30/06/2015

MUITO MAIS DO QUE LINDA.

Dizer que Natal é linda é muito pouco. Natal é muito mais do que linda.
Natal, a "Praieira" dos versos de Othoniel Menezes, a "Baby Linda" cantada por Pedro Mendes, cidade de tantos e tão extasiantes encantos, capital do nosso Estado, lugar aonde orgulhosamente nasci e fui criado.
Apesar do meu imenso amor por Caicó, minha terra de adoção, capital do meu Seridó amado, Natal sempre residirá em meu coração, sempre será a minha terra, o lugar de onde provém as minhas lembranças de infância e de adolescência, o lugar aonde o encanto não tem fim, a esplendorosa "Noiva do Sol", no dizer do Mestre Cascudo, a cidade aonde a beleza foi morar.
Pena que esse lugar tão lindo, tão cheio de charme e beleza, seja também uma terra de tantas contradições, de tamanhas injustiças e paradoxos, aonde o povo ainda anseia, após esses 416 anos,por uma gestão efetivamente popular, posto que, talvez, com a exceção do mandato de Djalma Maranhão, Natal sempre foi governada pelos mesmos nomes, grupos e famílias que representam o seu lado menos belo: uma pseudo elite, pernóstica, insensível, alheia aos interesses sociais, que só pensa em si própria e que, apesar de todos os seus imensos erros históricos, nem assim, conseguiu eclipsar a beleza de um lugar tão maravilhoso.
E hoje, da solidão do meu quarto, aqui em Caicó, ao contemplar essa linda fotografia, não pude deixar de lembrar de como amo Natal, de como ela é, e sempre será,para mim, a capital litorânea da beleza e da magia de uma terra que vai dormir escutando o murmúrio das ondas e contemplando a luz das estrelas deste céu tão lindo que ela possui, essa terra que seduz e encanta a todos que a conhecem.
E essa doce recordação de Natal, fez-me sonhar acordado e partir, voando em pensamento, para junto à Cidade do Sol, tão chuvosa nos meses de Junho, entoando baixinho, os versos de uma linda canção baiana que fala do amor à encantadora capital potiguar "Natal como eu te amo, como eu te amo Natal" .
Caicó, 29.06.2015

29/06/2015

ABC FUTEBOL CLUBE (CENTENÁRIO)

 
 
O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE registra o fato histórico da fundação do ABC Futebol Clube fundado em 29 de junho de 1915 (Dia de São Pedro) através do anseio de um grupo de jovens atletas, ávidos para criar um clima desportivo capaz de alavancar novos tempos para uma província ainda em dificuldades econômicas decorrente do período de guerra no continente europeu, mas com reflexos na América do Sul.
O local foi a residência do Coronel Avelino Alves Freire, respeitado comerciante e presidente da Associação Comercial do RN, no bairro da Ribeira, logo no início do horário vespertino, pelas 3 horas, na avenida Rio Branco, aos fundos do Teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão
Concretizado o sonho, ficou igualmente aprovado o nome do novo clube: ABC FUTEBOL CLUBE, em homenagem ao Tratado Argentina, Brasil e Chile, aprovando sugestão do sócio-fundador José Potiguar Pinheiro e por proposta do filho do coronel Avelino Freire, João Emílio Freire, que as cores preto e branco seriam adotadas como oficias pelo clube a partir daquele momento. Com o passar do tempo conquistou o apelido de O mais querido.
 
O historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo criou uma frase antológica sobre o time: "Numa cidade chamada Natal existe um povo chamado ABS."
O Clube tem a data de 29 de junho declarada como "Dia do ABC Futebol Clube", através de lei municipal sancionada no dia 21 de julho de 2008.
P A R A B É N S.

 
NAS ENTRELINHAS DA VIDA PÚBLICA

 Valério Mesquita, escritor (Presidente do IHGRN)

Certos homens adquirem uma visibilidade tão marcante em seu campo de atuação que se tornam imprescindíveis aos seus contemporâneos, na medida em que suas opiniões e convicções passam a determinar modos de ver e de interpretar os acontecimentos da vida social. É que aos olhos deles nada daquilo que importa passa ao largo.
Assim vejo e identifico o meu primo irmão Ticiano Duarte. Desde a antiga rua 13 de Maio, depois Princesa Isabel, quando o conheci efetivamente e melhor, lá pelos idos de 1950. De 1954 em diante fui revê-lo na rua Voluntários da Pátria, nº 722, Cidade Alta, telefone 2901. Ele era já expressão do “bate papo” no Grande Ponto, seu fiel ancoradouro, onde tornara-se notário público e destemido navegante das ruas e avenidas da política potiguar. Bacharel em Direito da Faculdade de Maceió, torna-se decano do jornalismo da imprensa potiguar, atividade da qual goza de ilibada notoriedade por sua isenção e imparcialidade nos juízos dos acontecimentos da política. Seu memorialismo, ganha ritmo de crônica e embasamento de historiador. Em seus escritos é possível intuir aquele saber de experiências, traço que distingue o verdadeiro homem de visão de um mero prestidigitador de quimeras.
Presença fecunda na imprensa norte-riograndense, a colaboração de Ticiano Duarte para a Tribuna do Norte rendeu, numa primeira seleção, o livro “Anotações do meu caderno” (Z Comunicação/Sebo Vermelho, 2000), reunindo os principais fatos políticos dos últimos 70 anos do século passado no Rio Grande do Norte. A precisão das análises, a escolha dos protagonistas, a evolução dos acontecimentos e o retrospecto dos episódios que marcaram profundamente as vicissitudes da política potiguar encontram ali o seu cronista mais atento e informado, imparcial e verdadeiro. Neste seu novo livro, objetivamente intitulado “No chão dos perrés e pelabuchos”, avultam as mesmas qualidades que consagraram “Anotações do meu caderno”, com a única diferença de que agora ele se detém com mais vagar na descrição de perfis e na análise comparativa dos fatos, mesmo separados por décadas. Vultos inesquecíveis da vida pública estadual, como Djalma Maranhão, Georgino Avelino, Café Filho, Aluízio Alves, Odilon Ribeiro Coutinho (“mistura de tabajara e potiguar”), Tales Ramalho (“paraibano por acidente, norte-riograndense pelas grandes ligações familiares, e pernambucano por adoção”) são algumas das estrelas de primeira grandeza dessa constelação de escol. Cronista, para quem a política não pode se dissociar da ética, sob pena de naufragar nos desmandos de governantes e correligionários, Ticiano faz o elogio dos políticos exemplares perfilando a figura de Café Filho porque, justifica, “o povo espera dos homens públicos, exemplos. E alguém disse, com muita propriedade, que o importante não é só pregar moral apenas para os outros, censurando nos outros o que silencia entre amigos e parceiros”. Ao fazer o elogio da lealdade e da coerência, ele retira do limbo o nome de Walfredo Gurgel, ressaltando que “o seu governo foi um exemplo de seriedade no trato e na gestão da coisa pública. Todo o Rio Grande do Norte sabe desta grande verdade, mesmo seus adversários não podem omiti-la, por mais que o tenham combatido no campo das idéias e das diferenças partidárias”.
Em “No chão dos perrés e pelabuchos” ainda é possível encontrar silhuetas de políticos esquecidos pela História mas preservados, por exemplo, numa Acta Diurna de Luís da Câmara Cascudo, como Hermógenes José Barbosa Tinoco, deputado do Partido Liberal que a voragem do tempo soterrou; os entreveros entre pelabuchos e perrés que incendiaram o paiol das agremiações políticas dos anos 1930 que não escapam à argúcia focada por Ticiano sobre os atores da nossa história.

Ele propõe e reforça as teses daqueles que defendem a necessidade de uma urgente reforma política a fim de repor o país nos trilhos da ética e inaugurar uma nova era na vida política brasileira. O seu olhar espelha neste livro o brilho e a lucidez dos seus brancos cabelos, ainda atentos para ver a vida e o mundo.

28/06/2015

JUSTA HOMENAGEM
 

LÚCIA HELENA PEREIRA, que é conhecida como a “POETA DAS FLORES”, tal o seu amor a essas criações da natureza, tal a tessitura dos seus poemas, cheios de beleza e dos achegos dos bogaris, dos jasmins e das açucenas.
É uma poética dos sentimentos e dos sentidos. No primeiro caso, porque a poetisa vive – suspira, ama, sofre – e se transporta para cada um dos seus escritos. No segundo, porque os senti
dos dos leitores são capazes de perceber a mensagem transmitida como manifestação de uma energia condensada exposta em cores e aromas, como nas flores. [...]
Acostou-se timidamente aos astros e estrelas, meio sem jeito, porque não se achava iluminada para brilhar com luz própria. Mas tentou, ousada que é, e perseverou. [...]
Mantém o lirismo plangente, a delicadeza dos temas, o intimismo, a celebração da natureza, mas expurgou a métrica e a rima, num gesto de rebeldia e espírito libertário.
Pois é criatura que precisa de muito espaço – alguma coisa que se assemelhe ao vale verde da infância – e de expressão desabrida, espontânea, franca, características que não podem ser contidas pela rigidez da metrificação, nem pela submissão às rimas.
Nem por isso, perde a sua poesia em essência e em encanto. Acaso a perdeu Adélia do Prado, Marise de Castro, Diva Cunha?
Por que só falei de mulheres? Se sou machista ou segregador? Nada disso. Tanto que usei a expressão “poeta” ao invés do discriminador “poetisa”. É que apesar dos maravilhosos poetas masculinos, reconheço na poética feminina um calor e um afago sem precedente dentre os homens.
Elas têm um útero e são o centro do universo. O coração feminino só é comparável às suas próprias lágrimas, mais santificadas no sentimento da concepção e do abandono. A tristeza é fêmea, a lágrima também, a dor, a fidelidade. Já observaram que a maioria dos sentimentos flexiona-se no feminino?
Lúcia é espaçosa – a sua generosidade, o seu espírito dadivoso e solidário a expandem. Não a fazem maior do que já é, mas ampliam o seu espírito e a duplicam numa só. De fato há duas Lúcias Helenas. Uma, que é espécie vegetal, floral. Outra que é colibri, libélula, que paira sobre as fundações planetárias, fixando-se em pleno ar, para melhor vê-las.
Nesse instante de vôo, vê-se flor temporã intimorata, observa a sua criação, e a obra divina. E sua humana constituição se restitui. Ai descontrói-se, desmonta-se, pedaço por pedaço, chora a própria descontrução e depois ri-se do desperdício das lágrimas porque se sabe capaz de reconstruir-se sempre.
Eis porque a sua poesia é feita de peças de demolição, um grande quebra-cabeças, um jogo de montar em que o brincante, à moda dos repentistas, tem de decifrar os seus motes, para concluir a glosa.

Texto do Patrono da ACLA, Pedro Simões Neto.

POEMAS DE LÚCIA HELENA PEREIRA
A poeta é ocupante da Cadeira número 4 da ACLA

QUERO ESTRELAS BRANCAS EM MEU VÉU AZUL

Quero estrelas brancas em meu véu azul,
Para entrar no céu, como anjo iluminado
Que se embeleza nas nuvens!
Quero estrelas douradas em meu véu de luz,
Como noiva num deserto, coberta de sol e imensidão,
Buscando oásis, palmeiras e um lindo corcel negro.
Quero estrelas banhadas em meus rios luminosos,
Rios da infância distante,
Como o rio d´água azul do meu vale de infância!
Quero estrelas de esmeraldas em meu véu-canavial,
Para enfeitar o vale onde nasci,
Entre engenhos, riachos e olheiros!
Quero estrelas feitas só de sonhos, para este poema.
Que elas brilhem sobre as pequeninas palavras
E possam salvar a parte do universo triste e infeliz!
Quero estrelas! Lindas! Brilhantes! Fulgurantes,
Apenas estrelas, solitárias ou em cortejos de luz,
Engrinaldando a coroa de LUZ dos meus olhos!

CEARÁ-MIRIM, DE VERDE E LUZ

O vale verde, sereno
Vestiu-se de poesia,
Com palavras de Adele, Juvenal e Etelvina,
Dizendo coisas de amor
Naquele chão canavial,
Na hora linda de vespertina luz!

Uma cidade histórica
De imensos casarões
Que o tempo não desfaz
E onde as sinhás passeiam
E os engenhos resistem
com bueiros apitando
As sinfonias do tempo

Ceará-Mirim das Sinhás
Das mucamas e das praças
Com suas moças bonitas,
Coronéis, almofadinhas,
Todos tão inocentes,
Sonhando beijos e beijando sonhos.

O vale verde tem sua luz diáfana
Iluminando tudo ao redor,
Desde os rios cativantes,
Aos degraus da Matriz
com sua imponência e sedução.

Ceará-Mirim da Academia Cearamirinense de Letras e Artes
" Pedro Simões Neto", cujos patronos
Representam nosso orgulho:
Edgar Barbosa, Nilo Pereira, Meira e Sá,
Madalena Antunes, Pedro Simões Neto,
Juvenal Antunes de Oliveira e tantos outros,
Abrilhantando a alegoria do cenário de luz
Da inteligência de um povo!

Esboço biográfico do Barão de Ipojuca

Esboço biográfico do Barão de Ipojuca
Je me viens pas pleurer sur sa cendre; Il me faut pleurer que sur celle des méchants: car ils ont fait le mal, et peuvent plus le reparer. M. Thomas (Elog. De Marco A.)
A morte de um homem notável por serviços e qualidades assinala a época de um grande infortúnio para a geração que o perde. O finamento de uma existência que avultou nas lides políticas de seu tempo, que adquiriu o direito de cidade pela importância do papel que lhe coube representar na área em que floriu é um fato que não deve passar indiferente aos olhos da sociedade contemporânea.
“No meio de lutas microscópicas, das transações interesseiras, das cóleras artificiais, dos antagonismos pigmeus, das ciladas e ardis, das rivalidades e egoísmos, das argúcias e futilidades”, seria requintar o quadro de nossas misérias sociais o olharmos com indiferença para a lápida que cobre as cinzas de um cidadão benemérito, a quem a pátria deveu sacrifícios, os princípios, dedicação, os amigos, lealdade, a lei os cultos do respeito. Valeria tanto como desdenhar a poética religião dos espíritos, grave e saudosa como a do túmulo, piedosa e grata como a do berço. O elogio dos finados é a apologia da civilização, da moralidade de um povo; é a voz de natureza que se exalta na crença do seu destino mortal.
O sepulcro acaba de engolir o invólucro caduco de um grande espírito, de um lidador infatigável, à um soldado destemido da pátria. O barão de Ipojuca, outrora João do Rego Barros, já não vive; cedeu por fim aos direitos da morte! Lutou; mas nesse lutar, sublime de resignação cristã; provou quanto valia a rigidez de seu ânimo! o combate ardeu em campo desigual; a sua luta era com o destino: devia sucumbir!
Apreciar as feições deste grande caráter; designar-lhe os dotes que o enobreceram, as qualidades que o recomendaram à estima pública, é  empenho nimiamente delicado. Ele viveu até ontem. Se numerosas afeições o circundavam, e diziam nele um tipo completo de virtudes cívicas; do outro lado, ódios pequenos, emulações obscuras, calunias, anônimas, que são o limbo expiador das vocações enérgicas, dos méritos superiores, e incompreensíveis à turba dos maldizentes, não raro procuram desbotar-lhe os matizes que realçavam a teia de suas ações.
Mas, em honra de seus êmulos, entre os quais os houve leais e cavaleiros, é força dizer que eles próprios, se no calor das porfias se irritavam com os arranjos de seu  gênio altivo e fogoso, eram os primeiros a fazer justiça aos timbres de seu belo caráter.
João do Rego Barros, homem deveras homem na tempera e na segurança da palavra, era ao mesmo tempo daqueles de quem dizia Sá de Miranda:
De um peito aberto e limpo e fé lavada!
No momento da contrariedade arcava como Leão, e, no medir das armas, muitas vezes saia de si, e irrompia como o raio! Mas, esvaecida a fervura do sangue e apaziguada as paixões que turbilhonavam naquela grande alma, ei-lo tão outro e tão longe do que parecera, quanto vai do Leão ao Cordeiro! Era tão pronto em assomar-se quanto fácil em arrefecer. Não sabia deixar sem perdão qualquer ofensa sofrida, e sem arrependimento qualquer excesso a que seu gênio o arrastava.
Houve uma época em que os sucessos políticos da província nos aproximaram e nos puseram em quase intima convivência. Foi nesses dias de negregada memória, de provocações acerbas, em que os ânimos incendiados no fogo das rivalidades estragavam  em muitas represálias a seiva dos mais nobres instintos, que eu tive ocasião de conhecer de perto os invejáveis predicados de João do Rego Barros. Testemunhei alguns rasgos seus em matéria de beneficência, que incontestavelmente o colocam na gloria dos beneméritos da humanidade.
Ninguém lhe levou a melhoria nas práticas da virtude hospitaleira. Seu engenho era o asilo de quantos, batidos do infortúnio, buscavam os auspícios de seu padroado. Dessa facilidade em acolher desvalidos a malevolência de desafetos seus buscou pretextos  para caluniar suas intenções, inculcando-o como apaniguador de díscolos; mas, no correr dos tempos, logrou convencê-los de que um sentimento mui diverso o guiava, e que jamais o crime encontrou guarida em sua sombra.
Este sistema de proverbial aquiescência a todos que o procuravam; o bom ânimo e singular liberalidade com que abria os cofres de sua benevolência aos seus vizinhos e conterrâneos; o ar de simpática e prazenteira familiaridade que transluzia em sua face para com todos; a pronta e decisiva identificação com os interesses e empenhos de seus amigos; o zelo com que os promovia e sustentava; a probidade austera com que se havia em  todos os seus negócios;  a singeleza expansiva de seus atos e maneiras, o tornaram dentro em pouco o ídolo estimado da população. Seu nome tornou-se o símbolo da popularidade, mas da popularidade espontânea, afetuosa, não mentida e violentada. O povo o amava e o temia. Amava-o porquê tinha nele o patrono de seus infortúnios; temia-o porquê ele em suas afeições, pelo povo, era antes de tudo e mais que tudo homem de justiça, incapaz de transigir com erros e crimes.
Ide a esta hora à Comarca de Cabo! Que vozes sentidas e magoadas não rompem de todos os tugúrios! Por ali andei em dias de janeiro deste ano: testemunhei o vivo interesse em que toda a gente inquiria melhoras  de João do Rego, e a expressão de intima angústia que se lhe divisava no rosto pelo estado indeciso  de seu restabelecimento.
João do Rego nasceu com disposição para viver larga vida; mas seu gênio inquieto e laborioso lhe não permitia resguardo, nem descanso diante da imagem dos deveres, a que o chamava a qualidade de pai de família extremoso e desvelado pela sorte de seus filhos, cujo  futuro procurava abrigar das precisões da indigência. Ele não reconhecia legitimidade na fortuna  que não fosse adquirida com o suor do rosto. Esse lidar incessante, esse arrostar de intempéries em todas as horas do dia e da noite, esse desprezar de sintomas que lhe indicavam uma causa mórbida que cumpria combater, lhe foram manso e manso lacerando os estames da vida. Chegou, porem, um dia em que o cansaço e a fadiga o prostaram enfraquecido.
Forçado então pela dureza das circunstâncias a cuidar de si, entrou em tratamento que, interrompidos a todos os instantes por viagens forçadas, lhe foram completamente ineficazes. Já quase moribundo, procurou nesta cidade, onde esperava que a medicina coletiva operasse o milagre de restituir-lhe o vigor dos músculos, alquebrados pelo longo roçar da enfermidade latente. Tudo, porem, foi baldado. As mais doces esperanças se resolveram em fumo; e a arte se declarou vencida! Ela fez o que pôde; mas ao impossível não se resiste! Os dias do grande lidador se tinham escoados na ampulheta do tempo!  Os médicos lhe aconselharam, como recurso extremo, que procurasse os climas do Ceará, que é hoje o vasto hospital dos inválidos da medicina.
 O ilustre enfermo, conhecendo que sua derradeira hora se achava prestes a soar, e que nenhum abrigo lhe era mais lícito esperar dos esforços humanos, volveu seus olhos ao Supremo Médico das nossas enfermidades espirituais! Com a resignação de homem verdadeiramente cristão, e tão rara nestes dias de materialismo prático, pediu e recebeu os sacramentos de igreja com a mais exemplar edificação! Preenchidos estes santos deveres, João do Rego, mais por condescender com os seus, do que por confiar no resgate dos seus dias, seguiu o destino que lhe indicaram os médicos, em companhia de sua querida esposa símbolo do amor conjugal e um dos seus filhos.
O vapor Igarassú recebeu essa desolada comitiva, e com ela demandou as regiões apetecidas. Até o Rio Grande do Norte o estado do enfermo não apresentou diferenças notáveis, e como que em sua fisionomia luziu por instantes um tênue lampejo de esperança. Eram os derradeiros e pálidos clarões que a luz irradia ao aproximar-se a sua extinção total!
Sua esposa e seu filho desejando pô-lo o mais pronto possível sob a influência e ação dos ares do sertão, resolveram subir pelo Rio Assú, e dali ao interior da província; mas ao chegaram à Ilha  das Cobras, sete léguas acima de Macau, correndo o dia 18 do passado, João do Rego, tendo tomado uma ligeira refeição, exalou o último alento, com a serenidade e placidez de um espírito ungido pelo ósculo do Senhor! A piedosa esposa, o extremoso filho cerralham-lhe as pálpebras e depositaram suas cinzas em um tosco, mas decente jazigo de um pequeno cemitério de Macau, servindo-lhes de eternas sentinelas uma pedra e uma cruz!
Assim acabou um dos mais belos caráteres de Pernambuco, cujo vácuo tarde ou nunca será preenchido no município de sua residência! Na idade de pouco mais de cinquenta e três anos. João do Rego Barros poderia ter cometidos faltas, mas não crimes. Assinalou-se por serviços importantes à sua pátria; ela que o chore, e o seu choro é um justo tributo à sua memória! E eu, que fui quinhoeiro, em sua lidas, em suas glórias e revezes, não poderia eximir-me de pagar-lhe também este último feudo de perenal saudade.
Recife, 4 de março de 1860. P. de C. (Diário de Pernambuco)
Transcrito do Correio Mercantil de 4 de abril do mesmo ano.
___________________
Colaboração do escritor JOÃO FELIPE DA TRINDADE

27/06/2015


Rotatórias: parem os quatro!
            Hoje pela manhã, no bom-dia RN, foi entrevistado um pessoal do trânsito para prestar esclarecimentos a respeito das “Rotatórias”, ou “Rótulas”. A única coisa que se falou foi que “quem já está no círculo, dentro da rotatória, tem prioridade”. Mas não é tão simples e os motoristas em Natal não entendem bulhufas das tais rótulas.
            “PAREM OS QUATRO” (o STOP FOUR, como querem os inglesistas): Quando há o encontro de duas vias de mão dupla, como no caso da Bernardo Vieira com a Xavier da Silveira, faz-se um círculo na interseção e, em cada uma das quatro mãos, há um sinal de “dê a preferência” (aquele triângulo com as bordas vermelhas e o fundo branco, com o vértice apontando para baixo – R2). A rigor, pela interpretação literal da sinalização, os quatro veículos eram para ficar parados, cada qual dando a preferência ao outro e o trânsito ficaria eternamente (!) obstruído. Daí o termo STOP FOUR, que nas ruas de Americana, cidade do interior paulista, pintaram assim mesmo, em inglês, em letras garrafais, o que gerou a maior polêmica. O termo técnico é “interseção em círculo” (é uma placa amarela com setas pretas indicando o giro no sentido anti-horário – A-12).
            É importante saber que existem regras – que pouca gente conhece – para que o trânsito não fique paralisado, ou, o que é mais comum, avancem uns sobre os outros, de forma desordenada, caótica, provocando acidentes. No caso de rotatórias (Interseções em círculo, stop four), o veículo que estiver na rotatória, terá preferência sobre aqueles que intentam adentrá-la; Nas vias que apresentem o mesmo tipo de pavimentação e características geométricas, ou seja, de igual categoria, a preferência de cruzamento será do veículo que vier pela direita do condutor, tal preceito encontra-se exarado no CTB, Art. 29, Item III, alínea C e ainda pela CTV (Convenção do Trânsito Viário) de Viena e que popularmente é conhecido como a regra da mão direita.
            No cruzamento em discussão, quem trafega pela Xavier da Silveira no sentido norte (centro) se acha com irrefreável preferência e coitado de quem ousar seguir as regras, mesmo a mais elementar – que é o direito do veículo que já se encontra na rotatória – pois será literalmente abatido pelos ônibus com os seus motoristas enfurecidos.
            É importante também que as rotatórias sejam grandes, até com um pouco de agressividade arquitetônica, para que o indivíduo não pense que está na “preferencial”.
            A saída é que as regras sejam divulgadas nesses locais, verbalmente e através de impressos explicativos, durante um tempo suficiente para o aprendizado dos brutamontes, ou seja, permanentemente.
            Segue um exemplo bastante elucidativo:
Analisando o esquema de um cruzamento não sinalizado e aplicando a regra da mão direita, percebe-se claramente que B tem a preferência sobre A, por sua vez A tem a preferência sobre D, este sobre C, que por sua vez tem preferência sobre B.
Senhor redator-chefe, por achar de extrema importância, já que o número das rotativas têm aumentado exponencialmente, é importante dar destaque à divulgação dessas normas.
Grato, Armando Negreiros.

26/06/2015