23/07/2018

Para dormir, cama de lona


Para dormir, cama de lona


Texto Gustavo Sobral e ilustração de Arthur Seabra




A família numerosa e a multidão de imigrantes europeus que chegaram às cidades brasileiras no tempo do ontem foram salvos pela tal cama de lona. Talvez inventada junto a praticidade, era o quebra-galho na casa das avós e tias quando havia mais um para dormir e cama não havia.

Bastava alguém dizer tragam lá aquela pinoia, e alguém ia arranjar nos guardados a cama de lona para alguém dormir. Bastava armá-la abrindo-lhe as bandas em que se fechava e estava pronta para nela deitarem. Podia ser abrigada assim na sala, no vão do corredor, no canto de algum dos quartos, e manhã cedo, quando a casa acordava, bastava desarma-la e por de volta no lugar. Escondida após missão cumprida.
Como toda cama que preste feita de cabeceira e peseira no entanto indistintas, pois cama de lona não é artigo de luxo, nem é preciso destas demarcações para dormidas furtivas e eventuais. Quem dera fosse somente utilizada para o proposito que se fez.
Deixou de ser temporária para muitos que desceram no porto de Santos e subindo pela estrada de ferro foram bater na casa do imigrante onde eram recepcionados até ganhar destino e a vida no Brasil, nelas dormindo como único abrigo, e assim, sendo cama foi casa.
Sua inspiração é a simplicidade de ser para todos, no ascético mobiliário que nasceu da carência das guerras, portanto, sem adorno, enfeite ou fausto, e assim veio pela utilidade e praticidade instalando o uso, virou peça necessária para camping, padiola para socorrer feridos, maca para os enfermos, e tomou outros designativos pela própria matéria que a constitui a armação em que se estrutura a lona, por isso também cama dobrável, de armar, elástica, de campanha e tantas quantas forem também as formas dela se nomear.

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