03/04/2014


MENSAGEM DO CONFRADE 
ANTÔNIO LUIZ DE MEDEIROS

A propósito do recebimento do título de Sócio Benemérito no último dia 28 de março pretérito, o confrade Antônio Luiz de Medeiros enviou ao Presidente Valério Mesquita a seguinte mensagem:

"Doutor VALÉRIO MESQUITA, Muito Digno Presidente de nosso IHGRN, em quem saúdo os demais componentes da Mesa, já citados (Cerimonial), Bondosos Confrades, familiares, convidados.
Desde menino senti-me atraído por dois nobres sentimentos - admirar pessoas simples e sábias. Registrou: Testemunhei esses gestos algumas vezes em solenidades realizadas nessa Casa de Cultura, vindo da Paraíba em uma caravana de intelectuais para receber esse título de sócio, que agora recebemos.
Feitas as saudações, facultada a palavra, ergueu-se um velhinho apoiado num bastão e ao usar o microfone nos surpreendeu ao dizer: Entro como sócio dessa Magna Casa da Memória para aprender mais com vocês. Homem consagrado pelo que escreveu e pelos cargos que exerceu, agora fazemos nossas suas palavras, também chegamos para aprendermos mais e ajudarmos a cuidar de nosso Instituto, que continua quase indigente. Muito Obrigado."

                                          O SENADO E O IMPÉRIO

Por: Gileno Guanabara, advogado

             O Senado, ao tempo do Império, consagrado na Constituição de 1824, era chamado “Câmara vitalícia”. Sua primeira sessão preparatória deu-se a 29 de abril de 1826. Três anos após a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, foi instituída a Assembleia Geral Legislativa, composta por 100 deputados. O Senado era integrado por 50 senadores, os notáveis, com idade mínima de quarenta anos. Gozavam de vitaliciedade, atributo de independência. Referia-se o texto constitucional ao “saber”, à “capacidade” e à “virtude”, como precondições dos que, ungidos pela atividade profissional ou liberal, auferissem renda apreciável que a própria lei quantificou. Eram os “homens bons”.

            Pelas regras regimentais, cabia à presidência do Senado estabelecer a ordem dos trabalhos; interromper a sessão; impedir de falar o orador que se desviasse dos debates; retirar do recinto o senador, ou, em caso de tumulto, apelar para o último dos recursos: “colocar o chapéu na cabeça”. As sessões davam-se a partir das 10 horas da manhã, alongando-se até às 14,00 horas. Os trabalhos não eram finalizados sem que “antes se encerrasse o discurso do senador que estivesse de pé”.  

            Dados os fatos ocorridos no ano de 1822, durante os embates relativos à proclamação da independência, o povo não raro manifestou-se aliado da Câmara. Já o Senado, pelo seu conservadorismo, se submetia não raro aos interesses da família real. Tal posicionamento não excluía divergências ocasionais, tornadas públicas. A nomeação do General João Vieira de Carvalho, para o cargo de senador pelo Ceará, depois agraciado com o título de marquês de Lajes, o Senado contrariado negou-se a convalidar o ato do monarca e a nomeação teve de ser desfeita.

            Outro momento delicado da vida senatorial, tempo da truculência do Ministério do Padre Diogo Antônio Feijó, fora a destituição de José Bonifácio da tutoria de Pedro II. Dada a proeminência política do Patriarca, a sua demissão sumária criou impasse para com o Senado que rejeitou a medida já aprovada pela Câmara. Durante a crise, o padre Feijó acusava o Senado de ser instrumento de conservadores que conspiravam e tramavam favoravelmente à restauração de Pedro I. Para isso, Feijó instava à Câmara a se proclamar assembleia nacional, com poderes absolutos e dar fim à crise. O acirramento chegou ao ultimato feito por Feijó de abandonar o Ministério da Justiça: Ou Feijó, ou José Bonifácio, eis a questão. Mas o Senado decidiu: ficou com José Bonifácio, saiu o Padre Feijó.

            Igual contenda verificou-se em o Senado contrariar a proposta de banimento de Pedro I, aprovada pela Câmara. Foi durante a presidência do marquês de Paranaguá que se deu o primeiro embate, a fim de antecipar a maioridade de Pedro II. Juntos, a Câmara e o Senado desobedeceram às ordens do governo pelo adiamento das sessões. Sob o chamamento de Antônio Carlos – “Quem for brasileiro, siga-me para o Senado” – as minorias das duas casas legislativas proclamaram a maioridade.

            Durante o Segundo Império, duas forças políticas se equilibraram: o Senado e o poder moderador do monarca. A “câmara vitalícia” se impunha como “a casa dos chefes”, através de que a política advinha notável, como afirmou Martinho Campos. Durante 63 anos de monarquia, de 1826 a 1889, o Senado contou com 20 presidentes. O primeiro acolhido por aclamação, o marquês de Santo Amaro, a quem coube a instalação da sessão inaugural, em 6 de maio de 1826. O último foi Paulino José Soares de Souza, eleito no ano de 1889, e que, no dia 16 de novembro, sentou pela última vez na cadeira presidencial do Senado. Apenas três ministérios se formaram sem a presença de senadores: o da regência trina e o da regência Feijó (janeiro/outubro de 1835); e o da regência de Araújo Lima (setembro de 1837).

            Figuras da formação política brasileira fizeram a historiografia do Senado: Nabuco de Araújo; o padre Diogo Antônio Feijó; o visconde do Rio Branco; o marquês de Paraná; o Conselheiro Dantas; o visconde de Abaeté; Saraiva; o barão de Cotegipe; João Alfredo; o marquês de Olinda; o duque de Caxias; José Bonifácio, o moço; o visconde de Inhomirim; o marquês de Monte Alegre; Lafayette Rodrigues Pereira; o barão de Uruguayana; o visconde de Sinimbu; Antônio Carlos; e Francisco Octaviano.

            Rocha Pombo, em sua História do Brasil, relata que o senador Feijó, ex-regente do Império, e o Brigadeiro Rafael Tobias Aguiar, ex-presidente da Província, chefiaram a revolução de 1842, em São Paulo. Para abafar o movimento, o governo imperial enviou tropas fiéis comandadas pelo General Lima e Silva, o Barão de Caxias. Concluída a missão, o comandante dirigiu-se à Rua das Flores, onde se hospedara o Senador Feijó. Diante da sua presença em sala, após os gentis cumprimentos, o general perguntou sobre a saúde do ex-ministro. Por fim, revelou o motivo da visita: “Só o dever de soldado me impõe a dolorosa incumbência de vir prender o senador Feijó, um dos chefes do movimento revoltoso. Convido-o, pois, a acompanhar-me”. Ao que Feijó retrucou: “Sr. General, estou às suas ordens”.

            Enquanto aguardava providências médicas, haja vista encontrar-se paralítico de uma das pernas, o senador dirigiu-se ao General, lembrando ocorrências de 1831, quando o nomeara Major do Corpo de Permanentes: “O sr. é moço, aprenda no que está vendo, o que são as vicissitudes do mundo. Naquele tempo, eu dava acessos ao sr. Lima e Silva, hoje vem ele prender o velho Feijó, já moribundo.”. Caxias retrucou, na mesma moeda: “Sou soldado e cumpro ordens do Governo, ordens iguais às que me deu o sr. Feijó quando era Ministro da Justiça: varrer os revoltosos a ferro e fogo e prender os cabeças da revolta.”.

            Os fatos que se sucederam à prisão de Feijó não trazem divergências históricas relevantes. Uns afirmam a prisão “sob palavra” do senador no Quartel General; outros  de sua permanência na casa onde se encontrava, sob as ordens do então General e barão de Caxias: “O Feijó continua guardado...visitas me tem feito” (em carta, Caxias ao barão de Monte Alegre). Depois do exílio imposto no Espírito Santo, o senador Feijó retornou à tribuna do Senado, onde fez a sua defesa.  

UNI-RN



DALADIER CUNHA LIMA – (1)

Jurandyr Navarro

(Do Conselho Estadual de Cultura)

A grandeza de uma cidade é medida pela operosidade de seus habitantes. Às vezes, essa grandeza não é dimensionada pela riqueza puramente material, porém, levando em conta a elevação espiritual.

A nossa Natal foi engrandecida pela dedicação amorável do inesquecível Padre João Maria, médico das almas, aos filhos da pobreza. O seu exemplo foi seguido por outro médico, com o soerguimento da Maternidade “Mãe dos Pobres”, obra imortal de Januário Cicco, frondosa árvore que tem dado frutos abundantes, no transcorrer do tempo.

Por outro lado, a nossa Educação teve arquétipos admiráveis, atraídos por tão sublime missão engrandecedora da nossa cidadania, notáveis vultos, reverenciados por gerações de um passado glorioso.

Em dias da modernidade, outros devotados, por causa tão nobre despontaram  em nossa sociedade.

Um destes é Daladier Pessoa Cunha Lima! Sacerdote da Medicina, que na mocidade sacrifícios profissionais ofereceu ao seu altar, à altura da sua maturidade cronológica passou a dar prioridade à instrução pública e privada, focalizando a sua atividade primacial no ensino superior, inicialmente, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a grande Escola, erguida em 1958, onde aprendera, e aperfeiçoara a sua inclinação pelo magistério, administração e liderança política.

Nela, fez o seu curso médico e a ela serviu, ocupando os cargos mais importantes da sua Direção hierárquica na administração universitária. Foi ele o único dos seus docentes, de que se tem notícia, ter exercido, sucessivamente, os cargos em comissão de Coordenador de Curso, Chefe de Departamento, Diretor de Centro, Pró-Reitor e Reitor.

Daladier Cunha Lima foi o primeiro Reitor Magnífico, da história da UFRN, eleito para o cargo, democraticamente, pelo sufrágio direto do alunado, funcionários e professores.

O seu mandato, à frente da nossa principal escola pública, foi um dos mais eficientes.

Ultimada tão importante investidura, não se quedou contemplativo. A inação não é companheira fiel das pessoas vocacionadas para o trabalho, seja ele físico ou intelectual. De imediato, criou as Escolas de idiomas, Yazigi, logo atraindo clientela interessada da classe jovem, curso que teve efeito multiplicador em suas salas de aula, diante do sucesso obtido e confiança nele depositada com inteligência e dedicação.

Em seguida, no seu afã de mais servir, à Educação, teve o grato ensejo de dirigir a FARN, Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Após resultado positivo da gestão, outros cursos foram surgindo, resultando, anos depois com a criação do Centro Universitário do Rio Grande do Norte – UNI-RN.

Voltou, assim, a ser Reitor, dotado de nova experiência capacitadora a fim de enfrentar os desafios do progresso.

Tem sido ele um dos médicos educadores do torrão potiguar, filiado à escola de Januário Cicco – primeiro Diretor da primeira Faculdade criada no Estado, 1923, no governo Antônio José de Melo e Souza, Escola de Farmácia; - de Onofre Lopes, Reitor da primeira Universidade e de Luís Antônio dos Santos Lima, veterano docente do velho Atheneu, o primeiro educandário do Estado.

Repleta de dificuldades, a missão do educador e dos dirigentes desses templos sagrados do ensino. As sendas de ramalhetes cobertas são impróprias aos vencedores de árduas conquistas. “A coroa de louros somente cingiu frontes feridas”, proclamou Lacordaire, a voz oracular das catedrais góticas.

Autores religiosos bendizem as dificuldades por serem elas formadoras da elevação da inteligência, do caráter, da vontade, acrescentando-se  a sensibilidade. São elas, de certa forma, estimuladoras, por conduzirem à ação para, dessa forma, seus propósitos subirem o alto cume, e, dessa elevação espiritual, vislumbrar esplendoroso firmamento.

Sublimes os obstinados, porque colheram o triunfo através a luta perene, visando o bem da humanidade.

O perfil esboçado pelo trabalho de Daladier, é a imagem de paciente labuta num desempenho perseverante, transpondo seguidas etapas. Tem sido um labor abençoado, continuado e sereno, sem os atropelos do açodamento.

Grava a literatura francesa que Voltaire gastou seis dias, apenas, para compor a tragédia “Olímpia”. Concluída nesse exíguo espaço de tempo, enviou exemplar a um amigo, dizendo: “É obra de seis dias”! no que o amigo retrucou – “não devia descansar no sétimo”.

Daí, tirar-se a ilação conhecida de que a pressa é inimiga da perfeição.

A pressa é somente aconselhável, seguindo-se o pensamento de Boileau, que prevenia: - “Apressai-vos, lentamente.”

Sentenciou um provérbio chinês, que o tempo e a paciência transformam a folha da amoreira em seda, inferindo-se, ser a perseverança a chave do sucesso.

“Querer, trabalhar e esperar”, eis o trinômio basilar do êxito do médico Pasteur.

Tal instrumental redundou em sucesso o catecismo educacional de Daladier Cunha Lima.

É ele dotado de temperamento afável, de perfil social avesso às vaidades, por primar uma postura refinada pelo cotidiano ritual dos ensinamentos civilizatórios.

Além de educador, o personagem em tela é escritor, sendo autor de obras publicadas e outras inéditas, destacando-se o monumental livro “Noilde Ramalho – Uma História de Amor à Educação”. É acadêmico, pertencendo aos quadros da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte, sendo, também, integrante de outras instituições culturais.

Pelo reconhecimento público ao seu labor dedicado ao magistério superior e o visualizado no espaço cultural, tem recebido homenagens corporificadas em comendas, medalhas e títulos.

02/04/2014

PMN



MÍSTICO E INTELECTUAL

Jurandyr Navarro

Raríssimos os sacerdotes católicos que enveredaram pelo estudo das ciências do método indutivo, por ser comum, a eles, a natural inclinação vocacional pelas letras. Reduzido, portanto, o número dos afeiçoados por esse ramo do conhecimento humano, sendo pastores: Copérnico, que foi Cônego; Mendel, monge e Rogério Bacon, padre franciscano, para citar alguns deles. Estes, celebrizaram-se universalmente. O primeiro, na Astronomia, o segundo, na Genética e o último, por ter sido o precursor do chamado método experimental, em  plena Idade Média.

O Cônego Jorge O’Grady de Paiva foi, no Brasil, um dos raríssimos sacerdotes católicos entendedores da Física, Astronomia, Matemática, adicionando-se a Biologia, conhecida ciência da vida.

Autor de obras várias, dentre elas , o famoso “Dicionário de Astronomia e Astronáutica”, em segunda edição. Saliente-se ter sido este livro, o primeiro, no assunto publicado na América do Sul.

Além de penetrar nos segredos da Esfinge científica, ele também foi crítico literário, conhecedor da literatura universal, com títulos desse gênero, lançados nos círculos intelectuais do Rio de Janeiro.

Filho do Ceará-Mirim, luxuriante torrão potiguar, o entardecer de sua laboriosa existência terrena, ele passou em solo carioca, após deixar Mossoró, onde dirigiu, por anos, o conhecido educandário “Santa Luzia”.

Portou-se  um educador por excelência. “Educar é formar o homem todo: visar-lhe o corpo e apreender-lhe a alma”, conceituou o Anjo das Escolas.

Não é bastante instruir e ensinar sem o complemento da educação e da orientação. É mais fácil à criança arrastar-se aos máus, que aos bons hábitos. A educação aprimora a instrução com a proteção da ética e da moral. Sendo excepcional, a dosada pelos preceitos cristãos.

O padre Jorge tinha as credenciais e autoridade, para imprimi-la na mente e na consciência da juventude, idade própria da sua absorção.

Foi ele o exemplar mestre-escola, no aprendizado da mocidade estudiosa. Os doutos, os que sabem, brilham como o firmamento mais os Mestres, os que ensinam, brilham como as estrelas, externou o poeta hebreu Daniel.

Fascinado pelo seu devotamento e cultura, pela causa religiosa, o então Cardeal Dom Jaime Câmara, que tinha sido Bispo de Mossoró, levou-o para Arquidiocese guanabarina.

Recebeu em 1953, da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio “Carlos Laet”, em reconhecimento ao seu invulgar talento literário.

Quatro Academias abrilham-lhes os pórticos: a Carioca de Letras; a Norte Rio-Grandense de Letras; a Potiguar de Letras e de a de Ciências do Rio Grande do Norte.

Editou mais de uma dezena de títulos. Cito alguns deles: “Dicionário de Nomes Próprios Pessoais”; “Prédicas e Mini-Prédicas”; “João Gualberto, Varão da Eternidade”; “Verdade e Vida”; “Prédicas, Saudações e Necrológios”; “Na Seara das Letras, da Fé e da Ciência” e o título anteriormente citado, linhas atrás.

Muitos os seus trabalhos para revistas, jornais e para imprensa, divulgados. Tinha predileção por dois deles: o ensaio intitulado “A Teoria Religiosa da Música” e outro sobre o “Soneto”, discorrendo-os sob todos os seus ângulos.

O espaço do presente texto é exíguo para uma análise mais acurada da sua cultura, assim como da apreciação de sua personalidade, examinadas num todo, da sua figura humana, de elevado conceito. Sacerdote virtuoso, amante do próximo, seu irmão, a sua alma foi sempre enamorada da verdade.

Tive a bênção de tê-lo como professor, à distância, pois, com ele, me correspondi durante vinte e seis anos! Ensinou-me a arte da reflexão, já que repetia sempre: “O pensamento antecede à ação. Refletir, antes de qualquer iniciativa”. Imitava Aristóteles, na sua pedagogia, da potência e do ato?

A lição era vez por outra, repetida.

Parecia seguir o aconselhamento de Goethe: “Reflete, reflete antes de escrever. Tudo depende da concepção”.

Muito aprendi com seus sábios conselhos.

Certo dia, visite-o com minha esposa, Arilda, no seu apartamento, na Cidade Maravilhosa. Já octogenário, pareceu-me um homem solitário, na sua grandeza. Os olhos, já cansados, refletiam a luz interior, de um espírito aberto à misericórdia dos nossos pecados.

Referindo-se a Leopardi, proferiu Bentempelli: “O homem solitário, anjo caído do Céu”. E acrescenta, que todos na humanidade somos anjos caídos. Mas que a sua quase totalidade não consegue refazer as asas para retornar ao Céu, porque se perde nos vícios da multidão.

E que, raros, os que libram as asas para o pouso antigo, afastados que foram, das impurezas do mundo.

 O Cônego Jorge foi um desses anjos últimos. Foi ele, também, um desses anjos solitários da nossa cultura literária e científica.


01/04/2014

 A ALEJURN FAZ HOMENAGEM AO SAUDOSO JOSÉ ARNO GALVÃO, DIA 04-04-2014.




Homenagem a José Arno Galvão
A Academia de Letras Jurídicas /RN-ALEJURN, através de convite de seu Presidente, Procurador Adalberto Targino, comunica que irá prestar homenagens póstumas ao pranteado Acadêmico José Arno Galvão, ultimo ocupante da cadeira de numero 38 (Patrono –Jurista Hélio Galvão), em solenidade de começará às 10h do dia 04 de abril/2014, em sua sede provisória, no Edf. Da Procuradoria Geral do Estado,  sito à Av. Afonso Pena, 1155, Tirol.
O Necrológio será proferido pelo Acadêmico Valério Marinho e outras homenagens serão prestadas  ao falecido intelectual, pelos demais membros do Colégio Acadêmico da ALEJURN, que, naquela data, estarão reunidos em Assembléia Geral.
O saudoso Confrade José Arno Galvão era membro vitalício fundador daquela Academia, advogado militante há 50 anos, foi Procurador Geral do Município de Natal, Diretor Geral do Tribunal de Contas do estado e colaborador de vários jornais do RN.  Era conhecido pela sua capacidade como advogado e escritor, mas, sobretudo, como servidor público austero e honrado.



           

AS IRMÃS ALCÂNTARA BRASILEIRA
Por: Gileno Guanabara, advogado

Izabel Maria de Alcântara Brasileira, a primeira, filha primogênita da união quase matrimonial do Príncipe Regente, Pedro I, com a marquesa de Santos. Nos seus primeiros anos de vida gozou da intimidade do irmão, Pedro II, com quem brincava nos festins da freguesia de São Cristovão. Reconhecida a paternidade, por ato oficial de filiação acordado, aos cinco anos de idade, Izabel Maria foi tirada da convivência com a mãe e, por decisão paterna, foi internada no Colégio Sagrado Coração, em Paris, onde, com a maioridade, seria ordenada freira.

Em súplica feita na hora da sua morte, Pedro I pediu a sua esposa, Dona Amélia de Leutchenberg, que teve filhos, para que amparasse a sua filha bastarda e dela cuidasse devidamente. Assim ela o cumpriu. Da Europa, onde viveu exilada, na condição de ex-imperatriz do Brasil, Dona Amélia, através de carta, dava notícias aos de cá. Certa vez, notificou o Imperador Pedro II que havia contrariado a última vontade do pai da menor. Havia transferido Izabel Maria para o Instituto Real das Moças, de Munich, desfazendo o projeto de ter na família uma freira. O intuito foi de prepará-la para o casamento bem sucedido na Alemanha.

O imperador Pedro II, acompanhou à distância o crescimento da irmã natural, cujos laços de sangue também reconheceu pelos afetos que lhe dispensou. Recebia cartas periódicas da cunhada, dando conta da beleza e os esforços que mantinha com a ajuda da madre superiora do educandário, a fim de arranjar um bom casamento para a enteada.  

A maior preocupação que a curadora manifestava era o valor da herança que o pai, no caso, seu marido, ao morrer, deixara em favor da filha e de outras dádivas que lhe fizera em vida, somando o valor de 500.000 francos, o que dificultava a efetivação de um bom casamento. Sugeriu ao imperador um presente de núpcias, em dinheiro ou diamantes, para compor o dote. Revelou D. Amélia que a rainha de Portugal, irmã do imperador, Dona Maria da Glória, se comprometera com a doação de um valor, tornando possível um bom casamento e existência felizarda da sobrinha. D. Pedro II remeteu a importância de 50.000 francos ouro, enquanto que a irmã dispôs 100.000 francos, ao que se somaram mais 50.000 francos doados pela madrasta.

Izabel Maria de Alcântara Brasileira, duquesa de Goiás, filha legitimada de Pedro I, príncipe regente do Brasil e ex-rei de Portugal, com o dote de um pouco mais de 500.000 francos, tornou-se apta a contrair casamento. Em outubro de 1842, D. Amélia, a duquesa de Bragança, comunicou ao Imperador Pedro II os termos do contato de casamento da afilhada com o fidalgo Ernesto Fischler, conde de Truberg, barão de Holzen, filho da princesa real de Hohenzollern Simaringen, grande dignitário da Ordem de Rosa. O casamento realizou-se em abril de 1843, perante a corte do rei da Baviera.

Maria Izabel de Alcântara Brasileira, a segunda filha de Pedro I e Domitila, Irmã de Izabel Maria que ficara no Brasil, criada em São Paulo, sob os cuidados da mãe. Casou-se com o conde de Iguassu, de quem, em pouco tempo, se separou. Teve vida familiar atormentada por fuxicos e aventuras que vinculavam amores fugazes e a vida atribulada de sua mãe. A convivência da marquesa de Santos com os problemas existenciais de sua época custou um preço. Sobre Maria Izabel, condessa de Iguassu, refletiram as turbulências vivenciadas por sua mãe. De beleza igual a da irmã primogênita, teve um destino conflagrado, apesar de igual pecúnia e do mesmo nome que herdou. Pela atribulação de sua vida conjugal, rogou uma praga antecipada ao ex-marido, que fosse direto para o purgatório.

 Domitila enfrentou preconceitos religiosos, em razão da convivência extraconjugal tornada pública, que manteve com o príncipe regente e que resultou o nascimento das duas filhas. Aderiu à causa da independência, convivendo com a agitação dos maçons e a corrupção de padres católicos; influiu sobre as dubiedades políticas de Pedro I, diante da oportunidade entre fundar um novo império e os direitos presuntivos à coroa portuguesa. A influência de Domitila sobre o príncipe regente, a ponto de ver-se condecorada marquesa, contrariava os interesses conservadores da sociedade, bem como se antepunha aos representantes da Corte Portuguesa que insistiam nas tentativas de recolonizar o Brasil.

 Izabel Maria, a quem se destinou a sina de ser freira, terminou sendo a condessa de Treuberg. Teve vida meritória na corte da Europa. Com a morte do marido, em 1867, confessou em carta ao irmão, Pedro II, “... amei o meu inesquecível marido como poucas mulheres terão amado o companheiro de sua vida.”.

Izabel Maria e Maria Izabel, filhas de D. Pedro I, ex-imperador do Brasil e ex-rei de Portugal, irmãs de Pedro II, Imperador do Brasil, ambas nascidas das entranhas e do pecado de Domitila, a marquesa de Santos, tiveram vida e ideários diferenciados, independentemente de suas vontades.

Feira


 Foto: Feira do Passo da Pátria, início do Século XX
(Acervo de Giovana Paiva), tirado do blog Natal de Ontem
A Feira do Passo da Pátria

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br

Segundo Câmara Cascudo, o povoamento do Passo da Pátria data de 1780. Esta denominação foi dada pelo então presidente da Província Olinto Meira, para registrar a façanha do General Osório na Guerra do Paraguai, quando ele atravessou o Rio Paraná de uma margem a outra, penetrou no território paraguaio e derrotou as tropas de Solano Lopez.

Todos os sábados, em finais do século XIX, o local da feira do “Passo da Pátria” estava cheio de gente de todas as camadas sociais. Ali era um ponto de abastecimento das famílias.

Desde as cinco horas da tarde, desciam pela íngreme ladeira empedrada moças, rapazes, senhoras e cavalheiros, soldados, comerciantes, cabeceiros, funcionários públicos, pescadores, marchantes, mundanas...

No pátio, próximo ao Rio Potengi, ficavam os botequins e as barracas de venda de picado, caldo de cana, refrescos. O local era também muito frequentado pelas bancas de jogos: jogo de dados, “jaburu”, carteado...

No outro lado, ficavam as bancas que vendiam tapiocas de coco, alfenins de açúcar com figuras de animais e flores, sequilhos de goma, broas, doces secos, pés de moleque, biscoitos de goma e de araruta, cuscuz, etc. Próximo, ficavam as grandes mesas de madeira, onde serviam café com bolachas secas, pães, bolos e grudes de Extremoz.

Algumas barracas vendiam cachaça com sarapatel, mocotó de boi, tripa de porco assada – local apreciado pelos boêmios. Perto dessas barracas não faltavam os tocadores de viola, sanfona, que a guisa de uns trocados animavam o local com modinhas da época. A cachaça corria solta, e a polícia sempre estava por perto para evitar os furtos e desordens.

Por todo o pátio, espalhavam-se as barracas de carne verde, peixe, crustáceos e outros que vendiam carne de “miúças”: bode, porco e carneiro. Existiam ainda as bancas que vendiam produtos do sertão; queijo de coalho e manteiga, chouriços, carne-seca, manteiga de garrafa...

Algumas bancas vendiam frutas, verduras e legumes. As bancas de cereais vendiam feijão, arroz, farinha da terra. Alguns feirantes dedicavam-se ao comércio ferragista de lamparinas, candeeiros, urinóis, facões, panelas, baldes, etc.

Não existia luz elétrica no local – somente chegaria em 1932, na gestão do prefeito Gentil Ferreira.

Às oito horas da noite, as famílias se retiravam e o “Passo” ficava entregue aos boêmios e mulheres da vida que não tinham hora para se retirarem do local.

Logo depois estava formada a “Sabatina”, um baile semanal que se realizava na casa do mestre João Contente, um endinheirado bodegueiro do local. Ali as danças se estendiam até a madrugada, sob os olhares vigilantes da polícia para evitar brigas e desordens sangrentas.

Essa feira do “Passo da Pátria” permaneceu sendo frequentada até a inauguração do mercado da Cidade Alta, quando caiu em declínio e desapareceu.