21/04/2014

20/04/2014

O que é o Domingo de Páscoa?



Pergunta: "O que é o Domingo de Páscoa?"

Resposta:
Há muita confusão sobre o que o Domingo de Páscoa significa. Para alguns, o domingo de Páscoa é sobre o Coelhinho da Páscoa, ovos de Páscoa coloridos e caça ao ovo. A maioria das pessoas compreende que o Domingo de Páscoa tem algo a ver com a ressurreição de Jesus, mas está confusa quanto à forma em que a ressurreição se relaciona com os ovos e o Coelhinho da Páscoa.

Biblicamente falando, não há nenhuma conexão entre a ressurreição de Jesus Cristo e as tradições modernas relacionadas com o Domingo de Páscoa. Essencialmente, o que ocorreu é que, a fim de tornar o Cristianismo mais atraente para os não-Cristãos, a antiga Igreja Católica Romana misturou a celebração da ressurreição de Jesus com as celebrações dos rituais da fertilidade que ocorriam na primavera. Estes rituais de fertilidade são a origem do ovo e das tradições do coelho.

A Bíblia deixa claro que Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana, domingo (Mateus 28:1, Marcos 16:2,9; Lucas 24:1, João 20:1,19). A ressurreição de Jesus é o evento mais digno de ser comemorado (veja 1 Coríntios 15). Embora seja adequado que a ressurreição de Jesus seja comemorada em um domingo, não devemos nos referir ao dia em que a ressurreição de Jesus é celebrada como “a Páscoa”. Páscoa não tem nada a ver com a ressurreição de Jesus em um domingo.

Como resultado, muitos Cristãos defendem fortemente que o dia em que celebramos a ressurreição de Jesus não deve ser conhecido como o "Domingo de Páscoa". Em vez disso, algo como "domingo da Ressurreição" seria muito mais apropriado e bíblico. Para o Cristão, é impensável permitir que a bobagem de ovos e coelhinho de Páscoa sejam o foco do dia, em vez da ressurreição de Jesus.

De todo jeito, sinta-se à vontade para celebrar a ressurreição de Cristo no domingo de Páscoa. A ressurreição de Cristo é algo que deve ser comemorada todos os dias, e não apenas uma vez por ano. Ao mesmo tempo, se optarmos por celebrar o Domingo de Páscoa, não devemos permitir que os jogos e diversão distraiam a nossa atenção do verdadeiro significado desse dia: o fato de que Jesus ressuscitou dentre os mortos e que a Sua ressurreição mostra que podemos ter a promessa de um lar eterno no céu ao recebê-lO como nosso Salvador.


Para aprender mais sobre como a morte e a ressurreição de Jesus providenciaram para a nossa salvação, por favor leia o seguinte artigo: O que significa aceitar a Jesus como seu Salvador pessoal?

18/04/2014


Significado de Sábado de Aleluia

O que é Sábado de Aleluia:

Sábado de Aleluia é um dia de comemoração no calendário de feriados religiosos do Cristianismo, sempre antes da Páscoa. O Sábado de Aleluia é o último dia da Semana Santa.
O Sábado Santo pode cair entre 21 de março e 24 de abril, e nesse sábado é celebrada a Vigília pascal depois do anoitecer, dando início à Páscoa. Sábado de Aleluia é o sábado anterior ao domingo de Páscoa, onde acende-se o Círio Pascal, uma grande vela que simboliza a luz de Cristo, que ilumina o mundo. Na vela, estão gravadas as letras gregas Alfa e Ômega, que querem dizer "Deus é o princípio e o fim de tudo”.
Na tradição católica, os altares são descobertos, pois assim como na Sexta-Feira Santa, não se celebra a Eucaristia. As únicas celebrações que fazem parte é a Liturgia das Horas. Além da Eucaristia, é proibido celebrar qualquer outro sacramento, exceto o da confissão.
Antes de 1970, no sábado de aleluia os católicos romanos deveriam praticar um jejum limitado, como abstinência de carne de gado, mas poderiam consumir peixe, etc. É também no Sábado de Aleluia que se faz a tradicional Malhação de Judas, representando a morte de Judas Iscariotes.

O que é a Sexta-Feira Santa?


Pergunta: "O que é a Sexta-Feira Santa?"

Resposta:
Sexta-feira Santa é a sexta-feira bem antes do domingo de Páscoa. É comemorada tradicionalmente como o dia em que Jesus foi crucificado. Se você está interessado em um estudo do assunto, consulte o nosso artigo que discute as diferentes posições sobre o dia em que Jesus foi crucificado. Supondo que Jesus foi crucificado e morreu em uma sexta-feira, devem os cristãos lembrar-se da morte de Jesus através da celebração da Sexta-Feira Santa?

A Bíblia não instrui os Cristãos a honrar um determinado dia em memória da morte de Cristo. No entanto, a Bíblia nos dá liberdade a fazer decisões sobre esses assuntos. Romanos 14:5 nos diz: "Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente." Ao invés de lembrar-nos da morte de Cristo em um determinado dia, uma vez por ano, a Bíblia nos ensina a celebrar a morte de Cristo através da Ceia do Senhor. I Coríntios 11:24-26 declara: "... fazei isto em memória de mim ... Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha."

Por que a Sexta-Feira Santa é conhecida como "da Paixão"? O que as autoridades judaicas e romanas fizeram com Jesus definitivamente não foi algo bom (veja Mateus capítulos 26-27). No entanto, os resultados da morte de Cristo são muito bons e demonstram a grande Paixão de Deus por nós! Romanos 5:8 diz: "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores." I Pedro 3:18 nos diz: "Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito."

Algumas igrejas Cristãs celebram a Sexta-Feira Santa com alguns eventos especiais, enquanto outras fazem seus cultos mais simples do que o normal através de hinos solenes, orações de agradecimento, mensagens que têm como tema o sofrimento de Cristo por nossa causa e através da observância da Ceia do Senhor. Quer ou não os cristãos escolham "celebrar" a Sexta-Feira Santa, os acontecimentos daquele dia devem estar sempre em nossas mentes porque a morte de Cristo na cruz é o acontecimento fundamental da fé Cristã.

Se você quiser saber mais sobre por que a morte de Jesus na cruz foi "da paixão", leia o seguinte artigo: O que significa aceitar a Jesus como seu Salvador pessoal?
                     Malhação de Judas: Racismo que virou tradição...
(*) Gutenberg Costa.

Como todo menino ligado ao catolicismo tradicional de meu tempo, a semana ‘Santa’ era para nós um período muito triste, principalmente, diante das tantas recomendações de minha saudosa mãe, dona Estela: “meu filho não coma doces, não fique rindo a toa, não escute músicas, não coma carne, não tome muito banho ou se perfume demais, não use roupas coloridas... nada de alegria ou vaidade, por que o Cristo está sofrendo e é o Judas,quem fica sorrindo e traindo...”. E a alegria mesmo entre a meninada do meu Bairro do Alecrim, era da meia noite da sexta feira ao Sábado de Aleluia: “Aleluia, aleluia, carne no prato – farinha na cuia!”.
Dois divertimentos naquele tempo e que hoje já são raros, são a ‘Serração dos velhos’, que eu só vi quando criança em Pendências/RN. Todo ano, um grupo de rapazes ia à porta do velho tio de minha genitora - tio Maneco. Chegavam a sua casa depois da meia noite da sexta feira, batendo em latas, garrafas vazias e serrando um pedaço de madeira e gritando-os em coro: “Serra, serra, serrador... serra Maneco que Judas mandou...". E o meu tio prevenido, abria a porta de supetão e haja tiros de sua velha espingarda de soca, além de urina já armazenada em seu pinico, em direção dos zombeteiros. Hoje claramente se observa que aquela ‘serração aos velhos’, se tratava de um gesto característico da idade média, costumeiramente feito às caças as bruxas e velhos Judeus. Eram atos oriundos da famigerada inquisição.
E a outra ‘alegria’, era a malhação ou queimação de Judas. Essa eu confesso que participava diretamente. Meu pai Geraldo Costa, doava suas roupas velhas e eu ia atrás de sapatos velhos, gravata e cabeça de coco seco. Enchia-o de capim ou papel e em pouco tempo o tal Judas estava pronto para ser pendurado num poste qualquer da antiga Avenida 1. Agora era só alegria, cuidar para não roubarem meu Judas e dar-lhe umas pauladas, antes de tacar-lhe fogo no corpo, para está vingada a traição e morte de Jesus Cristo. O folclore é uma ciência que antes de tudo é necessário estudar e muito a antropologia cultural e social de um povo. Ele é tradicional e ao mesmo tempo dinâmico, onde se vê hoje muito racismo e preconceito arraigado do viver e pensar dos velhos tempos. A força influenciadora da então Igreja Católica foi preponderante nos costumes, nas crendices e superstições religiosas do nosso povo. Era normal a ‘vingança coletiva’, transportada ao boneco de Judas. Era normal a sua queimação e malhação em fogueiras, árvores, paus e postes. Afinal o próprio Judas havia cometido o suicídio em uma árvore! Ainda presenciei em Pendências, a leitura de ‘testamentos do Judas’, antes de sua queimação: “...Deixo esses sapatos para fulano que só anda de sandálias japonesas... deixo esse chapéu para sicrano que é careca...”.
Câmara Cascudo, em seu ‘Dicionário do Folclore’, 1979, pg. 418, nos dá uma mostra desse preconceito antigo: “ – Judeu – permanece no espirito popular a figura do ‘Judeu’ como símbolo da maldade...”. O folclorista Pereira da Costa, em seu ‘Folclore Pernambucano’, 1909, já deixa-nos uma mostra desse antigo racismo: “Quem cospe em Cristo é Judeu... quem come carne na sexta feira santa é Judeu...”. Inúmeros folcloristas em suas obras, divulgaram o preconceito racial e religioso, visto nas expressões populares de nossos antepassados: “ Judeu errante; Onde o Judas perdeu as botas; Traidor feito Judas; Falso que só Judas;  Mentiroso que só Judas; Beijo falso de Judas; Judiar, Judiação...”. O grande estudioso da cultura do povo, o baiano Edson Carneiro, em seu livro, ‘A Sabedoria Popular’, 1968, discorre com lúcidos questionamentos, essa prática antiga trazida pelos nossos ‘colonizadores’ portugueses, que foi se tornando tradição nas pequenas cidades e vilas do Brasil até os dias atuais: “...orgia selvagem, uma barbaridade impossível de enquadrar-se na doutrina do reformador nazareno...Cristão seria perdoar o traidor, o delator... a necessidade politico-religiosa dessa cerimônia medieval não tem mais razão de ser...”. Outro folclorista e amigo Ático Vilas Boas da Mota, publicou um livro só sobre o assunto, intitulado: ‘Queimação de Judas – Catarismo, Inqusição e Judeus no Folclore Brasileiro’, 1976, onde afirma, com uma visão atualizada e isenta de preconceitos: “...Ao estudioso do folclore, é importante vasculhar os arquivos inquisitoriais... deles retirar material histórico para explicação de muitos fatos que constituem o acervo do folclore... a transfiguração folclórica da Queimação do Judas é uma das provas de que o aparato inquisitorial conseguiu moldar a alma popular, incutindo-lhes, entre ódios e preconceitos, o do Judeu...”.
Caros religiosos e tradicionalistas, hoje não cabe mais a uma folclorista sério a divulgação e o incentivo as práticas que estejam relacionadas ao preconceito e ao ódio. Nem tão pouco as vinganças ás raças e credos. O mundo é ecumênico e múltiplo. Portanto deve ser observado primordialmente à luz da ética e do respeito. E o tradicional folclórico de maneira alguma deve ou pode justificar nenhum tipo de preconceito que ainda permaneça entre nós, embora disfarçado em pleno século XXI. E todo folclorista sabe muito bem que, o ‘racismo’ é antes de tudo um imperdoável - crime cultural!

(*) É presidente da Comissão Norte Rio Grandense de Folclore.

17/04/2014

 
Pergunta: "O que é a Quinta-feira Santa?"

Resposta:
Quinta-feira Santa é a quinta-feira da Semana Santa, um dia antes da Sexta-Feira da Paixão (a quinta-feira antes da Páscoa). Quinta-feira Santa é o nome dado ao dia em que Jesus celebrou a Páscoa judaica com Seus discípulos, esse evento também é conhecido como a Última Ceia. Dois eventos importantes são o foco da Quinta-Feira Santa.

Em primeiro lugar, Jesus celebrou a Última Ceia com Seus discípulos e assim instituiu a Ceia do Senhor, também chamada de Comunhão (Lucas 22:19-20). Algumas igrejas Cristãs celebram um culto de comunhão especial na Quinta-Feira Santa em memória da Última Ceia de Jesus com seus discípulos. Em segundo lugar, Jesus lavou os pés dos discípulos como um ato de humildade e serviço, criando assim um exemplo de que devemos amar e servir um ao outro em humildade (João 13:3-17). Algumas igrejas Cristãs realizam uma cerimônia de lavagem de pés na Quinta-Feira Santa para comemorar Jesus lavando os pés dos Seus discípulos.

A quinta-feira santa também se refere ao comando que Jesus deu aos discípulos na Última Ceia, o de que eles deveriam amar e servir uns aos outros. Devemos celebrar a Quinta-feira Santa? A Bíblia não proíbe nem comanda. É uma coisa boa lembrar-se da Última Ceia e do sacrifício de Jesus a nosso favor. É uma coisa boa lembrar-se do exemplo de humildade do Senhor. No entanto, ao mesmo tempo, devemos evitar os rituais vazios de feriados a menos que sejam verdadeiramente centrados em Deus e no nosso relacionamento com Ele.

1500



           P R E S E N Ç A   A L E M Ã   N O   B R A S I L (1500)

Gileno Guanabara, sócio do IHGRN 

            A par dos interesses comerciais europeus outros que aportaram no Brasil recém descoberto, ocorreram visitas ocasionais de alemães, em cujas andanças por estas terras deixaram anotações e preciosidades.
            Um deles, Heliodoro Eoban, descendente de Helius Eubanus Hessus, historiador alemão. Sua presença ficou registrada em face de sua morte precoce, lutando contra os valentes tamoios e os aliados franceses, estes sob o comando de Villegagnon, ao lado de Estácio de Sá, na baía da Guanabara, nos combates travados quando da fundação dos primeiros núcleos de povoamento da cidade do Rio de Janeiro.
 Outra presença alemã foi a de Ulrico Schmidel, nascido em Straubing, na Alemanha. Foi de sua lavra a “História verdadeira de uma viagem curiosa na América ou Novo Mundo (Brasil e Rio da Prata), desde o ano de 1534 até 1554”.  A primeira edição, em alemão, foi dada a conhecer no ano de 1567. Seguiram-se outras edições, até a edição espanhola do ano de 1836 e desta uma última a tradução para o francês (1837).
Pelas andanças que fez e dada a precisão com que pintou a região do Sul da América, ficou tido como o primeiro historiador do Rio da Prata, reconhecido por Bartolomeu Mitre (Annales del Museu de la Plata). Em razão das invencionices apavorantes que se divulgavam, e eram comuns na época, aterrorizando os que aqui viviam, Schmidel reproduziu essas histórias imaginárias que ouviu falar. Iguais às pantomimas dos relatos, que estão na “História da Província de Santa Cruz” (1570), obra de Pedro Gandavo, com referências as figuras dos “Hypupiaras”, monstros que aterrorizavam os moradores de S. Vicente, visto pelo português Baltazar Ferreira.
            Relatos na “História do Brasil”, de Frei Vicente do Salvador, descrevem coisas fantásticas, mistérios, como a montanha que alhures trovejava enquanto cuspia pedrarias ao seu redor. Ou as amazonas, “mulheres guerreiras que dispensavam o comércio de homens”; ou os “anões que de tão pequenos, pareciam afrontar os homens”. Igualmente o registro de “gigantes de dezesseis palmos de alto”, que viviam nas matas, como anotou Simão de Vasconcelos (Crônica da Companhia de Jesus no Brasil).
             Não é de admirar, pois, que tais invencionices e incertezas tenham-se difundido pelo mundo, com referência ao sertão do Brasil. O próprio Rei de Portugal, D. Manuel I, em carta ao Rei da Espanha, seu sogro (in História da Colonização Portuguêsa no Brasil), fala que Cabral estivera em terra com homens que tinham “... quatro olhos: dois adiante e dois detrás. Eram homens ... que comem os homens com quem têm guerra.” Em ter incluído em sua obra tais lorotas, a crítica atribuiu a Schmidel a tarja de mentiroso.
                        Pelos registros, certeza é que Schmidel chegou ao Rio da Prata, em território paraguaio, soldado e eventualmente historiador, integrante dos navios de Andaluzia, pertencentes a D. Pedro de Mendonza, a Martinez de Irala e a D. Álvaro Nunez Cabeza de Vacca. Participou da captura de índios e, depois, rebelou-se contra as atrocidades cometidas por Cabeça de Vacca. De Assunção, varou os pampas, rios e matas virgens do Sul, até chegar a Santo André da Borda do Campo, povoação fundada por João Ramalho. Seguiu depois para S. Vicente, de onde embarcou para Anvers, na Europa, no ano de 1554, seguindo, afinal, para Straubing, sua terra natal.
            Na então vila de Santo André da Borda do Campo, Schmidel conheceu diversos filhos de João Ramalho, fundador daquele povoamento, que não lhe causaram boa impressão: “... deixando este lugar, rendemos graças ao céu por termos podido sair sãos e salvos.”. O alemão que se deparara com os ferozes tupinambás na viagem ao Rio da Prata; que enfrentara o poder do todo poderoso Cabeza de Vacca, que terminou deposto e preso; que atravessou a pé o Sul do continente, até chegar à Capitania de São Vicente, sentiu-se, finalmente, aliviado do terror que sentiu, tamanha a ferocidade dos seus anfitriões.
Schmidel, que escrevia “S.Vicenda”, se hospedou na casa de um dos filhos de João Ramalho. Reconheceu ser o povoado um covil de ladrões e salteadores: “Havia um João Ramalho, homem, por graves crimes, infame, e atualmente, excomungado”.
Não foi à toa que Gil Vicente, no seu “Auto de Devoção”, recitado perante a corte portuguesa (1518), compunha: “Vêdes outro perrexil e marinheiros sedes vós: ora assim me salve Deus e me livre do Brasil”.
O primeiro colonizador (1532), Martin Afonso, trouxera na tripulação 350 criminosos remissos, retirados das masmorras de Lisboa, e apenas 56 artífices, para povoar as feitorias. Visto assim, era atribulado o relacionamento que se estabeleceu entre os degredados, náufragos e os filhos espúrios que já habitavam aqui, os colonos chegados, sesmeiros e os capitães-do-mato; índios catequisados que chefiavam as bandeiras na captura e contrabando dos demais, enviados do Porto dos Escravos (São Vicente), para morrer nas minas de prata da Bolívia e do Peru, através do porto de Buenos Aires. Por fim, foi agregada a ação dos jesuítas para cá trazidos por Tomé de Souza (1549), que cristianizavam os indígenas e os tinham por incapazes.
 Apesar de tudo, a miscigenação foi maior. Imagine-se a convivência entre mamelucos paulistas, colonos recém chegados, sufocados pelas lendas, recalcitrantes diante das condições adversas, ansiosos de enriquecimento fácil, em busca de ouro e na esperança do regresso, e indígenas hábeis conhecedores dos mistérios do sertão. O crime menos grave praticado foi o da bigamia. Enfim, sobre todos pousava a prepotência do poder da Coroa e o poder eclesiástico local de excomungar. A desordem gerava a própria ordem, a realidade sufocante do inferno deste fim de mundo.