27/12/2016

Valério Mesquita comenta



NUNCA É TARDE PARA ESQUECER

Valério Mesquita*
mesquita.valerio@gmail.com

Não, não é o filme. É mais do que isso. Limiar de Ano Novo bate em mim o salmo que indaga: “Por que estás abatida, ò minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”.  Ele manda esperar em Deus, único refúgio e auxílio. O resto é a humanidade comum. Com efeito, Davi ensinou que o homem passa como uma sombra e em vão se inquieta.  “Amontoa tesouros e não sabe quem os levará”. Na vida pública, se os ativistas refletissem sobre isso (por mais firme que esteja), sobre a vaidade passageira dos mandatos políticos – eles reconheceriam a fragilidade e que o prazo da vida de cada um é nada. Olhariam para o povo com mais humildade. Governador, senador, deputado, vereador, visitam hospitais públicos? Vão lá conhecer as suas carências? Daí, o salmista proclamar: “Bem-aventurado o que acode o necessitado; o Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra”.

Termina o ano adverso de 2016. O homem público portou-se de forma vil. O país padece morto em cinzas, apesar da chama do esforço de poucos brasileiros. Não sabemos se a nação ainda vai ter a sua hora. Os olhos cansados do povo se permitem a confissão e ao arrependimento. O grande rei Davi, meu personagem predileto do Antigo Testamento, disse: “Eu conheço as minhas transgressões e o meu pecado está sempre diante de mim”. Que maravilha, o reconhecimento de sua própria fraqueza! Ele que era monarca, soberano, mas ficou submisso por haver “nascido na iniquidade e em pecado foi concebido por sua mãe”. Quantos de nós estão isentos de tal desabafo? Quase ninguém. No trono real, no seu manto de noite e solidão, mesmo assim, ele suplicou a Deus “Um coração puro e que não afastasse de si, o Santo Espírito!”. É preciso, mais do que nunca – hoje – invocarmos a multidão das misericórdias de Deus, pois já chegamos ao cabo dos últimos dias. É triste a conclusão de quem é feliz e de nada sabia.

O que nunca é tarde para temer em 2017 são Temer e Trump. Sobre os dois diria Fernando Pessoa que o “esforço é grande e o homem pequeno”. Apenas o Senhor os sonda e os conhece. São forjadores de contendas. De Trump como oraria Davi: “Aguça a língua como a serpente e sob os lábios tem o veneno de áspide”. Ano que vem, peçamos ao Pai que nos acuda, que escute as nossas súplicas. Nessa hora, a leitura sapiencial dos salmos é recomendada a todos de boa vontade. Donald Trump precisa escutar Davi no salmo 141 quando diz: “Põe guarda, Senhor, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios. Não permitas que o meu coração se incline para o mal, para a prática da perversidade (Síria, Alepo, etc) na companhia de malfeitores e não coma de suas iguarias”. Ajuda-nos a não silenciar diante dos afeiçoados à mentira que dominam o Planalto. Aos que não têm vergonha, nem nunca terão, apelemos para lerem Paulo em I Timóteo 6, 10: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns por essa cobiça se desviaram da fé e a si mesmos se atormentam com muitas dores e sofrimentos”.

Para os que vivem no fausto e na riqueza o poeta deplora: “Ai dos felizes, porque são só o que passa. A vida é breve, a alma é vasta”. Observemos ai a sincronia entre a alma de Davi e o sentimento de Fernando Pessoa (“Que importa o areal e a morte e a desventura. Se com Deus me guardei?”). Nessas mensagens, nunca é tarde para esquecer os gemidos do tempo. A alma permanecerá sempre como divina criação de Deus mas a obra humana imperfeita. Está tudo nos salmos e no simbolismo do poeta. Que em 2017, essas reflexões afastem de nós o caos de todas as perversidades e desvios que a humanidade dos últimos dias nos tem oferecido. Como é bom e salutar poder afirmar aos leitores que me acompanharam durante 2016, que o Senhor é refúgio para  o oprimido e angustiado. Brindá-lo com a convicção de que Ele purifica os nossos pecados e omissões por causa do poder do sangue de Cristo! Que Deus seja magnificado, caro leitor e que em 2017, continue como “lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho”.

(*) Escritor

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