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05/09/2016

   
Tomislav R. Femenick

 
SOBRE O RIO MOSSORÓ (história, geografia e cartografia)
Tomislav R. Femenick - Historiador

Cortando o chão seco, pedregulhento e quase sempre gretado pelo calor do sol da zona oeste, corre o rio Apodi-Mossoró. Ontem, mais que hoje, ele tinha um papel determinante na existência dos seres que habitavam nas cercanias de sua bacia hidrográfica, que ocupa 28,5% da superfície do Estado, sendo a maior da Província, com cerca 18.100 km². É o segundo em extensão do Estado, com aproximadamente 164 quilômetros. Nasce na serra de Luís Gomes, no sudoeste do Rio Grande do Norte, próximo à divisa com a Paraíba, percorre 51 municípios e é alimentado pelas águas que escorrem da Chapada do Apodi, pelos riachos Bonsucesso, Cabelo Negro, São Raimundo e Pai Antônio e, ainda, por águas de riachos, córregos e extravasadas de açudes e barragens construídas em seu leito. Possui um único afluente, o rio Upanema ou do Carmo. Deságua no Oceano Atlântico, quando faz o limite entre os Municípios de Grossos e Areia Branca, com uma vazão de cerca de 360 milhões m³/ano. O escoamento é iniciado no mês de março, diminuindo, paulatinamente, nos meses seguintes, até se tornar nulo de novembro a fevereiro.

Na sua forma natural é um rio de regime temporário, não perene. No seu percurso alimenta alguns reservatórios naturais – neles se destacando a Lagoa de Apodi, circundada por terras de boa fertilidade –, corta a cidade de Mossoró no sentido sudoeste-nordeste, apresentando-se sinuoso nessa região e com várias lagoas nas proximidades de suas margens. Sua várzea apresenta larguras apreciáveis, da ordem de 500 a 1000 metros, porém vez ou outra se estreita, formando gargantas por onde, nas cheias, a água corre com mais violência.

Segundo Cascudo (1955, p. 15), na geografia há referências sobre o rio, que datam desde os primórdios do Brasil colônia. Nesse caso, estariam o Mapa de Nicolo (Nicolay) de Canerio Januensis, elaborado em 1505, que apresenta uma foz, como sendo do rio Sta. Maria da Rabida; as Cartas Marear de Pedro Reinel e Jorge Reinel, de 1516 e 1519, apresentam-no como o Rio de São Miguel (Sam Miguell); o Padrão Real de Alonso Chaves, de 1536, como o rio grande de Sainet Migiel, e o Tratado de Gabriel Soares de Souza (1587, p. 15), também dá o nome de São Miguel “a um rio volumoso que só pode ajustar-se ao Apodi-Mossoró”. Cascudo diz que:

“O topônimo Mossoró não aparece ainda na cartografia do século XVII. O Rio popular é o Upanema, Opanama, Opunamà, o Ywmanim, Ipanim, Ipiuim, Wapanem, Iwypanema dos mapas holandeses seiscentistas [...]. Verdade é que surge um rio “Murggeron” e “Mouggerou” (Johannes Jansson, 1653, de [Frederick de] Wit, 1871, o mapa que acompanha a “Descrition des Indes Occidentales”, de [Joannes de] Laet, 1625, 1640) que poderia ser um “Mossoró” deturpado e confuso. Mas não creio tratar-se do topônimo. O nome não era tão vivo nesse tempo”.

O francês Guillaume de Delisle, em sua “Carte de la Terre Ferme du Perou, du Bresil et du Pays des Amazones dressé sur les Descriptions de Herrera de Laet, et des PP. d'Acunã, et M. Rodriguéz et sur plusieurs relations et observations posterieures” (Provavelmente retirada do “Atlas Geographique & Universel avec la Géographie Ancienne & Moderne”), de 1720, faz referência ao Ywipanem rio Ipanen. José Monteiro de Carvalho, no Mapa dos confins do Brasil, com as terras da Coroa de Espanha na América Meridional, cita Ipanenin. No Mapa de todo o vasto Continente do Brasil ou América Portuguesa com as Fronteiras respectivamente constituídas pelos Domínios Espanhóis adjacentes, publicado em 1778 por Penalva do Castelo, é encontrado o “Rio Ipanema ou das Salinas” (Inácio, 1999, p. 31).

Em 1810, o rio ainda era mais conhecido com “Panema” ou “Upanema ou Salinas”, como citado por Koster (1942, p. 153 e 2ª prancheta). Sete anos depois, em 1817, De Casal (1947, vol. II, p. 212; 1976, p. 279) cita e descreve o rio com o nome de Rio Apodi somente:

[...] “ao qual dão quarenta léguas de curso, noutro tempo Upa¬nema, nome que hoje se apropria a outro menor, que se lhe une pela margem direita, três léguas acima da embocadura, corre quase sempre por terreno plano, onde há várias lagoas, que pouco a pouco lhes restituem as águas, que suas cheias lhes introduziram. Tais são entre outras a denominada Apanha-peixe, que tem uma légua de circuito. Paco, um pouco menor; a da Freguesia das Varges, que tem seis milhas de comprido, e pouca largura. Todas secam nos anos que não são chuvosos. Grandes canoas sobem até o Arraial de Santa Luzia, situado sobre a margem esquerda, seis léguas longe do Oceano. Deste sítio para baixo, estão as famosas salinas de Mossoró, cujo sal é alvo como a neve, e faz que aquelas paragens sejam vistosas e povoadas, e o rio visitado por grande número de embar¬cações, que o transportam a diversas partes”.

O rio Mossoró ou Apodi-Mossoró somente se firmou com o nome atual em 1857, quando a Marinha do Brasil realizou o primeiro estudo importante das costas brasileiras, fazendo o levantamento hidrográfico entre a foz do rio Mossoró e a foz do rio São Francisco. Esse trabalho foi elaborado pelo capitão de fragata Manoel Antônio Vital de Oliveira (1862).
SOBRE O RIO MOSSORÓ (história, geografia e cartografia)
Tomislav R. Femenick - Historiador

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