20/08/2014





No tempo dos primeiros automóveis

Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ

elisio@mercomix.com.br


Em 1906, quando Tibério chegou a São Francisco – EUA, poucos cidadãos norte-americanos se dispunham a adquirir automóveis – a carruagem sem cavalos. Muitos se afastavam daquelas “máquinas infernais” e parte dos que tinham adquirido mostravam-se arrependidos da aquisição.

O automóvel que logo depois se mostraria eficaz, na época era visto como uma ameaça pela população. Os poucos proprietários eram alvos de advertência, escárnio e certa dose de antipatia pública.

Despejava fumaça nas ruas, levantava nuvens de poeira, fazia muito barulho, atrapalhava o tráfego dos cavalos e os assustava. Os legisladores logo tomariam diversas medidas contra ele.

Em determinada cidade americana, as leis exigiam que os condutores de automóveis parassem, saíssem do interior dos veículos e acendessem sinalizadores toda vez que surgisse algum veículo à tração animal.

Em Massachusetts, chegaram a tentar tornar obrigatório equipar os automóveis com sinos que soariam a cada giro das rodas.

Havia cidades em que a polícia estava autorizada a impedir a circulação de carros de passageiros usando cordas, arames ou correntes. Podiam em caso de desobediência até atirar, com cuidado para não ferir os condutores.

A Cidade de São Francisco não foi exceção – oficiais locais cumpriam a lei, proibindo os automóveis de circularem no Campus de Stanford e nas áreas turísticas da cidade.

Além disso, somava-se a essas proibições o alto custo de um automóvel. O modelo mais barato era o dobro do salário anual da época de um cidadão comum. Alguns modelos chegavam a custar mais que o triplo.

Na época só era vendido a carcaça, o motor e as rodas do veículo – as demais peças, como para-choques, carburadores e faróis, eram considerados “acessórios” e cobrados à parte.

Dar a partida do motor era tarefa exclusiva dos homens, que, num descuido, podiam até deslocar o braço, pulso, etc.

Como ainda não existiam postos de gasolina, os audaciosos proprietários de veículos automotores precisavam dispor de latas com capacidade para cinco galões de combustível, que enchiam nas drogarias a “sessenta centavos” o galão. Ainda existia o risco de a gasolina ser “batizada” com benzeno.

As mulheres eram orientadas para se “afastarem daquelas máquinas”, pois corriam o risco de serem sufocadas, certamente, pelos gases venenosos que expeliam. Algumas mulheres de espírito aventureiro começavam a usar o “chapéu para-brisa” – uns balões de tecido, enormes, equipados com uma janela de vidro, que cobriam a cabeça inteira, mas que permitiam usar os avantajados penteados vitorianos.

Já começavam a ser instalados os primeiros sinais de trânsito por um agente de seguros, que eram usados a título promocional de sua companhia.

Naquela época, o ato de dirigir era difícil e para poucos. Exigia uma grande habilidade e certa dose de paciência.

Os primeiros automóveis eram tão pouco potentes que, raramente, conseguiam subir as ladeiras mais íngremes. A título de galhofa, muitas pessoas se reuniam nesses locais, observando o esforço da máquina diante das ladeiras.

Certa caricatura da época mostrava um casal abastado, parado no acostamento de uma estrada, ao lado do veículo sem funcionar. A legenda dizia: “O rico inútil”.

Quando um daqueles automóveis quebrava era um transtorno, pois ainda não existiam oficinas mecânicas para automóveis. Os motoristas se valiam dos curiosos e todos os tipos de mecânicos. Eram muito procurados os mecânicos de bicicletas.

Contudo, apesar de todas as dificuldades, logo começariam as primeiras corridas de automóveis. Essas aventuras, não isentas de risco, provocaram muitos acidentes.



19/08/2014

GENEALOGIA

CONVERSA DE ALPENDRE
Fórum de Genealogia de Famílias do Brejo, Sertão e Seridó
Homenagem póstuma ao genealogista SEBASTIÃO DE AZEVEDO BASTOS
João Pessoa - Paraíba

18/08/2014



Excelentíssimo(a) Senhor(a),

A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Norte, por
seu Presidente Sérgio Eduardo da Costa Freire, tem a honra de convidar
Vossa Excelência, para abertura da VII Conferência Estadual do Advogado,
que tem como tema “Direito e Democracia: A Construção da Identidade
Brasileira”, a ser realizada no dia 20 de agosto de 2014, às 17 horas,
no auditório do Praia Mar  Natal Hotel.
Aproveito a oportunidade para agradecer a Vossa Excelência pelo
tratamento especial e cortês dispensado a OAB-RN.
Sem mais para o momento, apresento votos de consideração e apreço.

Cordialmente,

            Sérgio Eduardo da Costa Freire
                  Presidente da OAB-RN




Programação

Quarta-feira - 20 de agosto de 2014 - 16h

•Credenciamento
•17h - Solenidade de abertura
•18h - Mesa Inaugural
•"A Contribuição da Advocacia para o Quinto Constitucional."
•1. Presidente da mesa - Sérgio Eduardo da Costa Freire - Presidente da
OAB/RN
•2. Marcus Vinícius Furtado Coelho - Presidente do Conselho Federal da
OAB
•3. Conselheiro Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira – CNJ
•Homenagem: 100 anos de Miguel Seabra Fagundes


Quinta-feira - 21 de agosto de 2014 - 14h30

•Segunda Mesa
•"Educação Jurídica: Consolidando bases sustentáveis para o futuro."
•1. Presidente da mesa - Prof. Lúcio Teixeira dos Santos – Comissão de
Ensino Jurídico /CFOAB
•2. Prof. Adilson Gurgel de Castro - Comissão de Ensino Jurídico /CFOAB
•3. Professora Solange Moura - Coordenadora Nacional dos Cursos de
Direito da Estácio
•Homenagem: 100 anos de Otto de Brito Guerra


Quinta-feira - 21 de agosto de 2014 – 17h

•Terceira Mesa
•"1964/2014, 50 anos depois - do Brasil que temos ao Brasil que
queremos."
•1. Presidente da mesa – Marcos José de Castro Guerra - OAB/RN
•2. Felipe Santa Cruz - OAB/RJ
•3. Henrique Mariano – Comissão Nacional da Verdade/CFOAB
•Homenagem: 110 anos de João Maria Furtado


Quinta-feira - 21 de agosto de 2014 – 19h30

•Quarta Mesa
•"Um projeto Sustentável de Segurança Pública."
•1. Presidente da mesa - Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira – CNJ
•2. Marcello Lavenère Machado - ex-presidente do CFOAB
•Homenagem: Hélio Xavier de Vasconcelos
•21h às 23h – Happy Night no Peppers Hall
•                        Entrada gratuita para os conferencistas, depois
das 23h será reservado camarote para os participantes da Conferência da
OAB. Consumação a parte.


Sexta-feira - 22 de agosto de 2014

•9h - Direito Eleitoral
•Palestrante: Edilson França (Advogado e Coordenador do Comitê 9840)
•10h – Solenidade de entrega de carteiras
•Encerramento


*Programação sujeita à modificação


C A S O S   M A I S   R E C E N T E S
Por: GILENO GUANABARA, sócio efetivo do IHGRN

                - Natal de abril de 1964. Um grupo de funcionários dos Correios exercia intensa militância política. Um de nome Néco era ativista, atraía para si os debates acerca das reformas de base e a defesa intransigente do governo de João Goulart. Néco se envaidecia também pelo fato de privar a amizade do Capelão, padre Eladio Lereste Monteiro, cujo apreço decorria de ter celebrado o seu casamento religioso. Com o golpe de 1964, os militantes da esquerda que estavam presos no quartel do Exército foram surpreendidos com a visita do capelão Eladio. Da grade da cela, depois de demorada observação, o padre manifestou: Espere... Não estou vendo o meu compadre Néco...No dia seguinte Néco chegou preso e ficou recolhido na cela dos demais.

            - O líder católico Otto de Brito Guerra era reconhecidamente conservador. Professor da Faculdade de Direito, na cadeira de Direito Civil, quando ocorreu o golpe de abril de 1964. Dentre os presos políticos estava o prefeito de Natal, Djalma Maranhão. Dada a repressão exercida pelas forças militares, poucos advogados aceitavam patrocinar a defesa dos presos. Otto Guerra aceitou fazer a defesa de Djalma Maranhão. Durante a audiência de instrução, uma testemunha arrolada referiu-se, e constou da ata, que Djalma Maranhão fazia festança comunista à noite, em sua casa na praia de Ponta Negra. Dada a palavra ao defensor, Dr. Otto interpelou da testemunha se ela sabia explicar o que era exatamente festança comunista. A testemunha respondeu: Acho que era uma brincadeira do Bumba meu boi.

            - No mês de março de 1964, um grupo de intelectuais engajados encenou no então Teatro Carlos Gomes a peça Novo julgamento de Tiradentes. Escrita por Luís Maranhão a quatro mãos, teve a participação de universitários. Dos atores, constavam Hélio Vasconcelos, (defesa); Jansen Leiros (acusação); Danilo Bessa, Antônio Capistrano, Guaracy Queiroz (jurados), dentre outros. Para consagrar o clima da estreia, sindicalistas, trabalhadores e estudantes foram convidados e lotaram o teatro. Sorteado o corpo de jurados, feita a leitura do libelo-crime acusatório, deu-se o contraditório com a acusação e a defesa destacando seus pontos de vista.

            Sentado na primeira fila, havia um ativista apelidado de Pelé que, nas horas vagas, distribuía na cidade o jornal do Partido Comunista, A Voz Operária. A ele, foi atribuído o papel de, no auditório, tão logo fosse lida a condenação, se insurgir por um novo júri. Um estivador sentado ao seu lado não sabia do combinado. Tão logo foi decretada a morte e esquartejamento de Tiradentes, Pelé levantou-se entusiasmado: Meritíssimo juiz, em nome do povo brasileiro, protesto por um novo júri. O estivador puxou Pelé pelos fundos da calça, fê-lo sentar e fulminou: Senta negrinho, isso não vai dar certo...            

            - Nos idos de 1962, Aluísio Alves tinha como vice-governador o líder do PSD no Estado, Theodorico Bezerra, que integrou a Cruzada da Esperança. Tendo que viajar ao Estados Unidos, a fim de firmar compromissos com Aliança para o Progresso, do governo americano, afim de financiar o projeto de alfabetização de adultos pelo método Paulo Freire, o governador não estava disposto a transferir o governo ao vice. Aluísio presenteou Theodorico com uma viagem à África, a título de férias. Adicionou um safari e caça a elefantes. Para tal, deu-lhe de presente, uma espingarda de grosso calibre, com luneta, própria para a caça de animais de grande porte. Orgulhoso, Theodorico partiu em viagem à África. Fotos o retrataram pisando um elefante abatido. Aluísio seguiu aos EUA. Só assim, transferiu o governo ao irmão Garibaldi Alves, deputado e presidente da Assembleia.

            - Um gozador era o professor Carlos Augusto Caldas que ensinou na cadeira de Processo Penal na Faculdade de Direito de Natal, na velha Ribeira. Fora auditor militar no Rio de Janeiro e desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Na condição de presidente do Tribunal, por vacância do Executivo, foi convocado a exercer o cargo de governador, a fim de dar posse a Aluísio Alves, em 1960. Gracejava perante os alunos, nos intervalos das aulas: Sou o único ex-governador que nunca se locupletou com o dinheiro do Estado. Mas fui governador por apenas seis horas...

                - No ano tenso de 1970, uma cidadã que nada tinha de militância política se hospedou no apartamento de familiares, defronte ao quartel que abrigou os líderes políticos de oposição presos depois do golpe. Bem a sua vista, cedo da manhã, ocorria a solenidade de hasteamento da bandeira. A tropa perfilada, à frente a banda de música executava o Hino Nacional. Trajando um traje sumário, do alto do seu camarote e de posse de uma pequena bandeira, a visitante fazia a sua exibição, com mogangas direcionados à solenidade. Passados alguns dias de repetida e inconsequente performance, bateu à porta do apartamento uma comissão de militares. Em ofício, o comando militar oficializava o agradecimento à ilustre cidadã que anonimamente se manifestava com inusitado ardor patriótico, em respeito ao símbolo maior da nacionalidade, a bandeira nacional, durante o ato de seu hasteamento matutino perante a tropa.

- Petit das Virgens e outros jornalistas foram convidados pelo cerimonial do Governo Federal, presidente à época, o General Garrastazu Médici, a fim de darem cobertura jornalística ao lançamento de um foguete experimental da Base de Barreira do Inferno. O clima político do país era extremamente grave. Próximo à plataforma do lançamento, ao lado do presidente, enfileiravam-se os governadores e, logo atrás, os jornalistas e militares convidados. No silencio que dominou os presentes, enquanto o artefato subia, Petit não conteve a emoção e disse em alta voz: O perigo é quando as tabocas começam a despencar. Os militares se voltaram em sua direção. Palavras ouvidas, ditas estavam.

17/08/2014

Poetisa natalense




PALMIRA WANDERLEY

Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

Habitou em Natal do nascimento à morte - 06/08/1894 a 19/11/1978, uma moça loira, olhos verdes, de alegria contagiante, descontraída e inteligente. Pertenceu a um ramo familiar de senhoril nobreza cultural. Em plena adolescência uma fada cingiu-lhe a fronte rosada com uma grinalda de flores - a coroa da Poesia, por ela ostentada a vida inteira.

O seu verso mereceu elogio entusiasta do "Príncipe dos Poetas Brasileiros" - Olavo Bilac. E Tristão de Atayde reconheceu nela:



"O maior poeta feminino do Nordeste".



O seu livro, “Roseira Brava”, editado no Recife, em 1929, recebeu o "Prêmio de Poesia" da Academia Brasileira de Letras.

Foi a sua consagração literária.

Projetou-se, também, na imprensa, sendo a primeira jornalista do Estado, colabo­rando em jornais de Natal - "A República"; 'Tribuna do Norte"; "Diário de Natal (da Diocese); "Diário de Natal"; Rio de Janeiro: "A Imprensa", "A República"; "A União"; em São Paulo, nas Revistas "Feminina" e "Moderna"; na Bahia: Revista "Paladina do Lar"e em Fortale­za na Revista "Estrela".

Das poetisas da terra que lhe deu berço é a sua Prosa a mais abundante e elo­quente, na expressão, de nossa literatura. O seu escrito datado de 1925, intitulado, "De Joelhos", sobre ser um verdadeiro poema em prosa.

A sua poética foi outrossim elogiada por Câmara Cascudo, Olegário Mariano e Múcio Leão.

Dedicou-se, também a outro cenário cultural - o Teatro. Para ele produziu peças e operetas.

Foi, Palmyra Wanderley, na sua época, considerada uma espécie de "poetisa ofi­cial" de Natal. (Duarte e Cunha - 2001).

Autora de peças teatrais, conferências, era declamadora em festas fechadas, ani­versários e em solenidades públicas.

A sua primeira obra, intitulou-a – “Esmeraldas”.

Inéditos deixou: “Neblina na Vidraça” (versos); “Minha Canção Auriverde” (versos); “Panorama Histórico” (prosa e verso); “O Sonho da Menina sem Sonho” (teatro); “Vidro de muitas Cores” (crônicas); “Rosa Mística” (versos); “Contos e Lendas de Tia Nenen”; Dis­cursos e Conferências”; “Madame Laiseus”; “A Dama do Século” (conferência); “Sutilezas Femininas”. (Duarte, Cunha -2001).

Palmyra Wanderley foi Sócia fundadora da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, por convite pessoal de Luís da Câmara Cascudo, o seu idealizador.

Os dotes intelectuais, não eram somente eles, as qualidades eleitas da sua perso­nalidade altiva. A alma sensível ao encanto da Arte, fora atraída, desde a infância, pela chama da Fé; iluminadora chama da sua inspiração poética. E católica fervorosa, que foi, uma vida inteira, espargia afetos, cordialidade e entusiasmo, sendo afável e dotada de altruísmo, dando conselhos de esperança, a bela virtude teologal.

Teve ela uma existência cheia de simplicidade, ornamento maior do seu espírito cristão.

O seu encanto, como pessoa humana, tornou-a querida e conceituada em nossa sociedade.

Tendo sido considerada das mais cultas do Brasil, em seu tempo, a poetisa, Palmyra Wanderley França, afirmou-se como uma das proeminentes mulheres intelec­tuais do Rio Grande do Norte.

Em 1944, com o falecimento, aos 39 anos de idade, do nosso santo e sábio, devotou-lhe o soneto abaixo:





“NO CAMPO SANTO



À memória de Padre Monte





Aqui repousa o sacerdote angélico

De consciência pura e alma serena...

Aqui sossega o sábio no evangélico,

Tão grande em sepultura tão pequena



Aqui descansa o padre humilde, o célico,

O manso e bom. Pastor de doce avena...

Aflorava em seu riso triste e mélico,

A indiferença à sedução terrena.



Da vida amarga espinhos dissipava,

Jardineiro das almas procurava

De perfumes celestes embebê-las...



Mãe desolada, enxuga o pranto aflito

Que o teu filho, nas dobras do Infinito,

Foi celebrar a missa das estrelas.”


16/08/2014


NÃO CHORES POR MIM, ARGENTINA
Por: GILENO GUANABARA, sócio efetivo do IHGRN

As televisões transmitem para o mundo a crise financeira da Argentina. A roda-viva me devolveu alguns fios da memória, quando, para mim, Buenos Aires era a imagem de um mundo romântico que cantava as dores esquisitas pela morte de Carlos Gardel. Visitei Buenos Aires depois, um pouco de suas ruas, o burburinho de sua gente elegante, a grandiosidade da Avenida 9 de julho e o Obelisco, centro e símbolo da capital portenha. Conheci livrarias, o cemitério que agasalha os restos mortais de Evita, o recanto boêmio “Camenito”, suas praças e o Bairro do Boca. Foi assim, como sói ocorrer com outros visitantes. A Argentina para mim deixou de ser tão somente o ritmo malevolente de um tango, ou o som plangente de um bandoneon executado por Piazzola, sem menoscabo de outras facetas de sua musicalidade. A par do enlevo da visita fui tomado por um sentimento de tristeza. Surpreendi-me ao ver pessoas postadas indiferentes nas calçadas. Eram os descamisados, inúmeros, de cabelos loiros e olhos azuis, dirigindo uma súplica, em troca de um agradecimento antecipado, rabiscado num papel: Estoy a pedir su ayuda. Gracias.

A História recente dos países da América Latina é bastante significativa face a trajetória no que tinha de assemelhado com a Argentina. A pujança de sua economia se retratava na robustez de sua escolaridade, cultura e de suas transações mercantis. O potencial econômico do Mar del Plata e as exportações de carne e trigo a fizeram a sexta economia mundial, passando ao largo de crises periódicas do capitalismo industrial. Tempo em que, na cidade de Buenos Aires, o número de livrarias e de escolas em funcionamento era superior às existentes em todo o território do Brasil. Ao se iniciar o século passado, Buenos Aires já tinha em funcionamento o seu Metrô de passageiros, serviço só compatível em cidades como Moscou, Londres, Paris e Nova York.

O declínio intermitente da Argentina perpassa obrigatoriamente pelo Peronismo que dominou inconteste o país durante a primeira metade do século XX. Como lá, o populismo político se alastrou nos demais países da América do Sul, gerando líderes carismáticos e um modelo conservador, em tudo assemelhados, tais as diferenças regionais. Peculiar no Brasil, o trabalhismo de Getúlio Vargas caminhou para substituir a fórmula até então hegemônica da economia ruralista, cooptando lideranças regionais, impondo uma economia urbana pré-industrial e revisando a economia artesanal. A partir dos anos de 1950, consagrou-se um parque industrial na Região Sudeste, mais especificamente em São Paulo, que se tornou polo da indústria metalúrgico/automotiva e se impôs com reflexo nas demais regiões do Brasil. O setor agropecuário permaneceu ativo, embora fragilizado diante das crises, submetido às vacilações do mercado e ao amparo crescente de recursos governamentais.

O ciclo populista na Argentina foi mais perverso, exatamente por não ter incorporado com rigor novas vias de desenvolvimento, a par do seu potencial, ao final da Segunda Grande Guerra. Se a economia mundial se reciclara, a nova política de exportação de comodities exigia novos influxos econômicos, que não foram viabilizados convenientemente. De herança mais consistente ao populismo, a incapacidade política do modelo consagrou, fortalecendo o vínculo mais fácil de convencer a massa trabalhista, que, em sua maioria, mesmo sendo politizada, se partidarizou, favorecida com a concessão dos pleitos salariais, exatamente quando o aguçamento da crise vez por outra a atingia. A abundante riqueza oriunda da fase áurea da exportação serviu para abastecer por muito tempo a máquina estatal, a corrução e a engrenagem dos burocratas, o partido peronista e o sistema policial/militar repressivo, apto contra as turbas assalariadas, desenganadas nas horas de crise.

Em a História não se repetir, salvo como tragédia, o retorno político de Peron ao governo, sem novidade, na segunda metade do século passado, aprofundou ainda mais a crise que corroía a Argentina. Repetiu-se a tragédia anunciada, quando da morte de Evita, em 1950. O Peronismo sozinho não tinha mais forças para governar e, afinal, com a morte do líder, restou associar-se a milongueiros carreiristas. Em consequência da morte de Peron, uma nova Evita ascendeu ao poder, sem forças políticas de apoio, sem envergadura e a economia encolhendo em pedaços. O populismo na Argentina deu seus últimos suspiros. A ditadura dos generais resultou o final do ciclo da decadência. Eis a fase pós-peronista, de truculência fascista contra os jovens, de inoperância governamental, de revolta popular e do desespero pela retomada das Malvinas.

 Os demais países da América do Sul tiveram com o final da experiência populista a implementação de ditaduras militares. Restaurado o regime democrático, raríssimas foram as economias regionais que tinham fôlego para se restabelecer por si. A Argentina não tinha líderes nem projetos de futuro. As Mães de Maio invadiram as praças à procura de seus filhos perdidos e por explicações do passado que não esquecem. A inflação instigou os panelaços. Nascia o simulacro de um novo peronismo.

O lamento/canção Don’t cry for me Argentina, na voz de Madonna, no início da trilha sonora do filme de igual nome, não nos conforta: Será difícil de compreender?.. É fidelíssimo à realidade da vida. Confirma-se a conjunção maldosa de política e família, carisma e populismo de Estado, militarismo, corrução e inflação, em passos de jabuti, e na direção da derrocada do país, até o quadro grave a que chegou.

Desde Adolfo Rodrigues Saa (2001), até o contorcionismo do atual ministro da Economia; de Carlos Menen e outros, aos governos da família Kistchner, diante de credores impolutos, pouco nada resta a contratar, tantas foram os débitos, até a submissão às garras insensíveis dos fundos abutres. Não há Peron, não há outra Evita, a mãe dos pobres, nem Isabelita, para aplacar os rigores do frio que atravessam os Andes e pairam avassaladores sobre sua gente. A Argentina irá se redimir, mais cedo ou mais tarde.  

15/08/2014

JF

João de Deus Gonçalves, do Reino de Portugal para Angicos

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
João de Deus Gonçalves deixou grande descendência em Angicos e outras localidades deste Rio Grande do Norte. Para começar, vamos ao registro de batismo de um filho, onde aparece a sua naturalidade: Antonio, filho legítimo de João de Deus Gonçalves e Francisca das Chagas de Azevedo, naturais: ele, do Reino de Portugal, e ela, desta Freguesia, onde são moradores, nasceu a dezessete de março de 1853, e foi por mim batizado com os santos óleos, nesta Matriz de São José de Angicos, aos vinte e nove de junho do mesmo ano. Foram padrinhos José Joaquim Fernandes, casado, e sua filha Maria Petronilla Fernandes, solteira, por seus procuradores João Teixeira de Sousa, casado, e Francisca Joaquina de Deus Gonçalves, solteira, todos moradores nesta Freguesia. Felis Alves de Souza. 
Antonio faleceu, no ano seguinte, de sarampo. O padrinho, José Joaquim Fernandes, era português, casado com Maria Martins Ferreira, minha tia-trisavó, filha do capitão João Martins Ferreira, ambos fundadores de Macau. Maria Petronilla, sua filha, foi casada com o português Balthazar de Moura e Silva.
Outros filhos encontrados foram: Anna Florência de Deus Gonçalves, que nasceu aos dezesseis de março, de 1836, e foi batizada, aos 4 de abril do mesmo anos, na capela de São José de Angicos, sendo padrinhos Antonio Lopes de Azevedo Viegas, casado, e Maria Josefa da Conceição. Anna casou, em 21 de novembro de 1870, com Francisco Alexandre Pereira Pinto, filho de Alexandre Francisco Pereira Pinto e Damásia Francisca dos Santos Leal; João Evangelista de Deus Gonçalves, que nasceu aos 26 de dezembro de 1839, e foi batizado aos 6 de janeiro de 1840, sendo padrinhos Francisco Antonio Teixeira, por procuração que apresentou de José Brandão da Rocha, de Pernambuco, e Ignácia Maria da Conceição, por procuração de Anna Martins Ferreira, casada. João Evangelista foi sepultado aos 6 de abril, de 1870, tendo falecido em consequência de uma espinha carnal, com a idade de 31 anos incompletos; José Gorgônio de Deus Gonçalves que nasceu aos 9 de setembro de 1841, e foi batizado, em artigo de morte, por Francisco Antonio Teixeira,aos 15 de outubro do mesmo ano. Casou, em 22 de novembro de 1885, com Rita Xavier da Costa.
Joaquim Firmino de Deus Gonçalves, outro filho de João de Deus e Francisca das Chagas, nasceu aos 10 de janeiro de 1845, e foi batizado, na Matriz de São José de Angicos, aos 19 de março do mesmo ano, sendo padrinhos Cláudio Mendes Brandão, por procuração de Jerônimo Cabral Pereira de Macedo, e Ignácia Maria da Conceição.  Joaquim Firmino casou, em 23 de agosto de 1874, com Maria Pinheiro de Vasconcellos Costa, filha de Miguel Pinheiro de Vasconcellos Costa e de Antonia Egina Francelina de Vasconcelos, na presença de José Gorgônio de Deus Gonçalves. Joaquim Firmino e Maria Pinheiro geraram Joaquim Firmino de Deus Gonçalves Filho, que nasceu aos treze de novembro de 1881, e foi batizado, na Matriz, no primeiro de janeiro de 1882, sendo padrinhos Bacharel Amaro Carneiro Cavalcanti Bezerra (pernambucano) e Maria Fortunata Carneiro, e Maria Magdalena de Deus Gonçalves. Joaquim Firmino Filho casou, primeiramente, com Francisca das Chagas Gonçalves, e quando enviuvou dela, casou com tia Crináura Martins Trindade, irmã de meu pai. Desse último casal nasceu outro Joaquim Firmino, e, também Francisca (Fanny), que faleceu este ano e morava no Recife, mãe de Zelita Faro.
Outra filha de João de Deus e Francisca das Chagas, Quitéria Olímpia de Deus Gonçalves, casou, em 29 de setembro de 1861, com João Felippe Teixeira de Sousa, viúvo, por falecimento de parto, de sua esposa Josefa Carolinda Maria Rosalinda (aos 23 anos de idade, em 24 de junho de 1860). Ele era filho de José Teixeira de Sousa e Maria Manoela da Conceição. Quitéria faleceu de febre, em 27 de março de 1878, com a idade de 40 anos.
Um dos filhos de João Felippe e Quitéria Olímpia foi João de Deus Gonçalves (Janjão), mesmo nome do avô, que casou com minha tia-avó Maria Jovelina da Costa Torres. Deste último casal nasceu Maria Gonçalves, avó de João Felipe de Medeiros, e do senador Carlos Alberto.
Outro filho de João Felippe e Quitéria foi José Tito Teixeira de Souza, que casou em 1887, com Maria Ignácia Xavier de Carvalho, filha de Cosme Teixeira Xavier de Carvalho (meu tio-bisavô) e Francisca Bella Carneiro de Mello. De José Tito e Maria Ignácia nasceram, entre outros: Maria Francisca, mãe de Antonio Xavier (ex-padre); Francisco Tito, pai de Hildebrando (ex-prefeito de Santa Cruz); e José Tito Filho, pai do professor José Tito Junior.
No inventário de Marianna Lopes, esposa de Francisco Antonio Teixeira de Souza, está escrito: Aí foi por ele, juiz, nomeado curador dos órfãos deste inventário, ao tio dos mesmos, João de Deus Gonçalves. A princípio pensei que João de Deus fosse irmão de Francisco Antonio, mas depois concluí que era tio afim, e, portanto, Dona Francisca das Chagas de Azevedo era quem era irmã de Dona Marianna Lopes Viegas, ambas filhas do capitão Francisco Lopes Viegas e  Anna Joaquina de Azevedo. 
Aos 17 de dezembro de 1877, foi sepultado no cemitério público desta Vila, em Catacumba, o cadáver do tenente-coronel, João de Deus Gonçalves, morador nesta Freguesia, casado que era com Francisca de Deus Gonçalves, e falecido de hidropisia, aos dezesseis do dito mês e ano, com todos os sacramentos na idade de 75 anos. Felis Alves de Souza.
Joaquim Firmino Filho

Crinaura Trindade

Francisca (Fany)