14/02/2014


J O S É  D A  P E N H A, O  R E P U B L I C A N O
Por: Gileno Guanabara, advogado

O capitão José da Penha Alves de Souza, nasceu em Angicos, no Rio Grande do Norte, em maio de 1875. Era filho de José Alves e de Maria ignácia. Aos 15 anos assentou praça e, numa carreira célere, alcançou os postos de alferes, tenente e capitão. Deputado, faleceu no Ceará, defendendo as ideias republicanas e as fronteiras do Estado que o acolheu.

Tornar-se-ia um devotado político. Revelou-se um aguerrido tribuno e valoroso jornalista nas questões que abraçou. No Rio de Janeiro, escreveu para os periódicos  Correio da Manhã, Gazeta de Notícias, e Correio da Noite. De sua lavra de militar, escritor e adepto do positivismo, publicou “Pela pátria e pelo Exército”; “O espiritismo e os sábios”, dentre outros trabalhos que tiveram boa aceitação pela crítica.

Como militante, agasalhou-se de prestígio junto ao então Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, tendo em vista enfrentar, como oposicionista, a oligarquia chefiada no Rio Grande do Norte por Alberto Maranhão, Augusto Tavares de Lyra e Joaquim Ferreira Chaves. Desembarcou em Natal no dia 31 de janeiro de 1913, a bordo do Ita do Lloyd Brasileiro “Olinda”, às margens do rio Potengi.

Quando do desembarque no cais do porto, o Capitão José da Penha foi saudado por um já numeroso grupo de oposicionistas que, a partir da Estação da Estrada de Ferro, o conduziu em passeata até a Rua da Conceição, residência do coronel Cyrineu Vasconcelos, onde se hospedou. Da porta da casa que o acolheu, o Capitão José da Penha dirigiu-se aos correligionários. Agradeceu e convocou-os para a luta de salvação do Estado, tal a hegemonia política dominante a vinte anos no Estado. Passados os primeiros meses, José da Penha angariara importantes apoios a sua causa: Augusto Leopoldo; Homem de Siqueira; João Gurgel; Nazário Gurgel; Augusto Leite; Coronel Cyrineu de Vasconcelos; Clementino Câmara, entre outros. Realizava grandes concentrações populares por toda a cidade.

Se, de um lado, os adeptos da candidatura de Joaquim Ferreira Chaves se preocupavam em criar jornais; em botar tropa municiada na rua e a reprimir duramente os adversários, como se configurasse um suposto estado de sítio, de outro lado, José da Penha se propunha fazer o alistamento de eleitores, a convocar lideranças, fundar ligas femininas, organizar passeatas e comícios, em que se destacava o vigor de seus dotes oratórios, sob o anunciar dos foguetórios. Jornalistas pernambucanos Renato Phaelante e José de Sá, agregaram-se aos ‘meetings’, na pregação republicana e somaram sua oratória em favor da “salvação do Estado”. Para a oposição, tivera significado eleitoral a derrota das oligarquias dos Rosa e Silva (Pernambuco); dos Accyiolis (Alagoas);  dos  Maltas e a dos Lemos, todos no Nordeste, restando cair a oligarquia dos “Maranhão”, no Rio Grande do Norte.

 Pairava ainda para os oposicionistas, a esperança, que mais tarde se tornou vã, do apoio do tenente Leônidas Hermes, filho do Presidente Hermes da Fonseca. Enquanto isso, dada a força do seu discurso, o capitão Jose da Penha tornava-se um mito crescente de popularidade, atraindo admiradores de todo o estado.

Para a situação, tinha peso político os quatrocentos efetivos policiais e os demais oficiais nomeados em comissão; os grupos de alcaguetes do serviço secreto formado por elementos da escória trazidos de Pernambuco, além da existência do “Batalhão Patriótico”, grupo intimidatório formado por funcionários e de amigos do governador, que praticavam prisões e truculências contra pessoas do povo. Tudo sob o beneplácito do Chefe de Polícia, cargo ocupado pelo escritor recifense Oscar Brandão. Este cidadão, vindo para Natal por recomendação dos oposicionistas, foi agasalhado na casa do Dr. João Gurgel. Fez publicar no periódico “Folha do Sertão” um artigo “O Brasil é um Paiz perdido”. Sua pantomima republicana, porém, teve data certa para se bandear. Foi nomeado escrevinhador de A República, órgão de imprensa do governo, e depois alçado ao cargo de Chefe de Polícia, a partir de quando andava nas ruas sob a proteção de esbirros, ordenando revistas e prisões.

Apesar de tudo dava-se o crescimento das hordas oposicionistas, a medida que cresciam os boatos a provocarem pânico, com foco no pleito eleitoral. Dizia-se do  volume dos recursos públicos a custear a campanha eleitoral, o que reservava aos penhistas apenas o recurso à “bernada”. Surgiam histórias de bombardeio da cidade por forças do governo federal; de deposição iminente do governador; ou dos carregamentos de armas vindas do Recife e dinamites vindos do Ceará. Destacava-se o grupo do “pinumismo”, como se chamavam os penhistas, em homenagem ao velho Pinum, um oposicionista radical.

Ganhou fortuna, porém, a versão difundida de que o Capitão José da Penha deixaria de ser o candidato oposicionista. Afinal, chegado o dia 13 de maio, o seu nome foi substituído pelo do tenente Leônidas Hermes, oficial do Exército, casado com uma norte-riograndense, candidato ao cargo de Governador. O fato de aceitar-se a candidatura do filho do presidente da República, configurava para alguns a força necessária a vitória sobre o caudal governista. Nesse sentido pronunciaram-se Renato Phaelante, Abner de Brito, Nisário Gurgel e Clementino Câmara. Consumada a indicação, seguiu-se uma acanhada passeata pelas ruas da cidade. A isso, somou-se a humildade do Capital José da Penha, ao deixar-se imolar no seu projeto eleitoral, aceitando a indicação do tenente Leônidas. A oposição esvaiu-se.

Colega de armas do Capitão José da Penha, o tenente Leônidas fora desleal ao aceitar a candidatura que não o entusiasmava, haja vista não ser detentor dos créditos que o recomendassem no Rio Grande do Norte. Nunca visitara o Estado, e os contatos que fez eram através do telégrafo, em mensagens piegas aos amigos e aos correligionários. E foram muitos telegramas. Enquanto isso, o mérito da oposição, nas passeatas e na imprensa, aos poucos foi sendo vencida pela mídia favorável ao governo. Desapareceu a militância oposicionista, cooptados os jornalistas que antes defendiam a causa da “salvação”. Em especial, o papel que ficou reservado ao periódico “Jornal da Manhã” cuja linha editorial trocou de princípios, para ao final da campanha defender radicalmente os interesses governamentais. O Capitão José da Penha saiu-se traído e derrotado em sua luta contra a oligarquia Alberto Maranhão que consagrou a vitória de Ferreira Chaves, naquele pleito do ano de 1913. José da Penha transferiu-se para o Ceará, onde faleceu na cidade de Miguel Calmon, no ano de 1914.

 

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