09/05/2014

VM

VALÉRIO MESQUITA - PRESIDENTE DO IHG/RN

DÉSPOTAS ESCLARECIDOS 
 Valério Mesquita* Mesquita.valerio@mail.com 

 O mundo clama por mudanças. Ninguém pode ignorar isso. A vida, as pessoas e os fatos, já nos dizem muito. É imperativo um raio de luz na sombra projetada dentro da história divino/humana. A reconstrução e a renovação do tempo devem ser absorvidas e respeitadas quando chegam com dignidade cristã e base histórica. Digo cristã porque considero como uma das grandes fontes confiáveis. Essa colocação não a considero banal. O dinheiro é o verdadeiro inimigo e único rival de Deus. O dinheiro é o “deus visível” em oposição ao verdadeiro Deus que é invisível. Em 1 Timóteo 6:10, “o apego ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Daí a mudança ser tão convidativa em nossos dias quando enxergamos, à olho nu, certos administradores do dinheiro público. Judas Iscariotes começou furtando um pouco o dinheiro da bolsa comum. Isso não parece dizer nada para certos gestores, prefeitos, vereadores, dirigentes de autarquias e demais autoridades parlamentares. A esse tipo de gente que não recebe, nem muito menos retorna telefonemas, nem concede audiência pública a ninguém e que vive obnubilado tal qual general no seu labirinto, - vivendo o outono patriarcal em tempos de cólera, - faz-me lembrar da história narrada pelo franciscano Raniero Cantalamessa sobre os males que o apego ao dinheiro e o desprezo ao próximo podem causar. “São Francisco de Assis”, - relata o frade – “descreve com uma severidade incomum, o fim de uma pessoa que viveu somente para aumentar o seu “capital”. Aproxima-se a morte; chamam o sacerdote. Ele pergunta ao moribundo. “Queres o perdão de todos os teus pecados”? E ele responde que sim. E o sacerdote: “Estão preparado para satisfazer os erros cometidos com as demais pessoas?” E ele: “Não posso”. “Por que não podes?” “Porque já deixei tudo nas mãos dos meus parentes e amigos”. E assim ele morre impunemente. E, depois de morto, os parentes e amigos entre si, passaram a censurá-lo: “Maldita a sua alma” podia ganhar mais e deixar-nos, e não o fez!!”. A carapuça dessa história cabe na cabeça de muitos agentes públicos e privados que não gostam de justiça social. Em vez de apascentarem o rebanho, apascentam a si mesmos. Conclusivamente, a traição de Judas não se resumiu em apenas entregar Jesus, mas a de não reconhecer a sua divindade. Quanto a traição do corrupto de hoje, ela não se restringe a de ocultar o dinheiro, mas a de não reconhecer que ele pertence ao povo. Ninguém, senão Deus, sabe o que acontece na sua alma. Vale relembrar a canção de Chico Buarque de que “apesar de você, amanhã há de ser novo dia, sem precisar de pedir-lhe a licença para este dia amanhecer...”. É preciso preconizar mudanças, alternância de poder, não a reeleição... O poder nas mãos de um só ou de uma família, sem interregno de oposição, de luta, de sofrimento, vira casta, vício redibitório, potestade maligna e imoralidade insepulta. Vale relembrar aqui o desfaçatez de Frederico II, rei da Prússia, que poderia ser brasileiro: “Tudo para o povo, mas sem o povo”. 

 (*) Escritor.

08/05/2014

MORRE O CANTOR ALEGRIA


 





Praça




1911 – Praça Augusto Severo

Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ

elisio@mercomix.com.br




Na Estação da Great Western da Ribeira, eu aguardava alguns familiares que retornavam a Natal. Bateu o sino da estação – o trem já deveria estar próximo – segundo alguns já partira da última parada intermediária.
Para me assegurar disso procurei um dos funcionários da rede que me comunicou que o trem estava dentro do horário e logo mais estaria chegando.
Aproveitei o tempo de espera para uns pastéis e bolos de tabuleiro vendidos na estação.
A informação estava certa – logo mais avistei a maria-fumaça. A locomotiva vinha da esquerda – margeando o Rio Potengi. Antes de aparecer na curva, ouvíamos o ronco forte da máquina resfolegando nos trilhos – espantando homens e animais.
Finalmente, a locomotiva apareceu ao longe, bufando fumaça pela longa chaminé.
Quando se aproximou da plataforma de embarque e desembarque, escutávamos o barulho dos ferros, o guinchar das rodas escorregando sobre os trilhos, a freada demorada, o aço sobre o aço, o chiado da fornalha e os vapores da caldeira.
Os passageiros desciam sem pressa, parecendo querer curtir os últimos momentos na carruagem de ferro. Uma pessoa me chamou atenção: uma senhora elegantemente vestida – enorme chapéu florido, sombrinha colorida e rendada, e sapato negro bicudo com fivela de prata.
Paralelamente, os funcionários da companhia desciam as malas e outras bagagens, com a vigilância atenta do chefe da estação.
Da porta da calçada da estação, quem vinha a Natal pela primeira vez avistava a bela Praça Augusto Severo, com o monumento à Nísia Floresta.
Pelo dia e hora quase não havia ninguém na rua. Várias casas comerciais estavam de portas fechadas.
Do outro lado da praça, o Teatro Carlos Gomes e o Grupo Escolar Augusto Severo, sob os olhares vigilantes da antiga fábrica de tecidos de Juvino Barreto.
Um carro de boi passava vagarosamente em frente da estação, com o seu canto triste produzido pelo eixo de suas rodas. Era um lamento sem fim... triste e ouvido à distância.
Esse cantoril era motivo de orgulho dos carreiros, que chegavam a jogar água no buraco da roda para que o canto saísse mais sofrido.
Corria o finalzinho de 1911 na Cidade dos Reis Magos. Por aqui não se falava de outra coisa que não fosse o recém-inaugurado Cine Polytheama – ali ao lado da estação. O cinema dera uma nova vida ao bairro ribeirinho.
As noites passaram a ter outro sentido para as famílias. De dia, grupos de meninos saíam pelas ruas, carregando cartazes e anunciando o filme que seria exibido nas “matinées” e “soirées” do cinema.
Os filmes em rolo de celuloide eram ansiosamente aguardados por todos. Naquela época, o cinema era mudo, viam-se as imagens, mas não havia som – o que os atores diziam aparecia em quadros, que se intercalavam com as cenas.
Do outro lado da praça, o Teatro Carlos Gomes a tudo assistia impassível.



CAYMMI E JORGE, QUE DUPLA!




CARTA DE CAYMMI PARA JORGE AMADO

“Jorge, meu irmão, são onze e trinta da manhã e terminei de compor uma linda canção para Yemanjá, pois o reflexo do sol desenha seu manto em nosso mar, aqui na Pedra da Sereia. Quantas canções compus para Janaína, nem eu mesmo sei, é minha mãe, dela nasci.
Talvez Stela saiba, ela sabe tudo, que mulher, duas iguais não existem, que foi que eu fiz de bom para merecê-la? Ela te manda um beijo, outro para Zélia e eu morro de saudade de vocês.
Quando vierem, me tragam um pano africano para eu fazer uma túnica e ficar irresistível.

Ontem saí com Carybé, fomos buscar Camafeu na Rampa do Mercado, andamos por aí trocando pernas, sentindo os cheiros, tantos, um perfume de vida ao sol, vendo as cores, só de azuis contamos mais de quinze e havia um ocre na parede de uma casa, nem te digo. Então ao voltar, pintei um quadro, tão bonito, irmão, de causar inveja a Graciano. De inveja, Carybé quase morreu e Jenner, imagine!, se fartou de elogiar, te juro. Um quadro simples: uma baiana, o tabuleiro com abarás e acarajés e gente em volta.

Se eu tivesse tempo, ia ser pintor, ganhava uma fortuna. O que me falta é tempo para pintar, compor vou compondo devagar e sempre, tu sabes como é, música com pressa é aquela droga que tem às pampas sobrando por aí. O tempo que tenho mal chega para viver: visitar Dona Menininha, saudar Xangô, conversar com Mirabeau, me aconselhar com Celestino sobre como investir o dinheiro que não tenho e nunca terei, graças a Deus, ouvir Carybé mentir, andar nas ruas, olhar o mar, não fazer nada e tantas outras obrigações que me ocupam o dia inteiro. Cadê tempo pra pintar?

Quero te dizer uma coisa que já te disse uma vez, há mais de vinte anos quando te deu de viver na Europa e nunca mais voltavas: a Bahia está viva, ainda lá, cada dia mais bonita, o firmamento azul, esse mar tão verde e o povaréu. Por falar nisso, Stela de Oxóssi é a nova iyalorixá do Axé e, na festa da consagração, ikedes e iaôs, todos na roça perguntavam onde anda Obá Arolu que não veio ver sua irmã subir ao trono de rainha?

Pois ontem, às quatro da tarde, um pouco mais ou menos, saí com Carybé e Camafeu a te procurar e não te encontrando, indagamos: que faz ele que não está aqui se aqui é seu lugar? A lua de Londres, já dizia um poeta lusitano que li numa antologia de meu tempo de menino, é merencória. A daqui é aquela lua. Por que foi ele para a Inglaterra? Não é inglês, nem nada, que faz em Londres? Um bom filho-da-puta é o que ele é, nosso irmãozinho.

Sabes que vendi a casa da Pedra da Sereia? Pois vendi. Fizeram um edifício medonho bem em cima dela e anunciaram nos jornais: venha ser vizinho de Dorival Caymmi. Então fiquei retado e vendi a casa, comprei um apartamento na Pituba, vou ser vizinho de James e de João Ubaldo, daquelas duas ‘línguas viperinas, veja que irresponsabilidade a minha.

Mas hoje, antes de me mudar, fiz essa canção para Yemanjá que fala em peixe e em vento, em saveiro e no mestre do saveiro, no mar da Bahia. Nunca soube falar de outras coisas. Dessas e de mulher. Dora, Marina, Adalgisa, Anália, Rosa morena, como vais morena Rosa, quantas outras e todas, como sabes, são a minha Stela com quem um dia me casei te tendo de padrinho.

A bênção, meu padrinho, Oxóssi te proteja nessas inglaterras, um beijo para Zélia, não esqueçam de trazer meu pano africano, volte logo, tua casa é aqui e eu sou teu irmão Caymmi”.
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Colaboração de JOVENTINA SIMÕES

 

 


06/05/2014

Rebouça e Malheiros


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
 
Encontramos, em várias localidades do nosso estado, descendentes das famílias Rebouça (é assim que está na maioria dos registros) e Malheiros, que se entrelaçaram por aqui. Alguns migraram para o Ceará. Há descontinuidades nos registros da Igreja, mas, de qualquer forma, vamos trazer alguma informação sobre eles, neste artigo.

João Malheiros, filho de Diogo Rebouça, natural de Santo Estevão, da faixa de idade de vinte e oito anos, cabelo liso e louro, olhos pardos, rosto redondo e aflamengado, baixo e grosso de corpo, e bem empinado, é soldado desta companhia desde 5 de janeiro de 1699 anos e vence mil oitocentos e sessenta e seis reis de soldo, por mês, na forma do assento do Conselho da Fazenda, lançado no livro 2º a fls 79v e não vencerá mais coisa alguma. Manoel Gonçalves Branco. Há ajustes nas laterais desse registro que vão até 1703, no Arraial do Assú.

João Malheiros recebeu, junto com Antonio Velho de Brito, no ano de 1706, do capitão-mor Sebastião Nunes Collares, sesmaria no Rio Umary, entre as duas serras de Catolé correndo para a serra de Mãe d’Água.

Nos velhos registros desta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, encontramos o batismo de dois filhos de João Malheiros: aos 28 de outubro de 1706, na capela de Santo Antonio do Potengi, foi batizado Diogo, filho de João Malheiros e Beatriz de Castro, tendo como padrinhos Manoel Tavares Guerreiro e Maria Magdanela, filha do coronel Gonçalo da Costa Faleiros; e, em 10 de junho de 1711, no oratório da capela de Jundiaí, foi batizada Maria, filha de João Malheiros e Beatriz de Abreu (outro sobrenome), tendo como padrinhos o sargento-mor Estevão Velho de Moura e Úrsula de Mendonça, viúva (do coronel Gonçalo da Costa Faleiros).

Encontramos outros registros na capela de Jundiaí, onde os batizados eram três tapuias, escravos de João Malheiros, em 1711.

Há outro Malheiros, dessa época, já tratado em outros artigos, que é Gaspar Rebouça Malheiros, português de Viana, casado com Úrsula Leite de Oliveira. Gaspar e Úrsula batizaram os seguintes filhos, a partir de 1703, todos na capela de Santo Antonio do Potengi: Gaspar, em 1703; Damião, em 1705; Ponciano, em 1706; Lourenço, em 1708.

Nos assentamentos de praça, de 1724, encontramos alguns deles, com o nome já completo: Gaspar Pereira Leite, 20 anos; Lourenço de Oliveira, 16 anos; Ponciano Gonçalves, 17 anos; e Antonio Leite de Oliveira, 45 anos. Já Damião Pereira Leite, vamos encontrar na folha de pagamento de tropas de 1720. 

Com todas as informações acima, não conseguimos detectar a ligação de João Malheiros ou Diogo Rebouça com Gaspar. Como dito em artigo anterior, havia um Diogo Malheiros Rebouça que foi casado com Jacinta de Vasconcelos, e depois com Phelippa Rodrigues de Oliveira. No registro do casamento com Phelippa, aparecem como seus pais Diogo Malheiros e Beatriz de Abreu. Acho que houve um erro no registro dos pais, pois acredito que eram João Malheiros e Beatriz de Abreu (ou Castro).

Vejamos outros registros onde aparecem  membros da família Rebouça. Em 2 de setembro de 1761, na capela de Santo Antonio, casaram Salvador Rebouça de Oliveira (natural de Mossoró, da freguesia de São João Batista do Assú) e Rosa Maria de Oliveira; ele, filho do capitão José Rebouça de Oliveira (Igarassu) e Ângela das Neves (Olinda), moradores no Assú; ela, filha do capitão Ignácio de Oliveira (Vilarinhos, São Salvador de Macieira, bispado do Porto) e Brígida Leite de Oliveira. 

Esse casal gerou José, em 1766, que foi batizado na capela de Santo Antonio do Potengi, tendo como padrinhos Manoel Francisco Rebouças, tio paterno, e Brígida Leite, sua avó materna. Em 1774, nasceu Manoel, que teve como padrinhos Antonio Manoel e Anna, filhos da viúva Brígida Leite. Em 1781, era batizado outro Manoel, filho do mesmo casal.

José, depois, alferes José Rebouça de Oliveira, filho de Salvador e Rosa Maria, casou com Antonia Joaquina de Barros, filha do sargento-mor Antonio de Barros Passos e Bernardina de Assunção.

Em 6 de junho de 1801, Gaspar Rebouça de Oliveira, filho de Salvador Rebouça de Oliveira e Maria de Oliveira, falecida, casou com Rosa Maria de Oliveira, filha de Luis Gomes da Silva e de Úrsula Leite de Oliveira, sendo testemunhas tenente Antonio Cavalcante Bezerra e alferes Luis Gomes. Houve dispensa de 2º grau de consanguinidade. Salvador e Úrsula eram irmãos, ambos filhos de Salvador Rebouça de Oliveira e Rosa Maria de Oliveira (que casaram em 1761). Observem como os nomes se repetem, criando, algumas vezes, confusão genealógica. Essa segunda Rosa Maria, esposa de Gaspar, faleceu em 1830, com 41 anos de idade.

Petróleo




PROJETO E REALIDADE DE UMA REFINARIA;

UMA HISTÓRIA DO PETRÓLEO POTIGUAR

Tomislav R. Femenick – Historiador, membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

 

Em geologia, bacia é uma depressão ou conjunto de terras ligeiramente inclinadas e, geralmente, é um bom indicativo de existência de petróleo. A Bacia Potiguar situa-se no extremo leste da Margem Equatorial Brasileira, limita-se ao oeste com a Bacia do Ceará e ao oeste com a Bacia de Pernambuco-Paraíba. Possui uma área de 119.030 mil quilômetros quadrados – 33.200 de superfície e 86.100 submersos –, sendo que sua isóbata (linha imaginária que une todos os pontos de igual profundidade no relevo submarino) é de 3.000 quilômetros. Sua superfície é dividida em três subáreas, a saber: o grupo Areia Branca, constituído pelas formações Pendência e Alagamar; o grupo Apodi, integrado pelas formações Assú, Quebradas e Jandaíra, e o grupo Agulha, com as formações Ubarana, Guamaré e Tibau.
Geograficamente, a Bacia Potiguar corresponde à plataforma continental da Nigéria, no litoral africano, de onde se separou há aproximadamente 200 milhões de anos.  Na plataforma nigeriana já foram descobertas grandes reservas de petróleo leve e com baixo teor de enxofre. Essas jazidas petrolíferas se situam a grande profundidade – cerca de quatro quilômetros abaixo do nível do mar – e foram formadas ao longo da “rachadura”, resultante do processo que de ruptura que separou a atual América do Sul da África. Essa descoberta evidencia uma analogia entre as ocorrências de óleo na costa do nordeste brasileiro e no litoral oeste africano.
O petróleo começou a ser explorado na Bacia Potiguar em Ubarana, em 1973; em Mossoró, em 1979, e no Canto do Amaro, em 1985. Segundo dados da Agencia Nacional de Petróleo, nela já foram descobertos “70 campos de óleo e gás, sendo 6 no mar e 64 em terra. Recente perfuração na porção terrestre constatou uma acumulação de óleo, indicando que a bacia ainda oferece boas oportunidades. A Bacia Potiguar, com uma produção diária de 110 mil boe, é atualmente a segunda região produtora do país” (www.anp.gov.br - Acesso em 28.04.2014).

O Lado Nobre

Na forma como é encontrado na natureza, o petróleo é um composto de hidrocarbonetos, com pequenas quantidades de nitrogênio, enxofre, oxigênio e outros elementos. O seu uso comercial dá-se com a transformação dessa mistura em combustíveis, lubrificantes, solventes e muitos outros produtos. Esse é o lado nobre da indústria petroleira. O refino do petróleo bruto e o craqueamento de alguns de seus componentes, produtos e/ou subprodutos exigem parques industriais complexos de maior ou menor porte, as Refinarias de Petróleo. Nas refinarias é que se efetua a transformação do petróleo bruto em nafta, gasolina, querosene, óleo combustível, óleos lubrificante, gás liquefeito, base asfáltica, parafina, enxofre, coque, benzina e outros derivados.
            As refinarias de petróleo geralmente são grandes e complexas plantas industriais que usam tecnologia de ponta, cujas instalações de processamento podem ser consideradas como parques químico-industriais. Para alimentar o seu funcionamento contínuo, essas unidades exigem um parque (tancagem) com depósito de matéria-prima (petróleo), que por sua vez deve ser abastecido por oleodutos ou por navios tanques. Internamente, extensas redes de tubulação levam insumos entre as unidades de processamento, formadas por grades torres metálicas. Por sua vez, os produtos acabados exigem grandes tanques para guarda temporária. Em síntese, elas são a representação física da era das grandes indústrias. 
           Para economizar custos de transporte e de construção de oleodutos, as refinarias são preferencialmente instaladas perto das fontes de fornecimento de petróleo, sua matéria-prima básica, bem como em regiões que disponham de vias navegáveis (costas marítimas e margens de grandes rios) para escoamento de sua produção e que possuam fonte de energia para operar a usina. 

E A REFINARIA FOI PARA... PERNAMBUCO

            A alta taxa de produtividade da Bacia Potiguar deu respaldo para um bom combate: a construção de uma refinaria da Petrobras no Rio Grande do Norte, luta que envolveu o mundo político, acadêmico e empresarial do Estado. A lógica era uma só. Aqui estava a fonte da matéria prima principal, o próprio petróleo, e aqui existiam condição para se obter um dos insumos primordiais para fazer funcionar a refinaria, o gás natural liquefeito.
Do ponto de vista de logística, partia-se do princípio de que transportar o petróleo para outro local – onde o óleo passaria pelos processos de refinado e craqueamento para obtenção de gasolina, metano, querosene, óleo diesel etc. – sairia muito mais caro do que simplesmente transportar os produtos acabados para o mercado consumidor, quase todo ele localizado na região Nordeste do país. O mesmo aconteceria com outros produtos e subprodutos, tais como asfalto, parafina, enxofre etc., conforme fosse a configuração da refinaria.
Em um dos seus estudos, datado das décadas de 1970/1980, o prof. Vingt-un Rosado elaborou planilhas de custos que comprovavam essas afirmativas. Esse trabalho contou com a participação de professores do Centro de Estudos Avançados da ESAM, hoje UFERSA-Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Além do mais já havia os estudos para a criação do complexo industrial de Guamaré, mesmo que projetado para funcionar em escala reduzida. Partindo dessa lógica técnica, nada mais acertado do que a indicação de que aqui no Rio Grande do Norte é que fosse construída a grande planta de refino do Nordeste.
Entretanto os Estados do Ceará e de Pernambuco também entraram na disputa pela refinaria. O impasse estava criado até que, em 2005, dois personagens entraram na contenda. Luiz Inácio Lula da Silva, o então presidente do Brasil, queria levar a refinaria para o seu Estado natal; Hugo Chaves, então presidente da Venezuela, prometia se associar à Petrobras na construção de uma usina de refino petrolífero, desde que localizada na terra natal do general José Inácio de Abreu e Lima, um pernambucano que participou da luta de Simon Bolívar pela independência das colônias espanholas na América. Um fato passou quase despercebido: nas confabulações dos dois presidentes, o projeto da refinaria de Abreu e Lima teria que ser direcionado ao refino do óleo pesado, característico do produto venezuelano.
E lá se foi para Pernambuco a refinaria que, pela lógica técnica e econômica, deveria ser erguida no Rio Grande do Norte.
Por sua vez, o Ceará já tinha ganhado a Refinaria Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste-LUBNOR, com capacidade de processar 6.000 barris de petróleo por dia e que produz asfalto, lubrificantes naftênicos (usados em transformadores, refrigerantes, solventes, fluidos de corte etc.), gás natural, óleo combustível para navios, gás de cozinha e óleo amaciante de fibras. A LUBNOR é uma planta de pequeno porte que, há oito anos, teve sua ampliação anunciada pela Petrobras, mas que nem chegou a ser iniciada. Cogita-se que essa ampliação não saiu por escassez de áreas livres, adjacentes às instalações já existentes. Por isso há um projeto para realocar a refinaria cearense, transferindo-a da região de Mucuripe, onde está localizada atualmente, para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Se essa obra sair, Refinaria Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste-LUBNOR pode absorver grande parte das ampliações que no futuro poderiam ser realizadas na Refinaria Potiguar Clara Camarão.

 REFINARIA CLARA CAMARÃO TORNA O RN AUTOSSUFICIENTE

O potencial de produção da Bacia Potiguar, especialmente o campo de Ubarana, sempre evidenciou a necessidade de uma unidade de processamento do óleo e do gás extraídos na região, porém somente em 1983 é que foi criado o polo industrial petrolífero, localizado no município de Guamaré. Seria o embrião de uma grande refinaria potiguar. Dois anos depois foi construída a primeira unidade de processamento de gás natural e, em anos posteriores, o terminal de armazenamento e transferência, a estação de tratamento de óleo e uma estação de tratamento de efluentes.
Em 1999 entrou em operação a planta de produção de óleo diesel. No começo deste século, teve início a operação da segunda unidade de diesel e da instalação da segunda unidade de processamento de gás natural. Em 2005 entrou em operação a unidade produtora de querosene de aviação e, em caráter experimental, o setor de biodiesel. No ano seguinte começou a funcionar uma terceira unidade de processamento de gás natural. Em novembro de 2009, foi assinado o Termo de Compromisso entre o Governo do Estado do Rio Grande do Norte e a Petrobras, para dar início às obras de infraestrutura da Refinaria Potiguar Clara Camarão, com vistas a ampliar capacidade já instalada e implantar uma unidade de produção de gasolina. Foram aplicados 215 milhões de dólares na ampliação das instalações do polo, que resultou na “criação” da Refinaria Potiguar Clara Camarão que, a partir de 2010, passou a produzir gasolina, além de nafta petroquímica.
Segundo a Petrobras, a Refinaria Clara Camarão hoje “produz diesel, nafta petroquímica, querosene de aviação e, desde setembro de 2010, gasolina automotiva, o que tornou o Rio Grande do Norte o único estado do país autossuficiente na produção de todos os tipos de derivados do petróleo”. No total a Unidade de Guamaré tem capacidade de processar 37.800 barris/dia (6.000 m3) e compreende duas unidades de destilação atmosféricas (diesel e querosene para aviação), uma unidade de tratamento cáustico regenerativo e uma unidade de produção de gasolina.

CAPACIDADE POTIGUAR SERÁ AMPLIADA

Em julho do ano passado, a Petrobrás recebeu a autorização da Agencia Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis-ANP para ampliar a capacidade de tratamento cáustico regenerativo do querosene de aviação, de 430 m³/dia para 600 m³/dia, na Refinaria Potiguar Clara Camarão, permissão essa que tem validade enquanto o projeto seguir o cronograma apresentado pela estatal à agência. A previsão é que as obras estejam concluídas no fim de 2014. Como decorrência existência da Refinaria Clara Camarão, a Petrobras e sua controlada Transpetro, têm na região 556 quilômetros de oleodutos e 542 quilômetros de gasoduto.
Embora todos esses números e fatos sejam relevantes eles não são satisfatórios se levado em conta o fato de que o Rio Grande do Norte é o maior produtor de petróleo em terra do país e, ainda, um dos maiores produtores de gás natural. No contexto geral da indústria petrolífera, a Refinaria Potiguar Clara Camarão é apenas uma unidade de pequena escala, uma minirrefinaria.
Uma simples comparação com o projeto da Abreu e Lima mostra o quanto a realidade nos é desvantajosa: enquanto a Clara Camarão processa 37.800 barris/dia (6.000 m3), a refinaria pernambucana irá refinar 230.000 barris/dia (36.600 m3), produzindo 3.600 m3/dia de nafta petroquímica, 1.600 m3/dia de gás liquefeito de petróleo, 26.000 m3/dia de diesel, 6.200 toneladas/dia de coque, 1.800 toneladas/dia de gasóleo e o H-Bio, óleo diesel que utiliza na sua composição óleos vegetais de mamona, girassol, soja, dendê etc.
Segundo informações da Petrobras, para atingir essa meta a Refinaria Abreu e Lima contará com duas unidades de destilação atmosférica, duas unidades de coqueamento retardado (processo para obtenção de coque, combustível para metalurgia e indústria de cerâmica), duas unidades hidrotratamento de diesel, duas unidades hidrotratamento de nafta, duas unidades de geração de hidrogênio e duas unidades de abatimento de emissões.
            Atualmente a unidade de Guamaré ocupa a 11ª posição no ranque nacional de produção, numa relação de doze refinarias de petróleo existentes no Brasil.

Tribuna do Norte. Natal, 04 maio 2014.

05/05/2014

 
 

QUADRO DEMONSTRATIVO DE AÇÕES

Fonte: Scilla Gabel (SEBRAE)


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – IHGRN
QUADRO DEMONSTRATIVO DE AÇÕES

1. INSTITUCIONAL
1.1. PESSOAL= a)capacitação; b)convocação para engajamento;
1.2. POLÍTICA=funcionalidade do IHGRN: a) gerenciamento; b) avaliação quinzenal;
1.3. ESTRUTURA=(recuperação de espaços para comodidade dos servidores); buscar apoio da Brasil Fundation.
2.PROJETOS
2.1. Recuperação física do prédio (FJA);
[2.2. Reparos (FJA);
2.3. Inventário do acervo: UFRN, PMN, FJA (Em.Vivaldo), SEEC;
2.4. Digitalização e disponibilização (verba federal)
2.5. Posse do terreno p/estacionamento.
3. CONDIÇÕES
3.1. Contrapartida- a) promoção de campanha social para obter recursos);
b) publicidade.