27/03/2015

Contestado RN-CE



A GUERRA QUE QUASE HOUVE
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em historia e sociologia. Do Instituto Histórico e Geográfico do RN

            Dois fatos relativamente recentes voltam a suscitar a controversa que ainda existe com relação à fixação da divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará. Desde 2009 tramita na Assembleia Legislativa do estado vizinho um projeto de Decreto Legislativo, que dispõe sobre a convocação de plebiscitos para decidir sobre os limites territoriais interestaduais. Em 14 de abril de 2011, o Diário Oficial do Estado do Ceará publicou ato daquela casa que criava uma Comissão Especial para diagnosticar a indefinição de divisas do Ceará com o Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. Por trás dessa nova disputa estaria a disputa pelos royalties do petróleo que a Petrobras descobriu na divisa das cidades de Tabuleiro do Norte (CE) e Apodi (RN).
            No ano passado o engenheiro Jorge Cintra, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, utilizado técnicas e instrumentos de medição modernos que proporcionam maior rigor de resultados, elaborou um novo mapa das Capitanias Hereditárias (terra doadas no século XVI pela Coroa Portuguesa a comerciantes e nobres lusitanos) que contradiz o mapa tradicional, de autoria do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen. Esse novo estudo, confirma a posição do Rio Grande do Norte na questão dos limites, baseados na prelazia histórica.
 
Essa é uma questão antiga e que, na opinião do historiador Saul Estevam Fernandes, teria sido a causa principal que motivou a criação dos Institutos Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte e do Ceará.

UMA QUESTÃO DE SAL

O monopólio do sal, instituído pela coroa portuguesa permitia que apenas as províncias de São Tomé, Rio Grande e Pernambuco produzissem e comercializassem sal brasileiro, desde que em suas respectivas fronteiras.  Em meados do século XVIII a Vila de Aracati era uma grande produtora de carne salgada e usava sal trazido de Portugal, que era gravado com altos impostos. Visando solucionar seu problema, Aracati solicitou a anexação das salinas do Rio Mossoró ao seu território, o que foi concedido por uma Carta Regia de 1793. Em 1801 o governo cearense como ponto de referência do limite a margem esquerda do rio Mossoró, o que provocou protestos do governo da província do Rio Grande do Norte. A questão perdurou mesmo após a independência e durante todo o período do Império.
Em meados do século XIX, o desenvolvimento de Santa Luzia de Mossoró atraía mais e mais pessoas para a cidade e reavivou o clima de disputa fronteiriço com o Ceará. Caso típico foi a disputa em que a cidade se viu envolvida em torno das oficinas de carne-seca, quando alguns comerciantes de Aracati quiseram fechar os portos dos rios Assú e Mossoró, visando impedir a saída do produto. Sem mercado, as oficinas seriam fechadas. A situação se adensou, em 1888, quando a Câmara daquela cidade cearense “mandou medir terrenos à margem esquerda do Mossoró” e tentou estender os limites de seu Município, absorvendo terras das localidades de Tibau e Grossos. Depois de marchas e contra marchas, um ouvidor substituto mandou dar posse dos terrenos em litígio à vila de Aracati, mas o território limítrofe continuou sem ser demarcado.

Em 1894, o Estado do Ceará impetrou uma ação no Supremo Tribunal, alegando “conflito de jurisdição”, que se transformou em "ação de limites". Mesmo com a situação sub judice, isto é, em trâmite judicial, em 1901, a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou, e o Presidente provincial sancionou uma Lei elevando Grossos à condição de Vila. O governador potiguar protestou. Os norte-rio-grandenses, que moravam na área disputada, reagiram, e os governos dos dois Estados mandaram tropas para o local. Entretanto, não houve conflito armado.

CONFLITO QUE QUASE HOUVE

A fronteira entre os dois Estados era marcada pela barra do rio Mossoró, e ali se posicionaram tropas do Rio Grande do Norte, em fins de janeiro de 1904. Os cearenses reagiram, trocando sua posição de invasores para invadidos. “Multidões se reuniam na praça Central de Fortaleza exigindo a guerra ao Rio Grande do Norte”. O governo do Ceará nomeou um Tenente-coronel do Exército, Salustiano Padilha, para expulsar as tropas potiguares. Em cinco de março de 1904, a tropa cearense, composta de duzentos e cinquenta homens, tomou posição em Aracati, a somente oitenta quilômetros da zona disputada.

José Torcápio Salustiano de Albuquerque Padilha nasceu em Camocim, no dia sete de setembro de 1861. Ele foi criado por um tio, que tinha sido voluntário da pátria na guerra do Paraguai e que lhe incutiu um grande sentimento de xenofobia. Em 1883, formou-se aspirante pela Escola Militar de Rio Pardo. Quando dos problemas fronteiriços do Brasil com a Bolívia por causa da questão do Acre, ele externou o desejo de “oferecer sua vida em holocausto pela pátria”.  O tratado de Petrópolis de 1903, que resolveu as questões com a Bolívia, frustrou seus sonhos de glória nos campos de batalha. Decepcionado, voltou para o Ceará. Agora, ele tinha um outro inimigo, os norte-rio-grandenses; tinha a sua guerra, a região contestada entre o Rio Grande do Norte e o Ceará.
Os cearenses se deslocaram de Aracati até Grossos, aonde chegaram em 11 de março de 1904 e ali estabeleceram seu quartel-general, porém não encontraram as forças potiguares, que tinham feito um recuo tático, cruzando a barra do rio Mossoró, para se reagruparem em Areia Branca. O comandante da expedição planejou atravessar de barcos a barra do rio e invadir a cidade de Areia Branca. Entretanto, alguns dos seus oficiais se anteciparam; cruzaram o rio, se entenderam com as tropas opostas e telegrafaram ao Presidente da Província do Ceará, recebendo deste a ordem para evitar a invasão do Rio Grande do Norte (que eles já haviam invadido quando entraram em Grossos).
Todavia, o Tenente-coronel Salustiano se negou a cumprir a ordem do seu governador e, às sete horas do dia 12 de março de 1904, com apenas poucos homens, fez a travessia do rio e ficou esperando pelo outros, que nunca chegaram. Sem apoio, teve que se retirar.
O Presidente da República interveio na questão e mandou que as tropas de ambos os lados recuassem para suas bases. A primeira tentativa de solução pacífica da disputa da região contestada pelo dois Estados deu-se via arbitragem, portanto sem envolvimento dos Tribunais regulares. A decisão foi favorável ao Ceará. Nos Tribunais, o Rio Grande do Norte ganhou em três ocasiões diferentes: 30 de setembro de 1908; 02 de janeiro de 1915 e 17 de julho de 1920.
Caso o Rio Grande do Norte tivesse perdido essa causa, na verdade quem sairia perdendo mais ainda seria o Município de Mossoró, pois grande parte de sua receita e da renda da população vinha daquela região, onde eram desenvolvidas as mais profícuas e proveitosas atividades econômicas locais: extração de sal, criação de gado, exploração agrícola e produção de carne de sol. 

NOS ANOS 1960

O problema ainda teve um outro desdobramento. Quando Aluísio Alves era governador, o Estado do Rio Grande do Norte fez a doação de glebas de terras devolutas a antigos posseiros, muitos deles moradores em região fronteiriça com o Ceará, expedindo o competente documento de posse e editando ato que autorizava que os beneficiados pudessem contrair empréstimos com bancos oficiais, dando as referidas terras como garantia. Essa medida favoreceu os habitantes da região, dando-lhes possibilidades de melhorar seu nível de vida.
Em outubro de 1967, vários proprietários de terras de Baraúnas, então distrito do Município de Mossoró, foram vítimas de arbitrariedades por parte de supostos donos de suas terras. Entretanto, inesperadamente eles foram presos pela polícia cearense e levados para a cidade de Russas, onde um cidadão de nome José Louredo declarou-se dono de toda a área doada pelo Governo do Rio Grande do Norte, além do mais sob a alegação de que todas aquelas terras fazem parte do estado do Ceará.
Os proprietários se viram forçados a abandonar suas glebas e benfeitorias nelas existentes, depois de terem iniciado o beneficiamento e cultivo das terras doadas pelo Governo potiguar. Após esse incidente, numa zona supostamente contestada, pois oficialmente nada havia a respeito do assunto, os trabalhos agrícolas e pastoris da região foram paralisados, com grandes e sensíveis prejuízos para a economia local.

A CONSTITUIÇÃO

A Constituição Federal Brasileira de 1988, no art. 12, parágrafos 2º, 3º e 4º, de seus dispositivos transitórios, determina que em um prazo de três anos, contados a partir da data de sua promulgação, que os Estados e municípios promovessem a demarcação de suas linhas divisórias em litígio. Esgotado esse prazo, cabe à União determinar os limites das áreas litigiosas.
Como até agora o Rio Grande do Norte e o Ceará não resolveram definitivamente suas pendências de limites geográficos, o caso deve seguir o que estabelece a alínea “f” art., do art. 102 da nossa Carta Magna: “Compete ao STF [...] as causa e os conflitos entre a União e os Estados, entre a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros...”.

26/03/2015

PALAVRAS DO PRESIDENTE DA CASA DA MEMÓRIA




... Valério Mesquita, foi publicada na edição desta quinta-feira do DOE

IHGRN: 113 ANOS

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

O tempo é a dimensão da mudança. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte é o único bem que ficará após tudo o mais passar. No dia 26 próximo vai completar 113 anos de fundação. Destaco o esforço de todos os colegas diretores. Não posso olvidar deles o exemplo e a dedicação que tiveram em manter a guarda e a segurança de tão valioso patrimônio. Agradecemos a colaboração dos confrades, além da Fundação José Augusto, do Departamento Estadual de Imprensa, da Fercomércio, da Fiern, do Sebrae, Prefeitura do Natal e da Assembleia Legislativa. O prédio foi construído pelo governador Augusto Tavares de Lyra, entre 1905 e 1906, na área nobre e histórica da cidade, vizinho à antiga catedral metropolitana e ao Palácio Potengi erguido por outro conterrâneo, Alberto Maranhão. Tem frentes tanto para a Rua da Conceição como para a Praça André de Albuquerque. É um chão sagrado de antepassados. Bem próximo, está a Praça Padre João Maria, hoje transformada num lastimável camelódromo. Ainda ali perto, o Museu Café Filho, a primeira construção assobradada, ainda do período colonial. E um pouco mais adiante, o sobradão clássico onde funcionou o Tesouro Provincial, hoje Memorial Câmara Cascudo e o Convento Santo Antônio, todos monumentos tombados pelo Patrimônio Histórico. E com importância político-administrativa estão cravados também nesse quadrilátero de ocorrências históricas as sedes atuais dos Poderes Legislativo e Judiciário.
Venho encarecer a atenção dos atuais governantes para os cuidados que essa contextura patrimonial, histórica, turística, representa para Natal nos dias de hoje, quando a capital será palco de assinalados eventos. Os prédios, as praças, a iluminação pública ao derredor, necessitam de paisagismo compatível como berço da cidade dos Reis Magos. Nesse território emocional e dominó de reminiscências inapagáveis imperam o lixo, a predação, a escuridão, o abandono e a insegurança. Urge, para essa área, um tratamento diferencial e seletivo de ressurreição de ambiente. E o Instituto Histórico, pobre mas altivo, é o capataz dos mistérios circundantes, há cento e treze anos – a completar no dia 29 de março. Ele permanece como guardião do mais importante acervo histórico do estado. Agora, eu indago, deve continuar abandonado? Ele detém a guarda de todas as leis e decretos de governo de 1835 a 1952, documentos de demarcação de terras de 1615 a 1807, sesmarias de 1702 a 1716 e de 1748 a 1754. O livro de Barleus, no qual Gaspar Van Barle descreve os oito anos do governo holandês de Maurício de Nassau, de 1647, bíblias antigas, bibliotecas, mapas geográficos, objetos de museus, versos, manuscritos e registros eclesiásticos, fotografias de personagens da história política, social, cultural, jurídica e religiosa do Rio Grande do Norte de cem a trezentos anos passados desde os períodos: colonial, imperial e republicano. É urgente fazermos a digitalização documental, a climatização da sua sede, após ter sido já concluída a restauração da rede elétrica interna e a recuperação física do imóvel.
Não existe outra maneira de salvar tudo sem o apoio resoluto dos órgãos governamentais, das instituições privadas e da sociedade de modo geral. Esse patrimônio que estamos guardando, protegendo, é público, é da história, é do povo do Rio Grande do Norte. Tornou-se, um imperativo inadiável, a digitalização do seu acervo. Vamos bater a sua porta. Ajude-nos!

(*) Escritor.

HOJE A COMEMORAÇÃO DOS 113 ANOS DA CASA DA MEMÓRIA

DOIS LANÇAMENTOS - DIA 26 DE MARÇO










25/03/2015

JÁ ESTÁ EM NATAL O EMINENTE ORADOR DA SOLENIDADE DE ANIVERSÁRIO DA CASA DA MEMÓRIA

 

Almino Monteiro Álvares Afonso

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Almino Monteiro Álvares Affonso (Humaitá, 11 de abril de 1929) é umpolítico brasileiro.
Tal como seu avô, este Almino Affonso é um grande tribuno. Ouvi de Ulysses Guimarães, outro excelente tribuno, ao proferir discurso numa solenidade, em que Almino já discursara, a seguinte frase: "Tem uma coisa que não gosto no Almino Affonso: é falar depois dele."
Bacharel em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, foi o primeiro ministro do Trabalho e Previdência Social no governo de João Goulart, de 24 de janeiro a 18 de junho de 1963, após a retomada do presidencialismo, quando sucedeu Benjamin Eurico Cruz.
Cassado pelo Golpe de Estado de 1964, viveu no exílio por doze anos naIugoslávia, Uruguai, Chile, Peru e Argentina.
Retornando ao Brasil em 1976, foi Secretário dos Negócios Metropolitanos de São Paulo no governo de André Franco Montoro, época em que eclodiu o escândalo Mogigate, quando cassou a permissionária dos transportes São Paulo - Mogi das Cruzes que operava desde 1940, empresa vitima de tentativa de extorsão.
Foi também Vice-Governador do Estado de São Paulo na gestão de Orestes Quércia, tendo exercido o cargo de Governador nos impedimentos e viagens do titular.
Enquanto parlamentar, além de de líder da bancada governista na Câmara dos Deputados, no governo do Presidente João Goulart, Deputado Federal e Conselheiro da República na gestão do Presidente Luis Inácio "Lula" da Silva.
No ano 2000, foi secretário Municipal de Relações Políticas do rápido governo do prefeito paulistano Régis de Oliveira. Foi assessor do Governador de São Paulo, no governo de José Serra, e, posteriormente, Secretario de Estado de São Paulo (Secretario das Relações Institucionais).
É casado com Lygia de Brito Alvares Affonso, pai de Rui, Gláucia, Fábio e do músico Sérgio Britto (da banda Titãs). Possui suas raízes genealógicas fincadas no Estado do Rio Grande do Norte, é neto do ex-Senador Almino Álvares Affonso, o Grande Tribuno da Abolição dos Escravos. Também é advogado. É autor de várias obras, dentre as quais cabe destacar: "Raízes do Golpe", "Parlamentarismo, Governo do Povo" e "Almino Affonso - Tribuno da Abolição".


Em 31 de março de 2014, lançou o livro 1964 na Visão do Ministro do Trabalho de João Goulart, onde reconstitui os principais eventos do período da ditadura militar no Brasil entre 1964 e 1985.