr.
Pereira Simões, direcionada no sentido do Nascente, foi também importante para a
consolidação do Bairro. Seu nome original era “Rua Cordão Azul”. Iniciava-se às
margens do Rio Potengi, provavelmente onde se edificou o cais do porto, passando
pela Estação da Estrada de Ferro Central, indo até o alto do Monte Petrópolis,
onde está o Hospital Onofre Lopes (ex-Hospital Juvino Barreto). Tem provavelmente
hoje o percurso que vai pela atual Rua do Motor, passando onde está situada o
Clube Araruna de Danças Semi-Desaparecidas.
Das primeiras ruas tem-se ainda a
“Rua Paraense”. Eam poucas casas edificadas pelo capitão João Fernandes de
Almeida, conhecido por “Joca do Pará”, policial truculento e de muita valentia,
de que derivou o nome da Rua, correspondente a atual Rua Expedicionário José
Varela.
Mais ao Norte da Praia do Canto do
Mangue existia a praia denominada “As Limpas”, à margem direita do Rio Potengi,
entre o canal que separava as dunas do Forte dos Reis Magos. “As Limpas”
corresponde hoje à sede do Iate Clube e do quebra-mar ao longo do Quartel de
Regimento de Obuzes do Exército.
Ao Sul de “As Limpas” foi edificada
durante a Segunda Grande Guerra a base de abastecimento e manutenção dos
hidroaviões que pousavam no Rio Potengi. Na margem do Rio, havia a torre de
controle e a pista de acesso, através de que eram rebocadas as aeronaves. O
declive de acesso, nos quais os aviões eram içados do Rio Potengi, designou o
local que ficou conhecido como “A Rampa”. A desativação da “Rampa” ocorreu com
a construção da Base Militar de Parnamirim.
Em direção ao centro, no lugar mais
alto de “As Limpas”, foi construída a capela de Santo Reis, por iniciativa dos
Capitães Julião Bento da Costa e Antônio Milhomens. Durante o dia de Santo Reis
- dia 06 de janeiro – os católicos acorriam em romaria à capela, a pé, a
cavalo, ou através do Rio Potengi. O percurso de dois quilômetros era feito em
pequenas embarcações a remo, devidamente enfeitadas, até as “Limpas”, a fim de
participar da missa e outros atos religiosos.
“Canguleiro”, nascido na “Roccas”, João
Café Filho defendeu operários, criou sindicatos e fez política. Revolucionário de
1930, se pronunciou contra o golpe do “Estado Novo” de 1937. Perseguido, exilou-se
na Argentina. Foi eleito, no ano de 1950, Vice-Presidente da República. Com o
suicídio de Vargas, assumiu o cargo de Presidente. Moradores ilustres das “Roccas”:
“Toré”; “Saquinho”,“Badidiu”; “Biró”, “Paulo Izidro”, e “Jorginho”, foram estrelas
do futebol anteriores a Pelé.
O Bairro das Roccas é o berço das manifestações
culturais. As comemorações de Santo Reis; de São João; os cultos de “Umbanda”; o
carnaval dos cordões e das tribos de índios, são parte do calendário da cidade.
Cornélio Campina preservou, durante anos, o Clube Araruna de Danças Antigas e Semi-desaparecidas.
Na atividade gastronômica, o pirão escaldado da cabeça de peixe representou o
prato predileto servidos nas peixarias de mesas rústicas, de chão batido e
cobertas de palha da Rua São João.
Desde cedo a atividade industrial do
algodão e da fibra de agave se instalou nas Roccas (Anderson Clayton; Whorton
Pedrosa; Machine Cook; João Câmara). Outros espaços se incorporaram desde os
campos cultivados da Lagoa do Jacó: o Estádio do João Câmara; a Vila
Ferroviária, interligados ao “Areal” e ao Monte Petrópolis.
À Feira das Rocas acorriam os moradores das
praias de Pitangui, Barra do Rio e Muriu. Embalados pelos ventos do mar, adormeciam
nas areias do morro de Genipabu. Cedo atravessavam
o Rio Potengi. Traziam cestas de camarão,
peixe moqueado, mangaba, cambuim, ubaia doce, pitomba e beiju de mandioca. O
Mercado Público e a feira semanal, que se realizavam na Rua Almino Afonso (STTU),
passaram para o pátio do Mercado das Roccas, local onde permanecem até hoje.