18/07/2013

AS ROCAS



AS “ROCCAS”                                      Gileno Guanabara.

As Roccas, mantida a grafia da época, foi um dos primeiros bairros da Cidade do Natal.  Possível que o nome tenha derivado de “rocha”, os arrecifes em que foi construída a Fortaleza dos Reis. Começava desde o “Alto da Castanha”, ao Noroeste do morro e vinha margeando em dunas curvas, até a Praia do Canto do Mangue. Ocupava uma área de terrenos alagados. Casas e coqueiros vistos nas partes altas, enquanto as casas de frente eram banhadas pelas águas do Rio Potengi, dando-lhe a aparência de canais venesianos. Na lembrança dos mais antigos, as Roccas fora “cama de baleia”.

 A principal artéria chamou-se de Rua São João, nome derivado das fogueiras e da animação das festas de São João. No alto do morro foi edificada a capela de São João, o nome do padroeiro. Apesar de as águas do Rio Potengi banharem o eito das casas, formando canais, não impedia de ser a Rua São João a mais movimentada. Sua população era composta de operários e pescadores, conhecidos por “canguleiros” dada o consumo do peixe cangulo.

Além da Rua São João, a Rua Dr. Pereira Simões, direcionada no sentido do Nascente, foi também importante para a consolidação do Bairro. Seu nome original era “Rua Cordão Azul”. Iniciava-se às margens do Rio Potengi, provavelmente onde se edificou o cais do porto, passando pela Estação da Estrada de Ferro Central, indo até o alto do Monte Petrópolis, onde está o Hospital Onofre Lopes (ex-Hospital Juvino Barreto). Tem provavelmente hoje o percurso que vai pela atual Rua do Motor, passando onde está situada o Clube Araruna de Danças Semi-Desaparecidas.

Das primeiras ruas tem-se ainda a “Rua Paraense”. Eam poucas casas edificadas pelo capitão João Fernandes de Almeida, conhecido por “Joca do Pará”, policial truculento e de muita valentia, de que derivou o nome da Rua, correspondente a atual Rua Expedicionário José Varela.

Mais ao Norte da Praia do Canto do Mangue existia a praia denominada “As Limpas”, à margem direita do Rio Potengi, entre o canal que separava as dunas do Forte dos Reis Magos. “As Limpas” corresponde hoje à sede do Iate Clube e do quebra-mar ao longo do Quartel de Regimento de Obuzes do Exército.

Ao Sul de “As Limpas” foi edificada durante a Segunda Grande Guerra a base de abastecimento e manutenção dos hidroaviões que pousavam no Rio Potengi. Na margem do Rio, havia a torre de controle e a pista de acesso, através de que eram rebocadas as aeronaves. O declive de acesso, nos quais os aviões eram içados do Rio Potengi, designou o local que ficou conhecido como “A Rampa”. A desativação da “Rampa” ocorreu com a construção da Base Militar de Parnamirim.

Em direção ao centro, no lugar mais alto de “As Limpas”, foi construída a capela de Santo Reis, por iniciativa dos Capitães Julião Bento da Costa e Antônio Milhomens. Durante o dia de Santo Reis - dia 06 de janeiro – os católicos acorriam em romaria à capela, a pé, a cavalo, ou através do Rio Potengi. O percurso de dois quilômetros era feito em pequenas embarcações a remo, devidamente enfeitadas, até as “Limpas”, a fim de participar da missa e outros atos religiosos.

“Canguleiro”, nascido na “Roccas”, João Café Filho defendeu operários, criou sindicatos e fez política. Revolucionário de 1930, se pronunciou contra o golpe do “Estado Novo” de 1937. Perseguido, exilou-se na Argentina. Foi eleito, no ano de 1950, Vice-Presidente da República. Com o suicídio de Vargas, assumiu o cargo de Presidente. Moradores ilustres das “Roccas”: “Toré”; “Saquinho”,“Badidiu”; “Biró”, “Paulo Izidro”, e “Jorginho”, foram estrelas do futebol anteriores a Pelé.

O Bairro das Roccas é o berço das manifestações culturais. As comemorações de Santo Reis; de São João; os cultos de “Umbanda”; o carnaval dos cordões e das tribos de índios, são parte do calendário da cidade. Cornélio Campina preservou, durante anos, o Clube Araruna de Danças Antigas e Semi-desaparecidas. Na atividade gastronômica, o pirão escaldado da cabeça de peixe representou o prato predileto servidos nas peixarias de mesas rústicas, de chão batido e cobertas de palha da Rua São João.

Desde cedo a atividade industrial do algodão e da fibra de agave se instalou nas Roccas (Anderson Clayton; Whorton Pedrosa; Machine Cook; João Câmara). Outros espaços se incorporaram desde os campos cultivados da Lagoa do Jacó: o Estádio do João Câmara; a Vila Ferroviária, interligados ao “Areal” e ao Monte Petrópolis.

 À Feira das Rocas acorriam os moradores das praias de Pitangui, Barra do Rio e Muriu. Embalados pelos ventos do mar, adormeciam nas areias do morro de Genipabu.  Cedo atravessavam o Rio Potengi.  Traziam cestas de camarão, peixe moqueado, mangaba, cambuim, ubaia doce, pitomba e beiju de mandioca. O Mercado Público e a feira semanal, que se realizavam na Rua Almino Afonso (STTU), passaram para o pátio do Mercado das Roccas, local onde permanecem até hoje.

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