23/09/2015

   
Lívio Oliveira
Navarro se espraia por nossos dias 
(Lívio Oliveira) 

Todos os dias, invariavelmente, ponho-me logo cedo diante da janela do meu quarto e fico a (ad)mirar por entre os dois leques invertidos da Ponte Newton Navarro. Tenho a sorte de ver os azuis de Navarro daqui da minha “nuvem” (lembro do nome dado por Neruda a sua poltrona em Valparaíso), ao tempo em que enxergo toda a estrutura da ponte, que corre em perpendicular aos olhares que lhe aponto. Não deixo de afirmar que a estrutura arquitetônica é uma bela homenagem a um poeta, escriba mágico, bem como a um artista visual que sempre esteve em movimento, construindo ligações entre passado e futuro, entre o difuso das cores e formas e a edificação real ou surreal das palavras, que sabia usar na ponta do lápis e na ponta da língua. O texto e a textura. O real e a poesia. Navarro e Natal. E o mundo todo em Navarro. E suas descobertas “newtonianas” das belezas que há, onde nossa visão quiser e puder ver. E a homenagem da arquitetura da ponte se torna maior porque fincada em solo e águas da garganta que recebe mares da Europa, mares da África, mares da América. 

Navarro é mar. É Atlântico e além. Navarro é rio. É Potengi e além. Além é Pacífico, Mediterrâneo, Tejo, Sena. É o fluido e colorido que corre na aldeia e o que foge para o encontro com o mundo, o rendez-vous inadiável. É o encontro de tudo isso com o céu azul e com seus chumaços de nuvens branquinhas, branquinhas. Navarro é a fortaleza nas vizinhanças. E é a suavidade delicada dos seus traços. É a madureza da sua palavra inteligente, ousada, viva de emoção e verdade. Navarro é a infância ingênua do sonho alimentado de eterno. Navarro vem em ondas, como o mar, para não esquecer jamais um outro grande poeta boêmio, Vinicius de Moraes, seu amigo, que também vivia de paixões, vivia sempre de paixões. 

A paixão de Navarro era pela luz. Viveu para a luz e para a cor que era banhada por ela. A luz do sol que jogava raios dourados sobre o Potengi e sobre os muitos mares que circundam a nossa quase-ilha Natal. Navarro narrava a luz. E dizia o que ela era. Dizia e diz para todos os viventes, vez que sua obra permanece e se espraia, doando ainda e crescentemente o amor às formas sensuais, aos personagens bem desenhados em palavras ou traços. 

Navarro existiu? Não existiu? É lenda? É mito? É realidade que teima em aquecer e enriquecer os seus conterrâneos e aqueles de terras distantes que incorporou ao repertório e à saga? Por que tão pouco vi Navarro? Saudades de uma única e valiosa conversa regada a cerveja num barzinho (nem sei se ainda existe) da Salgado Filho. Lembra, amigo e colega Fábio Hollanda, da aula que perdemos e da aula que ganhamos naquela noite boêmia em que saímos do Campus da UFRN e encontramos o mestre colossal numa solitária mesa e nos dispusemos a acompanhá-lo em longa conversa até a chegada do seu táxi previamente combinado? 

E Navarro permanece. Permanece e está mais vivo, que é o que se dá quando o espírito é grandioso e a arte é marcante. “Ars longa, vita brevis”. Navarro é a própria ponte. Não está somente representado nela. É a ponte que permite ligar artes e tempos. Fico mais convencido e tranquilizado acerca disso quando vejo homenagens preciosas como o belíssimo livro organizado por Angela Almeida (“Newton Navarro – os frutos do amor amadurecem ao sol”, EDUFRN), recentemente lançado no espaço cultural da resistente e valorosa livraria da Cooperativa Cultural da UFRN, sob os auspícios do dedicado e íntegro professor Willington Germano, mostrando a continuidade corajosa dessa obra coletiva (a Cooperativa), orgulho para a UFRN e para o Rio Grande do Norte. 

No livro publicado por Angela Almeida, que conta com muito competente projeto gráfico de Rafael Sordi Campos e de Wilson Fernandes de Araújo Filho, constam inúmeras fotos que a pesquisadora fez ao se debruçar sobre as obras em pintura de Navarro pertencentes a acervos diversos. Paisagens exuberantes e iluminadas, figuras humanas com seus ricos conteúdos em sentimentos e expressões, movimentos: o balanço lúdico das crianças, o balanço das pipas no ar, o balanço azul das ondas no mar, o balanço do pano das jangadas, o balanço da rede que engole a bola chutada em curva, o balanço das asas dos pássaros que sobrevoam Natal desde a Fortaleza dos Reis Magos até a saída para outras terras. E hoje temos outros autores/pesquisadores que, tão amorosamente quanto Angela Almeida, vêm fazendo um grande e imprescindível balanço da obra, em palavra e em imagem, de Newton Navarro, nosso artista múltiplo mais exuberante. Por uma razão somente: Navarro se espraia sobre todos nós, os que sabemos entender como ele foi grande nesta terra. E sempre teremos novas notícias dele. Não importa quanto tempo passe.

22/09/2015

O IHGRN HOMENAGEIA O GRANDE LÍDER


Em 2013 o grande jornalista, recentemente falecido e um dos baluartes da Maçonaria Ticiano Duarte, publicou um elogio ao exemplar líder maçônico ARMANDO DE LIMA FAGUNDES que partiu para a outra dimensão da existência. Não poderia descrever esse extraordinário homem do Bem de forma melhor como o fez Ticiano, agora reproduzido, com pequenas adaptações:

A gratidão da Maçonaria

Ticiano Duarte - jornalista
As minhas palavras de homenagem ao grande líder maçônico, Armando de Lima Fagundes, um dos seus fundadores e veneráveis, por mais de 08 anos, em diversos mandatos, quando comandou a luta pela construção da sede própria, do Templo, da Escola, que tem o nome do seu pai, Bartolomeu Fagundes, um dos grandes expoentes da maçonaria nordestina que segurou uma bandeira primeiramente desfraldada pelo avô, o vigário Bartolomeu, o memorável sacerdote, político e maçom, que fez história pelo gesto desassombrado e autêntico, no episódio da Questão Religiosa. Este é um episódio histórico que não pode ser contado em pouco espaço de jornal e que está registrado em livros, entre os quais se destacam os do professor Antônio Fagundes e do saudoso irmão, José Coutinho Madruga.

Na síntese que fiz sobre o trabalho maçônico de Armando, do bisavô, do avô, Emídio Fagundes, do pai acima mencionado, falei que maçonaria se faz com muito amor, desprendimento, renúncia, tolerância e humildade. Lembrei as palavras de Paulo, apóstolo, quando se referia ao amor verdadeiro. Dizia ele: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbolo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens e ainda que eu entregue o próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará”. E Paulo conclui seu belíssimo ensinamento ao afirmar que o amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.

Depois de falar sobre as figuras que fundaram a Loja Bartolomeu Fagundes e de agradecer ao trabalho dos deputados Ricardo Motta e Walter Alves na batalha pela solução da legalização do terreno onde está construída sua sede, os quais abriram as portas para que chegássemos à audiência com a governadora do estado e depois com a ajuda substancial para aprovação, na Assembleia Legislativa, do projeto de lei enviado pelo Poder Executivo, em tempo recorde, falei sobre a união dos maçons, do seu significado para o engrandecimento do trabalho maçônico e da difusão dos seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Disse que a nossa Confederação Maçônica do Brasil, COMAB, tem na sua bandeira, estandarte uma legenda de muita significação-Ut omnes unum sint-que todos sejam um só, como exaltação à união. A interpretação, segundo os maçonólogos, é que a vida é importante e geradora dos melhores frutos ao vivermos em união, que todos sejam um só.

Relembrei o grande tribuno, Padre Vieira que ao falar sobre a união, dissera entre outras coisas que toda a Vida (ainda das coisas que não têm Vida) não é mais que uma União. Até o homem (cuja vida consiste na união de corpo e alma), com a união é homem, sem a união é cadáver. 

Citei o poeta, ao dizer quer Armando, aos 95 anos, ainda pode evocar as lições de vida de seu pai: Sangue do meu Sangue, boca do meu pão, água que te dou mata minha sede.  O mundo te espera: é tua pirâmide. Ergue a tua mão no dia magnético. Ergue a tua mão para a continência que és não só meu praça, também meu soldado. Meu filho varão”.

 
 

 
  
Marcelo Alves
 

Sobre “O sol é para Todos” (I)
Há alguns anos, quase numa só tirada, escrevi aqui, misturando Cinema e Direito, sobre alguns “filmes de tribunal”, que, em inglês, como uma subdivisão do gênero “legal films” (filmes cujo enredo, de uma forma ou outra, tem considerável ligação com o Direito), são chamados de “trial movies”, “trial films” ou “courtroom dramas”. Se a memória não me prega uma peça, dei aqui meus pitacos sobre clássicos desse (sub)gênero, tais como “Doze Homens e uma Sentença” (“12 Angry Men”, de 1957, dirigido por Sidney Lumet e com Henry Fonda no papel do jurado que, no confinamento da sala secreta, obstando a unanimidade, consegue convencer os demais onze jurados para fins de absolvição do jovem réu), “Testemunha de Acusação” (“Witness for the Prosecution”, de 1957, talvez o melhor dos “courtroom dramas”, dirigido por Billy Wilder e baseado em peça homônima de Agatha Christie) e “Anatomia de um Crime” (“Anatomy of a Murder”, de 1959, filme de Otto Preminger, estrelado pelo queridíssimo James Stuart).

À época, prometi, um dia, (re)assistindo mais um tanto desses grandes “filmes de tribunal”, voltar a escrever sobre o tema. Cumpro hoje minha promessa, tratando de “O Sol é para Todos” (“To Kill a Mockingbird”, no original), filme de 1962, baseado no romance homônimo (de 1960), vencedor do prêmio Pulitzer (de 1961), da escritora norte-americana Harper Lee (1926-).

Confesso que a escolha de “O Sol é para Todos” (“To Kill a Mockingbird”) para retomar a temática dos “filmes de tribunal” não foi aleatória. Foi motiva pelo recente lançamento, nos Estados Unidos da América, do novo livro da escritora Harper Lee, “Go Set a Watchman”, redigido nos anos 1950 como um primeiro esboço do romance “O Sol é para Todos” (“To Kill a Mockingbird”). “Go Set a Watchman” tem causado polêmica nos EUA e, talvez por isso mesmo, ali batido recordes de venda. Para se ter uma ideia, em “Go set a watchman”, Atticus Finch (personagem principal da trama) é um homem racista e intolerante, em claro contraste com o Atticus Finch de “O Sol é para Todos” (no filme maravilhosamente interpretado por Gregory Peck), advogado honrado que, no conservador Alabama pós Crise de 1929, defende um homem negro, acusado de haver estuprado uma jovem branca. Com lançamento no Brasil previsto para outubro (pelo que sei), “Go Set a Watchman”, muito provavelmente, será assunto, no futuro, de uma nova conversa nossa por aqui. Essa é minha intenção, pelo menos.

Sobre o filme “O Sol é para Todos” (“To Kill a Mockingbird”), é importante que se diga, antes de mais nada, que ele faz parte do período de ouro dos “trial films”, que vai dos últimos anos da década de 1950 aos primeiros da década de 1960 (de fato, já tive a oportunidade de registrar na crônica “Filmes de tribunal” que são desse período alguns dos maiores clássicos do gênero e, por que não dizer, do cinema como um todo).

Por sua qualidade, no Oscar de 1963, “O Sol é para Todos” acabou levando três estatuetas, melhor ator (Gregory Peck), melhor roteiro adaptado (por Horton Foote) e direção de arte em preto e branco, sendo o grande vencedor daquela edição, merecidamente, o premiadíssimo “Lawrence da Arábia” (“Lawrence of Arabia”, 1962), dirigido por David Lean.

Dirigido por Robert Mulligam, “O Sol é para Todos” conta no seu elenco com o premiado Gregory Peck (no papel de Atticus Finch), Mary Badham (Jean Louise “Scout” Finch), Phillip Alford (Jem Finch), John Megna (Dill Harris), Brock Peters (Tom Robinson), James Anderson (Bob Ewell), Robert Duvall (Arthur “Boo” Radley), Wilcox Paxton (Mayella Ewell), Estelle Evans (Calpurnia), Rosemary Murphy (Miss Maudie Atkinson), Frank Overton (Xerife Heck Tate) e Paul Fix (Juiz Taylor), entre outros.

No livro “100 filmes: da literatura para o cinema” (organizado por Henri Mitterand; publicado no Brasil, em 2010, pela editora BestSeller), o enredo de “O Sol é para Todos” está assim competentemente resumido: “Estado do Alabama, Grande Depressão da década de 1930 [precisamente, 1932]. Desde a morte da mulher, Atticus Finch, advogado idealista, cria sozinho os dois filhos, Scout [que narra, em forma de “flashback”, toda a estória] e Jem. Encarregado de defender um operário negro [Tom Robinson] acusado de espancar e violentar uma jovem branca [Mayella Ewell], Atticus enfrenta o ódio e o racismo da população local, em um julgamento de grande repercussão. Após uma tentativa de linchamento comandada pelo pai da vítima, Bob Ewell, o operário é condenado, apesar das provas de sua inocência. Desesperado, ele tenta fugir, e é abatido. Algum tempo depois, Scout e Jem são brutalmente agredidos por Ewell, mas Boo Radly, vizinho simplório [e com visíveis transtornos psiquiátricos] da família Finch, interfere e mata acidentalmente o agressor. O caso é abafado por Atticus e pelo xerife da cidade, tanto mais que uma forte suspeita recai sobre Ewell no caso do estupro de sua filha”.

“O Sol é para Todos” tem tudo que se requer de um excelente “trial movie”. Parte da estória se passa perante uma corte de justiça em pleno funcionamento, com advogado, promotor, juiz e júri realizando suas performáticas peripécias jurídicas. Como pano de fundo filosófico, há a tensão entre a falibilidade/hipocrisia/injustiça do sistema (ou da “justiça humana”) e a noção, com forte apelo no Direito Natural e na igualdade entre os homens, do que é a verdadeira Justiça. No mais, ao lado da imaginação poética da infância encarando a realidade da vida dos adultos (que seria o enredo “humano” do filme), o enredo “jurídico” de “O Sol é para Todos” foca no advogado generoso e idealista que é Atticus Finch, no controverso instituto do júri e, sobretudo, na absurdez de uma justiça (e de uma sociedade como um todo) racista e desigual.

Embora “O Sol é para Todos” possa nos levar, em alguns momentos, a visões equivocadas sobre a realidade do sistema judicial norte-americano (afinal, essencialmente, como quase todos os “filmes de tribunal, ele é uma obra de ficção), vale muito a pena estudar alguns dos seus temas “jurídicos”.

E é isso que faremos, se Deus permitir, na semana que vem.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

20/09/2015

EULÁLIA BARROS é A NOVA IMORTAL DA ANRL






 

















Em Assembleia Geral Extraordinária da última terça-feira, dia 15 de setembro, sob a presidência do acadêmico Diogenes da Cunha Lima, realizou- se a sessão da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, especialmente convocada para a eleição da nova ocupante da Cadeira nº 13 cujo patrono é Luis Fernandes, fundador Luis da Câmara Cascudo e sucessores Oriano de Almeida e Anna Maria Cascudo Barreto. Concorreram ao pleito as escritoras Eulália Duarte Barros e Naide Gouveia. 
Abertos os trabalhos precisamente às 16 horas, foi designada uma Comissão Eleitoral formada pelos Acadêmicos Carlos Roberto de Miranda Gomes, Leide Câmara de Iaperi Araújo, sob a presidência do primeiro, para a recepção de votos e apuração do resultado. A eleição ocorreu de forma absolutamente cordial até às 17h30 quando foi encerrado o processo de recepção de votos e iniciada a fase de apuração, com o seguinte resultado:  
Contados os sufrágios foi constatada a existência de 26 votos, entre as cédulas colocadas de forma presencial, em número de 20 e outras enviadas por correspondência, em número de 06. Não houve votos em branco ou nulos, nem ocorreu qualquer anormalidade, impugnação ou recurso, tendo todos os votos válidos sufragados em favor da candidata EULÁLIA DUARTE BARROS, em razão do que foi proclama pelo Presidente da Academia como eleita, sendo sido a mesma cientificada e solicitada a data para a posse.
A candidata eleita nasceu em Goianinha (1935), filha de Manuel Duarte Filho e Maria Nazareth de Andrade Duarte. Casada com o médico Genibaldo Barros. Graduada em Letras, curso de Bacharelado pela UFRN, tem pós-graduação, Mestrado em Educação pela própria UFRN. Como professora adjunta IV, foi fundadora do Núcleo Educacional Infantil, diretora do NEI por oito anos, assessora para assuntos da educação na  Biblioteca Central Zila Mamede.  É membro da União Brasileira de Escritores-UBE/RN e tem as seguintes obras publicadas:

Uma Escola Suíça nos Trópicos, 2000
Verdes Campos, Verdes Vales, 2004
Alguns Aspectos da Literatura Infantil
Escola Doméstica de Natal - 100 anos em retratos, 2014
É colaboradora com diversas revistas (Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Todas as Cores, Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte, Revista Monsenhor).
Parabéns à nova imortal, de quem se espera uma profícua atividade em favor da cultura potiguar.