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06/09/2016



   
Minhas livrarias em Buenos Aires (I) 

Já escrevi aqui, em mais de uma ocasião, sobre livrarias e sebos de capitais do mundo que, como estudante ou simplesmente “turistando”, visitei ou mesmo frequentei. Estabelecimentos em Londres, Paris, Madrid e por aí vai.
 

Hoje vou dar meus pitacos sobre os “comércios de livros” da capital da Argentina, a belíssima e querida Buenos Aires (e a rivalidade no futebol está longe de diminuir esse meu bem-querer), onde estive faz bem pouco tempo, mais uma vez com caneta e papel na mão, tudo anotando, já pensando em escrever este “roteiro” para os que “sofrem” do amor pelos livros.
 

Mas Buenos Aires, com sabemos, é enorme. A cidade propriamente dita tem cerca de 3 milhões de habitantes. Na sua região metropolitana, a terceira maior da América Latina (logo depois da Cidade do México e de São Paulo), moram algo em torno de 13 milhões de pessoas. E Buenos Aires, bem mais do que as grandes cidades brasileiras, proporcionalmente mais do que qualquer outra metrópole do mundo (li isso dia desses, embora não me lembre onde), conta com muitíssimos comércios de livros (mais um ponto para a capital portenha).
 

Em razão disso, tanto para tornar o nosso roteiro livresco minimamente exequível, como para não falar sobre o que desconheço – como, por exemplo, os muitos comércios de livros antigos/usados da extensa Av. Corrientes –, vou restringir meus pitacos, tomando por base os meus achados “in loco”, a quatro ou cinco regiões da cidade, todas de fácil acesso para o turista interessado na coisa.
 

Despretensiosamente, comecemos pela talvez mais turística região/rua de Buenos Aires, que alguns adoram (sobretudo os que vão “às compras”), outros odeiam (porque a acham, com certa razão, muito tumultuada ou mesmo decadente): a Calle Florida, no microcentro da cidade (de metrô, para a chegar a essa área do centro, as estações recomendáveis são Florida ou Lavalle). Particularmente, acho que a região da Calle Florida tem seus atrativos, sendo especialmente do meu agrado as merecidamente afamadas Galerias Pacífico (que ficam na esquina da Florida com a Av. Córdoba). Nessa famosa rua de comércio, na minha busca por livrarias e sebos, topei (e adorei esse “acidente”) com duas lojas da cadeia de livrarias El Ateneo, localizadas nos números 340 e 629, não muito distantes, portanto, uma da outra. As duas lojas são muito boas, com acervos diversificados (juntando as duas, tem de tudo, podem ficar certos), sendo a do número 629 particularmente bela. Aliás, para quem não sabe, a associação do grupo El Ateneo com a rede livrarias Yenny formou um gigante do comércio de livros na Argentina, com dezenas lojas espalhadas país afora. Por ali também se encontram duas lojas da rede Cúspide Libros (outra gigante desse comércio, com dezenas de “tiendas” distribuídas pelo país), uma delas nas já citadas Galerias Pacífico e a outra no número 628 da Calle Florida. Também vendem de tudo um pouco, e estão por mim aqui devidamente recomendadas.
 

Outra região importante do meu/nosso roteiro livresco é a Recoleta. E sobre a Recoleta, tenho certeza, ninguém vai falar mal. Melhor lugar para ficar não há. Central, chique, gastronômica, animada, bizarra (vide a visita de praxe que se faz ao cemitério local) e relativamente barata. Hospedado na Recoleta nessa minha última estada em Buenos Aires, tenho três livrarias para recomendar por aquelas bandas (todas elas acessíveis de metrô pela estação Callao). Em relação a duas delas, o faço não tanto pelos seus acervos, mas, sobretudo, pelo fato de elas serem, a meu ver, muito mais restaurantes/bistrôs que vendem bons livros de que outra coisa, numa mistura que achei interessantíssima. A primeira delas, cuja história remonta ao começo do século XX, chama-se Clásica y Moderna e fica no número 892 da Av. Callao. Recomendo demais, pela comida, pela programação cultural, pela beleza e pelos livros. A segunda, pequenina, minimalista, “cool”, com livros bem em conta, é a Distal Libros, que fica no número 1725 da Calle Junín, bem em frente ao famoso Cemitério. Um bistrô/livraria, com programação cultural constante, que descobrimos, para nossa felicidade (a minha, principalmente), vizinho, parede a parede, ao nosso hotel. E de quebra também há, nos fundos do Cemitério, no Recoleta Mall, no número 2036 da Calle Vicente López, uma loja da cadeia Cúspide Libros, enorme, vendendo de tudo, com um Starbucks conjugado, cafeteria que, confesso, é muito do meu agrado.
 

No mais, bem próximo do burburinho da Recoleta, no número 1860 da Av. Santa Fé (estação de metrô Callao), fica a mais famosa livraria de Buenos Aires, imperdível: El Ateneu Grand Splendid. O seu acervo, para ser sincero, embora tenha de tudo (filosofia, política, história, livros de arte, guias de viagens, ficção e por aí vai), levando em consideração a sua (enorme) fama e tamanho, deixa um pouco a desejar. Mas, ocupando o prédio de um antigo teatro (o Teatro Grand Splendid), ela é belíssima. Seu teto, suas bancadas, seus antigos camarotes, a cortina ainda presente, a iluminação, tudo isso impressiona e faz dela, certamente, uma das mais belas livrarias do mundo. O seu café, que fica no fundo da livraria, onde outrora foi o palco do teatro, é muitíssimo agradável, o que, sabemos muito bem, é deveras importante para o “turista literato”. E foi ali, recordo-me perfeitamente, que comprei um livro sobre Jorge Luis Borges (1899-1986, o meu escritor argentino preferido, que me desculpem os admiradores de Cortázar, Bioy Casarès, Ernesto Sabato e outros menos votados) e a literatura policial, interessantíssimo, sobre o qual prometo um dia aqui resenhar.
 

Bom, por ora, por falta de espaço hoje, paro por aqui. Mas prometo voltar na próxima semana, apresentando mais alguns dos meus “achados livrescos” em Buenos Aires. E, como vocês terão a oportunidade de conferir domingo que vem, esses foram, porque inusitados, os meus melhores “achados”.
 

Marcelo Alves Dias de Souza
 
Procurador Regional da República 
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL 
Mestre em Direito pela PUC/SP

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